De: Pedro Lessa - "Viver (bem) na Baixa?"

Submetido por taf em Sábado, 2006-09-16 15:39

No meu caso, apesar de viver fora da Baixa, cresci nela. Até há pouco tempo, vivi naquela zona a poente da Baixa, aquela que alguns se referem de vez em quando com algum sentido crítico. Como se fosse malvisto viver junto ao mar. Mas é certo que esta câmara não se distrai com aquela zona. Agora vivo (e trabalho) na Baixa. É verdade. Mas também não sou louco!

Penso, no entanto, que o post do Hélder Sousa foi mal interpretado. Aceito na generalidade o que diz, mas devemos dar importância ao essencial, que imagino seria essa a sua intenção. É bom viver na Baixa, todos o desejariam, mas ainda se é maltratado na Baixa.

Cresci na Baixa como disse, em plena Pr. Carlos Alberto/Rua de Cedofeita. Fiz o Irene Lisboa, quando ainda lá estava. Cresci, no meio de lingerie, devido à actividade profissional da minha mãe e assisti ao momento em que os comerciantes passaram a empresários. Quando ainda ninguém falava (nem sonhavam) em reabilitação, lá em casa teve-se a coragem, de fazer reabilitação, construindo cinco pisos em plena Praça/Cedofeita. Claro que com críticas e até notícia de jornal. Tudo isto para dizer que sinto bem a Baixa e especialmente esta zona. Comungo, portanto de todos os sitios e locais mencionados pelo FRAntunes e Assunção Costa Lima. Cresci com eles.

Mas a realidade é bem diferente, infelizmente, de todo esse passado glorioso (até parece longínquo) e fomentador de um movimento, fulgor e vida fora do vulgar de toda esta zona da Baixa. Quem conheceu esse tempo (como eu) sabe bem a que me refiro, e até faz impressão olhar actualmente para o que se passa.

Vivo agora na Baixa (concretamente na R. Boavista), com as virtudes referidas por FRAntunes, mas vivo no meio da sujidade, sacos de lixo à porta, dejectos que começam a não ser só de animais, salas de chuto em plena via pública, o constante olhar sobre o ombro tal a insegurança à noite, edifícios em ruínas, ruas estragadas, trânsito caótico, caça à multa de estacionamento quando mesmo ao lado permite-se todo o abuso dos carros ignorado pelos fiscais (dito por um deles que tinham ordens superiores para só olharem para o estacionamento), uma rede de metro (que devia existir há 30 anos) mal planeada e cara que só serve alguns e especialmente as periferias e não a cidade, algumas linhas já sobrelotadas, mau urbanismo, má arquitectura praticada por quem não tem habilitações para tal, etc etc etc (vou parar por aqui para não me alongar).

Para finalizar, todos reconhecem as virtudes de se morar na Baixa, mas parece que só alguns ingénuos e idealistas (como eu) se submetem as estas provações todas para tentar ter alguma qualidade de vida urbana. Porque a realidade (no meu caso p.ex.) é que não nos podemos fechar no interior da qualidade das nossas casas, é que para lá chegar temos de atravessar todo este estado de sítio.

Cumprimentos,
Pedro Santos Lessa.
pedrolessa@a2mais.com

P.S.- Tudo isto, eventualmente seria até suportável se tivessemos uma Câmara com perspectivas de futuro mas, quando leio opiniões como a do Vereador Pizarro, constatam-se as prioridades da insigne figura que gere os destinos da nossa cidade.