2006-10-15
From: Geral APCMC
Date: 20 OCT 06 17:43:39
Subject: Regulamento Geral de Edificações - Pedido de parecer
O Governo tem neste momento em preparação a revisão do Regulamento Geral de Edificações Urbanas (RGEU), aprovado pelo Decreto-Lei 38 382, de 07.08.1951, que pretende substituir pelo «novo» Regulamento Geral de Edificações (RGE), tendo, através do IMOPPI, solicitado à APCMC que se pronuncie sobre o respectivo projecto.
O RGE aplica-se à execução de novas edificações e de obras de intervenção em edificações existentes, entre outras, definindo e impondo regras gerais ou especiais e exigências mínimas que as edificações deverão respeitar, designadamente áreas e dimensões, equipamentos fixos mínimos das cozinhas e instalações sanitárias e níveis das condições de segurança, salubridade e conforto, com evidentes implicações para o sector do comércio de materiais de construção e, consequente e naturalmente, do nosso óbvio interesse.
É, por isso, importantíssima a opinião dos Senhores Associados, que antecipadamente agradecemos nos seja enviada até ao próximo dia 31, habilitando a APCMC a contribuir para a melhoria do RGE e para a sua correspondência às legítimas expectativas do sector.
O projecto do RGE encontra-se disponível para download ou consulta no site da APCMC.
Penso que, nas intervenções mais recentes, há alguns equívocos que convém esclarecer.
A intervenção deste executivo tem sido de constante e elaborada perseguição ao tecido artístico/cultural da cidade. Uma estratégia assaz bem montada que faz com que, nesta altura, uma boa parte das pessoas entenda como normal situações que não são nem nunca o foram.
No caso específico do Rivoli, convém assentar que a sua gestão esteve baseada na Culturporto, dependente da CMP e com a intervenção de outras entidades (que agora se demitiram por recusarem ser associadas a esta situação). A Culturporto, o seu figurino de gestão e equipa padeceram, desde o seu início com a deputada Manuela Melo e o presidente Fernando Gomes, de deficiências atrozes que há muito deviam ter sido corrigidas. Essa é uma das razões para alguns dos problemas do Rivoli – Teatro Municipal, nomeadamente as que se prendem com as despesas de manutenção. Não obstante, só com a chegada deste executivo o espaço do teatro municipal foi absolutamente esvaziado de funções. Primeiro, retirando a verba disponível para programação, depois, ao criar a Porto Lazer que assumiria funções sobrepostas a algumas da Culturporto, mas com um orçamento para o fazer.
Significa isto que, na verdade, de há algum tempo para cá que o Rivoli não tem programação: tem a simpatia de aceitar as propostas que pareçam melhores para ocupar os espaços disponíveis e a agenda.
Isto é fruto da vontade deliberada deste executivo de abandonar essa actividade. Não é intelectualmente honesto dizer agora que este espaço é um elefante branco que apenas sorve dinheiro e não produz nada. Se, neste momento, o Rivoli é caro, é porque nos últimos 6 anos tudo se fez para que assim acontecesse.
Quanto aos subsídios, convém antes de tudo relembrar que ninguém associado ao movimento Juntos no Rivoli fez qualquer menção a essa questão. Não é, de facto, ponto em discussão neste momento. Falar de subsídios é uma estratégia de baixa política para agitar as hostes contra a ideia feita da “corja de bandalhos” que vive à custa do erário público. Deixemos, por isso, a questão paralela dos subsídios para uma discussão outra que não a da privatização da programação de um Teatro Municipal.
Para o Rivoli foram canalizados vários milhões de euros em fundos do Estado Português e da União Europeia, dinheiro de todos, portanto, que deve ser rentabilizado para o bem de todos e não apenas de alguns. Ora, com um modelo de programação pública, o Teatro Municipal serve para promover uma estratégia mais alargada de intervenção urbana, social e económica mas, sobretudo, não serve apenas para que os grupos que aí actuem exerçam a sua actividade como qualquer outro profissional, cumprindo o seu papel. A entrega de um espaço deste género a uma programação cujo fito é o lucro apenas servirá a que os dinheiros que foram ali investidos e que são de todos sirvam apenas para os alguns que gerirem o espaço.
Quanto às companhias de teatro ou de dança e quaisquer outras entidades capazes de propor e programar agendas consistentes (refiro o Instituto Francês/Alliance Française e o Goethe Institut, como mera ilustração das possibilidades já testadas de almejar algum cosmopolitismo), ver-se-ão, após a entrega do Rivoli a privados obrigadas a procurar novos sítios onde as suas propostas possam ser discutidas e apresentadas. Em princípio, face ao panorama actual, fora do Porto.
É aí que perdemos todos.
Nuno Casimiro
Penso que voltamos ao nível da boa discussão, pelo menos lendo os últimos comentários concordo com todos eles, como diz Pedro Baganha generalizei na questão dos arquitectos, o que pretendia realçar é que o Loop é provavelmente um exemplo de que a arquitectura de reabilitação não é tão limitada quanto a queremos fazer parecer.
O Tiago Oliveira deixa-me mais uma vez curiosa quando diz que a Rua Mouzinho da Silveira será de difícil reabilitação, eu acho o contrário, que os edifícios de Mouzinho tem uma qualidade ímpar, a própria rua é excelente e atrás da reabilitação virá o fim da marginalidade. O facto de a maioria dos edifícios se apresentarem devolutos permite a sua rentabilização sem condicionantes, que não sejam manter aquelas belas fachadas, cheias de luz.
Quanto ao Rivoli é errado pensar que o povo não apoiou a manifestação. Apoiou e criticou Rui Rio, claro que na Blogoesfera se faz por confundir subsídios directos com indirectos a favor de outros interesses muito mal explicados. Dar o Rivoli à exploração é um subsídio altíssimo, porque se concede um espaço de renome, um espaço do povo, sem por ele pedir trespasse. É também extremamente injusto que as companhias privadas tenham que pagar pelos espaços, tenham que se reter por espaços menos conhecidos, enquanto que algumas ganham o direito de usufruir do trabalho do povo, sem terem que fazer mais do que apresentar espectáculos.
Até hoje o que sabemos do concurso foi o que Beatriz Pacheco Pereira nos disse depois de ser recebida pelo Vereador da Cultura, que não pode despender um minuto da sua atenção aos ocupantes do Rivoli.
Tal como David Afonso nunca poderei aplaudir quando o povo é humilhado da forma como os «okupas» do Rivoli foram.
E quem aplaude tais actos tenta inverter questões, tomando vantagem sobre um povo com negativa a matemática. Muito me espanta que políticos deste país que nunca usam da sua função para defender e promover o Porto, venham agora aludir que se gasta dinheiro no Rivoli sem nunca exigirem que a companhia que ganhe o concurso pague a esta Cidade o espólio e a imagem pública que este espaço tem. Querem geri-lo de forma privada, então façamos a coisa a sério: paguem esse direito, não só com espectáculos, com renda, com valor de trespasse, com tudo, vamos ver se tem lucro.
10 mil pessoas assinaram o documento para «salvar o Rivoli» por favor não façam destes 10 mil parvos.
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Cristina Santos
Reenvio mensagem que me parece responder a algumas das dúvidas e questões aqui levantadas, para além de tentar rebater um dos mais deselegantes exercícios de manipulação saídos na imprensa nacional.
cordialmente,
nuno casimiro
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From: Nuno Casimiro
Date: Oct 20, 2006 1:21 PM
Subject: rivoluções
To: José Pacheco Pereira
Caro Dr. José Pacheco Pereira
O texto por si ontem publicado é uma das mais absurdas e completas manipulações demagógicas que tenho lido nos últimos tempos. Surpreendeu-me, vindo de si.
Vamos então por pontos:
Concordo com o Paulo Araújo, e já agora aproveito para recomendar a peça do grupo Palmilha Dentada, muito divertida e seguramente capaz de entreter o público.
Ainda não vi ninguém responder a um argumento que não é desfavorável à concessão do Rivoli a privados. É que independentemente de a CMP ser algo aversa à "cultura" (basta ver o nível a que chegou tanto o boletim municipal, inundado de publicidade aos feitos notáveis do município, como o sítio na net, onde todos os dias há a denunciar uma nova cabala jornalística), eu ainda não percebi por que não podem os privados, eventualmente com apoios públicos, oferecer uma programação melhor do que aquela que o Rivoli tem vindo a ter.
Afinal de contas, o Coliseu é, para todos os efeitos, gerido e bem de forma privada, com resultados francamente positivos. Por que não podem, numa cidade já minimamente cosmopolita, os privados assumirem maior dinamismo no sector cultural? Que mal pode isso ter?
Dir-me-ão que a cultura não dá dinheiro e que, por isso, a programação do Rivoli irá deteriorar-se. Mas realmente já alguém demonstrou isso? E não poderá a CMP exigir critérios de qualidade ou até cassar a licença caso os receios venham a provar-se correctos? Ora a meu ver é aqui que a contestação deve residir. Não a exigir, sem ainda provas dadas, que o Rivoli tenha de continuar a ser gerido pela CMP, mas sim a garantir que a gestão privada seja pautada por critérios onde o interesse público seja predominante. A contestação tem sido bastante cega, recusando à partida, aparentemente com algum preconceito à mistura, qualquer envolvimento privado.
Contudo, quero salientar que respeito os argumentos que têm vindo a ser defendidos pelos manifestantes e até mesmo a forma que encontraram para se fazerem ouvir - a ocupação do Rivoli. Acho que, tendo em conta o que está em causa, é uma forma de protesto legítima.
Há outra razão para o que digo. É que esta pressão pública toda irá levar a CMP a ser mais exigente com o futuro concessionário do Rivoli. Só por isso a contestação já foi importante. O meu bem hajam a todos os que souberam e deram o seu tempo a defender uma causa em que acreditam.
Abraços
Nuno Quental
Para que conste, gostava de reafirmar que, o meu comentário acerca dos arquitectos do Porto/Lisboa foi feito em tom de brincadeira, e fui o primeiro a dizer que seria despropositado. Considero que os arquitectos do Porto são tão bons como os de Lisboa, senão melhores. Sempre considerei, a todos os níveis, essas lutas regionais um provincianismo de todo evitável.
Como arquitecto que sou, sei bem o que sofremos e como diz e bem Tiago Oliveira, andamos a trabalhar por detrás de fachadas do séc. XIX com 1001 proprietários o que torna o processo bastante complexo. Sei-o bem por experiência própria e penso que dará para imaginar a teia de complexidades, por exemplo a nível burocrático.
De resto, parece-me que a minha "boca" pelo menos serviu para inquietar alguns e daí expressarem-se. O que considero positivo porque "quem não se sente..." Por mim, não me sinto de todo atingido, porque o destinatário das minhas palavras percebeu perfeitamente o contexto da brincadeira, o que demonstra, quando somos criticados com ironia ou mesmo despropositadamente, a elevação intelectual sempre necessária e a índole de cada um. Caro Francisco, renovo-lhe os parabéns e só posso desejar-lhe todo o sucesso neste novo processo, até porque estarei atento para, quem sabe, lá me instalar.
Cumprimentos,
Pedro Santos Lessa
pedrolessa@a2mais.com
P.S. - Considero absolutamente lamentável o estado em que se entregou a obra dos arruamentos no Túnel de Ceuta em frente ao Museu. Para além do granito já estar todo deteriorado em certas zonas as depressões do pavimento são enormes. Sempre considerei a solução executada medíocre e todo o processo Câmara/IPPAR surreal. Mas sobre o episódio já tudo disse.
Costumava ser um espectador regular de teatro. Das raras vezes em que vou a Lisboa ainda tento ver teatro. Costumo não perder as deslocações ao Porto de boas companhias lisboetas como a Cornucópia ou os Artistas Unidos.
Posto isto, recuso completamente que o teatro (ou qualquer outra arte) tenha a missão de "formar públicos", de elevar o nível cultural dos espectadores ou de os doutrinar. O teatro, a literatura, o cinema, a pintura devem valer como entretenimento. Isto não os desvaloriza: o entretenimento (ou a capacidade de subir acima das preocupações imediatas do quotidiano) é uma parte essencial do que é ser humano. O melhor entretenimento é aquele que nos enriquece ensinando-nos algo que desconhecíamos. Mas isso não nos obriga a abdicar do entretenimento sem novidade e sem doutrina, que simplesmente entretenha.
O que não suporto, como espectador, é aquele teatro que abdica de entreter (ou seja, abdica de ser arte) para se dedicar em exclusivo à sua missão doutrinária ou problematizante. Não tenho pachorra para as encenações teatrais em cenários minimalistas com fragmentos deste e daquele autor embrulhados em retalhos de poesia. Não suporto as peças mal traduzidas e mal adaptadas, com actores a soarem a falso. Não estou interessado, no final da peça, em participar em discussões colectivas sobre o significado daquilo a que acabei de assistir.
O teatro no Porto tem todos os vícios adolescentes que apontei no parágrafo anterior. Quer educar e doutrinar, quer ensinar o que é a boa vanguarda, e rejeita a humilde tarefa de entreter. Há muitos que, como eu, já não estão na fase de procurar guias espirituais ("burgueses acomodados" é a descrição justa de gente como nós). Por isso deixei (deixámos) de ver teatro pelas companhias portuenses.
Não há uma relação óbvia entre o que disse e os subsídios. De modo nenhum defendo que eles devam ser cortados, pois também não gostaria que a minha escolha se reduzisse a La Féria (que não frequento). Mas gostava que aparecessem no Porto melhores companhias de teatro, e que o teatro nacional de S. João tivesse melhores espectáculos. Gostava que o teatro em Portugal também problematizasse o que é Portugal hoje, em vez de se contentar com traduções requentadas ou com encenações de clássicos.
Dado o estado comatoso a que chegaram a programação do Rivoli e as companhias de teatro portuenses, vejo com bons olhos que a sala seja alugada a uma companhia privada. Pior do que estamos agora não é possível ficar.
Saudações,
Paulo Araújo
1. Privatização e ocupação do Rivoli: compreendo e aceito a operação de ocupação do Rivoli. Pessoalmente, desaconselharia qualquer um, nestas circuntâncias, a avançar para tal forma de protesto, todavia não me atrevo a condenar os (ex)barricados. Apenas lamento que as coisas tenham chegado a tal ponto. Ainda mais acrescento que, dada a crispação que se sente nesta cidade haveremos de, infelizmente, vir assistir a outros episódios como este. Sem me alongar muito mais, sempre pensei que a ocupação do Rivoli não passaria de um fait-divers porque, dia menos dia, a coisa teria um fim. Os barricados que me preocupam são outros, aqueles que estão mentalmente barricados atrás de uma maioria. Não pretendo os desalojar, até porque democraticamente merecem o posto que ocupam, pretendia apenas que abandonassem a postura de eternos barricados.
(OBS: estou em total consonância com o que a Cristina diz nestes posts: "Não é a cultura, é património cultural" e "Pagamos para que ouçam as nossas críticas")
2. Este post do Hélder Sousa levanta uma série de questões muito interessantes. A minha posição é a de que o Rivoli deveria continuar sob gestão pública dando cumprimento a um projecto autárquico. Todavia, não excluo a hipótese de uma gestão privada. Sinceramente, até gostava que o Porto testasse esse modelo, apesar de tudo. Mas quando falo em privatização, não me refiro a um sacudir de responsabilidades das autoridades municipais. Na minha opinião, só com alguma generosidade, cumplicidade partidária ou entusiasmo inconsciente (ou todos juntos) é que poderemos chamar a isto que se passa actualmente com o Rivoli de privatização. Para mim, não deve haver lugar para meias medidas: ou é ou não é. E se é, então parece-me que alguns procedimentos elementares estarão em falta por parte da Câmara: Em primeiro lugar, deveria ter esclarecido o seu propósito no momento próprio, ou seja, durante o período eleitoral e no programa de governo proposto aos portuenses, até porque o descalabro das contas do Rivoli não são de hoje; Em segundo lugar, o processo de privatização deveria ter obedecido a um projecto devidamente ponderado e não a uma espécie de "Plano B"; Em terceiro lugar, o concurso de privatização deveria ser o mais transparente possível, isto é, sem produtoras convidadas a apresentarem candidaturas, com um regulamento exaustivo e claro, com uma ampla divulgação do mesmo regulamento na comunicação social e com a nomeação de um júri independente (um representante da autarquia, outro do Ministério da Cultura e outro nomeado, por hipótese, pelos agentes e produtores culturais do Porto); Em quarto lugar, o concurso deveria ser internacional (a mim nada me incomodaria em ter um produtor espanhol ou britânico à frente do Rivoli); Em quinto lugar, as propostas deveriam estar disponíveis para apreciação e discussão públicas. Isto, sim, seria uma privatização. Tudo o resto é qualquer coisa que faz lembrar uma privatização mas que não o é. Já ouvi demasiada gente a expôr as suas reservas quanto à transparência de todo este processo. E mesmo que a Câmara não mereça estas suspeitas, entra aqui a velha história da mulher de César, com a agravante de que em política o que parece, é.
3. Mas a vida continua. A Rua das Flores tem um longo caminho a percorrer, mas está bem e recomenda-se. Esta é a minha rua e sei que um dia hei-de lá viver (só não sei quando). Não tarda nada vamos ter mais notícias dessas bandas da cidade. Até lá – e em termos de oferta cultural – ainda temos a POLLEN até dia 4 de Novembro e de 21 a 29 de Outubro, mesmo ali ao lado, na Casa dos Maias (sítio fabuloso, que não me importava nada de um dia também poder usar num projecto na área das artes visuais) o ESMAE e as Produções Suplementares apresentam Relíquias, a partir d'A Relíquia do Eça (reservas: 225 193 763).
Perdoar-me-ão os caros intervenientes mas é de uma terrível injustiça dizer-se que a circunstância dos arquitectos do Loop serem de Lisboa se deve ao facto de "cá no Porto está tudo parado, até os arquitectos", ou ainda que "o problema está em arranjar arquitectos no Porto que não achem que reabilitar a Baixa é um bicho-de-sete-cabeças", ou qualquer outro conservadorismo menos explícito, como referem Pedro Lessa e Cristina Santos.
Para que conste o processo de escolha dos técnicos deste edifício foi alvo de um prévio concurso de ideias. Nele participaram, obviamente, alguns arquitectos portuenses. Acontece que o promotor decidiu pela proposta do Pedro Costa e da Célia Gomes: será, no seu entender, a que melhor defende o produto que quer comercializar. Quer isto dizer que os arquitectos do Porto estão parados ou têm uma atitude crítica no que respeita à recuperação do centro, ao executivo, etc? Não. Quer apenas dizer que circunstancialmente houve uma solução escolhida por um promotor para o Porto cuja autoria é de lisboetas. Quantos concursos são ganhos por arquitectos do Porto para o Porto e fora de portas?
Parecer-me-ia mais prudente, de futuro, não se começarem a generalizar acusações, críticas ou insinuações a um conjunto de profissionais antes de se conhecerem os contornos básicos do que se fala. Mais justo seria, certamente.
Pedro Baganha
Meus Caros
Aproveito para explicar melhor em que fase do processo está o projecto Loop e dar algumas informações adicionais ao que está no site mas que foi dito na Sessão Pública de Apresentação de quarta-feira.
O Loop está com o estudo prévio concluído, e as imagens que aparecem quer no site quer na imprensa são do estudo prévio. Estamos neste momento a concluir o projecto de arquitectura e dentro de algumas semanas estará pronto para ser submetido à aprovação. A fase de elaboração do projecto de arquitectura está concluída e vamos agora analisar as várias propostas dos designers para os apartamentos, bem como as peças de arte que os artistas plásticos nos propõem. Sendo o processo curatorial novo neste tipo de edifícios, estamos todos empenhados em conseguir o melhor resultado.
Em termos de licenciamento elaborámos um pedido de reparcelamento, uma vez que foi preciso unir alguns prédios diferentes e organizar o espaço de forma diversa da actual, e esse reparcelamento já foi aprovado pela Câmara (em menos de 30 dias, diga-se).
Portanto, concordo que o site ainda não tem informação final de venda mas apenas porque ainda não se chegou a essa fase. Vai ser através do site que iremos adicionando a informação à medida que ela se consolida, daí a possibilidade de registo para permitir a todos os interessados receberem a informação à medida que ela vai sendo incorporada.
Obrigado pelo vosso apoio e interesse.
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
Cara Cristina
Porque de uma forma geral a arquitectura moderna portuense tem sido profundamente destruída, tenho tendência para a proteger mais do que a arquitectura da “Mouzinho da Silveira” essa sim profundamente abandonada e de difícil rentabilização imobiliária (edifícios tipologicamente difíceis, envolvente insalubre, etc etc etc etc), o edifício do futuro Loop não se encontra de todo nas mesmas condições.
A Praça D João I e respectivo edifício Atlântico eram projectos de grande qualidade arquitectónica. Há uns anos o banco proprietário do edifício Atlântico fez uma operação de renovação de fachada terrível contra a qual ninguém se insurgiu. Agora, um promotor projecta um edifício, isolado, com uma lógica que começa e acaba nele mesmo, e que fundamentalmente “grita” demais para um simples edifício de habitação em contexto consolidado.
As reflexões tontas que tenho lido sobre o tema arquitectos Porto VS Lisboa são no mínimo tontas. Os arquitectos do Porto andam efectivamente a trabalhar por detrás das fachadas do século XIX com pequenos mas muitos proprietários que juntos fazem indiscutivelmente a cidade. Este edifício para a cidade assim como os seus arquitectos farão parte de um contexto de excepção potenciado por um edifício de fácil reconversão e consequentemente de grande potencial económico.
Até breve.
Como a maior parte dos portuenses, especialmente aqueles verdadeiramente interessados na reabilitação da baixa, vejo o LOOP como, e citando Cristina Santos, "uma lufada de ar fresco". A questão de não ser para todas as bolsas nem é bem questão, se é esse o preço a pagar para renovar a Baixa, que seja, é preferível termos uma Baixa renovada, povoada, activa, ainda que essa população seja de classe média/alta, que continuarmos a ter uma Baixa devoluta, suja e sem ideias.
Compreendo, de certa forma, Tiago Oliveira, quando este se refere a "imagens espectaculares"... também eu tive a mesma impressão quando visitei a página do LOOP. Para além de umas imagens tiradas de uns 3D e das entidades promotoras do projecto, pouco mais podemos apurar, quanto custarão? (deduzimos que muito) quando começará a obra? e quando ficará concluída? estará já esta viabilizada pela câmara? e que tal umas plantas mais pormenorizadas e áreas? é mais uma página publicitária que outra coisa qualquer, o que, no entanto, não tira mérito ao projecto, mas faz-nos no mínimo desconfiar um pouco.
Outro falso problema é o facto do arquitecto do projecto não ser do Porto, deixemo-nos de provincianismos, o Porto é uma cidade europeia, o centro de uma metrópole com cerca de 1,8 milhões de habitantes, queremos ter obras projectadas por arquitectos de todo o país, de toda a Europa, de todo o mundo, e neste caso até nem é de outra escola, visto Pedro Machado Costa arquitecto responsável pelo projecto, lisboeta, ter sido formado pela FAUP (Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto).
Miguel Araújo Abreu
Caro Tiago Oliveira
Não seja violento, porque em violência sou sempre a primeira a fugir. A meu ver o Loop é criativo e dinâmico porque traz novos conceitos de utilização à Baixa do Porto, pega num edifício existente e converte-o num edifício moderno de luxo, sem fugir à envolvente. Graças à vizinhança com o Atlântico integra-se ali na perfeição, valoriza as imediações, dá resposta a um mercado específico de procura não só local como internacional, e acima de tudo é uma nova filosofia, uma lufada de ar fresco, que vem dar um exemplo para uma reabilitação da Baixa sem medos e preconceitos que muitas vezes não passam de enganos.
Trata-se de um novo conceito no Burgo, todo o projecto me parece personalizado, nunca se enquadraria na Rua Mouzinho da Silveira, foi pensado para aquele local e isso já o diferencia da maioria das coisas feitas por cá, deve por isso ser caro, pelo menos parece-me que não terei dinheiro para comprar um, mas privilegia a Cidade que não dispunha de espaços deste tipo.
Agora que lhe respondi, espero que me diga o que não acha bem no projecto, a opinião de todos os portuenses é uma mais valia para os promotores na Baixa, dê a sua opinião, só vai ajudar.
Quanto aos arquitectos não serem do Porto, isso é realmente uma pena neste projecto e em muitos outros que não tardarão a dar luz de si, o problema está em arranjar arquitectos no Porto que não achem que reabilitar a Baixa é um bicho-de-sete-cabeças e que não se desfaçam em queixas contra o executivo, contra o espaço, contra isto e aquilo. Ora será de convir que técnicos que só levantam problema logo nas primeiras abordagens, fiquem depois fora do processo, para mal do Porto.
Cristina Santos
Agora que parece amornar a Rivolição e lendo o que se vai retratando nos jornais e nos blogs, parece-me que esta história toda surge de algo que está mal contado e pior explicado e que é (são) as razões da privatização da Gestão do Rivoli - e não a privatização do Rivoli. Ou seja, em primeiro lugar há que destacar que o Rivoli não vai ser vendido nem lá vai ser construído nenhum condomínio de luxo ou templo da IURD - simplesmente vai ser transferida a gestão do espaço, após concurso público promovido para o efeito. Aqui provavelmente é que a "porca torce o rabo" porque, pelo que percebi, os "rivolucionários" queixavam-se de:
- a) as regras do concurso público não serem claras e de este "já estar decidido" (se sim, a favor de quem?). Existem já propostas sem se saberem as regras? Quem souber que me explique...
- b) o Rivoli ter sido propositadamente esvaziado para que esta situação ocorresse - acusação que é por exemplo veiculada no Arrastão sem que nada o acompanhe a comprovar
- c) isto tudo se tratar de uma vendetta pessoal da CMP ou da CulturPorto contra a anterior responsável pela programação, aparentemente uma pessoa de valor e reconhecida internacionalmente.
Enfim, isto foi o que eu fui retendo das acusações dos Rivolucionários de dentro ou de fora....
O que eu - que sinceramente de Cultura entendo pouco ou nada - observei objectivamente foi que:
- a) Os rivolucionários não ultrapassaram as escassíssimas dezenas e todas as manifestações que foram sendo feitas não ultrapassaram a centena de pessoas, incluindo sempre aquele senhor do Bloco de Esquerda, um verdadeiro "Rivolucionário Profissional".
- b) O público para quem supostamente estes senhores dirigem a sua actividade pouco ou nada se manifestou pese a extensa cobertura mediática do caso. Comparemos isto com as recentes manifestações em Lisboa e estamos conversados....
- c) Mantém-se - como sempre que algo o contraria - uma atitude autista e arrogante da CMP e de Rui Rio que tem um teatro municipal ocupado durante três dias e nem uma palavra sobre o tema diz. Mais uma vez perante um adversário e uma contrariedade, não se explica, impõe-se. Já se percebeu que o homem é assim, é incapaz de chegar a acordo seja com quem for: Pinto da Costa, Museu Soares dos Reis, Lixeiros ou Rivolucionários. Ou seja as coisas são sempre branco e preto, não há diálogo, não há resolução de problemas, há imposição de posições. Muito pouco e muito fraco para quem tem elevadas responsabilidades políticas mas não resiste a comportar-se sistematicamente como um técnico a quem cabe apenas carregar num botão.
Se as receitas do Rivoli são de facto apenas suficientes para cobrir 6% das despesas e ainda por cima se argumenta que com gestão privada se faz melhor, então alguém - Culturporto ou CMP - tem de responder pela péssima gestão que até agora foi feita. Pessoalmente acredito que a iniciativa privada é bem melhor a resolver problemas que a gestão pública, mas parece-me que passar de 6% para 100%+a margem de lucro, me parece um bocado demais. Ou a gestão pública foi algo desastroso e alguém devia ser responsabilizado, ou então são os privados que serão verdadeiros milagreiros e não apenas bons gestores.
Mais, há de facto espectáculos de qualidade que precisam e precisarão de espaço e é justo que se lhes dê. Não me parece justo que se gastam 11 milhões para isso mas há com certeza aqui um equilíbrio que um bom Presidente de Câmara ao serviço da sua cidade e não da sua teimosia, certamente saberia arranjar.
Concluo que me parece que os Rivolucionários tiveram uma atitude que muito contribuiu para fortalecer a minha opinião pessoal que há uma série de senhores que se julgam donos do que é a Cultura e não estão para tolerar nada que lhes mexa nos privilégios actualmente detidos. Seria boa ideia que alguém da Companhia Rivolucionária - Teatro Plástico, creio - se dispusesse a dizer quanto recebeu de subsídios públicos, locais ou centrais, directos ou sob a forma de cedência de espaço e quantos bilhetes vendeu para os seus espectáculos. Porque se a Cultura não é só lucro, também não é com certeza só subsídio a pseudo-iluminados. Aliás as "peças" que saíram da pena dos Rivolucionários como a poesia ou o comunicado final levam-me a pensar que se calhar o melhor para todos era como sói dizer-se, que se dedicassem à pesca...
José Pedro Lima
pclima@gmail.com
PS: Apenas como nota final e como a música também é cultura, teremos 2 espectáculos consecutivos, que não creio que tenham sido subsidiados, que terão certamente casa cheia na "Baixa": Lloyd Cole dia 23 de Novembro e Violent Femmes no dia anterior. Ambos serão na Batalha. A ver por todos mas talvez mais pelos "thirtysomethings" que provarão que espectáculos de qualidade, ainda que se calhar já um pouco "fora de prazo", têm audiência garantida.
Ao reler agora o meu escrito de ontem que o Sr. TAF fez o favor de aqui "postar" reparei que por lapso chamei "flavianos" em vez de flavienses aos naturais de Chaves pelo que peço desculpa pelo lapso.
Saudações
Francisco Oliveira
Sempre me fez alguma confusão esta história do "princípio do utilizador/pagador", de um momento para o outro tudo o que é mente iluminada, num acto estóico em defesa da sustentabilidade do nosso Estado, advoga este princípio e são tantas e de tamanho vulto as personalidades que o fazem, que começo a achar que sou eu que estou errado, se calhar a ideia que tenho de Estado não corresponde à realidade.
Proponho portanto que se acabe com o IRS. Serei, a partir de hoje, um acérrimo defensor do princípio axiomático do "utilizador pagador", mas para manter alguma coerência não o defenderei apenas em relação a algumas estradas, defendo que todas as estradas, sem excepção, deverão ser pagas pelo utilizador, assim como todos os cuidados de saúde. Não admito que tenha de ser eu, com os meus impostos, a pagar o tratamento de alguém que teve a infelicidade de nascer com uma propensão para ter diebetes mellitus tipo II e todas as consequências inerentes a esta doença. Nem vejo com bons olhos que seja também eu, com o suor do meu trabalho, a pagar as cirurgias ortopédicas dos meninos ricos que se "espetam" com as suas motas topo de gama todos os dias nas auto-estradas (pagas e não pagas) do nosso país. Não tenho também nada a ver com os açorianos ou os madeirenses, daí que não admita que eles tenham IVA mais baixo que o meu, ou impostos menores sobre os combustíveis e muito menos não admito que sejam os meus impostos a pagar as indemnizações compensatórias às transportadoras aéreas caso os voos para as ilhas e entre as ilhas não estejam totalmente preenchidos. Tal como o Sr. Tiago Oliveira não tenho filhos e como tal não tenho nada que pagar a educação (pré-escolar, escolar e universitária) de quem os tem. Apelo portanto ao bom senso de todos, a partir de hoje pagaremos apenas aquilo que utilizarmos, nem mais, nem menos e com o dinheiro que me vai sobrar da não tributação do IRS, até acho que vou sair a ganhar, sim, porque não pensem que vou continuar a pagar IRS agora que sou um defensor acérrimo do princípio do utilizador pagador...
Miguel Araújo Abreu
P.s.- quanto ao facto de serem apenas no norte as "SCUTS" a terem portagens, nem faço qualquer comentário...
Caro Pedro Lessa
Agradeço a sua simpatia e aproveito para dizer que estamos absolutamente convictos da boa oportunidade que é investir na Baixa. Também não duvidamos que a onda vai engrossar, e apenas se discute a velocidade e a dimensão dessa onda de investimento para os próximos anos. Como sabe, o tempo de preparação de um investimento imobiliário é, por si só, muito maior que o comum das pessoas imagina. Fica maior ainda quando se trata da reabilitação de edifícios, porque implica uma série de procedimentos iniciais morosos que não existem na construção nova.
Quanto aos arquitectos tenho muito gosto em informar que nós trabalhamos realmente em mercado aberto e que no processo competitivo de selecção dos conceitos de arquitectura que melhor responderam ao desafio que era o programa imobiliário definido a proposta do Atelier de Santos foi a escolhida. Não me passou pela cabeça proibir nenhum arquitecto, fosse por que critério fosse. Mas já agora acrescento um dado que talvez não saiba: os Arquitectos Pedro Machado Costa e Célia Gomes, responsáveis pelo Atelier de Santos, tiraram o curso aqui no Porto. E fazem parte da equipa de projecto além dos outros arquitectos que trabalham no Atelier de Santos designers e artistas plásticos de várias cidades, incluindo naturalmente do Porto.
Cumprimentos,
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
É sintomático que quando se anuncia um novo investimento para a Baixa, se fale tanto assim. É realmente um acto heróico. De facto são muito poucos, os projectos, é mesmo sinal que a Baixa está parada. Como me tenho aqui expressado, é um sinal muito preocupante. Com o ênfase e a pompa que se demostrou nas políticas de dinamização da Baixa, desde que o Porto parou no tempo (quantos anos faltam ainda?), temos um edifício concluído, um hotel que estaria pronto em um ano (que inocência!) e temos agora o anúncio de um edifício privado (Loop). Por outro lado, estou para ver quando entra em acção o parceiro privado em Carlos Alberto...
Deveríamos era discutir porque não se anunciam mais projectos. Igualmente devemos dar os parabéns ao FRAntunes pela coragem. Tenho conhecimento de projectos similares e ninguém tem a coragem de iniciar tamanhas empreitadas, que é trabalhar com esta Câmara. Já me disseram inclusivé que se espera pela saída do senhor que lá está. Enfim, temos o que merecemos. Ele não foi para lá à força.
Cumprimentos,
Pedro Santos Lessa.
pedrolessa@a2mais.com
P.S. - Permita-me, caro Francisco, uma pequena brincadeira, se calhar despropositada, mas até os arquitectos são de Lisboa. Realmente, cá no Porto está tudo parado, até os arquitectos de cá.
Caro Tiago Oliveira
Como sabe sou suspeito quando falo do Loop. Mas acho espantoso que já saiba uma coisa que eu ainda não sei, que sou responsável pelo projecto: que vão ser muito muito muito caros. Claro que entendi que a sua meia dúzia era força de expressão, porque 36 não se confundem com 6 a não ser na terminação.
Quanto ao lado oculto do projecto gostava que fizesse luz sobre essa sua insinuação. Se há coisa que este projecto tem, em todos os sentidos possíveis do termo, é luz. Sou a pessoa certa para o esclarecer, não se acanhe.
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
É espantoso tudo o que Cristina Santos vê no Loop. Dinamismo, história, reflexão, necessário, new generation, ar puro e todos ganhamos.
É espantoso o que umas imagens “espectaculares” associadas a meia dúzia de apartamentos com dois níveis e muito muito muito caros podem fazer. De todas as transformações, enumeradas pela Cristina, que este pequeno edifício pode trazer registo citando “valores sólidos”. Para não ser demasiado violento peço à Cristina que me traga luz sobre tais palavras expondo o lado oculto desse projecto.
Cumprimentos
tiago