2006-05-07
Dependendo embora de comprovada viabilidade económica e da incontornável aceitação pelas partes envolvidas, pessoalmente a proposta apresentada por F. Rocha Antunes para os eléctricos da Baixa agrada-me bastante. Estou convencido que também agradará a muitas mais pessoas.
Este nosso colega de blog lá foi indicando (alertando) algumas das entidades que poderiam suportar o necessário investimento (como: CMP, STCP, METRO), deixando para os comerciantes interessados a iniciativa motriz.
Ora aqui está mais uma óptima oportunidade para testarmos o feedback que tal "dica" irá ter próximo dos vários agentes com interesses e responsabilidades directas e indirectas no assunto. Aguardemos pois, para ver o efeito de mais uma ideia emanante da boa vontade de um cidadão e qual será a atenção e o aproveitamento eventual que os referidos agentes económicos e autoridades lhe vão dedicar.
Oxalá saibam aproveitar este ensejo para finalmente darem sinais aos portuenses de que começam a retirar o algodão dos ouvidos e a aceitar opiniões dos cidadãos.
Só quero ressalvar um aspecto: ao ritmo ultra-lento e desarticulado a que assistimos à restauração (aos remendos, mais adequadamente) da Baixa do Porto - nomeadamente na área habitacional e no reordenamento da circulação rodoviária - vai continuar a ser pouco visível o efeito de atracção a potenciais consumidores, mesmo com uma linha de eléctricos cómoda e funcional.
A menos que os elementos de lazer e comércio sejam verdadeiramente extraordinários (o que se afigura improvável) as pessoas tenderão a fugir dos "palácios" rodeados de edifícios obscuros, mal cheirosos e em acelerado estado de degradação. Os oásis não costumam fixar populações. Haveria que ser ousado e não cair na estafada desculpa que andamos a ouvir desde sempre: "que não se fez mais e melhor por falta de dinheiro". Só faria sentido aceitar este argumento se paralelamente à falta de capital do Estado correspondesse o empobrecimento dos grandes capitalistas, e não é isso que tem acontecido. Logo, tem de se ir buscar o dinheiro onde ele está, e é aí (vá lá saber-se por quê!!!), que os sucessivos governos esbarram invariavelmente. Todos! Será falta de imaginação ou de coragem?
Rui Valente
1. É certo que «Natal é quando o homem quiser», mas a Câmara do Porto abusa. Este «mono» de natal sobrevive até Maio na Praça dos Poveiros. Sintoma de indigência e abandono? Claro que sim!
2. Mesmo ali ao lado, o jardim de S. Lázaro, que merecia melhor destino. O cenário é indigno: prostituição, chulos manhosos, jogo, tráfico, alcoólicos inveterados que partilham entre si o vinho de pacote comprado no Pingo Doce mesmo ali ao lado. Não é, em definitivo, um bom local para levar as crianças a brincar ou para namorar. Em contrapartida, é, à sua maneira, o jardim mais animado da cidade.
PS: parece que o Tripeiro de Maio será, nem de propósito, sobre os jardins do Porto.
David Afonso
attalaia@gmail.com
Meus Caros,
Agora que estão a ser implantados os carris que faltavam para completar o circuito entre as duas colinas vale a pena pensar em fazer mais do que se fez até agora, que é muito simpaticamente pôr eléctricos existentes a rolar e pronto.
A ligação entre a zona do Carmo e a Batalha pode ter uma importância considerável na utilização comercial e turística da Baixa. O percurso actual começa no Carmo, desce a Rua dos Clérigos, passa pela Praça da Liberdade em frente às Cardosas, sobe a Rua 31 de Janeiro /Santo António, vira para a Batalha e pára em frente ao funicular dos Guindais. Daí regressa à Batalha, continua por Santa Catarina até Passos Manuel, desce até à Praça D. João I, atravessa os Aliados em direcção à Praça Filipa de Lencastre e segue pela Rua de Ceuta até à Rua de José Falcão, virando para a Praça Guilherme Gomes Fernandes, seguindo até aos Leões e regressando ao local de partida no Carmo, em frente ao Piolho.
O percurso circular permite criar um serviço de transporte público muito eficiente e fiável e que pode ser de enorme utilidade para o comércio. A facilidade de movimentação que este meio de transporte permite ao ligar a parte baixa e as partes mais elevadas, por um lado, e as estações de Metro dos Aliados e São Bento, por outro, bem como a utilização dos parques de estacionamento da zona dos Leões numa área de influência alargada.
Por esse razão, talvez valha a pena pensar em fazer com que esta linha circular seja gratuita, e o custo de exploração ser pago pelos comerciantes e empresas da zona beneficiada. O aumento das vendas e da mobilidade que esta linha de eléctricos poderá induzir facilmente justificam a existência de transporte gratuito em circuito fechado. Estamos a falar de uma área de influência que a pé, sem subidas nem descidas, permite ligar as duas ruas comerciais mais fortes do centro, a Rua de Santa Catarina e a Rua de Cedofeita, e potenciar as localizações comerciais intermédias, como a Rua de Sá da Bandeira, os Aliados e a Rua do Almada.
Claro que os eléctricos actuais, sendo charmosos, não cumprem as condições de acessibilidade, conforto e imagem que me parecem a mais adequada a uma intensa e franca entrada e saída de passageiros. Pode-se fazer um concurso de design para as carruagens, e revelar talentos como quando foi do concurso da Peugeot em que um jovem designer português ganhou o primeiro prémio, até à simples compra das carruagens existentes no mercado que apresentem a melhor relação de imagem, funcionalidade e preço.
Como estamos a falar de uma linha circular de pequena extensão, poder-se-ia, com um número reduzido de eléctricos, dotar a oferta de transporte de uma enorme frequência, para que os utilizadores confiassem e dependessem deste meio de transporte. E como parte da linha utiliza canal que não é acessível ao automóvel, poderá ser facilmente o meio de transporte mais rápido nesta área de influência.
A Associação de Comerciantes, a Câmara, a Porto Vivo SRU, os STCP e o Metro podem enquadrar este investimento. Os comerciantes interessados podem tomar a iniciativa de falar nisto. E nós podemos dar força aqui.
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
Recordo-me de uma sala cheia na Fundação Engº António de Almeida em completa desobediência civil, sugerindo o levantamento das pedras cinzentas nas noites seguintes aos dias em que os pedreiros as colocavam, como resposta à abusiva granitização sizentista dos nossos Aliados e da nossa “Praça” (como referiam simplesmente os dísticos dos desaparecidos carros eléctricos). Vamos lá a acordar toda essa massa adormecida (excepções à parte) e combinemos mais um dia e hora para novas manifestações de intenção, desta feita com consequências no terreno, correctas ou incorrectas politicamente. Não estaremos lá para criticar os autores do projecto, apenas o seu projecto que não é prioritário (porventura completamente desnecessário…), desrespeitador da memória da cidade, pouco democrático (ou nada…) no processo e contraproducente para a valorização da cidade.
Num momento em que o mundo começa a acordar contra esta normalização que torna os espaços todos cinzentos, monótonos e, acima de qualquer outro defeito, todos iguais (veja-se o protesto madrileno, ou os projectos para Leça ou Vila do Conde), é apropriado evocar novamente esta memória, colectiva ou individual, de rebelião (como ocorreu na Invicta ao longo de todo o século de Oitocentos) ou de respeito por quem nos precedeu, pelos espaços que criam a identidade da cidade que se diz “Nação”.
Relativamente ao Rio “que ninguém pode parar”, de há muito que acho as águas deste rio se parecem a um charco turvo, gélido e pantanoso, arrefecendo uma cidade que definha de ano para ano e onde habitam um conjunto de sapos que temos de engolir periodicamente, como as constantes quezílias, que a um ritmo quase diário povoam as primeiras páginas dos jornais; como com o desaproveitamento e amesquinhamento de obras anteriores (algumas ainda abandonadas, como o “transparente”, outras entregues a custo quase simbólico a empresas privadas, como o Palácio do Freixo); como com as iniciativas “emblemáticas e corajosas” (porquê? para quê?), como a “erradicação” de arrumadores, a demolição de ilhas e expulsões de bairros sociais (sem debate de alternativas, nem avaliação ponderada das consequências); como com as guerras intermináveis e incompreensíveis em que todos perdem, seja a linha da Boavista (talvez para pagar o rali e as construções não autorizadas do Parque da Cidade?), seja o túnel de Ceuta (que em época eleitoral veio mesmo a calhar ao discurso provinciano e de mártir da malvada oposição e dos lisboetas!), seja com o campeão FC Porto, com o Público, com o Jornal de Notícias, com os trabalhadores a propósito das horas extraordinárias e com quem mais vier que não veja nele o iluminado e ouse algum dia criticá-lo.
Sinceramente, estou farto destas operações de marketing, seja a propósito do retorno à Baixa, que nos pede para ver como ela já está bonita (onde?!); seja a propósito da Cidade da Ciência em que não se diz o que a Câmara fez nos últimos 5 anos pela dita, ou pelos patrocínios fantasma aos estágios universitários; seja pelo site do tipo norte-coreano e de tiques estalinistas ou hitlerianos de “domesticação forçada” (porque quem recebe subsídio da CMP não pode criticar a CMP!), curiosamente associados ao 25 de Abril e à celebração da liberdade.
É por isso que é fundamental que a cidade tenha memória e quaisquer que sejam as alternativas, que entre elas se encontre quem se acredita poder fazer melhor.
Encontremo-nos pois pela memória. Memória por um espaço público que não se deseja estático, mas respeitado; por uma identidade que não se deseja antiquada, mas perene; por uma cidade que não se deseja museu azedo (como escreveu José Gomes Ferreira), mas completa, na sua dimensão histórica, funcional e identitária.
Ao que parece o PS local está em debate interno devido a um recente desafio proposto pela lista que perdeu a Concelhia. Isto é uma excelente notícia, afinal nem tudo o que desaparece morre. Vamos então esperar pelos resultados, nomeadamente deste repto de Avelino Oliveira:
«Avelino Oliveira diz recusar "regedores locais" e defende um "novo ciclo" que permita, por exemplo, ao PS/Porto tomar posição contra a "holding empresarial" em forja na autarquia.»
É que, se pensarmos bem, o PS também foi eleito, também tem responsabilidades e sem oposição não há democracia.
Deixo aqui o link de uma imagem da desigualdade na nossa cidade tirada por Carlos Romão do blog Outra face da Cidade Supreendente. Para além de tremendamente chocante e realista, esta imagem traz de novo à ideia o problema da tuberculose na Cidade do Porto, a falta de acolhimento e tratamento para estes doentes, o facto de andarem nas ruas sós, sem força, sem possibilidade de trabalhar, sem máscara, na rua, com fome...
Há estudos que alertam para o problema na Cidade, há estudos que revelam que não está controlado e que tem aumentado consideravelmente nos últimos anos arriscando tornar-se um grave problema de saúde pública. Já aqui falei numa reportagem extensa que foi feita no verão do ano passado, em que as equipas de rua transportavam os doentes aos hospitais, lá eram medicados, enquanto aguardavam por atendimento esperavam nos corredores, quase sempre era uma luta para serem atendidos, no máximo permaneciam no hospital dois dias e regressavam aos seus abrigos num autocarro normal.
Os barracos que deixavam livres por morte «natural» eram imediatamente ocupados por outros doentes, que em breve cediam o posto em iguais condições.
Foi quase há um ano: os barracos e as tendas eram nas imediações do São João de Deus, mas nos próprios destroços do bairro, nessa data, já tinham sido criados condomínios a céu aberto, o resto das lajes dos blocos tinham paredes de chapa e divisões com cortinas, luz de velas e ocupantes, incluindo um casal que dos destroços da sua antiga casa refez um quarto onde dormiam com a filha....
Será que vai continuar muito mais tempo assim?
Caros participantes,
Ainda sobre o tema que tem animado o debate neste blogue nos últimos dias, e para quem quiser saber mais sobre “o que se sabe dos movimentos de descontentamento dos habitantes e, quando os houve, que reivindicavam eles”, das cidades em geral e ao longo de diferentes períodos da História, deixo aqui uma sugestão de leitura: o livro “Por amor das cidades: conversas com Jean Lebrun”, escrito em 1997 pelo historiador francês Jacques Le Goff (editado em português pela Editorial Teorema), principalmente as páginas 91-113 sobre “O poder na cidade, o ideal da boa governação”.
Paula Morais
Arquitecta
- Ryanair lança nova rota a partir do Porto em Novembro
- (Re)entrada do Batalha
- Porto com rede sem fios de alta capacidade
- Centro Nacional de Cultura vai promover a «Festa na Baixa»
- "Festa na Baixa" apresenta 150 eventos na terceira edição
- Centro Nacional de Cultura vai animar a Baixa do Porto
- Metade da água comprada é perdida
- Leilão da Árvore rendeu mais de 300 mil euros
- Regulamento de Publicidade, Propaganda Política e Eleitoral: PCP compara Rio com Jardim
- El Corte Inglés e Adeturn aliaram-se para promover o turismo na Região
- Afinal IBM cria 40 empregos - Os cenários fantasiosos já são um hábito na nossa terra...
- 'Rivoli precisa de estrutura gestora'
- Porto Lazer vai começar a funcionar ainda este ano
- Obras nos Aliados em tribunal
- Uma casa de banho ao ar livre em S. Lázaro
PS: À atenção das autoridades - onde é que eu já ouvi falar de negócios deste estilo?...
PS 2: Parece que a minha pontaria estava afinada - MP de Cascais investiga outra empresa.
Senhor Luís Bonifácio,
Pode crer que também aprecio a correcção, mas prefiro o rigor. Parecem sinónimos mas não são. Se fizer questão, posso noutra altura indicar-lhe onde encontro as diferenças. Contudo, não vou debater consigo o pormenor da hora e do dia de determinados factos. Se foi fulano ou beltrano, que disse esta ou aquela frase ou se esta última foi interrompida e distorcida por um espirro de cicrano ou por uma rajada de vento. Isso, e os motivos que levaram à realização de obras medíocres e perigosas, no contexto da história de um país não passam de faits divers onde se investe de acordo com as conveniências das partes interessadas.
O que lhe posso dizer é que, ao longo de 32 anos, estou saturado de ler e ouvir todo o tipo de argumentos para desculpar o fracasso dos nossos governantes em todas as linhas. Estou farto, é o termo. Desculpe, mas a minha correcção não chega ao extremo de procurar outro adjectivo mais dócil, porque farto é a que melhor encaixa neste cenário. Repare bem, não estou a dizer-lhe que sou pessimista, que estou enervado, que só consigo ver filmes a preto e branco ou que sou derrotista. Estou-lhe a dizer simplesmente que estou farto de políticos incompetentes e aldrabões e que lamento não dispor de poderes para os meter na ordem.
Sabe porquê? Porque durante todo este tempo não tenho na memória um único ministério, nos sucessivos governos até aos dias de hoje, de cuja eficácia ainda estejamos a retirar benefícios relevantes. Passaram a vida a fazer e desfazer, a começar sem nunca acabar uma política de reformas e o resultado é o que se vê.
Hoje mesmo podemos ler no jornal "Público" uma notícia reveladora do marasmo do Estado (se calhar muito conveniente) no que respeita a reformas. Só agora entrou em discussão pública a proposta de redacção do novo Código dos Contratos Públicos, para condicionar a sobrevalorização das adjudicações e das obras a mais. Isto dirá tudo, ou ainda não?
Para terminar, espero que o meu amigo não integre o clube daqueles que atribuem a culpa da morte nas nossas estradas apenas à irresponsabilidade dos condutores ou ao álcool e se esqueça das ratoeiras fatais resultantes da péssima construção das estradas, da falta de sinalização ou da total ausência de cantoneiros para as limpar. Esse é outro disco de cuja melodia ainda não me deixei (apesar dos constantes branqueamentos) seduzir. Pode estar seguro que, se pudesse, não eram só os condutores inconscientes que puniria, mas também certos dirigentes das estradas nacionais que a coberto de múltiplas entidades como a JAE, DGE, DRE, etc, etc, se refugiam para camuflar as suas responsabilidades, incluindo as da morte de muito bom condutor.
Portanto, para não me alongar mais, é isto que se me oferece responder às incorrecções que apontou ao meu comentário sobre a IP5 e a A4. Não altero uma vírgula a tudo o que escrevi.
Rui Valente
Caro Rocha Antunes,
Apraz-me registar que se sente preparado para aceitar democraticamente opiniões diferentes das suas, ainda que condicionadas por tons e estilos que lhe sejam mais ou menos simpáticos, mas isso, meu amigo, é afinal aquilo que torna os debates vivos e envolventes. Chama-se: diferença.
Daí resulta que, concordando em parte com a ideia que tem acerca dos "julgamentos que fazemos dos actos públicos e da extrapolação para coisas mais complicadas, como o carácter das pessoas, etc.", deve saber muito bem que, a partir do momento que alguém se candidata a um cargo público, passa a ficar mais exposto e a recolher tudo o quanto isso tem de negativo mas também de positivo. E concordará certamente que dessa realidade não é apenas a competência que as pessoas avaliam com toda a legitimidade, é também e implicitamente o carácter de quem a personifica.
O exemplo que dá do TAF por ter referido "que a Câmara não tinha um Presidente à altura", pode como diz, não acrescentar ou melhorar nada, mas também não essa a sua função, nem a sua, ou a minha, caso contrário estaríamos ingloriamente a exercer as tarefas do próprio Presidente. Não será assim? Além disso Rui Rio, como sabe, não é exactamente o tipo de pessoa que goste que lhe indiquem caminhos e é por essa razão que considero um desperdício as dicas e sugestões que aqui são apontadas por muitos cidadãos para resolver os problemas do Porto quando se sabe que ninguém de direito lhes dá ouvidos. Rui Rio é um homem feito, tem responsabilidades acrescidas e a obrigação de se saber orientar. Se não sabe, que tenha a dignidade de se demitir. Não pode, é ser tratado como se fosse um toxicodependente a quem a sociedade deve conceder todas as oportunidades para se regenerar.
Não espero que concorde comigo, mas há-de convir que a margem de tolerância que temos dado aos políticos em geral tendo sido excessiva, e é talvez essa a razão principal que nos tem mantido no buraco em que estamos.
Rui Valente
Cá por mim acho que em cada 10 portuenses, 6 apresentam um enorme potencial revolucionário – a própria cidade se configura numa predisposição guerrilheira, a cada esquina um grafiti, em cada quarteirão 3 sentidos proibidos.
A cidade ferve logo de manhã, tenta-se chegar ao emprego contornando os congestionamentos de trânsito, e não se consegue contornar o quarteirão - não há sentidos alternativos. Num acto de desespero desrespeitam-se prioridades e regras de trânsito, não tarda muito o condutor de trás apita e ameaça sair do carro com um bastão para nos ensinar a conduzir – uma troca de acenos – e já soltamos a camisa das calças.
Chegados ao destino temos o tradicional encontro com a gárgula de serviço, também ela revoltada com as desigualdades sociais e pouco disposta a aceitar que só temos 50 cêntimos para o parquímetro.
Parece que se passaram 2 horas e afinal ainda são nove da manhã, já há alguns sacos de lixo na rua e o próximo cliente é um revoltado típico, que fala alto e esgrime possibilidades sem argumento, ao bom estilo portuense.
Tomamos o café pela manhã na pastelaria da esquina onde os empregados gritam uns aos outros e não agradecem o pagamento.
Almoçamos na churrasqueira cheia de fumo em 15 minutos, não dá para fazer sala - apesar de parecer um canastro, o aluguer do estabelecimento é caro, e o patrão não se pode dar ao luxo de perder os clientes que aguardam de pé.
Vamos para o jardim ler o jornal, não há uma só notícia que reconforte o nosso estado de espírito, as pessoas são indelicadas, pouco familiares e usam e abusam de um vocabulário agressivo que ostentam como marca registada.
O Porto é uma cidade enervante, as desigualdades criam atritos entre uns e outros, não há conforto nem desfrute, a luta é constante. Pegamos no carro para ir para casa e a gárgula garante – até amanha Sô Doutor – chegamos à garagem o vizinho quezilento pôs outra vez o carro no limite do estacionamento, é melhor não dizer nada que o homem parece uma central nuclear.
Chegamos a casa subimos ao 3º andar e já ouvimos os irritantes sons do andar vizinho, o condomínio não trata do prédio e já não é agradável viver ali, das traseiras temos um cenário de telhados ultra brilhantes cobertos de telas e logradouros em ruína, e continuamos a pagar uma valente prestação.
Neste campo de minas ainda só são 9 horas não há tabaco, pegamos no carro outra vez para procurar o café mais próximo, vamos todos despenteados, com olheiras e o dono encara-nos com receio de algum problema, afinal nenhum comércio se mantém aberto nas redondezas - um comércio fixo e pequeno é o alvo fácil da revolta que emana do agravar das desigualdades sociais.
A cada dia que passa pensamos que isto não pode continuar assim, quando não nos acontece esta situação a nós, acontece a alguém que com nós se relaciona e apanhámos por tabela.
Por isto 6 em cada 10 pensam todos os dias em revoltar-se, se não é contra a Câmara é contra o vizinho, contra o condutor abusado, contra o homem das cargas e descargas...
Essa potencialidade esté em vias de aumentar e ser mantida nas gerações futuras, os jovens dos bairros e zonas degradadas não conseguem integrar-se em postos de trabalho, sem nada para fazer tendem a tornar-se revolucionários em causa própria – há sempre desses revolucionários para ajudar à manifestações mesmo que não sejam convidados.
Portanto fazer uma revolução no Porto é facílimo, basta tocar nos pontos certos e depois seria até difícil conter os tentáculos dessa revolução, não acho é que seja necessariamente por aí, pelo menos para já. Mas que potencial existe - isso é inegável.
O comentário de Rui Valente sobre a construção da IP4 e IP5 não é correcto.
Ambas as estradas foram projectadas no final dos anos 70 e a sua construção iniciou-se em 1982, quando Ferreira do Amaral nem pensava em ser ministro.
É fácil hoje em dia criticar a construção destas e outras obras públicas, mas na primeira parte dos anos 80, Portugal vivia uma situação de ruptura financeira permanente, não havia dinheiro para quase nada, a dívida externa era enorme para a capacidade económica de então.
Ter conseguido construir estas duas estradas nesse tempo, só por si foi um feito! Não havia dinheiro para mais e ninguém pensava que algum dia o tráfego cresceria mais de 7 vezes para justificar uma Auto-Estrada.
Era fundamental ter construído estas duas estradas nessa altura, pois as estruturas anteriores impediam o desenvolvimento económico do país e estrangulavam completamente a capacidade exportadora.
As estradas não eram perfeitas. Não eram, mas aquelas que foram substituídas foram construídas por Fontes Pereira de Melo quando o automóvel não existia, e já tinham perdido o nome de estradas havia muito.
NOTA 1: Os camiões TIR só derretiam os travões porque os camionistas não estavam para ter o trabalho de ligar o redutor (Obrigatório para descidas de elevada inclinação). A mesma situação acontecia em Espanha na Estrada de Verin-Puebla de Sanabria.
NOTA 2: Guterres nunca falou em "Oásis". O termo "Portugal é um Oásis" é do Ministro de Finanças de Cavaco Silva - Braga de Macedo, carinhosamente conhecido por "Adiantado Mental".
Caro Rui Valente,
O Tiago concebeu este blogue de forma inovadora e única. E este espaço é bem mais importante do que nós, os que já nos habituámos a vir aqui, pensamos.
A importância que tem vem precisamente da sua forma de funcionamento: o blogue aberto mas com um moderador, a maior parte das vezes participante, mas sobretudo moderador invisível, que não publica automaticamente tudo o que lhe aparece no pdm@etc.pt.
As cidades estão numa profunda mutação, reflectindo as alterações dramáticas que a sociedade está a ter. O espaço público, a praça, deixou há muito de ser o espaço de exercício de cidadania e é nos media que a cidadania existe e se pratica. E espaços livres e abertos à participação são ainda escassos. Por isso este blogue é, para mim e para muitos, a nova Praça da Liberdade.
Por isso, caro Rui Valente, não se acanhe que a mim, pelo menos, não melindra nada. E a quem se melindrar recomende que lhe passe depressa. Claro que cada um de nós é responsável pelo tom e maneira que usa a comunicar, e quando se é mais agreste corre-se o risco de se perder leitores. Mas nada mais do que isso. Não deixe que se faça confusão entre a opinião e a pessoa. Eu posso ter razão poucas vezes e uma vez dizer alguma coisa muito acertada. E essa coisa acertada é a que fica, o resto felizmente é esquecido.
Acho que devemos sempre julgar os actos públicos das pessoas que governam a cidade em nosso nome mas resistir a extrapolações definitivas sobre coisas mais complicadas como o carácter, a saúde mental ou a inteligência, para não falar dos juízos de intenção. E podemos ser implacáveis no juízo de actos preservando as pessoas.
Eu acredito na força regeneradora da crítica ou, se preferir, naquilo que se costuma vulgarmente designar por crítica construtiva. Mas acredito que há limites que nunca se devem ultrapassar, sob pena de se perder eficácia crítica. E como acho muito importante a crítica eu tento nunca os ultrapassar.
Por exemplo, o Tiago referiu, na nota que fez ao meu último post, que a Câmara “não tem Presidente à altura, nem nada que se pareça”. É o tipo de opinião que sendo totalmente legítima, e não duvido que sentida, é completamente inútil. Porque o mesmo de pode dizer de quase tudo o não funciona no Porto, sejam promotores imobiliários, taxistas, arquitectos, cidadãos, educadores de infância, fãs de futebol, jornalistas. E não acrescenta nada que ajude a melhorar.
Cabe a cada um de nós trazer para aqui o que sente sobre o Porto, a Baixa e tudo o que os afecta, com o seu optimismo, o seu cepticismo, a sua angústia, a sua perplexidade ou, o que é infelizmente mais escasso, o seu trabalho e as suas ideias para melhorar um pouco o Porto. Mas somos todos cidadãos desta Praça da Liberdade. Iguais e livres. E para defender isso, até eu alinharia em bem mais do que uma manifestação.
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
PS. Zé, eu escrevi que não alinho em manifestações. Mas fui tomar o meu café ao Guarany como faço muitas vezes.
Confesso que hesitei um bocadinho antes de redigir este post. É que começa a tornar-se para mim desconfortável oferecer o meu contributo neste espaço de opinião sem evitar confrontações e sobretudo sem melindrar ninguém. Não é isso que quero, de todo.
A livre opinião é quanto a mim a única grande herança do 25 de Abril de que todos nos podemos regozijar. O resto, os escassos vestígios de modernidade que temos, no pós Estado Novo, devem-se mais depressa a uma utilização inevitável mas deficiente dos fundos europeus do que à dinâmica da sociedade civil. Não quero ser maçador, por isso me coibirei de dar demasiados exemplos (que os há), mas citarei apenas o exemplo das estradas.
Fizeram-se muitas é verdade, mas de péssima qualidade. Pior do que isso, dada a nossa mentalidade pequenina, elogiaram-se essas obras! Só para refrescar a memória de alguns, recordarei a IP 5 e a comparação feita nessa época (entre 89 e 90 e tal) a Ferreira do Amaral como sendo o novo Marquês de Pombal!
Isto foi dito e escrito, à medida que ali começavam a morrer como tordos muitos condutores e os camiões TIR derretiam os travões como se fossem manteiga. Mesmo com os protestos de algumas associações e entidades, a obra prosseguiu.
Pior ainda, passados poucos anos construiu-se a A4 para Vila Real com resultados mais desastrosos. Triplamente pior, ao fim de pouco mais de uma dezena de anos retomaram-se as obras na IP5 (ainda em curso) na tentativa de corrigir as asneiras do até então "iluminado" ministro gastando um balúrdio, muitas vezes mais do que seria necessário caso a referida empreitada tivesse sido logo encarada com o discernimento e a ambição adequadas.
Ora bem. Fui buscar este exemplo das estradas, não propriamente para o evocar, mas apenas para alertar para experiências anteriores de que foram protagonistas alguns políticos com a conivência de um opinião "publicada" tão condescendente quanto suspeita.
Pessoalmente cheguei a questionar-me se os meus neurónios estariam de perfeita saúde ou se andaria a precisar de óculos para ver nas referidas estradas a qualidade que tantos lhe apontavam (principalmente o governo) e eu não era capaz de ver. Fiquei igualmente espantado no tempo de Guterres com o famigerado "Oásis". Lembram-se? Eu não conseguia descobri-lo, mas que se fartaram de falar dele, lá isso fartaram. Perante tamanho desajustamento entre o que lia e ouvia e o que a minha capacidade crítica deixava ver, decidi definitivamente orientar-me, apenas e só, por mim próprio. Era mais seguro!
Resumindo: desculpem-me os que possam sentir-se afectados, mas tenho uma tremenda dificuldade em compreender quem, depois de tanta inoperância, ainda espera acções de relevo da administração Rui Rio. Desculpem-me, mas não consigo compreendê-los numa perspectiva do que deve ser a actividade de um autarca. Observar à lupa algumas boas iniciativas, mas avulsas, é como fazer um exame psicológico às qualidades escondidas de um criminoso. Lá no fundo, no fundo, sempre acabará por se encontrar algo de positivo na sua personalidade! A comparação pode ser um tanto dura, mas não será um pouco similar?
A concepção deste blog, o esforço do TAF, só pode merecer a gratidão de todos os que gostam e se interessam pelo Porto e pelos seus problemas, mesmo daqueles que não sendo de cá (como é o caso da Arqª. Paula Morais), se empenham em dar o seu melhor. Mas, como o TAF bem sabe, não acredito que seja apenas através do nosso manifesto aqui reproduzido que poderemos mudar alguma coisa. O problema é demasiado grave para nos darmos ao luxo de esperar que as coisas se resolvam apenas pela iniciativa isolada de cada um ou através da sua ocupação profissional. É preciso despertar e mobilizar a sociedade local.
Desde os meus primeiros momentos de participação neste Blog, continuo a pensar que só um grande movimento cívico, uma manifestação maciça (agora sou eu quem vai provocar anticorpos), é que nos pode fazer recuperar tanto tempo de indolência na nossa cidade. Eu também não aprecio multidões, mas não me importo de abdicar pontualmente desse meu capricho pequeno burguês se servir para acordar a população. Não se esqueçam dela, porque é a parte mais importante dos nossos problemas. E a população não somos só nós, os da Internet. Se assim fosse, provavelmente estaríamos aqui a discutir outros problemas, mais condizentes com um país próspero e civilizado.
Rui Valente
Caro Francisco,
Dizes que o R.R. está a trabalhar melhor. Admito que sim no que ao arrumar da casa diz respeito se viermos a verificar que as medidas que estão para ser tomadas servem a cidade e os cidadãos.
No entanto não servirá de muito, no que à gestão do território diz respeito, que essas remodelações sejam feitas se a CMP continuar a ir contra o seu programa eleitoral aprovando aquilo que o anterior presidente pretendeu aprovar. De certo reparaste que ultimamente têm sido licenciados empreendimentos que contrariam o PDM actual (e o anterior nos casos em que este ainda se aplica).
A "estratégia" é, exactamente a de um bom gestor de negócios, empresário, etc.: escolhe-se a solução que envolva menos perdas de dinheiro.
Ora na gestão do património não se pode agir dessa forma. Há que considerar outros valores - para além do obrigatório cumprimento da lei - e é necessário saber que não há dinheiro que pague uma escolha que destrua o património ou que reduza o seu usufruto digno e correcto.
Portanto, parece, as medidas de reorganização interna devem ser acompanhadas de opções que garantam uma gestão correcta e legal do património que está entregue nas mãos destes nossos gestores. Os autarcas.
(Em Novembro não te vi. Saíste mais cedo? Eu cheguei mais tarde porque admiti que "à portuguesa" as coisas iam começar com meias horas de atraso. Manifestações que não aguentam um par de horas não são nada.)
Desta vez não concordo com o Francisco, o mandato desta nova equipa não está a ser melhor que o anterior, a primeira razão para isso é a própria constituição da equipa.
Na minha opinião tanto Paulo Morais como Cutileiro e Rui Sá deviam continuar a integrar o executivo.
Esta nova equipa, que segundo Rui Rio demoraria 1 semana a encontrar os interruptores, tem-se limitado a refazer aquilo que foi estabilizado no primeiro mandato, a macro estrutura e as novas regras estavam já coordenadas, os funcionários já tinham ultrapassado a fase de adaptação.
Estamos a perder muito tempo a refazer o que já estava feito e alinhado, os SMAS e o ambiente estavam a caminhar muito bem com a gestão de Rui Sá, no Desporto ainda nem sequer estão concluídos certos projectos do primeiro mandato e, quanto ao fim da Divisão de Reabilitação Urbana, na minha opinião vai contra a bandeira de campanha.
Este novo mandato deveria seguir as linhas do anterior mas intervir naquilo que não teve qualquer intervenção:
- - Um projecto para o bairro de lata junto ao Palácio do Freixo;
- - Fim do São João de Deus;
- - Conclusão e aplicação do estudo de segurança urbana;
- - Acrescer novos métodos à política do ambiente;
- - Definição quanto ao eléctrico;
- - Viaduto do Parque da Cidade, reutilização do parque subterrâneo;
- - Zona oriental
- - Definição de uma política de auxílio e incentivo ao comércio tradicional, nomeadamente divulgação e interacção com programas nacionais e europeus.
- - Novas medidas de manutenção de vias e recintos públicos.
Não menos importante é a imagem da CMP, no primeiro mandato Rui Rio tentou criar uma nova imagem mais moderna e estilizada, fez campanha, marketing pela imagem da Cidade – este mandato esqueceu esse investimento, desceu tragicamente na discussão pública e nos sistemas de informação.
Claro que espero que isto se recomponha, que o executivo volte a ter voz e certeza nas decisões, mas parece-me muito tempo gasto na mesma coisa, acho até que esta maioria absoluta esta cada vez mais parecida com a oposição. A oposição é que nos habituou a esta estratégia de quando não se tem ideias, alimentam-se boatos, e actualmente é quase o que a equipa de Rui Rio faz.
Espero que isto mude, tenho direitos adquiridos nesta matéria, como diz o Alexandre defendi quase sempre a política de Rui Rio, se a política de Rui Rio mudar, e quanto a mim está em plena mutação, nesse caso terá sido mais uma desilusão política e uma má análise da minha parte. Mas também só não se desilude quem não colabora, e mesmo que me desiluda profundamente espero ter sempre força para colaborar.
Não me interessa nada as pessoas que estão no Governo da Cidade, o que me interessa é a evolução da cidade em si.
Caro Francisco,
O único Rio duradouro que conheço aqui pela cidade, é mesmo o Douro.
Quanto ao Rio que não é Douro e sim Rui, não percebo que informações tenhas porque pela prática não vejo nada disso acontecer.
Na teoria até te daria alguma razão, como é o caso dessa vergonha intitulada de funcionalismo público e das suas regalias e tachices, embora outras das razões a que te referes como é o caso do TGV para Vigo não sejam da responsabilidade do Presidente da Junta, (O Ministro é que deve ter corado quando os Galegos se predispuseram a pagar a obra).
Outras razões não invocas e que deviam ser da responsabilidade desta Presidência como:
- O esvaziamento do Aeroporto do Porto;
- O esvaziamento da Exponor;
- O contínuo esvaziamento da Baixa;
- A falta de investimento privado por culpa da morosidade dos serviços e da burocracia;
- O estado da marginal do Castelo do Queijo, e dos seus edifícios fantasmas;
- As indefinições na gestão do Metro;
- A demora de 5 anos para fazer a “Renovação da CMP”(?)
- A demora de 5 anos para perceber que a Associação de Comerciantes não serve nem a Baixa, nem a cidade (?)
- E principalmente, quantos anos vai demorar para perceber que a contínua forma de gerir sem qualquer consulta à População, e quanto mais não seja prestadas que sejam algumas informações, já não tem cabimento.
E como se tanta coisa não houvesse mas que estivesse em mudança, a verdade é que o Rui Rio bem que pode ter essas e outras intenções, mas infelizmente para a prática não passa nada.
Também é certo que o homem tem uma falta de jeito muito particular para comunicar, e um jeito enorme para perseguir e sentir-se perseguido. Não entendeu, nem vai nunca perceber que para governar seja o que for terá de ser “com e para todos”. Nem ele está à altura da cidade, nem nós os cidadãos à sua.
Alexandre Burmester
Caro F. Rocha Antunes,
Garanto-lhe que sou do tipo racional e até bastante frio. O sangue sobe-me à cabeça apenas nas quantidades estritamente necessárias para a alimentação e arrefecimento do meu cérebro. : )
Concordo que a Junta Metropolitana tem dado sinais de alguma vida nos últimos tempos. No entanto, não concordo que a ela se deva, nem exclusivamente e nem sequer em maior parte, a mudança de posição do ministro em relação à ligação Porto-Vigo. A mudança de atitude do Governo deve-se, a meu ver, ao efeito conjunto da pressão de variadas instituições e personalidades, estando entre elas, obviamente, a Junta Metropolitana. O papel desta última foi mesmo menor e ficou-se inicialmente por declarações de circunstância, só vindo o seu papel a ser mais notório quando a sua imobilidade, face ao movimentar doutras instituições e personalidades, já era insustentável. Creio que a mudança de opinião do ministro se deve mais à pressão do Governo da Galiza - foi gritante a falta que nos faz um governo regional -, ao facto de aparecerem investidores reais para o projecto - sintomaticamente também galegos -, e à própria pressão interna do PS do Norte sobre o Governo. Ao PS central seria insustentável justificar a ausência a norte de qualquer ligação a Espanha, já que nem Salamanca nem Vigo eram consideradas, quando a sul o Governo pretende construir em simultâneo duas: Lisboa-Badajoz em alta velocidade e Sines-Badajoz para mercadorias. Um aparte: na Junta Metropolitana tenho muito mais esperança no seu vice-presidente, o edil de Matosinhos, do que em Rui Rio. Está ali um nome a ter em conta, entre outros, para a câmara do município central da Urbe Porto e quiçá para uma futura macro-autarquia.
Concordo inteiramente com a sua acusação de miopia às anteriores câmaras socialistas em matéria de centros comerciais. Não o esqueço e sempre achei tais políticas como absurdas e contrárias ao progresso do comércio e da cidade. Eu, pessoalmente, gosto de centros comerciais como também gosto de comércio tradicional de qualidade. Há espaço para todos os que queiram evoluir. Porém, os últimos 4 anos não trouxeram, infelizmente, nada de novo. Antes pelo contrário, o mesmo tipo de opções manteve-se e foi até agravado por algumas polémicas estéreis. Comprova-o a transferência do El Corte Inglês para Gaia, a negociata das Antas em favor da Associação de Dona Laura Rodrigues e o protagonismo que a própria tem tido nos últimos anos. O facto da grande superfície espanhola ter sido implementada em Gaia não me causa qualquer espécie: o Porto, para mim, não está limitado à circunvalação; o que me repugna é o tipo de atitudes que provocaram tal facto.
Se Rui Rio está a comunicar mal está na hora de despedir aqueles que contratou especificamente para essa tarefa. Em coerência com o seu tão propalado rigor, pouparia aos cofres da autarquia vários milhares de euros mensais.
Em relação ao subsídio dos funcionários da recolha do lixo, como TAF tão bem sustenta, não existe nada objectivo que impeça a câmara de o pagar. O argumento de que se a recolha fosse privada tal problema não existiria carece de fundamento. Para mim este problema não aparece inocentemente: deve-se a uma estratégia clara para entregar a recolha de lixos a empresas privadas e também a um puro preconceito ideológico: Rui Rio considera que as vidas dos trabalhadores camarários menos qualificados e mais pobres são coisas menores. Ninguém com um mínimo de preocupação com a coesão social, que Rio tantas vezes evoca, tomaria a atitude que ele tomou em relação a pessoas com recursos materiais tão escassos. Entretanto a cidade tem visto degradar-se a sua limpeza urbana. Aos fins-de-semana é repelente a quantidade de lixo que transborda dos contentores e que se encontra espalhado pelo chão nas ruas da baixa. Para quem diz ter como grande objectivo a revitalização desta zona da cidade estamos conversados. Constata-se que neste campo as coisas pioraram.
Nada tenho contra o facto de empresas privadas tomarem conta de serviços actualmente prestados pela edilidade: desde que sejam mesmo privadas e não meras extensões de gente ligada às vereações e aos partidos do poder. Em Portugal estas situações são verdades quase científicas. Por norma, no balanço final, as despesas suportadas pelos contribuintes crescem quando muitos serviços públicos são concessionados a “privados”. Com as chamadas empresas municipais passa-se o mesmo. Frequentemente servem apenas para multiplicar os administradores, aumentar exponencialmente alguns salários, e arranjar bons empregos a muitos “jotas”. Sobre este tipo de coisas, e outras semelhantes, não faltam maus exemplos neste país. Num sector que conheço bem, o caminho-de-ferro, desde Cavaco que sucessivamente tem sido vítima de várias reestruturações: centenas de quilómetros de linha foram encerrados, centenas de estações fechadas e milhares de postos de trabalho eliminados; em contrapartida as empresas multiplicaram-se, os lugares de administração proliferaram como cogumelos e os prejuízos quadruplicaram. Nem tudo o que é “privado” é bom. Anuncia-se pelo menos mais uma empresa municipal para o Porto. Lá vem mais “tacharia”.
Se a renovação da estrutura da CMP resultar num funcionamento mais célere e competente da edilidade, eu também apoio. Esperemos para ver.
António Alves
Meus Caros,
Já sei que vou ser o único a dizer isto mas eu acho que, ao contrário de algumas opiniões que aqui se têm manifestado, Rui Rio está melhor neste mandato que no anterior. Eu explico porquê, para os poucos que conseguirem evitar que o sangue lhes suba à cabeça de indignação com esta minha opinião.
Rui Rio assumiu a presidência da Junta Metropolitana, à frente de uma direcção renovada. A Junta passou a existir e a mudança de posição do Ministro das Obras Públicas em relação ao comboio de alta velocidade Porto – Vigo é a prova disso. Gostava que a Junta tivesse uma posição mais forte na negociação na mudança da Exponor para Vila da Feira. Mas espero para ver o que dá o que está a ser negociado.
Esta Câmara aprovou, ainda em resultado do esforço do vereador anterior, uma inovadora liberalização do comércio. O Porto, no que depende da câmara, pode voltar a ser uma cidade comercial, como sempre deveria ter sido. E evitar a repetição da miopia das Câmaras socialistas que durante anos proibiram os centros comerciais na cidade e que os atirou para o outro lado da circunvalação e do rio. Os que se apressam a condenar o chumbo do Corte Inglês na Boavista esquecem o que foi a política anterior. Além disso, Rui Rio percebeu que não é com os comerciantes organizados na Associação presidida pela D. Laura Rodrigues que o comércio vai ressurgir.
Rui Rio está a fazer bem, e a comunicar muito mal, uma renovação da estrutura da CMP. Eu concordo que a CMP é grande demais, faz coisas que não deve e depois não consegue fazer o que deve. E apoio todas as acções que tornem a CMP mais barata e melhor. Por exemplo, se a recolha de lixo fosse privada, nunca existia uma situação como a do subsídio. Que afinal não foi teimosia de Rui Rio, e que o Governo e os Deputados não resolveram tão depressa como por cá se prometeu. Alguém imagina que isso pudesse acontecer numa empresa privada? Os trabalhadores receberiam o que estava acordado e pronto. Mas gerir alguma coisa com estas regras é kafkiano. Por isso, concordo com a privatização de todos os serviços que podem ser feitos por empresas privadas. Aumenta o mercado para as empresas privadas, reforça a economia local e, o que não é de somenos importância, reduz substancialmente esse cancro que é a “tacharia”.
Aguardo ansiosamente o resultado das alterações no urbanismo da CMP, que se anunciam para breve. E já agora deixo uma sugestão: que se siga o caminho da direcção geral de impostos e se contrate um “Paulo Macedo”. É uma área crítica para a cidade e justifica que se encontre o melhor director municipal que existir no mercado. Pague-se-lhe o que for preciso mas que seja competente e que ponha, de vez, o urbanismo a funcionar.
Apreciei também a ideia de se fazer um concurso público para o Mercado do Bolhão que, ao que sei, salvaguarda todas as questões importantes para a cidade: a manutenção e recuperação do edifício, a revitalização comercial e a integração dos actuais comerciantes que se predispuserem a isso.
Como as críticas vão chover, abstenho-me para já de dizer o que continuo a achar que está mal. Para isso há de certeza imensos voluntários. A indignação factura sempre mais do que a capacidade de reconhecer o que está a ser bem feito. E a facilidade com que se transfere para terceiros a responsabilidade colectiva é garantia de muitos post’s. Aposto que o blogue, nos próximos dias, vai ficar muito parecido com a incrível página de publicidade da Câmara, mas desta vez de sinal contrário. A diferença é apenas de direcção, não de substância.
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
--
Nota de TAF: Caro Francisco, uma nota apenas sobre o "subsídio nocturno". Já anteriormente expliquei por que razão nada impede Rui Rio de mandar pagar o subsídio. Não vi nenhuma contestação credível aos meus argumentos. Pior, a situação agora ainda é mais clara e as desculpas mais esfarrapadas. Quanto ao resto, concordo com muito do que escreves embora continue a achar que a CMP não tem Presidente à altura. Nem nada que se pareça.
Recorrentemente, vem à baila neste blogue a actuação de Rui Rio à frente da autarquia. Uns manifestam-se contra. Outros, poucos, são mais condescendentes com as suas atitudes. Todos tentam compreender e/ou justificar as, digamos que pouco canónicas, actuações da criatura. Da análise de tudo o que aqui é escrito, depreende-se que a esmagadora maioria considera que Rio é um verdadeiro desastre para a cidade; que as suas políticas são um verdadeiro crime de lesa Porto. Algumas das pessoas que aqui já se manifestaram são cidadãos com responsabilidades e condições para eles próprios assumirem a gestão da cidade. Pois bem, manifestar a sua repulsa contra as acções de Rio em blogues, jornais e outras tribunas é um direito que assiste a qualquer cidadão preocupado com o futuro desta urbe, mas não é suficiente. Está na hora de começar a agir para derrubar Rio e poupar a cidade ao desastre anunciado. Em vez de manifestações e ocupações anti-Siza, é urgente que os cidadãos empenhados ponham em prática um conjunto de acções sistemáticas com vista ao derrube deste executivo camarário. A democracia não se esgota nas eleições e é legítimo pressionar políticos incompetentes para que se demitam. Todos sabemos que não poderemos contar com a chamada "oposição" para isso. Afinal são filhos do mesmo sistema. Só uma insuportável pressão da cidadania poderá alcançar tal desiderato. É hora de mobilizar os cidadãos da Invicta contra esta Câmara. É hora, também, de criar alternativas reais que tenham como farol a vontade de servir o Porto.
António Alves