De: JA Rio Fernandes - "Nível de vida, qualidade de vida... e coisas da vida!"
Bem sei que é matéria na qual não sou “especialista” (se calhar somos todos) mas não resisto a fazer um comentário, até em solidariedade com o nosso muito respeitado e sempre cordial animador de site.
É que, de facto, as oportunidades de progressão na carreira (pelo menos da larga maioria) decorrem em boa medida do balanço entre oferta e procura. Ora, em Lisboa, há mais oferta que no Porto, mas também mais procura. No balanço, por certo que em Lisboa as oportunidades são mais, sobretudo para lugares melhores, como serão também mais os excluídos de boas e medíocres oportunidades (ainda não temos Brandoas por cá!). De resto, o mesmo se dirá a partir de Lisboa relativamente a Londres (com “vantagem” para o número de excluídos) e em Vila Real relativamente ao Porto.
Outra possibilidade, menos dependente da lei da oferta e da procura, passa muito por uma palavra da moda, o empreendedorismo, ou seja a capacidade individual e colectiva de criar valor, o que é hoje facilitado pelas novas tecnologias. E, claro que há sempre a tradicional cunha, a desgraçada cunha, que acompanha muito a percepção muito portuguesa que o Estado são os outros e que o que é preciso é “desenrascanço” e que tudo corra bem comigo e com os meus!
O que com este debate me ocorre também é que quando falamos em oportunidades e desenvolvimento, quase sempre pensamos em nível de vida, esquecendo que essa é apenas uma das componentes da qualidade de vida. Não, não estou a dizer que é muito bom ser feliz de barriga vazia; o que estou é a chamar a atenção para o facto de no Porto termos estagnado em relação aos indicadores de nível de vida (por exemplo no poder de compra), sem termos visto significativamente melhoradas as condições da qualidade de vida, sobretudo pela excelente acção:
- - da SRU no Centro Histórico do Porto, com centenas de prédios de habitação recuperados, e a visível revitalização comercial da Baixa do Porto, com centenas de novos estabelecimentos, outras centenas modernizados e alguns notáveis restaurados e apoiados;
- - da Câmara do Porto na preservação de espaços públicos de referência do urbanismo do princípio do século XX e de grande carga simbólica, depois de amplo debate público e participação de vários arquitectos especialistas em espaço público (caso da Avenida dos Aliados), a coordenar com Gaia o funcionamento dos barcos de passageiros que ligam as duas ribeiras, a realizar a cobertura parcial da VCI e a propor a rectificação do nó das Antas, assim como outras medidas para evitar o ruído e criar mais espaço livre e melhorar a imagem e uso da via;
- - da Junta Metropolitana, ao fazer com que o metro chegasse às áreas de maior dependência de transporte público (com ligação directa a Rio Tinto e outra por Valbom à cidade de Gondomar), em vez de o fazer passear pelos campos até à Póvoa como se fosse um comboio; ao pressionar e conseguir manter o Parque de Exposições junto ao aeroporto e nas condições de modernidade necessárias para divulgar a região no mundo; ao participar numa política activa a favor do reforço dos voos da TAP e da compreensão da prioridade de uma nova ligação ferroviária com Vigo e ao terminar com a vergonha da poluição terceiro-mundista no Douro (e nem em todo o Terceiro Mundo)!
Assim temos condições mais adequadas que permitem a uma região com dificuldades, apesar da diminuição do nível de vida, melhores condições de vida para os seus habitantes, assim criando também o contexto mais adequado à criação e fixação de empresas, designadamente as mais competitivas.
Rio Fernandes