2006-09-10
Caros participantes portuenses
Estranho muito o que alguns portuenses aqui escrevem. Dizem que gostam de viver no Porto mas só lhe encontram defeitos. É verdade que a cidade está velha, está despovoada e é suja.
Mas estar velha não é consequência de ser antiga)? Estar a despovoar-se não é um destino que acontece a todas as cidades? Ainda hoje de manhã ouvi na rádio TSF o presidente da Câmara de Évora queixar-se exactamente da mesma coisa.
Estar suja não é porque os portuenses, ou os portugueses são porcos? Será que o lixo nasce como as ervas daninhas? Ainda há dias vi na Praça da Liberdade andar uma equipa dos serviços de limpeza a varrer, a meio da tarde, e os empregados e clientes das esplanadas ali existentes a deitaram as sobras para o chão. E não fazem o mesmo os empregados dos cafés que limpam as mesas para o chão? Não fazem o mesmo quem põe o lixo ao lado dos contentores havendo espaço dentro dos mesmos?
E o Sr. Pedro Lessa apoia-se no que diz o Sr. Manuel Pizarro. Mas não é obrigação de um membro da oposição argumentar contra, mesmo quando não há toda a razão no que dizem?
Repito, não entendo estes amores portuenses.
Devo esclarecer que nasci em 1936 e vivo no Porto desde 1947. Vivi no centro até 1957 e desde aí em Paranhos, ao lado do Hospital Conde de Ferreira. E sinto-me bem. Gosto do meu Porto agora como sempre gostei antes.
O que tem Matosinhos, Maia, Valongo, Gondomar e Gaia melhor que o Porto? Shoppings? Construção densa, tão ao gosto de algumas pessoas? Daqui a dezenas de anos verão quantas "Vilas d'Este" vão existir. No Porto até o que é velho é bonito.
Saudações aos portuenses
Francisco Oliveira
Na Rua da Boavista não há vivência social, é uma rua de serviços e os residentes não usam nem o jardim da Praça da República nem sequer o da Rotunda, as casas são o refúgio donde todos evitam sair, não saem para tomar café à noite, porque tinham que pegar no carro e procurar um aberto...
É uma rua tida em boa conta, próxima de tudo, quase não há lojas vagas, no entanto acontece o seguinte, os jovens alugam os apartamentos quando vêm estudar, mas em menos de um ano mudam-se para a periferia ou para apartamentos mais baratos em outras zonas.
Julgo, daquilo que observo, que cada vez tem menos residentes fixos, mesmo aqueles que compram casa, rapidamente a põem à venda para adquirir fora por um preço bem mais agradável.
Há sempre gente para comprar e alugar, só que numa espécie de regime transitório, tipo um desenrasque. Um jovem compra um apartamento divide-o com 3 amigos e no fim dos estudos ou quando quer constituir família, vende e vai embora. Já quase só vivem nas rua os jovens empresários, porque as suas vidas agitadas exigem estar sempre dentro da cidade e disponíveis a qualquer hora. Também residem os agregados que ocupam fogos com renda condicionada e as novas famílias do Bairro da Bouça, que vamos ver no que vai dar.
Não nos falta garagens, nem parques, nem estacionamento, o problema é somar esse custo ao da habitação, depois as multas, por fim equacionar isto tudo e dizer: pago demais para aquilo que usufruo.
A conclusão a que chego, penso que é lógica: a Rua da Boavista tem preços que não justificam a qualidade de vida, pagar 150 mil euros por um apartamento e depois termos que nos deslocar à periferia para ter tudo o que precisamos, passear miúdos, ensinar a andar de bicicleta, fica tudo muito longe para quem quer educar uma família. Havia uma solução, se as casas tivessem logradouros ou jardins comuns; não tendo, não se justificam tais preços. Estou convicta que as jovens famílias estariam dispostas a pagar mais, mas por um sítio onde pudessem educar os seus filhos com todos os recursos, não são recursos de plástico - playstation, ginásio - não, recursos naturais e convivência saudável.
Enquanto não se apostar forte na habitação para a classe média–baixa, a Cidade do Porto será o local onde se estuda, onde estão os serviços públicos, mas onde não se planeia viver o resto da nossa vida.
Digo classe média-baixa sim, porque quem está na classe alta já tem pouco para onde subir, quem está por baixo fará todos os esforços para ascender, isso sim é a filosofia portuense, isso é que marca a nossa história - a capacidade de ascensão.
Já agora, e para concluir, muito aprecio a opinião positiva do Francisco e da Assunção, é natural que queiram dizer à juventude como viver e apreciar a cidade, mas para os jovens está a ser difícil suportar este défice entre o investimento e o retorno social, nem todos têm pais ricos, nem ganharam a lotaria, é natural que procurem casas que possam suportar no início da sua vida. E vocês geração (presumo) de 60 inflacionou a coisa, a ponto de não conseguirmos aqui viver e ao mesmo tempo ter que procurar fora respostas, para as necessidades que sentimos.
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Cristina Santos
- Casas em Lisboa custam mais 50% do que no Porto - via Nortugal
- Fadesa inicia actividade no Porto - via Dolo Eventual - ver também informação da empresa
- Porto Vivo está a analisar 170 projectos para a Baixa
- Produtoras de cinema acatam cláusula de Rio
- Planetário do Porto retoma sessões
- Obras para expandir Europarque arrancam até ao final do ano
- "Misérias Ilimitadas, Lda" procura pedintes
- Audio Slide Show: Chinatown's New Wave
- Freitag Shop Zurich - e também aqui.
No meu caso, apesar de viver fora da Baixa, cresci nela. Até há pouco tempo, vivi naquela zona a poente da Baixa, aquela que alguns se referem de vez em quando com algum sentido crítico. Como se fosse malvisto viver junto ao mar. Mas é certo que esta câmara não se distrai com aquela zona. Agora vivo (e trabalho) na Baixa. É verdade. Mas também não sou louco!
Penso, no entanto, que o post do Hélder Sousa foi mal interpretado. Aceito na generalidade o que diz, mas devemos dar importância ao essencial, que imagino seria essa a sua intenção. É bom viver na Baixa, todos o desejariam, mas ainda se é maltratado na Baixa.
Cresci na Baixa como disse, em plena Pr. Carlos Alberto/Rua de Cedofeita. Fiz o Irene Lisboa, quando ainda lá estava. Cresci, no meio de lingerie, devido à actividade profissional da minha mãe e assisti ao momento em que os comerciantes passaram a empresários. Quando ainda ninguém falava (nem sonhavam) em reabilitação, lá em casa teve-se a coragem, de fazer reabilitação, construindo cinco pisos em plena Praça/Cedofeita. Claro que com críticas e até notícia de jornal. Tudo isto para dizer que sinto bem a Baixa e especialmente esta zona. Comungo, portanto de todos os sitios e locais mencionados pelo FRAntunes e Assunção Costa Lima. Cresci com eles.
Mas a realidade é bem diferente, infelizmente, de todo esse passado glorioso (até parece longínquo) e fomentador de um movimento, fulgor e vida fora do vulgar de toda esta zona da Baixa. Quem conheceu esse tempo (como eu) sabe bem a que me refiro, e até faz impressão olhar actualmente para o que se passa.
Vivo agora na Baixa (concretamente na R. Boavista), com as virtudes referidas por FRAntunes, mas vivo no meio da sujidade, sacos de lixo à porta, dejectos que começam a não ser só de animais, salas de chuto em plena via pública, o constante olhar sobre o ombro tal a insegurança à noite, edifícios em ruínas, ruas estragadas, trânsito caótico, caça à multa de estacionamento quando mesmo ao lado permite-se todo o abuso dos carros ignorado pelos fiscais (dito por um deles que tinham ordens superiores para só olharem para o estacionamento), uma rede de metro (que devia existir há 30 anos) mal planeada e cara que só serve alguns e especialmente as periferias e não a cidade, algumas linhas já sobrelotadas, mau urbanismo, má arquitectura praticada por quem não tem habilitações para tal, etc etc etc (vou parar por aqui para não me alongar).
Para finalizar, todos reconhecem as virtudes de se morar na Baixa, mas parece que só alguns ingénuos e idealistas (como eu) se submetem as estas provações todas para tentar ter alguma qualidade de vida urbana. Porque a realidade (no meu caso p.ex.) é que não nos podemos fechar no interior da qualidade das nossas casas, é que para lá chegar temos de atravessar todo este estado de sítio.
Cumprimentos,
Pedro Santos Lessa.
pedrolessa@a2mais.com
P.S.- Tudo isto, eventualmente seria até suportável se tivessemos uma Câmara com perspectivas de futuro mas, quando leio opiniões como a do Vereador Pizarro, constatam-se as prioridades da insigne figura que gere os destinos da nossa cidade.
Caros participantes
A propósito de regras de mercado...
Já foi dado por encerrado o período de discussão pública do novo instrumento legal que irá regular o mercado público de aquisição de bens e serviços – o Código dos Contratos Públicos (CCP) –, e que, entre outros, inclui os contratos de empreitadas de obras públicas e os contratos de trabalhos de concepção (importantes mecanismos nos processos de reabilitação urbana).
Confirmando o referido por Francisco Rocha Antunes, que com as actuais formas de comportamento enquanto adquirentes de bens apenas se contribui para a redução do mercado de trabalho, este novo “pacote” de regras veio, na minha opinião, dar o “golpe final” para o mercado público da aquisição de ideias. Se até aqui uma entidade pública para adquirir ideias (materializadas em planos urbanísticos, projectos arquitectónicos ou outras criações conceptuais) tinha obrigatoriamente, de acordo com a lei, de optar por um procedimento de concurso para trabalhos de concepção (que obedece a regras específicas, tais como o anonimato ou a presença no júri de profissionais com as mesmas habilitações exigidas no concurso – e mesmo assim tantas vezes “esquecidas” por muitas entidades adjudicantes), a partir de agora tal obrigatoriedade passa a ser uma opção.
Com a introdução do simples vocábulo “pode” no artigo 219.º, aqueles que são agentes que muito contribuem para o acréscimo de valor aos imóveis através das suas “ideias” (tão necessário, por exemplo, a tantos edifícios da Baixa), gerando e ampliando o mercado imobiliário, vêem assim cada vez mais reduzidas as oportunidades de trabalho num mercado que, como também referiu Francisco Rocha Antunes, não se enquadrando muito bem numa economia planificada, também não utiliza muito bem as regras da economia de mercado.
Paula Morais
Arquitecta
Nota: Para quem quiser conhecer melhor o novo CCP aqui fica o anteprojecto apresentado na discussão pública (PDF 687KB).
Caro Hélder Sousa
Peço desculpa mas nunca tinha reparado que comentava as suas opiniões. Confesso que quando escrevo me preocupo essencialmente com a opinião em si, não muito com quem a escreve. Mas longe de mim querer desconsiderá-lo, a si ou a qualquer outra pessoa.
Eu só reagi porque no seu post só quem era incapaz é que vivia na Baixa. Eu tenho a pretensão, quiçá tola, de não ser incapaz e reagi. E se costuma ler o blogue poderá constatar que sou um dos muitos que não está conformado com o estado em que a Baixa está. E acredite que dedico muitas das minhas energias a tentar contribuir para que a Baixa seja melhor.
Quanto ao 500 posso dizer-lhe que o utilizo 3 vezes por semana, com o meu cartão andante, e que quando falei na rede de transportes públicos não foi por ter lido nos jornais: sou um utilizador corrente dos mesmos sempre que preciso de sair da minha zona.
Francisco Rocha Antunes
Morador em Miragaia
PSD acusa socialistas de travar linha da Boavista no JN de hoje.
Conforme seria previsível, a concretização desta decisão retira o tapete ao investimento que a CMP fez na requalificação de parte da Avenida da Boavista para o evento do Circuito da Boavista.
É compreensível a irritação, afinal tratou-se duma decisão cozinhada com a filosofia do "ovo no cu da galinha". Irritação até consigo próprio. Se fosse comigo era. Previsível como há cerca de um ano escrevi aqui num post n'A Baixa do Porto.
E sinceramente, aqui para nós, muito pouco imaginativa esta forma de financiamento para quem não gosta de gastar: afinal os exemplos alternativos de financiamento são tantos e com muito menos risco, porque é que agora o executivo da CMP se vê nesta situação? Também sou um grande apreciador dos clássicos e a história e tradição do Porto no desporto automóvel justificam na minha opinião plenamente a realização regular deste circuito. Mas esta minha opinião ainda reforça mais a condenação por esta forma de financiamento: com o sucesso que teve e se pretendíamos elevá-la ao nível dos circuitos europeus de clássicos teria sido assim tão difícil financiá-la doutra forma?
É cada vez mais claro para todos que o sucesso do Metro do Porto se deve em grande parte ao transporte nos movimentos pendulares de quem vive fora e trabalha no Porto e que são precisamente estes que dão sustentabilidade a todo o sistema levando a que o número de passageiros previstos para 2008 já tenha sido atingido há meses atrás. É cada vez mais claro que o estrangulamento do troço Senhora da Hora - Trindade não se vai resolver com uma meia-solução na Avenida da Boavista deixando os passageiros a mais de 300 metros da estação da Casa da Música e que, apesar do Metro ser chique, irá circular nesta linha com taxas de ocupação abaixo dos 40%. Esta questão sensível só poderá ser resolvida com uma linha alternativa que até poderá ser Matosinhos/ Senhora da Hora/ S. Mamede. Foi visível (e ainda é) o esforço completamente desmesurado, ao limite do incompreensível, na insistência na construção da linha da Boavista.
Era preciso ver-se agora nesta aflição?
João Carvalho e Costa
Eng.º Electrotécnico (seguindo o exemplo do nosso amigo Francisco)
joao.ccosta@oniduo.pt
Pelos vistos sou vizinha do Sr. Rocha Antunes, ou pelo menos percorremos os mesmos trajectos. Também utilizo os Jardins do Palácio de Cristal, o da Cordoaria, e o do Carregal. Vou às frutarias da zona (particularmente à Fininha), tomo café (e por vezes até almoço) no café Progresso e vou aos pastéis e salgados da Padaria Ribeiro. Melo-me por um èclair da Quinta do Paço, vou aos gelados à Sincelo, compro os meus vinhos principalmente na garrafeira do Carmo e, até ao mês passado, comprava boroa de milho na Ceylão, em Carlos Alberto. Digo comprava porque aquela velha mercearia/pomar fechou e ali vai nascer, dizem-me, uma casa de artigos ortopédicos. Cansada de trabalhar, desolada com a mais que lenta ou mesmo inexistente recuperação de Carlos Alberto, a Dª Maria José desistiu. Para ela a minha homenagem: era, no ramo alimentar, a última resistente depois de desaparecerem de Carlos Alberto a casa Damas, a Reco e a Manteigaria Vianeza. Agora casas de comunicações e agências de viagens proliferam na zona. Acontece que não me alimento de telemóveis nem de bilhetes de avião...
Tal como Rocha Antunes vivo na Baixa por opção. Mas não tenho estação de Metro próxima já que o eixo S. Bento / Carmo / Carregal / Palácio / Campo Alegre parece estar condenado a ser esquecido por este meio de transporte. Mas tenho o Túnel de Ceuta, qual oitava maravilha do mundo que, tanto quanto eu posso observar, gera mais engarrafamentos na Rua Clemente Menéres que antes da sua construção. Mas tem o seu quê de positivo: minha Mãe, com os seus quase 90 anos, distrai-se na varanda a ver os engarrafamentos. Eu sabia que o túnel geraria algo favorável...
Curiosamente esta obra ou uma qualquer obra anterior descobriu a antiga placa toponímica da Rua D. Manuel II. E agora, quase lado a lado as duas Placas “Rua D. Manuel II” e “Rua do Triunfo” testemunham as contradições da cidade. A rua que se chamava Rua do Triunfo em homenagem ao triunfo da revolução liberal, passou a chamar-se Rua D. Manuel II já no governo da República, homenageando assim o mesmo Rei Português que a República expulsou: coisas do Porto...
Recordo aqui o meu post de 1 de Julho de 2004. E, de novo confesso - eu não sou louca mas tenho esta fraqueza: eu vivo na Baixa.
Assunção Costa-Lima
Sr. Francisco Rocha Antunes (promotor imobiliário)
As minhas escassas participações no blogue suscitam sempre algum comentário da sua parte, não é? Ainda bem. Ainda bem.
Devo-lhe dizer que eu, apesar de não viver bem bem na Baixa (vivo perto), passo por cá os meus dias e as minhas noites também. Não ando muito a pé, mas ando de mota porque sou preguiçoso e porque ainda é a melhor forma de chegar do meu bairro à Baixa. A alternativa seria o antigo 35 ou o actual 500. Experimente andar um dia destes. É quase como o metro, mas um bocadinho mais cheio, principalmente nas horas em que é mesmo mais necessário andar neles. E até vou aos sítios que refere e ainda a mais dois ou três. Talvez nos cruzemos um dia.
Também não acho que seja um ‘alien’. Acho apenas que é persistente. Eu também sou. Gosto da cidade durante o dia e durante a noite. Gosto da vista sobre o Douro da minha varanda, do jardim com árvores e do pavimento aquecido para as noites frias de Inverno (não sei o nome técnico disso, mas posso ver).
Agora se acha que as boas coisas que temos são suficientes para uma cidade como deve ser, óptimo. Fico muito contente. Eu não acho, por isso é que me dei ao trabalho de escrever aquele longo e cada vez mais inútil texto.
Em relação ao exemplo de Lisboa: peço desculpa pelo tão mau exemplo. Deve ter sido do entusiasmo.
Meus Caros
Hoje venho falar de um assunto que não sendo exclusivo da Baixa tem também muito a ver com a Baixa. Aviso já que pode ser ligeiramente maçador mas nem tudo tem de ser engraçado para ser verdade ou importante.
Venho falar da importância prática de termos todos regras de mercado. E de todos contribuirmos para que o mercado, que é a soma de milhares de mercados específicos, exista. O que gostaria de realçar hoje é a parte que depende de nós nisso, que é imensa.
Não vale a pena estar aqui a explicar as vantagens para todos de mercados eficientes. São pacificamente reconhecidas, desde a recompensa da criatividade, da inovação e da persistência, para não falar de tantas outras coisas que dependem disso. Em Portugal gostamos muito de pensar que vivemos em economia de mercado quando na maioria das vezes apenas vivemos numa economia não planificada, mas que não utiliza como deve ser as regras de uma economia de mercado.
O que queria que pensassem era sobre aquilo que depende de cada um de nós: a utilização de práticas de mercado enquanto adquirente de produtos ou serviços.
Muitas vezes por economia de esforço (um eufemismo para preguiça) recorremos a quem temos a ideia que serve para nos vender um produto ou serviço sem nos preocuparmos muito se essa é a melhor escolha circunstancial que podemos fazer. E, o que é mais estranho, colaboramos todos activamente para evitarmos recorrer ao mercado, não vá aparecer alguém com uma proposta melhor. Se quem está a tentar vender um produto tem razões para evitar uma eventual concorrência, quem está a comprar deveria ter o interesse oposto. Contudo, a maioria de nós, enquanto compradores, prescinde magnanimamente dessa obrigação com consequências que são importantes para a eficiência da economia.
Lembrei-me disto ao ler a notícia de que a Câmara do Porto assinou um protocolo com a Universidade do Porto para que a Faculdade de Economia faça o acompanhamento técnico da gestão camarária em alguns aspectos dessa gestão.
Não questiono, como é evidente, a qualidade do trabalho que, potencialmente, a Faculdade de Economia vai fazer. Mas já questiono a bondade desta medida para os principais clientes da Faculdade da Economia, que são os seus alunos, entre os quais se inclui o actual presidente da Câmara. De cada vez que a Faculdade de Economia for contratada, ainda por cima sem concorrência, para fazer este tipo de trabalhos, os seus antigos alunos, os economistas, vêm o seu mercado de prestação de serviços reduzido. Não duvido da boa intenção dos envolvidos, mas se repararem bem é a soma de todas estas excepções, que alastram com uma normalidade assustadora, que diminui em muito o mercado de trabalho de tantas empresas e profissionais liberais. E que faz com que a ideia de que o Porto é um mercado pequeno e estreito seja verdade.
É importante que as excepções sejam reduzidas a isso mesmo, a condições excepcionais. E que a regra seja a de recorrer ao mercado aberto. Não há nada como o funcionamento da concorrência e de um mercado aberto para que uma economia funcione bem.
Há muitas pessoas que, teoricamente, estão de acordo com isto. Mas infelizmente há muito poucas que, na prática, actuem de acordo com o que acham. Porque dá mais trabalho, porque se vão buscar vantagens laterais que não deviam influenciar o negócio ou porque se quer agradar a alguém.
Como qualquer professor ou aluno da Faculdade de Economia vos poderia explicar melhor que eu, está mais que provado que é um erro que se paga muito caro. Pena que aceitem ser mais um das excepções que são a regra da nossa região e País.
Francisco Rocha Antunes
Promotor Imobiliário
PS. A minha empresa está cheia de trabalho conquistado em mercado aberto e quem trabalha connosco sabe o que gostamos de recorrer às melhores propostas disponíveis.
Francisco Rocha Antunes
Director-geral
John Neild & Associados
Gestão de Promoção Imobiliária
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Nota de TAF: Completamente de acordo. Já em 2004 escrevi o seguinte - «Mas o portuense típico também é bem intencionado. Aliás, o português típico é bem intencionado. No entanto, acredita que fins louváveis justificam frequentemente meios “manhosos”. Quando não há um tecido empresarial sólido, tenta fazer através da Universidade aquilo que não fez nas empresas. Por isso inventa institutos, centros de prestação de serviços, pequenos negócios que recorrem à estrutura e principalmente aos recursos humanos da Universidade. O objectivo nem será o lucro pessoal mas a sincera vontade de fazer progredir a sua região, na esperança de que mais tarde haja “spin-offs” que vinguem no mercado. Contudo, não percebe que dessa forma está quase sempre a fazer concorrência desleal às empresas que tentam conquistar espaço sem a “muleta” da Universidade. E afinal mata à partida aquilo que tenta promover por meios errados.»
Não querendo entrar em guerras regionalistas sobre qual é a melhor (ou pior) e em resposta a Hélder Sousa "sobre a vida na baixa do Porto", devo dizer que vivo, desde há cinco anos, no centro de Lisboa (Campo Mártires da Pátria ou Campo de Santana), visitando o Porto (e na grande parte das vezes o centro) pelo menos duas vezes por mês. Nas comparações que facilmente posso fazer não chego facilmente a uma conclusão sobre qual o centro mais desertificado, se o de Lisboa, se o do Porto. Ambos me enchem de tristeza quando à noite ou ao fim-de-semana, contemplo ruas e ruas desertas ilustradas apenas por prédios devolutos.
As cidades perderam a sua dimensão humana e cada vez mais vivemos em saídas da auto-estrada. Tenho um amigo que vive a seguir ao nó de Francos, outro na saída de Telheiras. Outro ainda que trabalhando no centro de saúde de Sete Rios e vivendo a menos de 1 km de distância, tem de ir de carro, pois teria de atravessar dois nós de uma auto-estrada sem qualquer passagem para peões.
Pretendo regressar ao Porto dentro de dois anos e se possível, viver na Baixa. Façam-me portanto um favor, vão buscar exemplos onde quiserem, menos a Lisboa...
Miguel Araújo Abreu
- "Cláusula tem carácter simbólico" - por sugestão de TeoDias
- Saudades da outra senhora... - sobre o mesmo assunto, opinião do vereador Manuel Pizarro
- Construir e (re)construir - opinião de Manuel Correia Fernandes na linha do que tem sido debatido ultimamente aqui no blog (RGEU, etc.)
- Metro: PSD acusa socialistas de travar linha da Boavista
- Elementos do Movimento Juntos pelo Rivoli debatem candidatura
- Praça Carlos Alberto começa a ser reabilitada em Novembro
Tem 31 anos, vive a 2 minutos do emprego e a 10 minutos da escola do educando, faz o trajecto ao volante de um boeing, para poupar 7 minutos. Compra as coca light, o pão, a fruta e o resto da mercadoria no Pingo Doce, só vai ao Continente através da Internet. Almoça diariamente num restaurante acanhado que repete a ementa de 15 em 15 dias, falha ocasionalmente às quintas porque há tripas e não gosta do cheiro. Tem uma estação de metro pertinho de casa, mas ainda não conseguiu decifrar as linhas e as 2 vezes que andou foi grátis, por não conseguir introduzir o andante nalguma cavidade que pudesse existir naquelas máquinas. Questiona-se sobre a existência de um autocarro com o numero 322, culpando os STCP pelo trânsito condicionado, com 322 autocarros como se pode circular?!
Evita jardins acanhados porque acha que é perder tempo ir ao jardim e não apanhar ar fresco, raramente passeia na cidade e ao fim de semana parte para a aldeia mais próxima, sendo obrigado a fazer mais de 100 km até encontrar uma zona verdadeiramente rural de natureza conservada.
Esforça-se por andar a pé na cidade, esgota as forças em poucos metros de calçada e corre espavorido para dentro do carro, para recuperar o folgo através do ar condicionado. Faz trajectos mais longos que o necessário para se desviar do encontro com as pessoas que estão sempre paradas no mesmo sítio, dão-lhe a estranha impressão que os dias não passam. Fica triste só de olhar para as praças e não conseguir valorizar essa dádiva pública.
Fica melancólico com as recordações positivas dos tempos de estudante, quando o Porto era positivo e passageiro, todos os caminhos eram feitos a pé, os edifícios eram todos carismáticos, os «habituas» das praças não atemorizavam a juventude, o desporto era bom em qualquer sítio, as águas furtadas serviam de dormitório e sede de festas, as caleiras furadas serviam de partidas para os amigos.
Decide 3 vezes por semana que tem que fazer exercício físico, comer bem, descansar e andar a pé, de outra forma não consegue transmitir ou receber energias positivas da Cidade, a única solução que encontra é mudar-se para 15 km à frente.
Culpa-se por não estar a conseguir resistir ao chamamento da periferia, não quer aceitar que o Porto seja agora uma cidade de passagem, adequada aos que chegam e precisam de se instalar provisoriamente, não aceita que a cidade não tenha evoluído ao ritmo das suas necessidades. Como sente que tem que partir para melhorar, pensa que a Cidade morrerá, mas ignora que há sempre gente nova a chegar e gente habitual que se passeia com sacos de fruta verdejante pelos mais emblemáticos cafés do Porto.
Resigna-se geralmente à noite em frente ao computador, e por norma tenta incentivar os amigos com anúncios solenes do tipo:
– Não sei se sou deprimido, se a cidade me deprime, não sei se fico, não sei se vou, sei que por enquanto estou no Porto por opção, a opção de me levantar 20 minutos antes de pegar ao serviço.
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Cristina Santos
A respeito da recente discussão sobre reabilitação no centro histórico portuense, tenho a dizer que o restauro (enquanto reconstrução objectiva do original) na minha perspectiva não deve ser usado como resposta à reabilitação de edifícios antigos que pretendam ser habitáveis por cidadãos contemporâneos, com necessidades específicas do seu tempo.
A reinterpretação desta zona mais antiga da cidade urge! Não acho que optar pela mimese da arquitectura da data de edificação do imóvel seja a opção mais correcta, pois desse modo o arquitecto está a demitir-se de projectar a arquitectura do seu tempo. É uma posição contra natura que estabelece um corte na história da cidade, cristalizando os seus edifícios e transportando-os para uma realidade espacial e para um tempo que já não são os seus.
Contudo a tarefa não se adivinha fácil, como anteriormente já aqui Cristina Santos, Alexandre Burmester, César Costa e Paula Morais afirmaram. Os principais entraves são os regulamentos que regem estas intervenções (normalmente caducos ou impraticáveis) e também os agentes que os interpretam (e muitas vezes os reinterpretam) segundo a sua vontade e capacidade. Porém acho que cabe ao arquitecto trabalhar no sentido da sua intervenção na cidade ser sempre uma mais-valia contemporânea e não um revivalismo duma determinada época. Reabilitar sim, mas com uma linguagem e uma atitude crítica que reflicta os usos e as necessidades da sociedade contemporânea.
Na faculdade os professores repetem mil e uma vezes que os arquitectos nunca deixam de apreender! Se calhar é por levarem esta frase tão à letra que os organismos que nos regem não param de nos aferir e fiscalizar na nossa prática profissional (dando a ideia que nunca estamos aptos para a autonomia profissional). Se calhar é por sermos eternos aprendizes que não temos a capacidade necessária para pertencer a um júri que apreciará a futura intervenção arquitectónica no mais emblemático mercado da cidade. É curioso mas a arquitectura neste caso está entregue aos filósofos, aos economistas, aos engenheiros e até à Sra. Dona Laura.
Cumprimentos
Luís de Sousa
P.S. Fico contente por existirem mais portuenses por opção! Isto demonstra que a desertificação antes de mais é um problema de atitude. Vivo a mesma realidade de que fala o Rocha Antunes e dou-lhe os parabéns por também ele ser Portuense por Opção.
Meus Caros
Só para vos dizer que eu vivo na Baixa do Porto por opção, ou seja, porque escolhi viver na Baixa.
E não estou nada arrependido. Vou a pé para o meu escritório, uso a Via de Cintura Interna uma vez por semana se tanto e não perco mais do que 10 minutos a pé para nenhuma das minhas deslocações correntes.
Tenho vários jardins que utilizo diariamente, desde o Jardim do Palácio de Cristal ao Jardim da Cordoaria, bem como o Jardim do Carregal. Há muito menos dejectos de cães na zona onde agora moro do que na Foz onde já morei, compro os meus vinhos numa garrafeira de um senhor que me aconselha as últimas novidades, há 4 frutarias com boa fruta onde me abasteço regularmente, tenho várias confeitarias com diferentes tipos de pão para poder variar o meu percurso de compras diárias, posso ir tomar um café ou beber uma cerveja em diversos cafés da minha zona, tenho inúmeras opções de lazer a 10 minutos a pé (Rivoli, Carlos Alberto, S. João e Coliseu), beneficio de uma rede de transportes públicos limpos e eficientes que no caso dos autocarros funciona 24 horas, posso ir calmamente às compras ao Corte Inglês utilizando a linha de metro perto de minha casa, delicio-me com os pastéis da Padaria Ribeiro, tomo café sem medo de ser envenenado no café Progresso, no café Sical e em tantos outros dos renovados cafés da Baixa, sempre que posso vou ao Sessenta Setenta, onde se come bem mais do que o vulgar filete de pescada, mas o que não me faltam são restaurantes onde comer bem, como o Guernica e tantos outros, e com o luxo de poder beber vinho sem ter de me preocupar com ter de conduzir a seguir, enfim, devo ser um verdadeiro “alien”.
Mas confesso que gosto muito de aqui viver. Manias.
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
É sabido que ao longo dos últimos dez anos a cidade sofreu algumas das suas mais importantes transformações. Os hábitos de relacionamento da população com a cidade alteraram-se mais neste período de tempo – com adaptações sucessivas a obras, eventos festivos, mudanças de políticas e de estratégias para a cidade – do que em várias décadas anteriores.
Dizem-me que é também nestes dez anos que mais se evidenciou a desertificação do centro da cidade.
Para começar por aqui, relembro que há dez anos atrás – por alturas da classificação da cidade como Património Mundial pela UNESCO – já se falava em reabilitação da Baixa, em esforços políticos para recuperar os habitantes e a centralidade.
O que aconteceu foi que em dez anos construíram-se vários centros comerciais nas periferias, aglomerados imensos de T2 e T3 a preços simpáticos, os majores ganharam sucessivas eleições e a cidade do Porto em vez de ganhar uma nova centralidade ficou cada vez mais periférica, cada vez mais abandonada e ainda mais degradada, ao contrário do que se quer fazer acreditar nas reportagens televisivas.
O Porto é, em 2006, uma cidade ainda mais triste – apesar de termos mais dias de sol – mais abandonada, mais feia e infinitamente mais suja e desinteressante!
O que aconteceu de errado? Tudo ou quase tudo. Desde a ineficácia dos projectos de requalificação urbana e da rede de transportes públicos a políticas culturais de bradar aos céus em qualquer cidade desenvolvida, passando obsessões mais ou menos monstruosas e caseiras com despesas públicas, não houve nada que não acontecesse no Porto.
Bons dias!
A propósito de um post de Paula Morais.
Entendo (se calhar erradamente...) que a reabilitação não se deve limitar a operações exclusivamente próximas do restauro. No meu ponto de vista reabilitar passa também por dar novas funções a edifícios que deixaram de ser "necessários". Quer em termos funcionais, quer pela sua distribuição interior, quer até pelas suas áreas (demasiado grandes ou pequenas), etc. Sei que muitas vozes se levantam contra esta visão "terrorista" de intervenção, mas atente-se por exemplo no caso de algumas pousadas que aproveitaram extintos conventos, ou mosteiros. Entre deixá-los cair, e intervir dotando-os de novas funções, eu escolho a segunda.
Se a operação se limitar ao restauro, aí a legislação quase não levanta problemas. O problema começa quando se tenta alterar algo que por qualquer razão já "não serve". E nem é só o problema do uso do betão ou das casas de banho, como faz muito bem referência Cristina Santos no seu último post. Tentem, por exemplo, transformar um armazém há muito devoluto, nuns lofts, como sugeria Luís Bandera num seu post. Depois digam-me qualquer coisa...
Qual é a política de reabilitação que não deixa mexer nas fachadas (que por princípio não acho mal...), mas que cobra taxas avultadíssimas pelo estacionamento que logicamente não se pode fazer? É só um pequeno exemplo. Posso dar vários e estou certo que muitas pessoas aqui do blog também o podem fazer facilmente.
Se calhar tenho uma visão enviesada. Mas insisto: em Portugal parece que é proibido reabilitar. E tenho as maiores dúvidas se é com legislação, como a que temos ultimamente, que lá vamos. Veja-se a regulamentação acústica. Como bem referiu Alexandre Burmester, é tão complexa que toca o ridículo...
Cumprimentos
Caros participantes
Continuando ainda a ter como justificação o tema da reabilitação vs legislação, e concordando que no contexto actual é deveras uma árdua tarefa por exemplo reabilitar um simples edifício na Baixa do Porto, aproveito este mote para divulgar uma reflexão colectiva realizada há 4 anos atrás sobre este assunto e cujas conclusões me parecem interessantes e inspiradoras.
Tratou-se de um colóquio internacional, intitulado “Um Código de Urbanismo para Portugal?”, realizado na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, e que, partindo da premissa de que a actual legislação urbanística em Portugal tem dado origem desde há muito tempo a resultados que espelham a sua dispersão, desagregação e incoerência, reuniram-se vários especialistas e estudiosos do assunto (incluindo juristas, urbanistas, engenheiros, arquitectos, entre outros), oriundos de vários países, e debateram de forma plural e interdisciplinar a hipótese da concretização de um Código de Urbanismo para Portugal (perdoem-me os juristas pela minha definição simplista e redutora, mas para quem não saiba, um Código é uma espécie de lei que congrega todas as normas de Direito dedicadas a uma determinada matéria de forma a que as mesmas sejam mais acessíveis e coerentes).
Após se debaterem as vantagens e os inconvenientes (que fiquei a saber na altura, também os há) de um Código do Urbanismo, e de serem apresentadas a experiências realizadas em alguns países europeus (na Alemanha, na França e na Itália) foi inclusive avançada uma proposta de estrutura e conteúdos para um código português, e que, entre outros, incluía um capítulo dedicado à Renovação Urbana (que inclui a reabilitação de edifícios) – e tão necessário que seria tal capítulo para a recuperação da Baixa portuense! Contudo, e apesar de terem estado presentes representantes do Governo, tal proposta não foi ainda incluída nos assuntos a serem debatidos pelo nosso órgão legislador.
Assim, perante tal aparente desinteresse dos órgãos estaduais, e sendo já sentidas pelos cidadãos em geral (e não apenas pelos técnicos) as consequências da ausência de regras claras e coerentes dedicadas ao sector do urbanismo, não seria uma boa ideia a de se aproveitar a iniciativa de cidadãos que é Petição Pública (e que aqui já fiz referência de um exemplo), de um grupo de cidadãos interessados – e não necessariamente organizados em torno de apenas uma única profissão – pedir ao Governo um Código de Urbanismo para Portugal?
Paula Morais
Arquitecta
A Nova Indiana - lembro-me muito bem desta mercearia, das suas montras dispostas com gosto, dos odores a café e a outras especiarias que de lá saíam para a rua onde passavam os eléctricos. Tenho a impressão que foi lá que vi, pela primeira vez, cubos de açúcar (apresentados em taças de vidro). Um dia, voltei ao Porto. A fachada ficou mais ou menos conservada, juntaram um pouco de alumínio, destruíram o quintal, construíram uma galeria onde nunca entrei. Esta imagem transporta-me até à minha infância, até ao tempo em que de calções calcorreava os passeios de Cedofeita para ir à escola primária.
Duas curtas observações - após leitura do post de Assunção Costa Lima e de ver esta foto.
1. A Travessa do Rosário (actual Rua Jaime Rios de Sousa) - esta artéria da cidade encontra-se em obras de requalificação (bem precisava) - no entanto reparei que a largura dos passeios é insuficiente para a passagem de uma cadeirinha de bebé, e ainda menos para uma cadeira de deficiente - creio que existe na autarquia um provedor dos deficientes e uma loja da mobilidade. Terão sido consultados? Ou são simplesmente um cargo honorífico e mais uma vitrine da Câmara?
2. A Travessa de Cedofeita (espero que lhe guardem o nome, que não encontrem outro professor universitário dos anos sessenta a precisar de placa na toponímia da cidade) tem muito mais movimento do que a Travessa do Rosário, está integrada na zona pedonal de Cedofeita, mas foi completamente esquecida nas obras de requalificação. os passeios são mais do que tortos, o único troço realmente a que se pode chamar passeio foi reconstruído pela loja espanhola que ocupa o lugar do antigo "Bazar dos três vinténs". o problema dos carrinhos de bebé aqui não se põe - é mais simples passar pelo meio do antigo calcetamento.
(Já para não falar nos passeios da Travessa do Carregal - o caminho mais curto entre a rua de Cedofeita e o jardim do Carregal e acesso a um serviço do Hospital do Carmo - o pavimento da rua não deve ter sido alterado desde que ela foi aberta. Numa parte dos passeios substituíram as pedras lisas e simples por paralelos, no restante da rua os passeios encontram-se sem alteração há mais de 50 anos - aqui há uns anos, quando a minha mãe lá passava dizia sempre: "por aqui nunca passou a pé nenhum presidente da câmara".
TeoDias
Ruas da Minha Terra
Não, na obra de D. Manuel II/Túnel de Ceuta há atitudes inconscientes!... Estas obras são o espelho do dono da obra – a Câmara Municipal do Porto e a GOP. Rocha Antunes está enganado: há multas de estacionamento na zona! Só que de forma incompreensível (ou compreensível?) não afectam alguns sectores, ou afectam apenas outros.
Familiares meus foram multados, numa sexta-feira à noite, por terem o carro em cima do passeio na fase em que a Rua Clemente Meneres esteve de novo impedida para rever o pavimento nos meses de Julho e Agosto e não havia mais qualquer hipótese de estacionamento. Eu mesma fui severamente interpelada por ter encostado o carro, nessa fase, na ponta final da Travessa Jaime Rios de Sousa para poder entrar no carro uma pessoa idosa com dificuldades motoras!... Durante quase dois meses não pude chegar com o carro junto à porta de casa. Tal estava proibido e era severamente controlado.
Mas havia uma excepção: as viaturas da obra (incluindo largo número de carros ligeiros que presumo pertenciam aos trabalhadores da mesma) podiam circular livremente na zona interdita com local de estacionamento privilegiado no amplo terreno onde está instalado o estaleiro!... A situação atingiu o cúmulo do ridículo quando a obra colocou um equipamento pesado (um rolo) no trajecto para que qualquer morador atrevido não tivesse a pretensão de passar! E claro, para que as viaturas privilegiadas o pudessem fazer, colocou um funcionário para avançar e recuar o rolo e pôr e tirar a grade sempre que necessário. Interessante, económico, eficaz, não?
As obras na Travessa Jaime Rios de Sousa previstas para menos de uma semana (cf. informação telefónica da GOP do início de Agosto) arrastam-se há mais de um mês sem se vislumbrar o seu fim. Quase nem mesmo a pé se consegue cruzar a travessa. Esta manhã apenas um e um só operário desenvolvia trabalho nessa área.
Caro Sr. Rocha Antunes: eu sei que todas as obras causam incómodos. Mas há uma diferença substancial entre o incómodo civilizado e o incómodo arrogante e selvagem. A forma como há sete anos tenho obras à porta de casa é o exemplo acabado do desrespeito total pelos cidadãos que habitam a zona do Carregal/D. Manuel II ou que dela são utentes. Sete anos é muito tempo: é uma parte da vida. Não é credível que ao longo deste período a Câmara nunca tenha detectado a forma execrável com são tratados os seus cidadãos.
Assunção Costa-Lima