2006-06-11

De: António Alves - "É a política, estúpido!"

Submetido por taf em Sábado, 2006-06-17 23:51

Não tomem o título como uma tentativa de ofender qualquer dos meus caros co-bloguistas. Longe de mim qualquer intenção nesse sentido. Pretendo apenas demonstrar que, ao contrário da crença do staff da campanha vitoriosa de Clinton contra Bush pai, no nosso caso, não é a economia mas sim a política que está no cerne do problema.

Pedro Vilalão escreve que «o Porto não tem (nem terá)* o mesmo número de oportunidades profissionais que existem em Lisboa». Nesta frase encontra-se plasmada a falta de ambição que nos tem levado ao marasmo e aos "encravamentos" de que tanto nos queixamos.

Estou cada vez mais convencido que o problema do Porto é a menoridade política a que há décadas está votado. A sua representação nos órgãos de decisão não é consentânea com aquela que a sua dimensão económica e demográfica exigiria. Enquanto o Porto (e também o Norte) não se assumir como um actor político poderoso e homogéneo nada será possível e a sua secundarização no panorama nacional continuará.

No actual quadro político viciado em favor da região de Lisboa não haverá nunca "mercado" que na realidade funcione e concorrência entre regiões em igualdade de circunstâncias. Só quando o Porto e a sua região envolvente possuírem capacidades política, administrativa, orçamental (e até fiscal, porque não?) autónomas, para imporem as políticas e os investimentos estruturantes de que necessita, o desejado desenvolvimento sustentado e efectivo deixará de ser uma miragem. Este desiderato não será alcançável com os actuais partidos e representantes políticos. É urgente encontrar novos veículos de conquistar e exercer o poder. O que os cidadãos do Porto devem fazer é tomar o seu destino nas próprias mãos, pôr de lado complexos e preconceitos, e assumir o confronto sempre que ele seja justificado. As elites do Porto devem deixar-se de apenas escrever artigos de jornal, participar em blogues, fóruns e conferências de duvidosa utilidade e partir para coisas mais materiais. Ou são a elite e justificam-no, ou não merecem as prerrogativas que a sociedade generosamente lhes concedeu.

Nada de objectivo existe que possa impedir o Grande Porto de se transformar na urbe mais competitiva e com mais oportunidades em Portugal. Só a sua própria (falta de) vontade o poderá impedir. Não acredito nessa espécie de determinismo sociocultural que impõe a primazia a uns e a secundarização a outros. A questão é primeiro política e só depois económica ou de mercado. Quem quiser continuar a alimentar mentiras piedosas para se auto-iludir que o faça.

* o negrito é da minha responsabilidade

António Alves

P.S.1 - Eu sei que muitos não gostam do exemplo, mas o FCP só se libertou da menoridade quando assumiu o confronto frontal com os poderes fácticos que favoreciam sistematicamente os clubes lisboetas. Hoje é uma potência europeia muito mais valorizada lá fora do que dentro de fronteiras. É muito bom sinal que assim seja.
P.S.2 - Antes que me perguntem, adianto-me: não faço parte da elite; não tenho os meios financeiros e organizativos, nem sequer o prestígio e o reconhecimento social para tal; não sou profissional liberal; sou um cidadão empregado por conta doutrem, com um salário médio para os valores portugueses; estou disposto a contribuir financeiramente e com trabalho para uma organização socio-política que pugne pela alteração deste estado de coisas. Como é óbvio pelo texto acima, não acredito no actual sistema de representação política.

De: José Silva - "Lobby via Paypal"

Submetido por taf em Sábado, 2006-06-17 18:14

Caros leitores do Nortugal.info e Baixa do Porto. Sejamos concretos. Façamos um teste à nossa força e empenho. Gostaria de receber o feedback dos leitores sobre a eventual criação de uma organização de lobby a favor do desenvolvimento regional da AMPorto.

1. Como se escreve na Wikipedia, Lobbying consiste em influenciar os poderes públicos, privados e a opinião pública numa dada direcção. Portanto admitamos a existência de uma organização formalizada em empresa ou não cuja actividade full-time é fazer lobby pelo nosso desenvolvimento económico, social, tecnológico e educacional.

2. Forma de funcionamento: Estudar um tema que contribua para o desenvolvimento regional, encontrar o caminho correcto e fundamentado das decisões a tomar, redigir uma posição pública, apresentá-la à comunicação social e poderes públicos, semelhante ao que faz a CCIPorto.

Para tal seria necessário, numa 1ª fase, um colaborador full-time, remunerado, com formação superior em Ciências Sociais, que seria responsável pelo estudo, elaboração de documentos e respectiva difusão. Existiria ainda um núcleo de elementos provenientes da Blogosfera, onde eu próprio estaria incluído, que seriam responsáveis pela decisão sobre quais as posições públicas a tomar.

3. Exemplo de assuntos a serem estudados e objecto de posição pública: Poderes públicos: Porque é que a UP não tem único back-office em cada Faculdade? Porque é que existem rodovias logísticas na zona do Porto de Leixões que estão concluídas mas fechadas há vários anos? Para quê a OTA? Porquê o adiamento da alta velocidade para Vigo ou Aveiro-Salamanca? Porquê o ramal ferroviário Alfandega-Leixões está sem uso há anos? Quando é que ocorre a fusão Porto + Gaia + Matosinhos + outros concelhos da AMporto? Quais as implicações de uma central nuclear no Douro? Porque é que a sede da CCDRN não vai para o interior do distrito ou para a Régua/ Vila Real?

Entidades privadas: Porque é que não houve consolidação regional do ensino universitário privado e a Universidade Portucalense acabará diluída num universidade lisboeta? Porque é que a Exponor vai ser deslocalizada? Porque é que a Sonae tem a sede operacional em Lisboa? Porque é que o festival SuperBock SuperRock não se realiza em parte no Porto? Porque é que colectividades e clubes de futebol de pequena dimensão não se fundem?

A esta lista podemos juntar todas as medidas sugeridas por Rio Fernandes no seu último post.

4. Como financiar? Atendendo à natureza da função, estimo que a remuneração do colaborador full-time poderia ser à volta de 1000 euros mensais. Quem pagaria seria todos os leitores do Nortugal.Info e da Baixa do Porto via Paypal Donate. Se 200 leitores estiverem dispostos a doar 5 euros por mês, então teremos condições para avançar com o projecto. Os donativos são obviamente facultativos e anónimos. Mensalmente serão publicados online os valores obtidos. Serão, de qualquer modo, o custo para existir uma voz activa e atenta que permanentemente defenda o desenvolvimento regional da AMPorto em benefício da sociedade civil.

5. Manifestação de interesse em doar, sugestões e comentários para jsilva@nortugal.info. Na próxima semana publicarei o resultado desta auscultação.

Cumprimentos
José Silva

De: Pedro Lessa - "Ainda a propósito de subsídios"

Submetido por taf em Sábado, 2006-06-17 15:10

Tenho a opinião de que relativamente a subsídios, mais vale não contar com eles. Por mais paradoxal que isto possa parecer, o efeito torna-se perverso. Supostamente são para ajudar mas só afundam um projecto. Seja pela burocracia, seja pelo surreal dos procedimentos ou então já na parte final, quando aprovados, nunca chegam ou o programa é cancelado. Portanto, quando penso em novos projectos, à partida todo e qualquer subsídio é posto de parte nos meus planos. E é por isso, caro David A. que o Urbcom e Modcom tiverem uma taxa de adesão modesta. Os que tiveram conhecimento (e devem ter sido poucos porque a divulgação foi mínima) com certeza que desistiram de se candidatar tal a carga de trabalhos a que se iriam sujeitar.

Também eu tenho uma "estória" vivida (se calhar temos muitos), quando iniciei o meu projecto. Na altura, há cerca de 8 anos, havia um programa de apoio à modernização do comércio do eixo Mouzinho/Flores, penso que inserido num Urbcom. Reparei no entusiamo da funcionária da Associação de Comerciantes que me atendeu, porque segundo a sua explicação, praticamente ninguém se tinha candidatado. O meu processo foi recusado porque a área contemplada parava no Largo de S. Domingos e no meu caso, devido ao local dobrar a esquina para a Rua Ferreira Borges, não estava abrangido (explicação dada textualmente pelo Ministério). Ao questionar o insólito com a A. Comerciantes, apenas recebi um encolher de ombros, como que a dizer estarem de mãos atadas. Mesmo depois de explicar todo o processo no Cruarb da altura, a incrédulidade foi total, passando para a indignação por saberem que estes projectos são avaliados, em Lisboa, pelo Ministério do Comércio, olhando para uma planta de localização. É evidente que a descontextualização geográfica é grosseira.

Eliminando os subsídios, só resta como tem vindo a expor o Tiago, os apoios privados ao empreendedorismo social. Só que, aqui, penso que não será com os empresários que lá se chegará. Um empresário quando aplica o seu dinheiro espera sempre ter algum retorno. Por isso não arrisca. E daí existir a tal falta de visão estratégica dos gestores e investidores com que se indigna o Tiago. É que é mesmo assim, esta visão não existe em Portugal. Mas existem minúsculas excepções. A famosa estilista madeirense que anda agora nas bocas do mundo, em início de carreira teve um apoio que se não o tivesse ainda andaria pelo Funchal com certeza. Mas teve um empresario que lhe deu o empurrão para o salto para o continente, que teve a tal visão estratégica. Mas por ter tal visão sempre o considerei mais sul africano do que português. Sim, esse tal, que a título gratuito cede o seu espólio artístico para o mortal do cidadão ter acesso num museu público. Pois é, mais uma vez, a tal visão estratégica. Basta só quantificar a exposição mediática que teve em todo o processo de negociação com o Ministério da Cultura.

Cumprimentos,
Pedro Lessa.
pedrolessa@a2mais.com

De: Cristina Santos - "Nem todos são sapateiros"

Submetido por taf em Sexta, 2006-06-16 23:32

Atenção que nem todos os portuenses são sapateiros.

A reabilitação urbana é um bem essencial à qualidade de vida em centros históricos – portanto é uma área com viabilidade a curto prazo.
A reparação de edifícios e eliminação de anomalias tem um mercado enorme nas periferias.
A manutenção de edifícios é quase um bem de primeira necessidade numa área urbana como a do Grande Porto.

Portanto aqui do lado da reabilitação ninguém está assustado, sabemos no que investimos e, melhor que isso - antecipamo-nos na experiência em relação às grandes empresas, que ainda não conseguiram redireccionar a sua actividade nessa área.

Os trabalhadores do restauro são poucos e é necessário formá-los, acompanhá-los hora a hora, as grandes empresas ainda não os têm.

Os técnicos superiores estão encantados pela criatividade que um restauro exige, pela variedade de soluções, estão disponíveis e dispostos para a área. As obras de reabilitação são poéticas, cativam também a população, no Porto qualquer vizinho da obra é encarregado de bancada, isto é favorável. Há empresas de restauro que afixam cartazes com slogans de evocação ao Porto, só por isso são bem vindas à urbe.

Na área da reabilitação o trabalho é personalizado, os trabalhadores trabalham com gentileza, sabem que um compressor desafinado pode deitar abaixo 3 edifícios no Centro Histórico. As condições de trabalho são condignas, equipas pequenas, gozam os fins de semana, as férias, os feriados, as pontes, sabem quem é o chefe e quem é o patrão, estão nos quadros de empresas que têm futuro assegurado.

Portanto o êxodo dos trabalhadores é um obstáculo a contornar, talvez tenhamos que passar a dedicar-nos a ensinar os ucranianos... Mas é a crise, quando passar já adquirimos a experiência no terreno, precisamos só aguentar-nos mais um pouco. Como se costuma dizer na area: Nunca se deita abaixo aquilo que se pode sustentar.

Bom fim de semana
--
Cristina Santos

De: Rui Valente - "A experiência de uma iniciativa..."

Submetido por taf em Sexta, 2006-06-16 23:14

Cá estamos nós outra vez, calorosamente envolvidos no tema do "desenvolvimento regional", procurando com alguma parcimónia descontextualizar o assunto de uma realidade concreta não menos importante que é, objectivamente, a situação profissional, económica e social de cada cidadão.

Com tantas e tão variadas opiniões, compreendo melhor Cristina Santos quando ocasionalmente diz sentir-se confusa. De facto, tenho momentos, perante alguns categóricos conhecimentos sobre economias e mercados aqui revelados, que também eu chego a ficar um pouco baralhado e a duvidar das minhas capacidades pessoais, que apesar de limitadas, não são propriamente as de um atrasado mental.

Por outro lado, vou retocar numa tecla (que já pensava ultrapassada) que é a de se insistir em dar contornos "extraterrestres" aos problemas da região, como se nos fosse proibido falar dela. Afinal, o que querem? Que passemos a falar dos problemas de Ranholas?

Nós somos do Porto, somos do Norte, e é perfeitamente correcto e objectivo referirmo-nos à nossa região porque é dela que se trata e não de outra qualquer. E mais uma vez, lamento ter de discordar com F. Rocha Antunes, quando logo na sua primeira expressão, se interroga a despeito da viabilidade do Porto "se estaremos condenados a ser os eternos beneficiários dos subsídios dos fundos de coesão", sabendo que, se houve região beneficiada com esses mesmos subsídios, foi a região de Lisboa e Vale do Tejo. Portanto, caro F. Rocha Antunes, sejamos criteriosos nas nossas observações para não entrarmos em contradições.

Agora, se me permitem, e a propósito de se ter ou não, iniciativa, vou contar-vos uma pequena história pessoal.

Aqui há uns anos, juntamente com outro sócio, decidi lançar-me num negócio na área do ambiente a coberto das famosas ILE's (Iniciativas Locais de Emprego) e dos RIME (Regime de Incentivos às Pequenas e Médias Empresas), para procurar algum apoio financeiro, dado que o ramo de actividade (na área do ambiente) se enquadrava legalmente no restrito grupo de beneficiários de supostos apoios especiais.

Depois de muita papelada (somos bons nisto), de apresentarmos o projecto respectivo e de andarmos numa roda viva a correr de Banco para Banco e, apesar do mesmo ter sido considerado viável, a verdade é que os tais subsídios nunca nos foram concedidos. Mais: quando perguntávamos aos funcionários bancários quantos projectos, antes do nosso, tinham sido deferidos, titubeavam e acabam por confessar que não sabiam.

Mas, para terem uma ideia ainda mais caricaturável do insólito, conto-vos mais esta cena: um dia, entrei num determinado banco onde reparei existirem folhetos publicitários sobre um desses regimes de suporte financeiro e, quando me dirigi ao gerente para recolher mais informação sobre o assunto, ele não sabia do que lhe estava a falar, nem tão pouco da existência de tais folhetos! Parece mentira, não é? Mas, é verdade. Passou-se comigo.

Eu sei que o que acabei de vos relatar nada acrescenta ao nosso problema, mas é apenas para vos ajudar a compreender um pouco melhor a "teia" ardilosa do sistema em que vivemos e não tendermos a focalizar as nossas dificuldades numa só origem, muito menos em nós próprios. O problema, concordo, é um pouco de todos nós, mas é essencialmente político! Os incentivos de que vos falei estavam sob a tutela da Segurança Social... e foi o que se viu.

Aos políticos, incumbe a tarefa de ordenar e controlar a sociedade civil e como infelizmente ainda estão muito longe de o conseguir, não me parece razoável esperar que sejam os cidadãos, sem recursos nem poder, a dar o primeiro passo.

Essa ideia, alimentada pelos políticos (e Cavaco Silva não foi nada original no discurso), face aos exemplos que vão dando de si mesmos, não é, no mínimo, respeitável, mas é mais perigosa ainda se formos nós cidadãos civis, com poderes muito restritos, a dar-lhe lastro. Eu recuso-me a dar.

Rui Valente
--
Nota de TAF: Acrescento que estes incentivos de que fala Rui Valente era suposto existirem para compensar, entre outras coisas, a escassez de capital de risco. Mas na prática é o que se vê: nem capital de risco nem nada... Pior, os "apoios" acabam por se revelar, frequentemente, uma armadilha que constitui o maior impedimento ao sucesso do negócio. O Estado não é uma pessoa de bem e faz questão de o demonstrar todos os dias.

Na reabilitação urbana de momento vive-se a situação inversa.

A reabilitação urbana exige uma formação contínua da mão de obra, leva-se 1 ano a transformar um Pedreiro de «obra nova» em Pedreiro de obras de restauro, 5 anos a formar um quadro de pessoal capaz e polivalente nas diversas áreas.

Nos últimos dois anos os preços dos serviços não aumentaram, em contrapartida os custos aumentaram o normal. Até aqui tudo bem, reduz-se a margem de lucro quase a 5%, o IVA para estas obras é também 5%, aumentam-se os quadros em 3%, e assim se vão fazendo as obras contratadas em 2003/2004 à espera que passe a crise.

O pior é que no último ano os trabalhadores não resistem aos 1500 Euros mensais + regalias oferecidos por Espanha, e por muito que se diga que qualquer trolha faz a obra – isso não é verdade muito menos quanto se investiu na formação desses trabalhadores que hoje são peritos.

O que é que uma PME faz nesta situação?! Quando vê os seus esforços irem por água abaixo pela concorrência desleal que vem de Espanha?! Como se podia suportar um ordenado de 1500 euros + regalias + segurança social + seguro + medicina no trabalho + impostos e continuar a prestar serviços?

É impossível porque raras são as pessoas que ganham 1500/mês para depois poderem suportar um restauro em que a mão de obra do obreiro custa esse valor por funcionário.

E assim, perante trabalhadores cada vez mais exigentes, aguardamos que os ordenados de todos os portugueses subam para esse valor para então poder remunerar os nossos com igual quantia.

A propósito venho agora do sapateiro, em conversa disse-lhe que tinha muitos clientes porque tinha na loja muitos sapatos, o senhor respondeu-me:«não, menina, vou mesmo fechar, aqueles sapatos são de pessoas que não têm dinheiro para comer, quanto mais para virem levantar os sapatos que mandaram arranjar...»
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Cristina Santos

De: TAF - "Vigo"

Submetido por taf em Sexta, 2006-06-16 18:40

Por falar em Vigo, ontem eu e a Ana fomos a Vigo. Mais de 3 horas de viagem em cada sentido. O comboio é este:

Comboio para Vigo

Bem sei que é matéria na qual não sou “especialista” (se calhar somos todos) mas não resisto a fazer um comentário, até em solidariedade com o nosso muito respeitado e sempre cordial animador de site.

É que, de facto, as oportunidades de progressão na carreira (pelo menos da larga maioria) decorrem em boa medida do balanço entre oferta e procura. Ora, em Lisboa, há mais oferta que no Porto, mas também mais procura. No balanço, por certo que em Lisboa as oportunidades são mais, sobretudo para lugares melhores, como serão também mais os excluídos de boas e medíocres oportunidades (ainda não temos Brandoas por cá!). De resto, o mesmo se dirá a partir de Lisboa relativamente a Londres (com “vantagem” para o número de excluídos) e em Vila Real relativamente ao Porto.

Outra possibilidade, menos dependente da lei da oferta e da procura, passa muito por uma palavra da moda, o empreendedorismo, ou seja a capacidade individual e colectiva de criar valor, o que é hoje facilitado pelas novas tecnologias. E, claro que há sempre a tradicional cunha, a desgraçada cunha, que acompanha muito a percepção muito portuguesa que o Estado são os outros e que o que é preciso é “desenrascanço” e que tudo corra bem comigo e com os meus!

O que com este debate me ocorre também é que quando falamos em oportunidades e desenvolvimento, quase sempre pensamos em nível de vida, esquecendo que essa é apenas uma das componentes da qualidade de vida. Não, não estou a dizer que é muito bom ser feliz de barriga vazia; o que estou é a chamar a atenção para o facto de no Porto termos estagnado em relação aos indicadores de nível de vida (por exemplo no poder de compra), sem termos visto significativamente melhoradas as condições da qualidade de vida, sobretudo pela excelente acção:

  • - da SRU no Centro Histórico do Porto, com centenas de prédios de habitação recuperados, e a visível revitalização comercial da Baixa do Porto, com centenas de novos estabelecimentos, outras centenas modernizados e alguns notáveis restaurados e apoiados;
  • - da Câmara do Porto na preservação de espaços públicos de referência do urbanismo do princípio do século XX e de grande carga simbólica, depois de amplo debate público e participação de vários arquitectos especialistas em espaço público (caso da Avenida dos Aliados), a coordenar com Gaia o funcionamento dos barcos de passageiros que ligam as duas ribeiras, a realizar a cobertura parcial da VCI e a propor a rectificação do nó das Antas, assim como outras medidas para evitar o ruído e criar mais espaço livre e melhorar a imagem e uso da via;
  • - da Junta Metropolitana, ao fazer com que o metro chegasse às áreas de maior dependência de transporte público (com ligação directa a Rio Tinto e outra por Valbom à cidade de Gondomar), em vez de o fazer passear pelos campos até à Póvoa como se fosse um comboio; ao pressionar e conseguir manter o Parque de Exposições junto ao aeroporto e nas condições de modernidade necessárias para divulgar a região no mundo; ao participar numa política activa a favor do reforço dos voos da TAP e da compreensão da prioridade de uma nova ligação ferroviária com Vigo e ao terminar com a vergonha da poluição terceiro-mundista no Douro (e nem em todo o Terceiro Mundo)!

Assim temos condições mais adequadas que permitem a uma região com dificuldades, apesar da diminuição do nível de vida, melhores condições de vida para os seus habitantes, assim criando também o contexto mais adequado à criação e fixação de empresas, designadamente as mais competitivas.

Rio Fernandes

De: Pedro Vilalão - "Os «encravamentos» da região"

Submetido por taf em Sexta, 2006-06-16 17:33

Caro Tiago

Começo por desculpar-me, por ter interpretado (mal) os seus apelos como tentativas de "atalho".

No artigo anterior, não tive qualquer pretensão de oferecer soluções para os actuais problemas do Porto (fossem elas abstractas ou de teor mais prático). Apenas apresentei uma opinião sobre o perigo de se usar um caso para generalizar a questão do "encravamento".

Na generalidade concordo com as suas sugestões, mas sempre numa perspectiva menos ambiciosa, com projectos focalizados, objectivos a médio longo prazo, alavancados por conjunturas politicas/económicas mais favoráveis. Discordo um pouco na abordagem legal, acredito que a única forma de levar os projectos para a frente, pelo menos até 2009, é seguindo as regras ditadas pelo poder instituído. Adoptar a postura perdedora de anteriores iniciativas é dar azo a crispações que só servirão o propósito desse poder, esquivar-se dos projectos estruturantes no Porto.

Discordo, no entanto, da sua visão no que toca ao "Capital de Risco". O Norte, e particularmente o Porto, tem uma maneira de estar muito peculiar e muito conservadora, os empresários não fogem à regra. Tenho a certeza que a maioria das empresas já ficou vacinada aquando do BOOM da Internet e das empresas ponto.com. Muitas dessas empresas (Salvador Caetano, Grupo Amorim, Sonae, etc) ainda hoje tentam livrar-se desses contrapesos que foram os investimentos no chamado "vapor-ware" que ia dar milhões de retorno. Agora só o tempo e uma conjuntura económica mais favorável permitirão que retomem a confiança nesse tipo de investimentos.

Votos de bom fim-de-semana
Cumprimentos
Pedro Vilalão
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Nota de TAF: Caro Pedro, concordo integralmente consigo quanto à necessidade de "projectos focalizados", por oposição a uma abordagem "generalista". Não percebi completamente quando se referiu à "abordagem legal": seria em relação à fusão de municípios? Quanto ao "vapourware", as empresas em causa têm toda a razão em se arrependerem do investimento e da "bolha", que agora ameaça voltar com os delírios da "Web 2.0". Contudo, os investidores a sério não apostam quando o mercado está em alta, investem é na baixa. ;-) Mas nem só de economia em sentido estrito vive a região: por que é que nada disto funciona cá? É falta de visão estratégica dos nossos gestores e investidores, também. Bom fim de semana!

De: TAF - "Os «encravamentos» da região"

Submetido por taf em Sexta, 2006-06-16 15:33

Caro Pedro, quando eu escrevo sobre determinado assunto tento sempre focar aquilo que conheço melhor, de preferência ilustrado por algo com o qual tenha experiência directa. De “conceitos abstractos” está o Porto cansado… ;-) Por isso aqui vão algumas notas adicionais, para que se perceba melhor quais os “encravamentos” da região, a razão por que as coisas não funcionam, os males que provocam os nossos atrasos. É que, se estamos atrasados, há algo realmente errado connosco.

1) É normal, inevitável e até saudável que as oportunidades profissionais não sejam iguais em todo o lado. Se alguém, por hipótese, quiser dedicar-se à Literatura Árabe é compreensível que em Portugal não encontre grandes hipóteses de trabalho. Ou, se passarmos para áreas tecnológicas, é compreensível que a tecnologia aero-espacial tenha mais relevo em Toulouse do que em Moimenta da Beira. :-)

2) O que eu não quero são “atalhos”! Um dos nossos principais problemas, como o Francisco bem referiu, são precisamente os “atalhos”. O que eu gostaria é que houvesse, nas poucas oportunidades que existem, uma visão mais saudável por parte dos gestores – se isso é desejável nos privados, é um dever essencial nos públicos.

3) Quando uma região está “encravada”, no sentido de que a economia não se desenvolve como devia, seria de esperar que os detentores de capital ou de capacidade de decisão tentassem reunir as pessoas que poderiam dar algum contributo para inverter a situação, para com elas desenvolverem projectos interessantes e viáveis. Ora isso não está a acontecer. O cenário do Porto é a prova cabal disso mesmo. Dou aqui e aqui inúmeros exemplos de actividades que seriam importantes para o Porto mas que, por mais que se tente, não conseguem um enquadramento que as torne viáveis.

4) Em Portugal, e especialmente no Norte, não se compreende verdadeiramente o que é “capital de risco”. Em bem tento explicar… ;-)

5) As “estratégias menos directas” que refere são as que eu agora estou a tentar: obter capital ou emprego no estrangeiro, já que cá parece impossível.

PS: Esqueci-me de dizer que as dificuldades que tenho encontrado quanto a projectos de investimento nunca foram de "pouco interesse numa perspectiva de retorno de investimento". Pelo contrário, o interesse nesse aspecto tem sido grande, mas o que falta é vontade ou capacidade de assumir o risco que os projectos de facto implicam. Enquanto o investidor não consegue uma "prova" de que vai ganhar dinheiro, não arrisca nada. Mesmo nada, por pouco que seja. Por isso é que continuo a afirmar que não há cá capital-semente. Mas o caso é até mais complexo, abrangendo situações que não são de "capital de risco", como a reabilitação urbana demonstra.

De: Pedro Vilalão - "As (suas) opções"

Submetido por taf em Sexta, 2006-06-16 15:07

Caro Tiago,

Permita-me tecer algumas observações aos seus artigos e o Tiago tomará a liberdade de as publicar ou não.

Quer-me parecer que está a extrapolar a questão do empreendorismo do Porto para o seu caso pessoal. Começo por expor alguns factos para falarmos a mesma linguagem:

1) o Porto não tem (nem terá) o mesmo número de oportunidades profissionais que existem em Lisboa (mas o que dirão as restantes capitais de distrito);

2) existem oportunidades profissionais interessantes no Porto, para citar algumas empresas: Bial, Sonae, Soares da Costa, Salvador Caetano, Grupo Amorim, etc;

3) os salários no Porto, excepto em cargos estratégicos, são muito inferiores a Lisboa;

Partindo destas três premissas, julgo que aquilo que o Tiago pretende seja uma oportunidade interessante no Porto (num cargo estratégico), coloca portanto a priori condicionalismos a nível de salário e função. Se estes condicionalismos em Lisboa seriam já redutores, imagine aqui no Porto. É claro que há sempre atalhos... (julgo que é isso que procura com os seus apelos - e esta observação pode retirar se assim entender)

A segunda ideia com que fico é que o seu cenário ideal seria obter financiamento para um dos seus projectos, o que levanta outra questão, o facto de me parecer que não coloca a hipótese de os seus projectos aos olhos de financiadores privados poderem ser vistos como pouco interessantes numa perspectiva de retorno de investimento. Trabalho na mesma área que o Tiago, e todos os dias me brindam com ideias "que vão mudar o mundo" e permitir independência financeira dos candidatos a empreendedores, no entanto, temo que ainda não tenha visto ninguém a ficar independente à custa das supostas ideias revolucionárias. O Tiago tem inclusivamente já experiência passada com iniciativas do mesmo género, projectos louváveis, mas não reconhecidos como tal por potenciais financiadores. Não estou a isentar de financiadores de responsabilidades, mas por vezes temos de adoptar estratégias menos directas para chegar aos nossos objectivos.

Repare compreendo os seus anseios, eu também queria fazer aquilo que mais gosto e ser pago por isso, mas quando preciso de fazer as minhas compras no supermercado ou pagar as contas no final de cada mês, não me aceitam pagamentos em árvores de costados ou estudos de famílias. Vá-se lá saber porquê ;)

Boa sorte na sua empreitada

Cumprimentos
Pedro Vilalão

De: TAF - "As opções"

Submetido por taf em Sexta, 2006-06-16 12:16

A propósito dos comentários que surgiram na sequência deste meu post, deixem-me dizer o seguinte.

Há três maneiras de tentar produzir riqueza:

Explorei as três na nossa região, até agora sem sucesso. Resta-me tentar a sorte noutros lados para que, mais tarde, possa eu fazer no Porto aquilo que não consigo agora encontrar.

De: F. Rocha Antunes - "O Factor C"

Submetido por taf em Sexta, 2006-06-16 11:59

Meus Caros,

Com a regularidade das estações do ano volta a eterna questão de saber se o Porto e o Norte são viáveis ou não. Estaremos condenados a ser os eternos beneficiários dos subsídios dos fundos de coesão?

Eu, como imigrante no Porto há 16 anos, sempre fiquei pasmado com esta mania indígena, mas deixei de gracejar com o assunto quando percebi que os meus concidadãos levam esta questão realmente com um ar grave, embora tudo indica que não a levam de facto a sério, como o Tiago e José Silva podem testemunhar melhor que eu.

Não tenho a menor dúvida que esta região é viável pela mais simples das razões: somos uma região europeia com dimensão relevante. O simples facto de sermos 3 milhões no Noroeste, integrados num mercado que é apenas o melhor e mais próspero do mundo, a União Europeia, permite que sejamos viáveis. A questão é, quanto a mim, outra: qual é o nível de vida que podemos almejar dentro deste mercado. E a resposta é também simples e crua: teremos o nível de vida igual à eficiência com que trabalharmos.

A noção da nossa própria dimensão é, insisto sempre, a primeira etapa para sermos eficientes. Quantas das pessoas que estão a ler este post já se deram ao trabalho de ler o PNPOT, e a parte que diz directamente respeito a esta parte do País? E organizam a sua vida profissional em função dessa realidade?

Vou ilustrar com um pequeno exemplo que me parece significativo. Por razões profissionais tive a necessidade de estudar o mercado industrial da região. Fiquei pasmado com a falta de conhecimento que se tem sobre nós próprios. Encomendei um estudo de mercado que me permitiu saber, entre outras coisas, que existem cerca de 25 milhões de metros quadrados de instalações industriais e de armazenagem no Noroeste. Sabem quantos mediadores imobiliários especializados neste importante subsector do mercado imobiliário existem? Nenhum. Estão todos concentrados a tentar vender os mesmos apartamentos. Mas se alguém quiser saber alguma coisa sobre o mercado industrial ou das lojas da região, não tem quem sabia grande coisa. E pior, quem possa ajudar a comprar ou a vender. Estamos a falar de negócios que exigem alguma especialização mas que não são física quântica.

Por isso proponho que se altere o factor determinante de emprego da região, mantendo a mesma letra C: deixemos de usar o C de Cunha e passemos a usar o C de Conhecimento. Essa revolução está ao alcance de cada um de nós, e não precisa do outro C, o Capital.

Por cada Cunha que funciona há um Quadro relevante que emigra, à semelhança do que dizia o Solnado na velha anedota de há uns anos sobre aquela terra em que a população não mudava, porque de cada vez que nascia uma criança fugia um homem. A Cunha mata o Mercado. E o que nós mais precisamos para que a nossa prosperidade aumente é que a nossa economia seja mais de mercado. Não é nenhum assomo de liberalismo, é a melhor defesa da prosperidade da região: quanto mais mercado a região for, mais prósperos seremos todos. Por isso da próxima vez que quiserem meter uma cunha ou forem vítimas de uma lembrem-se que se caírem na tentação, estão a mandar um Tiago para fora da região.

Um dos meus professores de Gestão manifestava a sua perplexidade com a popularidade da cunha em Portugal dizendo que não percebia porque tanta gente colaborava nas cunhas quando está provado que as cunhas só têm um de dois resultados: ou correm mal ou se fica a dever! E enfraquece-se ainda mais a economia, acrescento eu.

Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário

PS – Caro Rui Valente, uma das características desta nossa economia é a abundância de capital. O que falta é onde o investir. E aí a existência de regras de mercado é decisiva, porque ninguém entra num mercado de que depois não consegue sair com facilidade.

De: Luís de Sousa - "O dinheiro não compra a felicidade"

Submetido por taf em Sexta, 2006-06-16 11:21

No seguimento deste lobby sugerido pelo Tiago, através daquele seu texto de inegável qualidade crítica que levanta algumas interrogações pertinentes em relação ao modelo a adoptar para um desenvolvimento sustentável da região, e entretanto comentado pelo José Silva e pelo Rui Valente que apontou o dinheiro como a palavra chave que abre o criptex que encerra o desenvolvimento da nossa região, tomei a liberdade de dar um terceiro diagnóstico a situação do paciente onde todos vivemos que é a Área Metropolitana do Porto.

Concordo que só através do suporte financeiro oferecido pelos investidores é que os empreendedores conseguem levar avante os seus projectos, pois já no renascimento era assim, onde os artistas apenas podiam concretizar a sua arte angariando apoios de mecenas abastados que alimentavam a sua arte com vista a mais tarde colherem os dividendos desse mesmo investimento. Porém nesse tempo as coisas eram vistas a longo prazo pois a humanidade ainda não tinha constituído este mundo virtual de informação instantânea em que hoje vivemos e onde os dividendos devem surgir rapidamente após o investimento, pois só assim é que este se torna apetecível aos olhos (e bolsos) do investidor que anseia por ver o seu dinheiro multiplicado, como Jesus Cristo fez com os pães (já que ontem vivemos um feriado em sua honra). Esta celeridade de processo nem sempre é assim tão boa para o desenvolvimento de uma região pois curiosamente a maioria dos pequenos e médios investidores opta não por negócios que possam criar riqueza, mas sim por negócios que envolvam troca de capitais, visto estes últimos terem o tal efeito Polaroid que os investidores tanto anseiam. No meios de tudo isto sobram apenas os grandes investidores para apoiarem o verdadeiro empreendedorismo que visa criar riqueza, exportar produtos, atrair investimento estrangeiro, e desenvolver de uma forma consolidada a região onde o capital é investido.

Contudo acho que esta situação podia mudar se fossem desbloqueadas certas situações burocráticas que dificultam estes negócios mais a sério, como há tempos ouvi o Eng. Belmiro de Azevedo defender e bem no canal público de televisão. Para além de tudo penso que o que realmente falta é coragem política para uma verdadeira afirmação da região, pois é urgente acabar com os excedentes autárquicos, pois é, os políticos são demais e ainda por cima não são (+) mas sim (-) pois dão preferência ao investimento do PATOBRAVISMO REGIONAL (não é necessário dar exemplos) sendo ainda pouco sedutores para com os investidores realmente interessantes (veja-se que as maiores empresas têm as suas sedes numa zona industrial totalmente desqualificada em vez de um centro empresarial atractivo e urbano situado na tal zona que se quer viva) como se exige a uma cidade que tem pretensões a permanecer como cidade e não como museu arruinado e desertificado onde os edifícios caem todos os dias e em que a maior parte das pessoas se encontra de passagem rumo à periferia cada vez mais povoada. Como se ainda não bastasse, praticam ainda uma política assente no NIM em que nem mandam eles, não assumindo um papel de gestores do património e dos serviços públicos da região, nem nos deixam mandar a nós cidadãos atentos e empreendedores, tentando abafar a nossa opinião com rótulos de críticos do costume (ainda bem para eles que são sempre os do costume porque mau era se começassem outros a estar atentos e a criticar a sua gestão danosa).

Portanto "o dinheiro não compra a felicidade" social e económica de uma região, essa só surge com políticas "empreendedoras" e com investidores abastados de "massa cinzenta", não só da outra.

Cumprimentos
Luís de Sousa

De: Cristina Santos - "Lobby ou complementarismo"

Submetido por taf em Sexta, 2006-06-16 10:59

Concordo inteiramente com o comentário de José Silva quanto ao caminho a seguir pelos empreendedores regionais .

Talvez resultasse estabelecer um plano em que áreas consideradas complementares pudessem constituir entre si uma rede de interesses/negócios à escala regional – depois definir os critérios para o tipo de empresa a integrar o dito complemantarismo - descrever as vantagens e desvantagens de adesão - efectuar levantamento das entidades já instaladas com capacidade para integrar essa rede regional – contactá-las – apresentar publicamente o plano - estabelecer perspectivas de desenvolvimento regional a médio longo prazo - definir as áreas de interesse prioritário – o tipo de marketing comum – e criada a base, partir para o Lobby conceito geral, pressionar o governo para deliberar apoios às dificuldades sentidas na região.

Já temos a discussão pública, a vontade, o carisma.

Mas ao mesmo tempo que faço este esboço de pensamento, sou obrigada a concordar com o Rui Valente, há outros lobbys mais fortes e internacionais, por exemplo a empresa que vende seguros, que pertence a um banco qualquer, tem um Hospital da «sua cadeia» onde atende os segurados, acho que isso também é um lobby, um lobby multinacional, não pressiona o governo mas pressiona todo o movimento financeiro, que restringe a lei e a sua aplicação aos interesses das áreas onde se encontram instalados.

Bem, deixo o assunto para comentadores mais preparados, capazes de criar um plano para um Lobby regional efectivo, que gere interesse e adesão, há muitas PME regionais à espera que de alguma forma se abra essa oportunidade.
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Cristina Santos

Caros participantes,

Apesar de o assunto já ter sido debatido, em tempos, neste blogue, vou aproveitar a referência que TAF fez no seu recente “Uma geração balofa e parda”, bem como a notícia publicada no último Domingo sobre o futuro canil intermunicipal do Porto e de Gaia, para partilhar esta minha reflexão sobre o tema da cooperação entre municípios.

De facto, são já vários os fenómenos que hoje em dia reclamam, cada vez mais, uma actuação conjunta e coordenada a nível intermunicipal. Da exiguidade excessiva do espaço administrativo dos municípios relativamente aos serviços que os mesmos têm de desenvolver e que exigem uma implantação mais vasta do que a área administrativa daqueles (como por exemplo os serviços de transportes colectivos, os serviços de captação e distribuição de água ou os serviços de recolha e tratamento de resíduos), à crescente densidade populacional que por sua vez reclama o aumento e a melhoria da capacidade de resposta dos serviços municipais, passando pela, também crescente, escassez de meios financeiros e técnicos com que se debatem actualmente os municípios, são muitos os fenómenos que contribuem para o aumento da necessidade de cooperação nos mais variados domínios das atribuições municipais.

É precisamente neste ponto, ou seja, na necessidade por muitos sentida de se proceder a um “redimensionamento” da área dos municípios por forma se encontrarem soluções para interesses/problemas comuns, que eu discordo daqueles que defendem a alternativa do redimensionamento da área (na sua vertente física), através da fusão (ou agregação) de municípios. Na minha opinião, tal opção, além de se apresentar bastante drástica, uma vez que um (no caso de se tratar de dois) dos municípios seria forçosamente “suprimido”, ou “colonizado” pelo outro, sendo assim, na minha perspectiva, contrária ao princípio fundamental da autonomia e liberdade dos vizinhos, apenas faria aumentar, em dimensão física, quer os problemas a resolver, quer as necessidades da comunidade a satisfazer. Um caso muito elucidativo das dificuldades advindas desta solução é o caso da Bélgica, que nos anos 70 do último século reduziu, através da supressão forçada, o seu número de municípios (de cerca de 2400 para aproximadamente 600).

Sou pois de opinião que tal redimensionamento seria mais vantajoso se fosse operacionalizado a nível de área de actuação dos municípios. Isto é, os municípios que apresentem determinados interesses comuns, e que partilhem da interdependência dos respectivos problemas, deverão procurar uma actuação conjunta e coordenada, através da associação e cooperação, nesses domínios que os unem, e que podem, ou não, ser físicos. Aliás, esta forma de redimensionamento municipal, ao invés do redimensionamento em termos de área física, apresenta-se inclusive mais próxima da actual forma de distribuição de recursos/financiamento baseada em “economias de aglomeração”, permitindo assim uma maior rentabilização dos investimentos e dos serviços a nível regional.

Se há pontos de contacto que se apresentam comuns a um maior número de municípios, como é o caso da gestão de resíduos (por exemplo, a LIPOR é constituída por 8 municípios, e no meu entender nada impede de serem mais), há outros interesses que apenas são partilhados por dois municípios. Por exemplo, e em relação à cooperação entre o Porto e Gaia, concordo plenamente com a sugestão já aqui apontada de a SRU de Gaia utilizar o quadro técnico da SRU do Porto na gestão do Centro Histórico comum a ambos os municípios, uma vez que, parafraseando o autor do artigo “A pátria das camélias”: “É o mesmo rio, a mesma terra, o mesmo falar, a mesma gente, a mesma génese, a mesma história.” Já agora, aproveitando o tema do texto deste mesmo artigo, e uma vez que estamos a falar de Porto + Gaia, porque não estender a cooperação intermunicipal à criação de um Horto intermunicipal especializado nessa espécie tão representativa do património comum a estes dois municípios que é a Camélia? Veja-se o exemplo da ASPROGA, na nossa vizinha Galiza, que fornece camélias, hortênsias e rododendros a todas as regiões espanholas, e exporta inclusive as suas espécies para a França, a Alemanha e a Inglaterra.

Para rematar não queria deixar de lembrar que uma das “Opções para o desenvolvimento do território” para a Região urbano-metropolitana do Noroeste, preconizada na proposta de PNPOT que está actualmente em discussão pública, é precisamente a de “criar redes de cooperação inter-urbana capazes de promoverem a reorganização espacial dos serviços não mercantis, de forma a permitir ganhos de eficiência (escala, especialização, multifuncionalidade) e de qualidade”.

Já agora, por mera curiosidade, e para que não se pense que isto da cooperação intermunicipal é algo que apenas surgiu por cá recentemente, posso informar que no longínquo ano de 1913, já a Lei n.º 88, de 7 de Agosto, a propósito da indicação das competências e atribuições das câmaras municipais, permitia no n.º 24 do seu artigo 96.º a celebração de “acordos” entre estas últimas para a realização de melhoramentos e serviços de utilidade comum.

Paula Morais
Arquitecta

PS – Caro TAF, subscrevo o texto de José Silva no Nortugal.Info, em especial a última frase.

De: Rui Valente - "A Baixa do Porto + Nortugal"

Submetido por taf em Quinta, 2006-06-15 23:32

Entre a geração balofa e parda de que nos fala o Tiago e os comentários sobre a mesma de José Silva, do Nortugal, fica-me uma única e dominadora realidade: precisa-se de cacau, pilim, caroço. Em termos práticos, falta capital para investir e parece haver alguma timidez em assumi-lo claramente. Quem já o tem, coloca-o onde há garantias de rápido retorno e está-se borrifando para o empobrecimento regional. Isso é mais do que óbvio, e sintoniza-se na lógica dos que sendo de cá, rumaram a Lisboa para olharem pela vida...

Sem dinheiro, nenhum propósito, ou plano, por mais pragmático que seja, tem pernas para se aguentar. Resta-nos saber o que faremos de facto da nossa vocação empreendedora em prol da região caso o cacau apareça. Contudo, acho que se devia, em primeiro lugar procurar essses recursos, "segurá-los", e só depois congregar estratégias para atingir os objectivos aparentemente comuns. Estarei enganado?

Rui Valente

De: José Silva -"A decisão de TAF e o lobby regional"

Submetido por taf em Quinta, 2006-06-15 23:10

(publicado também no Nortugal)

A propósito do artigo «Uma geração balofa e parda» de TAF, proponho novamente o tema lobby pró-desenvolvimento regional.

O Porto foi a cidade líder a nível nacional durante o século XIX. Durante o século XX Portugal foi bicéfalo. Na transição para o século XXI, alguém quer criar uma cidade-estado à volta de Lisboa.

Muitas vezes repetido, a AMPorto tornou-se um centro de serviços, a maior parte deles alimentados pelo Estado (Educação, Saúde, Administração Pública) e sede de grandes empresas com cariz industrial e âmbito nacional, incompatíveis com preocupações de desenvolvimento regional (Sonae, Unicer, Bial, Efecac, Barbosa e Almeida, Salvador Caetano).

O espaço para os mais empreendedores foi-se afunilando, à medida que as sedes e as possibilidades de «networking» se foram reduzindo. Já em 1997 Paulo Azevedo dizia que o Porto não era cidade de futuro para os profissionais ambiciosos. Portanto, caro TAF, migrar para LX é uma hipótese para quem tem formação avançada e gosta de exercitar os neurónios. Apenas fica cá quem a isso é obrigado ou não tem ambição/oportunidade para mais. Repare que António Vilar, José Roquete, Teixeira dos Santos, Miguel Sousa Tavares, Rui Veloso, Rui Reininho, Jardim Gonçalves, Pacheco Pereira, entre outros, começaram cá e partiram para lá.

Outra alternativa é a emigração, contribuindo para a fuga de cérebros que já se verifica em Portugal. Porém, é preciso não esquecer as ilusões relatadas pela Cristina Santos nem esquecer que a subcontratação via Internet altera as regras de jogo. Acho que o melhor mesmo é esperar pela OPA à PT...

Toda a legítima ambição de desenvolvimento regional protagonizada por todos os boggers regionais deveria ser desempenhada pelos eleitos locais. Porém estes estão a tratar do seu próprio futuro, nomeadamente nas comissões imobiliárias... Portanto ignoremos.

O futuro vai passando por cá, mas apenas para aqueles que estão envolvidos em actividades de caracter nacional e internacional. Exemplo: a Ibersol com sede no Porto, tentou comprar a Telepizza. A I2S, também cá sedeada, continua a sua expansão no software para seguros. A Efacec e a Bial são os maiores investidores privados em ID. O IPO Porto foi recentemente considerado um dos melhores. Portanto, vai havendo oportunidades para quem está dentro de uma organização. O futuro não está assim tão deslocalizado. Porém, quem não estiver neste meio e tentar bater à porta para fornecer uma ideia, pedir capital, ou empregar-se, terá inúmeras dificuldades. Em Lisboa já não é assim. Abundam e sempre abundaram oportunidades, embora o sucesso das organizações, talvez por causa das facilidades e abundância de recursos, seja menor... É aqui que se nota a injustiça Norte-Sul...

Estará tudo bem, então ? Não. Os casos de sucesso são excepções. E o melhor indicador de tudo isso é a ameaça de «crash» do nosso património líquido. Por um lado a subida das taxas de juro, por outro a desvalorização do imobiliário recentemente relatado pelo INE para a AMPorto. A OTA, o adiamento do comboio de alta velocidade para Vigo, a não optmimização da logística de Leixões ou a construção de uma central nuclear no Douro, irão valorizar ou ainda desvalorizar ainda mais o nosso património? Estaremos dispostos a pagar por um imóvel N vezes o seu preço de aquisição? O que faremos para inverter o declínio económico da nossa região e do nosso património?

O que fazer? Na minha opinião, cabe a todos aqueles que estão em risco, se mexerem e empreenderem. Concretamente, todos os residentes na AMPorto situados em sectores/actividades não integradas em esferas de negócio nacional ou internacional, isto é, aqueles que servem apenas o mercado local, devem disponibilizar-se para apoiar um lobby pró-desenvolvimento regional. Incluo aqui todos os donos de imóveis, os operadores do «cluster» imobiliário local (arquitectos, promotores, construtores civis) os fornecedores de serviços turísticos (hoteis, restaurantes, bares, discotecas, caves de vinho do Porto), os operadores de transporte e logística (passageiros e mercadorias, rodovia, ferrovia, portuário), os agentes culturais (galerias de arte, artistas plásticos, salas de espectáculo, músicos), os fornecedores de serviços profissionais (consultores, contabilistas, advogados), os fornecedores de serviços de saúde (médicos, clínicas, lares), universitários locais, o sector comercial (tradicional ou shoppings) devem perceber que apoiando financeiramente ou aderindo às ideias veiculadas pelo lobby regional, estarão a assegurar o seu próprio futuro. Todos estes residentes dependem do sucesso económico regional. Se não houver poder de compra regional, o seu futuro escurece, por mais do que uma via. Portanto, este é o caminho.

Assim fica a elite da sociedade civil, os bloggers e respectivos leitores, com o projecto em mãos. Temos que criar um lobby para agregar o desejo de prosperidade e progresso intrínseco à personalidade Portuense. Temos que conseguir federar este denominador comum a milhares de residentes, que actualmente não é representado por qualquer partido ou associação profissional.

Caro Tiago, espero que este texto contribua de alguma forma para as suas decisões pessoais.
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Nota de TAF: Caro José, desde há muito tempo que eu bem tenho tentado fomentar esse lobby (até acho que devia haver mais do que um, conforme os interesses dos intervenientes), mas não tive sucesso até agora. O voluntarismo até aparece, o financiamento é que não... Mas estou sempre disponível caso apareça quem tenha condições de ajudar: Tiago Azevedo Fernandes, taf@etc.pt, 91-6630396. ;-)

De: Cristina Santos - "Lei das Rendas - 6 diplomas"

Submetido por taf em Quarta, 2006-06-14 22:31

"II. O Conselho de Ministros, reunido hoje na Presidência do Conselho de Ministros, aprovou (...) um conjunto de diplomas em execução do Novo Regime do Arrendamento Urbano (NRAU)"

A nova lei do arredamento entra em vigor no próximo dia 28 de Junho.

Cristina Santos
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Nota de TAF:
- Rendas: actualização pode avançar após publicação de leis complementares

De: TAF - "Milagre de S. João"

Submetido por taf em Quarta, 2006-06-14 21:08

Verde nos Aliados

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