De: F. Rocha Antunes - "O Factor C"
Meus Caros,
Com a regularidade das estações do ano volta a eterna questão de saber se o Porto e o Norte são viáveis ou não. Estaremos condenados a ser os eternos beneficiários dos subsídios dos fundos de coesão?
Eu, como imigrante no Porto há 16 anos, sempre fiquei pasmado com esta mania indígena, mas deixei de gracejar com o assunto quando percebi que os meus concidadãos levam esta questão realmente com um ar grave, embora tudo indica que não a levam de facto a sério, como o Tiago e José Silva podem testemunhar melhor que eu.
Não tenho a menor dúvida que esta região é viável pela mais simples das razões: somos uma região europeia com dimensão relevante. O simples facto de sermos 3 milhões no Noroeste, integrados num mercado que é apenas o melhor e mais próspero do mundo, a União Europeia, permite que sejamos viáveis. A questão é, quanto a mim, outra: qual é o nível de vida que podemos almejar dentro deste mercado. E a resposta é também simples e crua: teremos o nível de vida igual à eficiência com que trabalharmos.
A noção da nossa própria dimensão é, insisto sempre, a primeira etapa para sermos eficientes. Quantas das pessoas que estão a ler este post já se deram ao trabalho de ler o PNPOT, e a parte que diz directamente respeito a esta parte do País? E organizam a sua vida profissional em função dessa realidade?
Vou ilustrar com um pequeno exemplo que me parece significativo. Por razões profissionais tive a necessidade de estudar o mercado industrial da região. Fiquei pasmado com a falta de conhecimento que se tem sobre nós próprios. Encomendei um estudo de mercado que me permitiu saber, entre outras coisas, que existem cerca de 25 milhões de metros quadrados de instalações industriais e de armazenagem no Noroeste. Sabem quantos mediadores imobiliários especializados neste importante subsector do mercado imobiliário existem? Nenhum. Estão todos concentrados a tentar vender os mesmos apartamentos. Mas se alguém quiser saber alguma coisa sobre o mercado industrial ou das lojas da região, não tem quem sabia grande coisa. E pior, quem possa ajudar a comprar ou a vender. Estamos a falar de negócios que exigem alguma especialização mas que não são física quântica.
Por isso proponho que se altere o factor determinante de emprego da região, mantendo a mesma letra C: deixemos de usar o C de Cunha e passemos a usar o C de Conhecimento. Essa revolução está ao alcance de cada um de nós, e não precisa do outro C, o Capital.
Por cada Cunha que funciona há um Quadro relevante que emigra, à semelhança do que dizia o Solnado na velha anedota de há uns anos sobre aquela terra em que a população não mudava, porque de cada vez que nascia uma criança fugia um homem. A Cunha mata o Mercado. E o que nós mais precisamos para que a nossa prosperidade aumente é que a nossa economia seja mais de mercado. Não é nenhum assomo de liberalismo, é a melhor defesa da prosperidade da região: quanto mais mercado a região for, mais prósperos seremos todos. Por isso da próxima vez que quiserem meter uma cunha ou forem vítimas de uma lembrem-se que se caírem na tentação, estão a mandar um Tiago para fora da região.
Um dos meus professores de Gestão manifestava a sua perplexidade com a popularidade da cunha em Portugal dizendo que não percebia porque tanta gente colaborava nas cunhas quando está provado que as cunhas só têm um de dois resultados: ou correm mal ou se fica a dever! E enfraquece-se ainda mais a economia, acrescento eu.
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
PS – Caro Rui Valente, uma das características desta nossa economia é a abundância de capital. O que falta é onde o investir. E aí a existência de regras de mercado é decisiva, porque ninguém entra num mercado de que depois não consegue sair com facilidade.