De: F. Rocha Antunes - "Praça da Liberdade"

Submetido por taf em Quarta, 2006-05-10 21:41

Caro Rui Valente,

O Tiago concebeu este blogue de forma inovadora e única. E este espaço é bem mais importante do que nós, os que já nos habituámos a vir aqui, pensamos.

A importância que tem vem precisamente da sua forma de funcionamento: o blogue aberto mas com um moderador, a maior parte das vezes participante, mas sobretudo moderador invisível, que não publica automaticamente tudo o que lhe aparece no pdm@etc.pt.

As cidades estão numa profunda mutação, reflectindo as alterações dramáticas que a sociedade está a ter. O espaço público, a praça, deixou há muito de ser o espaço de exercício de cidadania e é nos media que a cidadania existe e se pratica. E espaços livres e abertos à participação são ainda escassos. Por isso este blogue é, para mim e para muitos, a nova Praça da Liberdade.

Por isso, caro Rui Valente, não se acanhe que a mim, pelo menos, não melindra nada. E a quem se melindrar recomende que lhe passe depressa. Claro que cada um de nós é responsável pelo tom e maneira que usa a comunicar, e quando se é mais agreste corre-se o risco de se perder leitores. Mas nada mais do que isso. Não deixe que se faça confusão entre a opinião e a pessoa. Eu posso ter razão poucas vezes e uma vez dizer alguma coisa muito acertada. E essa coisa acertada é a que fica, o resto felizmente é esquecido.

Acho que devemos sempre julgar os actos públicos das pessoas que governam a cidade em nosso nome mas resistir a extrapolações definitivas sobre coisas mais complicadas como o carácter, a saúde mental ou a inteligência, para não falar dos juízos de intenção. E podemos ser implacáveis no juízo de actos preservando as pessoas.

Eu acredito na força regeneradora da crítica ou, se preferir, naquilo que se costuma vulgarmente designar por crítica construtiva. Mas acredito que há limites que nunca se devem ultrapassar, sob pena de se perder eficácia crítica. E como acho muito importante a crítica eu tento nunca os ultrapassar.

Por exemplo, o Tiago referiu, na nota que fez ao meu último post, que a Câmara “não tem Presidente à altura, nem nada que se pareça”. É o tipo de opinião que sendo totalmente legítima, e não duvido que sentida, é completamente inútil. Porque o mesmo de pode dizer de quase tudo o não funciona no Porto, sejam promotores imobiliários, taxistas, arquitectos, cidadãos, educadores de infância, fãs de futebol, jornalistas. E não acrescenta nada que ajude a melhorar.

Cabe a cada um de nós trazer para aqui o que sente sobre o Porto, a Baixa e tudo o que os afecta, com o seu optimismo, o seu cepticismo, a sua angústia, a sua perplexidade ou, o que é infelizmente mais escasso, o seu trabalho e as suas ideias para melhorar um pouco o Porto. Mas somos todos cidadãos desta Praça da Liberdade. Iguais e livres. E para defender isso, até eu alinharia em bem mais do que uma manifestação.

Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário

PS. , eu escrevi que não alinho em manifestações. Mas fui tomar o meu café ao Guarany como faço muitas vezes.