2006-08-06
O último post com que o Tiago nos presenteou, “Na Foz”, é na minha opinião bastante oportuno pois retrata "por ausência" um edifício transparente que se encontrava à direita, num ângulo impossível de captar com a objectiva da sua máquina, do local que fotografou. O sentido de oportunidade prende-se com a discussão que temos aqui alimentado acerca da importância do programa em obras de arquitectura e urbanismo, matéria na qual o edifício projectado pelo arquitecto Solá-Morales é um "case study". Não duvido que muitos não se deixariam antecipar em crucificar o arquitecto catalão, pela aparente falta de função do dito edifício, sem se preocuparem com a existência ou até com o conteúdo do programa proposto pelo promotor para o edifício. É fácil demais criticar os arquitectos, até porque se eles fizerem greve o povo até agradece, já que algum "esperto saloio", como diz e bem o Pedro Aroso, logo trata de fazer o rabisco ou assinar de cruz um projecto de um habilidoso do desenho. Só que os grandes culpados desta triste realidade somos todos nós, cidadãos, que ao longo dos anos relegamos para segundo e terceiro plano a qualidade dos nossos espaços públicos e até privados. Alguns por ignorância ou por ganância rotularam os arquitectos de supérfluos, maneiristas e até burlões pela cobrança de honorários pelo exercício da sua profissão. Confundem construção com arquitectura, e continuam a achar que não precisam de arquitectos para a concepção das suas casas, locais de trabalho e cidades no geral.
Aos arquitectos cabe, para além de projectar, persuadir e também educar este povo que, como alguém disse durante as invasões francesas, não se governa por não saber e não se deixa governar por achar que sabe.
Cumprimentos
Luis Sousa
--
Nota da TAF: ei-lo, na mesma altura, do mesmo local. :-)
Qualquer semelhança com as demolições na Foz é mera coincidência…
Alexandre Burmester
Caro Pedro
Com efeito, eu referi-me a um concurso de ideias para seguir a tramitação "normal", daí ter posto em itálico a designação. De facto, já todos estamos à espera do desenvolvimento do dito concurso de ideias. Daí as reservas da Ordem.
Penso, aliás, que será um processo em tudo idêntico (na sua parte final de execução) ao infeliz processo da Pr. Carlos Alberto, finalizado por um desenhador da câmara (vulgo pato bravo). O que ainda tornou mais grave a situação por ser um desenhador e não um arquitecto (desconfio que nenhum arquitecto teria a coragem de assumir aquele procedimento). Os próprios paineis na obra com os desenhos mostravam, pelo grafismo, uma confrangedora pobreza no traço, própria de desenhador. Confesso que não me lembro do nome do arquitecto (mea culpa) autor do projecto inicial para lhe prestar a devida homenagem e solidariedade pelo desrespeito (e despeito) que sofreu na pele.
Aproveito para fazer um aparte: no domingo passado, de manhãzinha, fui ver o que se passa em dois locais de interesse arquitectónico considerável. Instigado por duas turistas arquitectas, que me perguntaram o que se passa com estes edifícios. Tal a expressão de horror das turistas, lá fui, curioso. Cheguei à Casa do Cinema Manoel de Oliveira e de facto, o panorama era deveras chocante. Mato e arbustos quase da minha altura, uma sensação total de abandono sem faltar, claro os indispensáveis grafitis. Resolvi fugir para outras bandas e chego à Casa das Artes onde fui absorvido novamente pela sensação de abandono. Tudo fechado, sem um único aviso ou cartaz indicativo se estava fechado naquele dia, se toda a semana, mês ou eternamente...
Percebi então a expressão de incredulidade das turistas e constatei também a vergonha que voltarei a passar quando me questionarem novamente sobre estes dois edifícios.
Começa a ser insuportável esta falta de civismo, civilidade e sei lá o que mais, deste nosso país.
Ai ai, a tentação de emigrar...
Cumprimentos.
Pedro Lessa.
pedrolessa@a2mais.com
Caro Tiago
A tua fotografia com o título "Na Foz", vem reforçar a ideia de que a geografia cadastral e administrativa das freguesias do Porto, tem que ser revista. De facto, para a maioria dos portuenses, a freguesia da Foz do Douro começa na foz do rio Douro e acaba na rotunda da Circunvalação. É como se Nevogilde não existisse. Para complicar mais as coisas, a sede da junta de Nevogilde fica localizada em... Aldoar!
No caso das freguesias do centro da cidade (Sé, Miragaia e Vitória), os motivos para a sua anexação a Santo Ildefonso são outros, mas não tenho elementos sobre essa matéria.
Será que alguém me pode elucidar?
Abraço
Pedro Aroso
Caro Pedro Lessa
Eu já devia estar em férias, mas como me tornei um workaholic, tenho passado a semana toda no escritório a testar as novas ferramentas do Architectural Desktop 2007, aproveitando também para fazer algumas pesquisas na Net e… blogar um pouco mais do que o habitual.
O conteúdo do teu último post pareceu-me bastante oportuno, mas há uma passagem com a qual estou em total desacordo. Tu referes que a "apresentação de ideias deveria ser (e é) para todos", mas que "passa para o domínio dos arquitectos quando as ideias estiverem bem definidas".
Como já tive oportunidade de explicar aqui na Baixa, o concurso da Quinta do Covelo não vai passar "para o domínio dos arquitectos", mas sim para o domínio dos arquitectos que trabalham na Câmara Municipal do Porto. Deste modo o vereador escusa de se preocupar com a redacção do programa e, "adjudicando" o trabalho à "prata da casa", paga o cão com a pele do cão. Por outras palavras, estamos perante uma "esperteza saloia".
É por isto, e só por isto, que estou contra e, assim sendo, entendo que os arquitectos devem acatar as instruções da Ordem, não participando neste concurso.
Pedro Aroso
PS: Um abraço para o Zé Paulo Espinha e outro para o Xano Burmester. Fico contente por saber que continuam a gostar de corridas de automóveis.
Parece-me, como sempre na nossa terra, que se mistura alhos com bugalhos, a confusão é certa (e costumeira), de tal maneira que até parece que é propositado e interessará a alguém.
Como fui dos primeiros aqui a insurgir-me sobre este assunto, digo apenas o seguinte. Infelizmente já é hábito confundir a discussão da forma pelo conteúdo e vice-versa. Este concurso de ideias, como geralmente é apresentado, e o mal não é só neste caso concreto, o mal é nacional, é que de facto a apresentação de ideias deveria ser (e é) para todos. Dos cidadãos. Só passa para o domínio dos arquitectos quando as ideias estiverem bem definidas. Aliás, como já foi bem explicado pelo ABurmester, PMorais etc etc.
Um concurso de ideias pode ser apresentado por um texto bem fundamentado, como também já aqui foi referido. O erro começa logo quando a maior parte dos organismos públicos dirige estes concursos de ideias para uma questão técnica e profissional.
Tudo isto é resultado da má interpretação das competências profissionais (ou da ignorância, se quiserem) que pelo nosso país se vão revelando. É por estas situações também que se percebe a importância da definição de competências que se discutem nos últimos tempos. Depois de definidas, torna-se necessário formar e informar as pessoas. Permitam-me uma analogia: um dentista quando decide tratar um dente, comenta, discute e sugere ao paciente as causas e atitude a tomar. Ouve do paciente as implicações e consequências do tratamento, mas na necessidade de o tirar, depois de decidido, com certeza que não é o paciente que vai puxar pelo alicate.
Deixemo-nos de discutir o supérfluo e passemos ao essencial.
Cumprimentos,
Pedro Lessa.
pedrolessa@a2mais.com
www.architecturalroutes.com
P.S.- Caro Pedro, com certeza que quando nos dirigimos uns aos outros, o fazemos com o todo respeito. Pode parecer o contrário, devido ao afastamento provocado pela distância online, mas não acredito noutra situação. Ninguém adivinha o título de cada interveniente. Aliás, já me pôs à vontade para não me dirigir a si por arquitecto, ou Sr.Arquitecto, etc etc. De si não esperaria o contrário. Sempre a considerá-lo.
Esta é a história do Homem que eu não sou.
Se fosse adulto, era um homem mais culto e mais triste do que sou hoje.
Se fosse culto, poderia desenvolver politicas sustentáveis para o mundo que habito, acentes numa visão utópica da realidade que me rodeia.
Se fosse político, discutiria e faria demagogia em torno das políticas que defendia pois só assim as pessoas captariam a minha mensagem.
Se fosse demagogo, estaria preparado para me candidatar à presidencia de um orgão politico relevante, pois haveria alguém a apoiar-me.
Se fosse candidato, teria eleitores para convencer mesmo sem que para isso os tivesse de esclarecer.
Se fosse convincente, seria claramente eleito Presidente em detrimento dos meus adversários, que prontamente passariam a ser os meus críticos.
Se fosse Presidente, seria impugnado porque as minhas políticas não eram populares nem pragmáticas aos olhos dos eleitores que aclamariam pelos meus críticos.
Se fosse impugnado, estaria livre para fundar ou gerir uma empresa privada, onde antecipar o futuro, assumir riscos financeiros e tomar opções a longo prazo é meio caminho para se ser bem sucedido.
Se fosse bem sucedido, concluiria que tentar aplicar políticas sustentáveis assentes num programa, e gerir os bens públicos de uma forma coerente é uma tarefa a que apenas um homem possuido pela estultícia se presta.
Esta minha história visa representar o porquê de os melhores profissionais nas mais diversas áreas estarem cada vez mais afastados da política, onde podiam aplicar os seus conhecimentos em prol do bem público.
Cumprimentos
Luís Sousa
Caríssimos
Não vi o caderno de encargos do concurso de ideias. Mas, pelo que li, na ausência de uma ideia para a quinta, o Executivo Camarário decidiu realizar esta acção de participação colectiva de forma a poder sustentar a decisão final sobre o objectivo e o programa da intervenção, atendendo aos condicionalismos existentes.
Os meus parabéns, por diversas razões:
- a) pela humildade saudável e não hipócrita e abertura demonstrada;
- b) pela predisposição a aceitar que é possível aparecer uma ideia genial, qualquer que ela seja;
- c) pelo reconhecimento da envolvência política da participação pública;
- d) pela consciência de que "os profissionais" só devem entrar quando politicamente houver uma decisão e que pelos vistos se quer sustentada na participação.
Nenhum profissional sem excepção se pode considerar mais capaz ao nível da definição política e do patamar de pré-decisão que vive no momento a Quinta do Covelo. E se algum profissional se arrogar disso, isso mesmo é um acto de soberba, eticamente/deontologicamente reprovável em comunidade que se diz democrática. Após a apresentação e recolha das ideias, estas deverão então ser multi-avaliadas tecnicamente e economicamente e aí sim os profissionais deverão ser chamados a pronunciar-se.
Ao nível abstracto, toda a área de teoria de planeamento dá para mais de um ano lectivo de um curso de pós-graduação de urbanismo e ordenamento do território. Se a isso juntarmos o enquadramento das teoria económicas e sociológicas, etc., então temos para muito mais tempo. Quiçá, para uma vida.
Já agora, a propósito, proponho novo encontro/jantar em Setembro com o seguinte tema: "A INEVITÁVEL MORTE DA RUA" ou "COMO PODEMOS AINDA SALVAR A CIDADE COM BASE NO CONCEITO DA PRAÇA, AFINAL O ÚNICO QUE VAI SOBREVIVER". Deixo uma pista complementar - PORQUE SERÁ QUE SE CONSIDERA VIREM OS AEROPORTOS, NO FUTURO, A SER O CENTRO DAS POLIS?
Um abraço
Paulo Espinha
--
Nota de TAF: consultar também este documento RTF da Câmara
Caro Edgar Soares
Concordo que existem problemas associados à definição de esquemas de participação em discussões públicas e que estes podem ser pouco representativos de toda a Cidade. É sempre este o tipo de problemas que aparecem com o exercício das liberdades cívicas. Com o voto é igual. Mas não é por isso que não se deve abrir a participação. A história deste blogue está intimamente ligada, como já se disse aqui muitas vezes, a um bom processo de discussão pública da primeira versão do PDM do Porto, iniciado pelo Arquitecto Ricardo Figueiredo. E veja-se onde já vai, essencialmente por mérito do Tiago.
Como muito bem ilustraram a Paula Morais, o Alexandre Burmester e César Costa, é importante ouvir todos os que se importam no tempo certo, isto é, antes de se fechar o programa. Por muitas razões, até porque podem, repito, podem aparecer boas ideias dessa discussão. Só por isso já valia a pena.
A principal razão, contudo, é a do exercício da cidadania, e foi isso que eu quis dizer desde o primeiro comentário sobre este tema. A qualidade da cidade está muito dependente da qualidade dos seus cidadãos, tenham eles as qualificações que tiverem. E um bom cidadão não é ninguém com nenhum curso (eu conheço gente cheia de títulos que são péssimos cidadãos), é alguém que se interessa pelos assuntos que dizem respeito à cidade e que participa na sua definição. Apoiando, criticando, discutindo, dedicando tempo aos assuntos comuns.
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
PS – Tenho muito gosto em ser o Francisco, e a utilização de títulos de qualquer espécie não me move mesmo.
Em relação ao concurso da Quinta do Covelo, os Arqtos Paula Morais e Alexandre Burmester puseram o dedo na ferida. Se o que está em causa é reunir o máximo de ideias possível para um espaço que se pretende requalificar, então abra-se o concurso dos 0 aos 200 anos e a TODOS. Quem sabe se a melhor não vem de uma criança de tenra idade... Para apresentar um ideia não são necessárias plantas, cortes, alçados, perspectivas, maquetes e quejandos. Basta mesmo uma boa ideia!! Recordo que numa das aulas que assisti de Fernando Távora, se abordou a forma como Lúcio Costa, o responsável pelo plano de Brasília, concorreu ao concurso então lançado com um pequeno texto, que explicitava claramente as ideias que tinha para tão ambicioso empreendimento...
Não há nada de mal nessa forma de concurso. Bem pelo contrário. Abre-se o leque de possibilidades, de possíveis desenvolvimentos, que mais tarde podem ser passados para o programa preliminar ou base. Pode até a Câmara, à luz do que se faz por exemplo nos países nórdicos, criar uma semana aberta para a discussão de ideias, convidando a toda a população, entidades, no fundo quem desejar, a participar!
É muitíssimo frequente este processo nos já referidos países. Recordo que há pouco tempo participei num concurso internacional para o desenvolvimento de um plano de recuperação do centro histórico de uma cidade na Islândia - Akureyri, e este foi exactamente o processo seguido. Lá como é hábito, houve milhares de contributos por parte dos cidadãos...Mais ou menos o que é normal acontecer por cá...
Mas atenção! Este processo a que me refiro antecedeu o concurso internacional. Este foi logicamente exclusivamente aberto a pessoas devidamente qualificadas para tal! Separem-se as águas e ganhe-se clareza. A transparência e o rigor nunca fizeram mal ninguém, digo eu...
Cumprimentos
César Costa
PS - Não concordo com Francisco Oliveira. Sou Arquitecto, porque era meu desejo de criança, mas não sou mais nem menos nobre por isso... A nobreza está apenas nos princípios e no que se faz com eles...
Neste Blogue não me intitulo nem de Arquitecto, nem de outra situação mais nobre do que apenas de cidadão. Se as minhas opiniões contêm saber e sentir de Arquitecto, é apenas porque não posso tirar uma “pele” que vesti há muitos anos, e que me faz ver esta realidade por uma bitola especial. Mas as minhas opiniões não são melhores do que qualquer outro que não tenha qualquer profissão mais ou menos “nobre”. Deixemo-nos de complexos de inferioridade, porque para falar sobre a cidade (cidades) onde vivemos, temos todos os mesmos deveres e direitos.
O Sr. Francisco Oliveira, constatou que neste espaço de opinião aparecem tantos e tão diversos assuntos, que se calhar se “perdem”. É verdade, aparecem tantos assuntos quantas as pessoas que se lembram de trazer as suas opiniões. E leia com atenção porque nem sempre este blogue serve para dizer mal, muito ao contrário, às vezes defende, esclarece e também tem servido para apoiar. Afinal este é um espaço aberto a todos. Mas dizendo bem ou mal, pouco interessa porque na sua função este Blogue nada “perde”, vai é “transformando”.
Aos poucos são mais e mais pessoas a discutir assuntos da cidade, vai se tornando numa prática que se amplia, numa opinião que ao ganhar adeptos ganha consistência, influencia, e aos poucos são mentalidades que se vão transformando. Se calhar daqui a uns anos, graças a pessoas como o Tiago, que mantém este blogue, poderemos participar na vida pública do nosso País desta forma serena e simples. E quando houver eleições, garanto-lhe que não serei candidato a nada por partido nenhum. Continuarei apenas a participar procurando cumprir o meu papel de cidadão, e convido-o a si e a outros que façam o mesmo.
PS.
O Queimódromo faz barulho que chegue para chatear, mas são estudantes e usam um dos poucos espaços disponíveis para o evento. (É aborrecido morar perto, mas o ambiente de festa compensa.)
Os Stones vão tocar e fazer barulho num local que foi construído para o efeito. (Ainda bem que não moro por perto.)
O Jardim da Arca de Água é um local bem apetecível para manifestações populares. (Pena é sempre o mesmo aspecto do plástico, das tendas, do lixo, e dos malditos fogos de artifício, e ainda bem que não moro por perto.)
Eu, ainda bem, vivo no fresquinho da Foz. Naquele bairro residencial, que serve para paradas de sucata militar, passeio de Bombeiros, divulgação do aparato Policial, Maratonas de toda a ordem, e ainda de circuito automóvel…
Alexandre Burmester
"... dos interessados nos assuntos da Cidade"
Caros participantes
Apesar de ter sido publicado há mais de três décadas atrás, mas mantendo-se ainda em vigor, há um diploma legal que contém uma definição, no meu entender bastante esclarecedora, sobre o que é um programa, e que na minha opinião, por possuir a abstracção necessária a uma boa definição, se mantém ainda bastante actual. Seja ele programa urbanístico, programa de um edifício, ou mais abrangentemente programa espacial.
“Programa preliminar – documento fornecido pelo dono da obra ao autor do projecto para definição dos objectivos, características orgânicas e funcionais e condicionamentos financeiros da obra, bem como dos respectivos custos e prazos de execução a observar.”
Ora no contexto do recente debate produzido aqui no blogue, o dono da obra corresponde, no mínimo, a todos os habitantes do Porto. Assim, concordo pois com aqueles que defendem que a definição de tal programa deve ser discutida publicamente por todos os interessados no espaço da Cidade (e não apenas pelos seus habitantes, nem apenas por uma parte restrita da colectividade materializada através de uma classe profissional), já que afinal são eles os utentes, ou numa terminologia mais actual, os consumidores do espaço, a ponto inclusive de os mesmos definirem, em conjunto, os condicionamentos financeiros da obra... Por exemplo, que verba do orçamento municipal é que os interessados na reformulação do espaço ocupado pela Quinta do Covelo estariam dispostos a despender por essa mesma reformulação? Relativamente a outras obras públicas municipais, qual a prioridade que os mesmos lhe atribuiriam no ranking das prioridades urbanísticas do Porto?
De acordo com o diploma que mencionei, só após a elaboração pelo dono da obra do programa preliminar, no qual formula a sua pretensão, é que o autor do projecto (este sim pertencente à classe profissional devidamente habilitada pela comunidade para a elaboração de projectos) dá início à sua proposta (ideia) de materialização no espaço físico das aspirações, vontades e necessidades do dono da obra.
Paula Morais
Arquitecta
A mim, que não sou nem arquitecto, nem engenheiro, nem médico, ou com outra profissão nobre, custa-me muito ver ilustres e sabedoras pessoas estarem sempre contra tudo. Se não estão a 100% estão a 99%. Que diabo, será tudo tão mau?
E variam tanto os assuntos que se perdem. Quando comecei a visitar este blog só falavam nos Aliados. Depois passaram para o Mercado do Bolhão, depois para a SRU, e o TGV, e os comboios, e as bitolas, os lobies, o Batalha (por esta ordem ou por outra). Estamos agora no Rivoli e nas ideias para o Covelo e que a Ordem dos Arquitectos parece querer transformar em "cotovelo".
Há quem não goste do barulho dos automóveis na Boavista e Circunvalação mas não se incomodam com o barulho do Queimódromo ou o barulho que os Stones vão fazer no próximo fim de semana nas Antas/S.Roque. Também não se incomodam com 15 dias de festa (que acabaram há dias) no jardim da Arca de Água. Suponho que viverão todos no fresquinho da Foz.
Não seria preferível unirmo-nos todos pelo Porto dando achegas realizáveis deixando a política para quando houver eleições onde todos nos poderemos candidatar aos diversos órgãos autárquicos.
Saudações de
Francisco Oliveira
Simplesmente porque os interesses dessa minoria participativa não representariam os interesses da “colectividade”. Os espaços públicos seriam reféns de interesses específicos e de actores facilmente manipuláveis. O interesse da colectividade tem que residir na confiança nos agentes escolhidos para os representar, começando pelos promotores das intervenções elegidos para tal, passando pelos técnicos qualificados e obrigados por Lei a defender o bem-estar da colectividade. Primeiro o projecto depois a consagrada discussão pública para rever ou até pôr em causa.
A confiança nos agentes e o rigor dos processos administrativos é imperativo e a CMP é neste aspecto, um mau exemplo. Não há confiança neste monstro burocrático que insiste em afugentar os investidores desta cidade e promove concursos de carácter duvidoso e cheio de irregularidades. Não há confiança neste Gabinete do Munícipe onde todos o pessoal do atendimento profere as mesmas frases “Nós não temos culpa” “é que os licenciamentos estão a demorar 18 meses em média” “é que os gestores têm 800 processos cada um” como se tivessem sido convenientemente ensinados para tal, e por fim não há confiança nesta SRU que faz o que quer e como quer sem promover a discussão pública.
Não é necessário subverter os procedimentos, basta defender que eles sejam seguidos com rigor.
Edgar Correia Soares
Valia a pena não se fazer aqui discussão sobre uma confusão aparentemente simples.
O que o Francisco refere, e que com ele concordo plenamente, é que a cidade deveria ter uma Gestão que não tem que ser exclusiva a nenhuma profissão, não o é dos Arquitectos, nem mesmo dos Políticos. Que o Programa de gestão de uma cidade, ou de qualquer espaço público deve ser discutido por todos, e igualmente independente de quaisquer profissões. O que também não compete nem aos Arquitectos nem a qualquer outra profissão.
Mas é da exclusiva competência dos Arquitectos, Paisagistas e Urbanistas, o Desenho Urbano que decorre da interpretação da sua Gestão e dos seus Programas.
Ora no caso particular do Concurso de Ideias referido, devia a Entidade promotora antes de solicitar propostas de desenho, deixar aberta à sociedade, através de concurso ou discussão pública, a possibilidade de se discutir um Programa. Traria desde logo um leque mais alargado de possibilidades.
Alexandre Burmester
Também eu gosto de Desporto Automóvel e até o pratico.
Mas olhando para essa invenção do Circuito da Boavista, só quem não entende de Desporto Automóvel é que lhe poderá achar alguma graça. Não é à toa que os ainda circuitos urbanos existentes (Mónaco, Long Beach, Montreal…), são mantidos com grande profissionalismo e com “Lobbies” de muito dinheiro, que em nada se assemelham a esta pobreza de passeio de calhambeques. Para passeio, não é preciso circuito, e para corridas o que existe nem segurança oferece.
E como se nada disto bastasse, para fazer cair na “Real” este sonho bacoco e provinciano, ainda sou contra:
- -Ter que gramar com um pseudo circuito durante 715 dias, para poder “curtir” 15 dias de corrida. A Av. da Boavista merecia que o Sr. Rio parasse com o amuo e a mandasse arranjar. (Ou estará à espera que fique igual à montagem que o Metro nos vendeu?)
- -Passar duas semanas com o caos do trânsito interrompido, obrigando a muita gente do Porto e Matosinhos a ter que perder muitos minutos e fazer muitos quilómetros.
- -Ter que ouvir durante essas duas semanas um barulho ensurdecedor de motores, o que nem sequer é permitido por nenhuma lei do País.
- -Ter que continuar a assistir àquela apropriação do espaço público, pelas empresas organizadoras de eventos, com as suas tendas, bancadas “Notubo”, placares de publicidade, muitas cadeiras de plástico, e muito lixo à mistura.
Com esta mentalidade, bem que se poderia agora pensar em fazer da Av. Dos Aliados uma Oval do tipo de Daytona ou Indianápolis, e ainda se aproveitava para animar a Baixa.
Para quem não sabe, o "Sr. Francisco Rocha Antunes", como alguns teimam em tratá-lo, é licenciado em Gestão de Empresas. Eu sei que para ele o título de "Doutor" não é importante, até porque identifica-se sempre como "Promotor Imobiliário". Vamos acreditar que esta "deselegância" na forma como por vezes se dirigem ao Francisco se deve apenas ao desconhecimento. Prestado este esclarecimento, gostava de referir o seguinte:
1. A mim não me choca que a Câmara do Porto lance um concurso de ideias aberto a qualquer analfabeto. O poeta Aleixo não sabia ler nem escrever, mas inspiração não lhe faltava.
2. A questão está em saber se uma intervenção no desenho do tecido urbano da cidade pode ser confiada a gente sem as necessárias habilitações. Na minha opinião, não.
3. Assim sendo, pergunto: mas afinal para que serve este concurso?
Ainda existem neste país muitas autarquias que recorrem ao serviço de desenhadores e outros habilidosos para elaborar projectos de arquitectura de edifícios municipais (posso dar dezenas de exemplos). Espero que a CMP não esteja a preparar-se para seguir o exemplo.
Pedro Aroso
Gostava de saber em que medida é que a cidade sai lesada da discussão dos programas para os espaços públicos antes de se definir o projecto.
A cidade deve ser decidida pelos arquitectos, é? Ou será a versão corporativa do respeitinho é muito bonito? Antecipadamente grato.
F. Rocha Antunes
Gostava de esclarecer que este comunicado da Ordem dos Arquitectos é uma constatação factual de irregularidades processuais e se existisse uma Ordem do Cidadão poderíamos esperar um comunicado semelhante. Convém relembrar que existe um valor pecuniário em causa e para defender a justa atribuição deste é necessário garantir a correcta e transparente definição dos termos do programa, entrega e avaliação do concurso em questão, independentemente das qualificações técnicas ou se tais são necessárias. Aliás, será justo abrir um concurso de ideias a todos e depois exigir definições técnicas da proposta? A CMP sabe disto muito bem e o lançamento deste concurso nestes moldes e com estas indefinições visa objectivos concretos que nada tem a ver com a demagoga frase “É um concurso para todos!”. Quem já participou em concursos públicos sabe que existem mil e uma razões para impugnar um concurso ou qualquer decisão neste, alguns são excluídos, outros recorrem judicialmente e outros ficam a questionar “o que é que eu estou aqui a fazer?”. É simplesmente um meio para transferir o poder da decisão para a Câmara assegurando os fundos para o executar.
Em relação ao que o Sr. F.Rocha Antunes defende é muito “bonito” mas não passa de visão utópica em que o maior lesado é a própria cidade e o cidadão. Não devemos confundir processos específicos de planeamento e concepção com a discussão alargada (que já existe) dos mesmos. Não podemos dar “cartas” aos políticos para relativizar o processo de crescimento e mutação de uma cidade. A opinião pública hoje beneficia a cidade, amanhã não.
Edgar Correia Soares