De: Rui Valente - "O Porto, pode esperar???"
Confesso que hesitei um bocadinho antes de redigir este post. É que começa a tornar-se para mim desconfortável oferecer o meu contributo neste espaço de opinião sem evitar confrontações e sobretudo sem melindrar ninguém. Não é isso que quero, de todo.
A livre opinião é quanto a mim a única grande herança do 25 de Abril de que todos nos podemos regozijar. O resto, os escassos vestígios de modernidade que temos, no pós Estado Novo, devem-se mais depressa a uma utilização inevitável mas deficiente dos fundos europeus do que à dinâmica da sociedade civil. Não quero ser maçador, por isso me coibirei de dar demasiados exemplos (que os há), mas citarei apenas o exemplo das estradas.
Fizeram-se muitas é verdade, mas de péssima qualidade. Pior do que isso, dada a nossa mentalidade pequenina, elogiaram-se essas obras! Só para refrescar a memória de alguns, recordarei a IP 5 e a comparação feita nessa época (entre 89 e 90 e tal) a Ferreira do Amaral como sendo o novo Marquês de Pombal!
Isto foi dito e escrito, à medida que ali começavam a morrer como tordos muitos condutores e os camiões TIR derretiam os travões como se fossem manteiga. Mesmo com os protestos de algumas associações e entidades, a obra prosseguiu.
Pior ainda, passados poucos anos construiu-se a A4 para Vila Real com resultados mais desastrosos. Triplamente pior, ao fim de pouco mais de uma dezena de anos retomaram-se as obras na IP5 (ainda em curso) na tentativa de corrigir as asneiras do até então "iluminado" ministro gastando um balúrdio, muitas vezes mais do que seria necessário caso a referida empreitada tivesse sido logo encarada com o discernimento e a ambição adequadas.
Ora bem. Fui buscar este exemplo das estradas, não propriamente para o evocar, mas apenas para alertar para experiências anteriores de que foram protagonistas alguns políticos com a conivência de um opinião "publicada" tão condescendente quanto suspeita.
Pessoalmente cheguei a questionar-me se os meus neurónios estariam de perfeita saúde ou se andaria a precisar de óculos para ver nas referidas estradas a qualidade que tantos lhe apontavam (principalmente o governo) e eu não era capaz de ver. Fiquei igualmente espantado no tempo de Guterres com o famigerado "Oásis". Lembram-se? Eu não conseguia descobri-lo, mas que se fartaram de falar dele, lá isso fartaram. Perante tamanho desajustamento entre o que lia e ouvia e o que a minha capacidade crítica deixava ver, decidi definitivamente orientar-me, apenas e só, por mim próprio. Era mais seguro!
Resumindo: desculpem-me os que possam sentir-se afectados, mas tenho uma tremenda dificuldade em compreender quem, depois de tanta inoperância, ainda espera acções de relevo da administração Rui Rio. Desculpem-me, mas não consigo compreendê-los numa perspectiva do que deve ser a actividade de um autarca. Observar à lupa algumas boas iniciativas, mas avulsas, é como fazer um exame psicológico às qualidades escondidas de um criminoso. Lá no fundo, no fundo, sempre acabará por se encontrar algo de positivo na sua personalidade! A comparação pode ser um tanto dura, mas não será um pouco similar?
A concepção deste blog, o esforço do TAF, só pode merecer a gratidão de todos os que gostam e se interessam pelo Porto e pelos seus problemas, mesmo daqueles que não sendo de cá (como é o caso da Arqª. Paula Morais), se empenham em dar o seu melhor. Mas, como o TAF bem sabe, não acredito que seja apenas através do nosso manifesto aqui reproduzido que poderemos mudar alguma coisa. O problema é demasiado grave para nos darmos ao luxo de esperar que as coisas se resolvam apenas pela iniciativa isolada de cada um ou através da sua ocupação profissional. É preciso despertar e mobilizar a sociedade local.
Desde os meus primeiros momentos de participação neste Blog, continuo a pensar que só um grande movimento cívico, uma manifestação maciça (agora sou eu quem vai provocar anticorpos), é que nos pode fazer recuperar tanto tempo de indolência na nossa cidade. Eu também não aprecio multidões, mas não me importo de abdicar pontualmente desse meu capricho pequeno burguês se servir para acordar a população. Não se esqueçam dela, porque é a parte mais importante dos nossos problemas. E a população não somos só nós, os da Internet. Se assim fosse, provavelmente estaríamos aqui a discutir outros problemas, mais condizentes com um país próspero e civilizado.
Rui Valente