De: F. Rocha Antunes - "Vandalismo numerado ou sem número"
Caro Ricardo Vale
Vandalismo é sempre vandalismo, e o facto de haver quem o pratica não legitima que outros façam o mesmo. É sempre possível ver qualquer acção humana de muitos pontos de vista diferentes, e o que é engraçado para uns pode não ter qualquer graça para outros. A questão dos graffitis que aqui se discute não é saber se são engraçados ou não, e se são uma forma de arte para algumas pessoas e porcaria que suja as paredes para outras. A questão, a tal velha questão que a si o enfastia, é mais uma vez a de saber onde começa a liberdade de cada um e onde pára o direito individual de se expressar à custa do que é de todos. O respeito pelo património colectivo não resulta de nenhum imperativo estético e pode ser suspenso em função de uma qualquer moda urbana, por muito contemporânea que nos pareça. Resulta de um facto mais simples mas não menos importante por isso: é propriedade de todos, e por isso tem de haver regras para qualquer um de nós possa intervir no que é de todos. Claro que há sempre vândalos que não percebem isso, e que partem, estragam e sujam o espaço público por acharem que não é de ninguém, ou pior ainda, que é só deles. Isso nunca legitima que façamos o mesmo. Por muito curiosa que seja a história dos origamis e da numeração dos 1000 que estão a aparecer no Porto, isso não legitima que sejam feitos no espaço público como são. O exemplo que junto é claro: as magnifícas portas da Reitoria da Universidade do Porto acabaram de ser objecto de restauro e já foram vandalizadas. Não há maneira de me convencer que é preciso fazer arte assim.
Francisco Rocha Antunes