De: Cristina Santos - "Pagamos para que ouçam as nossas críticas"

Submetido por taf em Quinta, 2006-10-19 14:43

Portuenses desculpem-me, tenho a perfeita noção que sou uma chata, mas não posso aceitar que estejam pessoas a reclamar por 2 minutos da agenda do executivo, sem água e sem luz, e estejam a ser obrigadas a sair sujos, mal tratados, humilhados, perante o resto do povo.

Isto não é democracia. E a oposição desta Cidade, onde anda a oposição desta cidade, onde anda a gente que é contra a humilhação do povo?

Os 3 milhões gastos pagam os serralheiros, pagam as empregadas de limpeza, os porteiros, os artistas e todos os que prestam serviço, e esses devolvem o dinheiro ao Estado em impostos, pagam 21% enquanto consumidores finais, pagam IRS, IRC, impostos sobre impostos, esses 3 milhões não são do povo, porque o povo está impedido de fazer poupança, volta tudo ao cofre do Estado.

Quanto mais lucro der a Cultura menos pessoas têm acesso a ela, já não resta dinheiro aos portuenses para pagar um bilhete de 10 euros, quanto mais pagar bons espectáculos, se o Rivoli está às moscas é porque não há tempo, cada vez se trabalha mais e não há dinheiro e isso é culpa do Estado, que não se governa e quer que o povo com 500 euros por mês gira o seu orçamento por forma a poder ir ao teatro. Mais culpa tem a CMP: sabe que paga 3 milhões, pouco ou nada exige sobre o seu uso.

Isto começou mal, falar em dinheiro quando está em causa um ícone da Cidade é começar mal, depois não ouvir quem reclama é inadmissível.

Gente sem água e sem luz, que mal ou bem só quer ser ouvida, e o executivo enxovalha, enxovalha, leva-os ao limite da resistência sem sequer pôr a hipótese de poderem ter algo a dizer que até contribua para o bem da nossa Cidade. Isto é alguma guerra, corta-se as infra-estruturas ao inimigo, para que se renda?!

O executivo tem que ceder e já, tem que ouvir e depois sim, tem direito a decidir. Já não se ouvem os pobres, porque são todos uns «mamões» que não trabalham, não se ouve os médicos porque ganham muito e não contratam pobres, não se ouve os professores porque são uns aproveitadores, só se ouve o Governo cada vez mais austero, mais senhor de si, único capaz de ter boas notas a matemática. Explica tudo com números.

Não quero uma cidade onde não se escuta o povo. Por mais estúpido que ele seja, devemos ouvir todos, seleccionar e depois decidir. Não concebo simplesmente que se torture quem se opõe às medidas governativas, todo o povo tem voz, todo o povo tem algo positivo que deve ser aproveitado, não aceito que uma medida não possa ser negociada, discutida com transparência e clareza.

Isto tem que acabar hoje, o executivo é pago para ouvir, nem que seja ouvir críticas, para quê este espectáculo, para quê? Dois minutos do tempo do vereador são suficientes. Isto é uma acto de extrema burrice.

A tradição no Porto não é lutar contra os portuenses, é lutar contra o Governo central, no Porto não se humilham os portuenses, não se faz sair o povo da toca humilhado, desgastado e sem ter direito sequer a 1 minuto de atenção.

Não, isto não é Porto.
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Cristina Santos