De: F. Rocha Antunes - "Ideias na Ordem ou Ordem nas Ideias?"
Meus Caros
Na sequência dos diversos posts sobre a questão do concurso de ideias e da posição da Ordem dos Arquitectos valia a pena reflectir sobre o que deveria ser uma prática corrente e infelizmente não o é, que é o de se discutirem os programas antes de se discutir os projectos. E evitar que tantas sensibilidades se sintam feridas fora do tempo.
As discussões das ideias para um espaço colectivo deverão ser discussões abertas a todos os que se interessam, sejam directa ou indirectamente interessados. Quando os interesses são directos, convém que sejam claramente assumidos (vem daí esta minha mania de dizer sempre que sou promotor imobiliário, não sendo nem menos nem mais cidadão por isso). Quanto mais claros e abertos forem os interesses directos e quanto maior e mais empenhada for a participação dos que têm interesses indirectos mas não por isso menos importantes melhores podem ser as decisões colectivas.
Esta questão, a da qualidade das decisões colectivas, é muito mais importante do que se pensa. A ligação entre recursos escassos, sustentabilidade e eficiência é hoje decisiva para a vida colectiva, e não podemos continuar a decidir mal, como tantas vezes se tem feito, porque não podemos desperdiçar mais recursos colectivos.
A questão do metro da Boavista mostra bem que a discussão dos programas não pode ser deixada aos arquitectos, nem a qualquer outra classe profissional, como os promotores imobiliários ou engenheiros de tráfego.
E é importante que todos, começando pelos arquitectos, percebam isto. E uma vez definido um programa aceite pela colectividade, então que se proceda à correcta selecção do projecto que irá materializar esse programa.
Diz-se, e bem, que a Economia é um assunto demasiado sério para ser deixado aos economistas. Acrescento que a Cidade e o seu funcionamento é um assunto demasiado sério para ser deixado apenas ao cuidado de arquitectos, promotores imobiliários e engenheiros.
Francisco Rocha Antunes