2009-10-18

De: TAF - "Gestão do Território"

Submetido por taf em Sábado, 2009-10-24 23:05

Restaurante na Póvoa


No passado fim de semana estive a passear com a Ana. Fomos de metro até Vila do Conde, e depois de bicicleta até à Póvoa e A-Ver-o-Mar. Ficámos surpreendidos por haver pouca gente na rua, e especialmente pouco turismo, apesar do bom tempo. Aquela região tem de facto fama de ter turismo muito sazonal. Espreitámos o comércio e o panorama confirmou-se. Neste restaurante acima, por exemplo, almoçavam apenas duas famílias (ambas do Porto por sinal) e nem era nada caro.

Com este exemplo como pretexto, dei por mim a pensar se antes de construirmos novas infraestruturas, como é o caso do polémico centro de congressos no Palácio de Cristal, não devíamos aproveitar melhor as que já temos no Porto e na região envolvente. Os congressos contrabalançam as épocas baixas do turismo, e por isso são uma boa aposta. Mas não haverá realmente alternativa a construções novas no Palácio, nem que seja estabelecendo boa coordenação com o Seminário de Vilar mesmo ao lado?

PS: A propósito dos graffitis e tags poder-se-ia também invocar o interesse turístico de ter um espaço público bem tratado. No entanto eu nem vou por aí. Basta-me insistir em que se respeite o meu direito, e de todos nós, a que se cumpram as regras de convivência em sociedade e que, bem ou mal, são as que estão definidas na lei. Se a lei está mal, mude-se a lei. Mas, como já tenho escrito, ninguém tem o "direito de não cumprir a lei". Já sei que há casos muito mais graves, etc., etc., mas isso não invalida este argumento. Quem escolhe a força bruta do desrespeito da lei não pode esperar senão a força bruta da repressão. (O que não impede que se usem em paralelo métodos preventivos e mais mansos, como é evidente. Repito a sugestão dada antes.)

PS 2: Por falar em gestão do território, eis um exemplo elucidativo dos resultados da completa ausência de autoridade.

De: Nuno Quental - "Tags, graffitis e democracia"

Submetido por taf em Sábado, 2009-10-24 22:46

Viva!

Concordo com o Francisco Rocha Antunes quanto à questão essencial nesta discussão sobre os tags e graffitis. O problema de fundo é uma decadência geral do espaço público, uma valorização excessiva do espaço privado, e o advento de espaços a que chamaria semi-públicos (e semi-privados) como são os centros comerciais. É curioso que o maior esforço nos últimos anos de renovação do espaço público (Porto 2001) não tenha sido capaz de gerar sequer um consenso amplo na cidade, e de muitas intervenções, como no caso da Cordoaria, terem sido desastrosas. Mas penso que a solução para este problema não está em danificar ainda mais o que resta do espaço público. Não. A solução passa precisamente pelo contrário: por valorizar o que temos de bonito e de acolhedor, das nossas belíssimas praças, pitorescas, que infelizmente são amiúde ridicularizadas.

É aqui, neste contexto, que insiro a questão dos tags. Eles são nefastos para uma cidade já recalcada de políticas com poucos escrúpulos. A famigerada recuperação nocturna da Baixa, por exemplo, está a ser conseguida ultimamente com recurso à transformação do jardim da Cordoaria e de todos os passeios nas redondezas num parque de estacionamento. Isto eu considero - tal como os tags - pura selvajaria e vandalismo. Não há pois que encontrar justificações mal amanhadas para atitudes que revelam um profundo desprezo pelos nossos concidadãos. A atitudes destas, que infelizmente são normais em sociedades com um baixo nível de instrução, é preciso responder com firmeza, e não com palavras mansas ou discursos justificativos. Firmeza não no sentido de causar dano a quem não merece mas sim no sentido de proteger as pessoas que, antes de mais, são prejudicadas por quem ultrapassa os limites. E os limites são de diversa ordem: consciência pessoal, ética, e legal. Não consigo por isso compreender o discurso que o Nuno Carvalho nos traz, que me parece ambíguo, falsamente conciliador e cheio de falinhas mansas. É acima de tudo profundamente parcial, pois não consegue ver que anuir ao vandalismo, da mesma forma fechar os olhos criminalidade, é permitir que certas pessoas indefesas sejam prejudicadas ao mesmo tempo que outras sejam beneficiadas sem qualquer justificação válida para isso. Ora uma das funções primordiais de um Estado é precisamente impedir este tipo de injustiças.

Aliás o que o Nuno Carvalho nos revela é basicamente o elogio da anarquia. Se é governo, sou contra! É preciso ter a noção de que isto não nos leva a lado nenhum, não ajuda a construir nenhuma alternativa sólida e minimamente viável. É uma crítica essencialmente inconsequente. Mas respeito-a, claro.

Dito isto, acho que há um enorme espaço para aprofundar a democracia. Aliás já escrevi sobre o assunto. Saliento duas ideias que me parecem da maior importância: implementar o orçamento participativo ao nível local de forma sistemática; e passar a referendar ao nível nacional grandes investimentos (estou a lembrar-me, claro, do TGV, das auto-estradas, do plano de barragens, do aeroporto, etc.). São exemplos concretos de políticas que nos encaminhariam para o aprofundamento da democracia. Já aqui fiz há tempo uma proposta ainda mais polémica, que consistiria num salário máximo nacional. Mas estas ideias configuram o oposto do discurso antipolítico, que semearia o caos em lugar do sistema imperfeito actualmente vigente (Churchill dizia que a democracia era o pior dos sistemas, com excepção de todos os outros...). Significa, acho eu, o desenvolvimento natural do sistema vigente, que já foi capaz de muitas conquistas, mas que tem pela frente ainda muitos desafios.

Nuno Quental

Deparei-me com a discussão que se desenvolve há algum tempo sobre graffiti, esta discussão tem-se desenvolvido nas suas vertentes mais clássicas (arte, vandalismo, tag...), porém todos os posts denotam uma necessidade enorme de conhecimento e discussão aprofundada sobre a matéria em causa.

No início de 2008 em Lisboa discutia-se de uma forma em tudo semelhante ao que hoje se faz relativamente à Baixa do Porto o destino das paredes do Bairro Alto. Desenvolvi um plano que em paralelo com a reabilitação urbana fossem sendo obtidas contrapartidas em forma de atenção a algumas obras e práticas de preservar, fomento da discussão e disseminação das questões de prática artística ou técnica (por parte de quem desenha a cidade), teóricas, históricas etc... sempre com uma forte componente de participação (que é a questão central). Foi feito um percurso que acho que poderá ser interessante conhecer (para quem esteja interessado em aprofundar a matéria, principalmente arquitectos como Pedro Figueiredo), para esse efeito visitar: grrau.blogspot.com ou o timeline aqui.

É importante que se discuta principalmente antes de agir. Parece que não é assim que está a suceder na cidade do Porto. Rapidamente se irá chegar à conclusão de que sem critério e sem estratégia de colaboração com os principais actores locais, a médio/longo prazo a limpeza será um gasto de recursos sem reflexo duradouro na vivência das zonas em causa.
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Pedro Soares Neves

- Concurso "Redução da Factura Energética na Rede de Iluminação Pública" altera prazo de fecho para 7 de Dezembro

"Melhorar o desempenho energético-ambiental da rede de iluminação pública, reduzir o consumo de energia eléctrica e as emissões de CO2 associadas e diminuir os custos económicos da iluminação pública são alguns dos objectivos fixados para esta iniciativa do ON.2."

Há algum concelho da AMP que esteja a aproveitar esta iniciativa? Como podemos saber isso?
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blog.osmeusapontamentos.com

De: António Alves - "Um 'spill-over' que funciona"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 23:22

Caro senhor Manuel Queiroz

Como deve ter percebido, pelo meu post scriptum, eu apenas pretendi realçar a coincidência de opiniões entre nós, como fiz questão de salientar no título, introduzindo um pouco de humor neste espaço. Quanto ao caso da conferência do Grande Porto sobre mobilidade, a ironia subjacente é pelo facto do conceito da linha turística, e não só, que tem como términos duas cidades património mundial e atravessar o Vale do Douro, igualmente património mundial, já ser um tema longamente debatido aqui neste espaço, e também noutros, há muito tempo. Por acaso no PROT é assunto muito debilmente, direi até, medrosamente, abordado. Eu próprio introduzi o tema – ligação a Salamanca tanto para o tráfego turístico como para o de mercadorias - num debate realizado pela Campo Aberto no Clube Literário do Porto e os responsáveis presentes não me pareceram muito entusiasmados.

Quanto às ideias: mesmo que fosse o caso, a apropriação de ideias sem citar a fonte, e manifestamente não é, tal não me incomodaria. Não me considero proprietário das ideias que aqui exponho. Elas são sempre o resultado de opiniões próprias moldadas, construídas e induzidas a partir de ideias e opiniões que vou recolhendo de outros, lendo, ouvindo e debatendo. São livres. Pelo menos este é um “spill-over” que funciona. ;-)

Os meus melhores cumprimentos esperançado que continue a frequentar este espaço de livre debate de ideias cada vez com mais frequência.

De: TAF - "À primeira vista não teria nada a ver..."

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 19:01

... com o debate que aqui temos tido, mas afinal está precisamente no centro daquilo que discutimos: liberdade de expressão, capacidade de entender o outro, interesse comum, harmonia social, fraternidade, ...

A exposição de Fernando Ventura é absolutamente brilhante. É raríssimo aparecer uma análise com esta profundidade em televisão. Para ver com tempo e calma.

(Via 31 da Armada e Corta-Fitas)


Caro Nuno Carvalho, ajudaria muito a esta discussão que nos esclarecesse algumas questões:

1- O que é para si vandalismo, uma vez que a definição do dicionário ("destruição intencional de propriedade alheia") não se aplica aos tags?

2- O que é exactamente para si uma "manifestar ou expressar"? Eu entendo como correcta a definição do dicionário, e na qual se engloba sem grandes dúvidas a publicidade. Se não determina a validade dos tags "em função da sua qualidade estética (...) mas como uma forma de manifestação", e a publicidade é uma forma de manifestação, porque motivo apenas qualifica a publicidade de "lixo visual"?

3- Se o entende que "o espaço público (...) é (...) o espaço por excelência para qualquer pessoa se manifestar" , porque motivo discorda da "colocação de tags em monumentos"? E, por contraponto, porque motivo os defende (ou talvez os defenda) nas fachadas dos bancos? Não são também espaço público? (Ou, não sendo, também não é um espaço por excelência de manifestação, e portanto não deveria ser merecedor de destruição intencional.)

4- Uma vez que é "completamente contra qualquer tipo de repressão", como tentaria evitar os tags em monumentos, com os quais discorda? E quais são exactamente os "fenómenos" que levam as pessoas a fazer tags em monumentos (e nas fachadas de Bancos)?

5- Por outro lado, uma vez que as tags também são usadas como forma de marcar território por gangues, porque motivo é indiferente perante o sentimento de insegurança e intimidação que causam a quem mora nas casas ou ruas alvo da "manifestação"? Isso não é uma forma de repressão (e por sinal muito mais grave)? Os polícias não podem reprimir mas os gangues podem?

Por último, o comentário do F. Rocha Antunes parece-me muito esclarecido, e penso que vale a pena realçar o seguinte "A ideia que temos de desenvolver é precisamente a contrária, a de que o que é público é de todos e por isso ninguém tem o direito de se apropriar desse espaço público para seu uso ou gozo privado sem cumprir as regras que todos definirmos como as mais razoáveis." Efectivamente, todos temos o direito de usufruir do espaço público mas temos também o dever de não o danificar. Diria até mais - temos o dever de não ser indiferentes perante o abuso.

Cumprimentos
Pedro Menezes Simões

De: Manuel Queiroz - "Resposta a António Alves"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 17:54

Caro sr. António Alves,

Mão amiga dirigiu-me para A Baixa do Porto e para um dos seus posts em que diz que ando a lê-lo. Já o terei lido, porque de vez em quando passo pela Baixa do Porto, mas no caso vertente creio que não aconteceu. Até pelas horas a que colocou o seu comentário, porque já tinha feito o meu Editorial com base noutras fontes.

A outra vez em que eu o teria lido também não percebi, já que o link era para o texto da conferência do Grande Porto sobre mobilidade onde apenas apresentei os convidados e fiz algumas perguntas.

Não teria problema nenhum em reconhecer se tivesse sido o caso. Mais ainda, não teria tido problema em citar a fonte, que seria o meu dever.
Dito isto, o seu comentário estava assertivo e bem focado. Parabéns.

Cumprimentos
Manuel Queiroz
Director
Grande Porto

De: Nuno Carvalho - "Resposta à nota 4"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 16:52

Caro TAF,

passo a explicar: pretende, acima de tudo, ser uma alternativa ao sistema político instalado. A dita democracia representativa, em que o indivíduo é um mero número, correspondente a um mero voto que legitima um poder que seguramente não nos representa, é uma falácia. Mesmo partindo do princípio de que estamos num sistema justo, ideia essa que não partilho, de todo, quem se sente representado pelo deputado do seu distrito?

Mais do que pôr em causa o Estado, que pessoalmente também questiono, coloco em causa a forma como ele se constitui. O indivíduo na sociedade não pode ser valorizado só de 4 em 4 anos ou quando o país atravessa uma crise e é preciso produzir. Mas também sei que não serão os detentores do poder a permitir que a sociedade se organize de uma forma justa e fraterna. Temos de ser nós, indivíduos, no colectivo, a lutar pela mudança. E isso faz-se, na prática, construindo a cidade diariamente.

Saudações,
Nuno Carvalho

De: Cristina Santos - "É legítimo"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 15:38

Não é fácil ser empreendedor neste país, e isso é do conhecimento internacional, dai que os projectos fiquem às moscas. Aos encargos gerais das estruturas acrescem problemas de fundo, coisas tão simples como a total ineficiência na devolução do IVA, uma tributação pesadíssima, burocracias, agora minimizadas com o simplex mas mesmo assim de enlouquecer, código de trabalho virado para o funcionalismo público, corrupção, ética, etc, etc. Estes problemas não são exclusivos do Porto, são problemas nacionais; Lisboa beneficia apenas da presença dos órgãos de soberania, de resto… E se sairmos destas duas cidades, a situação agrava-se assustadoramente.

Para mudar é necessário mudar mentalidades. Não quis culpar os jovens licenciados, mas se a alguém cumpre tentar iniciar a mudança é aos jovens, que até na política são preteridos com toda a força. É legítimo que procurem países eficientes, coagi-los a ficar, pode numa análise exagerada ser equivalente a perder a juventude no Ultramar. Os jovens que conseguem integrar-se lá fora podem sempre dar o seu contributo, informando-nos de iniciativas e medidas eficazes que se vão adoptando em países mais desenvolvidos e isso já é uma boa forma de contribuir. Da minha parte desejo a todos a maior sorte possível e tenho que lamentar a situação, mas se de facto ninguém está disponível para contribuir para a mudança, o que podemos fazer?

Até sempre e parabéns pelo seu site.
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Cristina Santos

De: António Alves - "Opiniões coincidentes"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 15:01

«Fazendo a análise fina do que foi a votação nas eleições autárquicas do Porto de domingo passado verifica-se que foram as freguesias ricas que deram a terceira vitória seguida ao actual presidente da Câmara do Porto. Foram as elites da cidade que o colocaram outra vez no cadeirão da Praça do Município por muito que outras elites achassem que era um homem inapresentável como representante do Porto»

O senhor Manuel Queiroz anda a ler-me. Faz bem. Desconfio que já não é a primeira vez. É para isso que servem estas redes de nova geração, as mais ‘planas’ de sempre: para difundir ideias.

P.S. – Não levem a mal. Não é presunção. É apenas a introdução de algum humor no espaço. ;-)

De: F. Rocha Antunes - "Graffitis e a Lei"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 14:54

Meus Caros,

A defesa que Nuno Carvalho aqui tem feito dos “graffitis” tem o mérito de nos pôr a discutir serenamente sobre este assunto, o que nem sempre acontece. A recente troca de links mostra uma procura de argumentos mais sólidos a fundamentar cada uma das opiniões trocadas. A questão central não é a de se saber se os “graffitis”, e os seus “primos” tags, são ou não obra de arte ou sequer uma forma legitima de expressão. Quando há partidos políticos que, recorrentemente, usam a pintura de paredes alheias para divulgarem a sua mensagem é natural que exista pelo menos a dúvida sobre a sua legitimidade ou até ilegalidade. Não basta dizermos, como bem se disse, que se deve cumprir a Lei. Toda a gente sabe que a Lei diz que não podemos andar a mais de 120 km/hora nas auto-estradas e são raríssimos os que a cumprem, porque cada um de nós arranja um limite superior que considera mais razoável.

Acho que a questão central é a do uso que vamos dar ao espaço público que entretanto abandonámos e sobretudo como se definem as regras desse uso. A ideia de que o que é de todos não é de ninguém, e nisso incluo as fachadas que sendo privadas são componente do espaço público, está profundamente errada. A ideia que temos de desenvolver é precisamente a contrária, a de que o que é público é de todos e por isso ninguém tem o direito de se apropriar desse espaço público para seu uso ou gozo privado sem cumprir as regras que todos definirmos como as mais razoáveis. Aqui eu acho que Nuno Carvalho tem alguma razão quando diz que o espaço público tem sido utilizado de forma tão indiscriminada por tanta gente, sem qualquer respeito pelos outros, que até os tags seriam a menor das violações. Acho que falha redondamente quando procura justificar os tags com base nisso, porque não se pode negar o aspecto profundamente negativo que os mesmos trazem ao aspecto do espaço público. O exemplo que já aqui dei, a propósito dos tsurus no edifício da Reitoria acabado de restaurar, é claro.

A importância dos terceiros espaços, os que não são de morar ou trabalhar, na qualificação das cidades é cada vez maior e é neste contexto que devemos pensar quais as regras a utilizar para neles intervir. E depois cumpri-las.

Francisco Rocha Antunes

De: TAF - "Notas breves"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 14:14

1 - A pretexto do media parque, "canal memória" sobre isso e outras coisas:

2 - 3500 autarcas luso descendentes em França (provavelmente nortenhos), promovem turismo em Portugal. - Sugestão de José Silva: "Como sempre, o Estado Central chega já a meio do processo..."

3 - Destaco esta afirmação de Carlos Cidrais: "(...) também na Europa se começa a assistir a fenómenos migratórios para áreas onde as oportunidades profissionais existam. Nada mais natural. O que gostaria de ver a acontecer no entanto era Portugal (e o Porto) a aproveitar o que faz melhor, e a destacar-se no espaço europeu por actividades que lhe sejam especificas"

4 -"Eu acredito num todo colectivo em que o individuo é peça fundamental para a construção desse todo." - Não percebi. Isto pretende ser alguma alternativa à existência de Estado? Ou é apenas um Estado com outro nome, à semelhança dos "movimentos de cidadãos" que alguns defendem como suposta alternativa aos partidos, quando no fundo são apenas partidos que adoptam outra designação?

5 -"Qualquer graffiter saberia ser melhor presidente da Câmara do que Rui Rio, tenha o Senhor os votos que tiver." - Vá lá, vá lá... Não se responda a demagogia com demagogia. ;-)

6 - A Linha do Tua no jornal “As Artes entre as Letras”, sugestão de Nuno Quental

De: Pedro Figueiredo - "Graffitis, murais e Arquitectura"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 14:02

Faço desde já uma declaração de interesses. Chamo-me Pedro Figueiredo e sou Arquitecto.

1 - Sob o puro ponto de vista de um criador de Arquitectura, alguém que intervém na cidade de forma racional, organizada, oficial e criativa, é evidentemente um abuso toda e qualquer criação, feia ou bonita, que adultere sem o consentimento do autor a obra que já lá estava - a obra de um qualquer Arquitecto, Engenheiro ou Desenhador.

2 - Por outro lado, é no mínimo interessante tudo o que tenha a ver com alguma espontaneidade em novas apropriações do espaço urbano, que deve ser cada vez mais diverso, inclusivo, democrático, multi-cultural, aberto à intervenção cidadã, artística ou outra. Os graffitis são apenas coisas chatas, feias e pouco rebeldes ao fim e ao cabo. São a "rebeldia" pobre e "possível", quando não passam de tags, mensagens sem mensagem.

3 - Os murais tipo PREC-MRPP, com qualidades gráficas inegáveis, estão nos antípodas dos tags, pela sua força, expressão, qualidade intrínseca. Bons graffitis, ou seja, com qualidades de expressão, mensagem e força urbana há poucos. Eu digo que o problema não está nos graffitis. O problema está na falta de qualidade de tags e graffitis. Qualquer graffiti com qualidade é bem vindo, sob o meu ponto de vista. Agora, se são legais ou ilegais já me transcende. mas como é evidente que a sua principal qualidade é serem ilegais... Legalizar o graffiti é uma machadada na filosofia de "pedrinha na engrenagem" que parece ser a "filosofia" do graffiti... "Se eu não chateio ninguém com o meu graffiti, para que é que que graffito?", perguntar-se-iam os graffiters.

4 - Por outro lado, ridículo será pensar que se pode controlar os graffitis, delimitando "muros" para graffiti, ou "ensinando" a graffitar. O que é espontâneo pertence ao domínio do Espontâneo, ponto final, não de pode controlar. Aliás, a qualidade de tags e graffitis é essa: são incontroláveis, não são artísticos, não são bonitos nem feios, antes pelo contrário, nem sequer põem em causa cânones de beleza/fealdade... nem questionam sequer ou são "rebeldes". São incontroláveis. Talvez tenha de ser assim.

5 - Também os municípios ao longo dos anos quiseram controlar outros movimentos urbanos: as ocupações de casas, coisa mais que justa, é evidentemente mal vista pelos municípios que preferem deixar cair durante 20 anos para depois vender a preços especulativos as casas recuperadas aos ricos que as possam pagar. Também a Câmara do Porto em 1975 preferiu acabar com o movimento SAAL, que lutou pela construção de habitação popular no centro da cidade, de modo a voltar a poder "controlar" algo "incontrolável"... Sobretudo, como é fácil de ver, é absolutamente necessário impedir as pessoas de permanecer a ocupar os lugares onde já viviam, já que para a municipalidade estes lugares centrais são os melhores para fazer os melhores negócios com as classes favorecidas para serviços e habitação cara.
No meio disto tudo, o graffiti é o menos importante. Nesta tragédia que é a morte da cidade do Porto eu preocupo-me mais em saber porque raio é que eu estou aqui no Porto a pagar 100.000 euros por um T2, quando tive a possibilidade e rejeitei, talvez por estúpida e quixotesca nostalgia desta ruína urbana que é o Porto, rejeitei - dizia - um T3 por 85.000 euros em Vila Nova de Gaia - a verdadeira sede da Área Metropolitana. Este é o drama. Qualquer graffiter saberia ser melhor presidente da Câmara do que Rui Rio, tenha o Senhor os votos que tiver. Eu voto nos graffiters.

Pedro Figueiredo, arquitecto

A sugestão de que os licenciados devem ser empreendedores (para que de alguma forma não se queixem do contexto com o qual se deparam) é algo ingénua. Posso falar sobre o assunto com a liberdade de anos de actividade como (ex)sócio-gerente de uma micro empresa de pós-produção de vídeo no Porto, através da qual fiz genéricos para o Porto Canal, websites, cd-roms, design de posters, e criação de vídeo para concertos e discotecas, entre outro material audiovisual.

Para além do facto de que criar empresas custa dinheiro ao qual nem todos têm acesso, exigindo assim o assumir de um risco que muitos não tem capacidade (ou sequer inclinação psicológica) para aceitar, não nos devemos esquecer que as empresas existem num contexto maior, onde existem fornecedores, concorrentes, parceiros e clientes, estando ainda aqueles que se predispõem a criar empresas a abdicar de subsídio de desemprego se a coisa der para o torto, manter (mesmo que não haja lucro) despesas como contabilidade organizada, licenças de software, rendas, etc.
Por outro lado, o meu curso de licenciatura foi criado numa altura em que se falava na criação de um media park no Monte da Virgem (ainda alguém se lembra disso?) onde iriam existir empresas de produção de conteúdos, pós-produção, canais de televisão, etc.

Passados 10 anos, estamos pior. A RTP passou para Lisboa a pouca produção de conteúdos que existia no Monte da Virgem. Existem redacções que não são mais que departamentos regionais, empresas de pós-produção nem vê-las - e uma concentração das empresas da área em Lisboa... Hoje a moda é falar de cidades criativas e criam-se agências para o desenvolvimento, comissões, fazem-se reuniões, criam-se clusters, media parks... e continuo a ver poucos ou nenhuns resultados práticos (tenho Zon aqui em Londres e continuo atento ao panorama audiovisual português).

Falar é muito bonito, atirar a responsabilidade para aqueles que se queixam ainda mais fácil, mas tendo eu tido experiência de estar em duas regiões (Porto e Londres), posso falar-lhe com experiência do que é abrir actividade num contexto onde o sector de actividade esta estabelecido, representa uma parcela significativa da economia, e é encarado com seriedade por todos os actores do universo empresarial (fornecedores, concorrentes, parceiros e cliente ) ou tentar fazê-lo quando nada existe. Esta é a minha experiência, e como é óbvio específica do meu ramo de actividade, mas acredito que qualquer outro recém-licenciado que se proponha fazer o mesmo em áreas que não estão estabelecidas se depare com um panorama semelhante.

Em suma o sentido do meu texto anterior em resposta a José Ferraz Alves, era de que precisamente o que está a acontecer irá continuar a acontecer, mas não é necessariamente uma desgraça, ou sequer algo que nos deva surpreender. Se entendermos o território europeu como uma união (à semelhança dos EUA - com as devidas salvaguardas) observamos que da mesma maneira que nos Estados Unidos algumas áreas de actividade estão concentradas em Los Angeles ou Nova Iorque e as capitais de estados mais pequenos têm a mesma dificuldade em fixar profissionais qualificados, também na Europa se começa a assistir a fenómenos migratórios para áreas onde as oportunidades profissionais existam. Nada mais natural. O que gostaria de ver a acontecer no entanto era Portugal (e o Porto) a aproveitar o que faz melhor, e a destacar-se no espaço europeu por actividades que lhe sejam especificas (seja o Vinho do Porto, o turismo, ou qualquer outra) - já que pelo menos na minha área de actividade não será em breve que tal acontecerá, o que aceito com naturalidade.
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Carlos Cidrais

De: Nuno Carvalho - "E sem mais comentários 2..."

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 13:44

Caro Frederico Torre, se é para ir por aí... também não faço mais comentários!

- O Graffiti: Uma Perspectiva de Comunicação na Educação

De: Nuno Carvalho - "Tags, polícia e lei"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 13:39

Caro Nuno Coelho,

já percebi que entende a cidade como um conjunto de proprietários. Vai daí, está justificado o lixo visual de tudo o que é publicidade espalhada pela cidade pelo simples facto de estar autorizado pelo seu dono. Mas que bela cidade defende.

Interessante a forma como analisa o progresso das leis, mas completamente demagógico. As leis não são uma ciência exacta como a matemática que evoluiu em função dos estudos e análises efectuadas. As leis são simplesmente criadas em função do pensamento dominante numa dada sociedade, num determinado tempo. Pesquise um pouco sobre a lei do aborto a nível internacional, sua aplicação e sua revogação, e perceberá o que quero dizer. Não me venha com questões de arrogância intelectual quando tem uma visão tão pouco esclarecedora sobre o tema. Arrogância é nem sequer ler com atenção os textos que, pelos vistos, são contrários à sua forma de pensar. Nunca me viu defender a colocação de tags em monumentos. Talvez nas fachadas dos bancos...

A sua visão do Estado é completamente oposta à minha. Você vê no Estado a melhor forma de unir as vontades de um conjunto de pessoas. Eu vejo no Estado a melhor forma de dominar um conjunto de pessoas. Eu acredito num todo colectivo em que o individuo é peça fundamental para a construção desse todo. E para mim isso não se limita ao voto de 4 em 4 anos. É essencial a critica e a construção no dia-a-dia. Com o exemplo que dá de me silenciar por não corroborar da sua opinião, numa tentativa de expor o meu contraditório, não reparou que essa é a forma de actuar do Estado e das suas leis. É realmente um belo exemplo daquilo que tento combater. E deixe-me que lhe diga que a minha desobediência relativamente a alguma lei não é arrogância intelectual, é simplesmente sanidade mental e consciência politica. Parece-me de todo exagerada a sua interpretação em relação à minha forma de estar na vida ao referir-se a uma forma umbiguista de nela estar. Tenho uma lógica de sociedade que implica, de todos os indivíduos, a ideia de que "...mais vale ser um cão raivoso que uma sardinha..."

Saudações em desobediência,
Nuno Carvalho

De: Rui Encarnação - "Tags e Bugs"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 12:46

Caro Tiago, a discussão à volta dos TAGs é fantástica e elucidativa.

Que a intervenção mural pode ser uma forma artística de expressão e, perdoe-me o pleonasmo, de intervenção social, é facto que só não tem por certo quem nem sequer ligar a televisão, não ouvir rádio, ler jornais, ou acordar diariamente. Que parte, por vezes grande parte, do que se faz por aí não passa de puro vandalismo, sem objectivos nem consequências, parece também ser inquestionável. Agora, eleger a repressão como forma de combater esse atentado, é que me parece, sinceramente, brutalmente desajustado.

Em primeiro lugar, há coisas bem mais importantes no Porto a combater do que os Tags e os Taguistas e formas bem mais sofisticadas de ser vândalo (compreendido como usar o que não é nosso e estragá-lo) com as quais ninguém se importa ou contra elas se insurge. Depois, tratar como criminoso, e especialmente à moda americana, os taguistas revela bem o sentido meramente punitivo e vingativo que muitos dos nossos habitantes têm da Lei e, por isso, a visão democrática que têm da sociedade e a irrealidade dessa visão.

Não resolver as causas, ou intervir para as tentar solucionar, de grande parte dessas intervenções sem nexo, é tornar irrelevante e ineficaz qualquer intervenção policial (basta ver o S. João de Deus e a erradicação do problema de droga que decorreu das demolições). Depois, a intervenção policial não é só eficaz quando é repressiva. A preventiva e de proximidade é muito mais certeira, especialmente nos resultados. Falta ainda a questão da intervenção artística e até social. Fica tudo no saco da criminalidade?

Haja Bom Senso!

PS: Meu Caro: a questão da gravação e da participação é, mesmo, política (aqui entendida como aquela que é inerente aos partidos políticos). Nenhum partido, dos instalados, é claro, quer sujeitar-se a ter povo e interventores cívicos a assistir a discussões na assembleia e, muito menos, a poder ser confrontado com as declarações e atitudes que vão sendo tomadas em nome desse Bem maior que é o partido. Por isso, ou muito me engano, ou vai-lhe restar a indignação por não se fazer a coisa mais óbvia e mais produtiva dos últimos anos em termos de participação cívica e verdadeira discussão política da e para a cidade. É pena, mas é a cidade e o país que temos...

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Nota de TAF: quanto aos tags e graffitis, esta minha proposta resolveria grande parte do problema
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De: Vítor Silva - "Transmissão online"

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 12:35

A transmissão em directo e posterior disponibilização on-demand de video é algo tão banal nos dias de hoje que uma iniciativa da chamada sociedade civil o faz regularmente há algum tempo, estou a referir-me neste caso ao Clube dos Pensadores. Provavelmente haverá outros exemplos mas não conheço. E também há exemplos de organismos públicos, recentemente foi publicada uma notícia que nos diz que "A Câmara Municipal de Santarém vai passar a transmitir as reuniões de Câmara através da Internet".
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blog.osmeusapontamentos.com

De: TAF - "Ao cuidado de Valente de Oliveira..."

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-23 03:03

... futuro Presidente da Assembleia Municipal do Porto, dois pedidos.

1 - A sala onde actualmente decorrem as sessões tem uma lotação extremamente reduzida para o público, na prática impedindo a assistência especialmente nas ocasiões em que há mais interesse nisso. Encontre-se uma solução para aumentar o número de lugares disponíveis nem que para isso tenha de se alterar o local (já foi sugerida por exemplo a Biblioteca Almeida Garrett).

2 - Transmitam-se as sessões pela Internet e disponibilizem-se as gravações no site da autarquia. Não há qualquer dificuldade técnica nem custo minimamente relevante envolvido (sei do que falo porque é a minha área profissional). Nada impede que assim se aumente a transparência da acção dos nossos representantes e se fomente a participação cívica dos munícipes. Nem sequer seria caso inédito em Portugal.

Sejamos claros: uma resposta de "não" a qualquer destas sugestões é eticamente condenável e completamente inaceitável. Há pouco ouvi um militante do PSD afirmar que seria necessária uma "decisão política". Não é. É uma questão de simples decência. Desafio quem quiser a provar o contrário. ;-)

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