De: Nuno Coelho - "Tags, polícia e lei"
É com algum interesse que sigo esta troca de opiniões acerca desta actividade. Desde já informo que considero as tags nada mais que lixo visual e concordo com a repressão que pelos vistos a nossa polícia não tem exercido. Quando eu era novo a minha mãe ensinou-me a não pintar as paredes da casa e acho que foi uma boa ideia. Para mim, que descobri novos suportes onde expressar o meu sentido artístico e para a casa, que ficaria muito menos bonita do que é agora.
A comparação das tags e graffitis com anúncios em fachadas de prédios esquece um pormenor fundamental. Ninguém coloca um anúncio publicitário num prédio sem a autorização dos proprietários desse imóvel. Algum dos taggers ou graffiters pergunta antes de sujar uma parede? É vandalismo e não tem outra palavra. Eu considero o espaço público um espaço fundamental para usufruir de uma boa vida urbana e o lixo visual que as tags causam, impede-me e a muita gente de apreciar a beleza de muitos conjuntos urbanísticos. Sejam eles antigos ou modernos. Os tags não têm o mínimo valor artístico. São apenas manifestações de ego abusivas. Vivo numa cidade onde os tags e graffitis são não apenas reprimidos mas são também crime. Eu concordo e não tenho razões para pensar que a sociedade canadiana sofre de qualquer défice democrático ou de direito de expressão. Da última vez que estive no Porto consegui ver tags na Igreja Românica de Cedofeita. Algum tagger decidiu que o défice democrático era tão grande que era absolutamente necessário deixar o autógrafo num monumento com quase 1000 anos... Se isto não é vandalismo e desrespeito pela nossa memória colectiva não percebo onde vive.
Algo que me incomoda profundamente também é a arrogância intelectual de quem pura e simplesmente joga fora o trabalho de anos de estudo de ciência política e jurídica e decide, unilateralmente, não respeitar as leis que, na sua óptica pessoal considera injustas. Quem tem autoridade para decidir o que é injusto ou não? Certamente que não é um único indivíduo sozinho, no meio de uma cidade de 1.5 milhões ou num país com 10. Para isso existe o Estado que corporiza mais ou menos bem a vontade de um conjunto de pessoas que tem de viver no mesmo local e com o mínimo de conflito. Além de que a sua interpretação de justiça peca por falta de contraditório. É injusto para si, ou para o todo da sociedade? Está a pensar no seu bem estar imediato ou no bem estar do todo como sociedade, a curto ou longo prazo? Quem o defende de interpretações também elas pessoais do que é justo ou injusto por parte de terceiros e que o possam afectar? Imagine que alguém decide que a propriedade da sua casa, ou automóvel (caso tenha) tem de ser partilhada porque é injusto haver quem não tenha onde morar. Eu posso decidir que é injusto que a minha opinião não seja corroborada por si e portanto ache que você tem de ser silenciado. É um caminho muito perigoso a interpretação pessoal das leis. Vivemos num espaço que é partilhado por outras pessoas por isso temos de fazer compromissos e concessões. A sua atitude umbiguista é corrosiva e em vez de criar apenas fragiliza e cria antagonismos, que depois não pode criticar em quem passa a fazer o mesmo a si e o comece a tratar por vândalo.
Nuno Coelho
University of Ottawa, Canada