2007-09-23
Caro Tiago
O teu post com o título “Representatividade” é uma verdadeira pedrada no charco, mas só vem aumentar a estima e consideração que tenho por ti. Digo isto, não pelo facto de manifestares a tua intenção de aderir ao PSD, mas porque sempre defendi que é dentro dos partidos que devemos fazer política. Ser “independente” é uma opção muito cómoda, sobretudo para aqueles a quem falta coragem.
Eu inscrevi-me no PPD em Outubro de 1974 e paguei caro por isso. A minha adesão coincidiu com o início do PREC (Processo Revolucionário em Curso), por isso é fácil imaginar o que foi a minha vida na Escola Superior de Belas Artes do Porto (actual FAUP), dominada exclusivamente pela Esquerda e Extrema Esquerda, na altura manifestamente avessas a qualquer tipo de Democracia parlamentar. A minha passagem pela política resumiu-se ao período em que fui vereador na CMP. Se por um lado foi uma experiência muito enriquecedora e me permitiu fazer bons amigos, também me trouxe alguns dissabores, sobretudo porque não estava habituado a intrigas palacianas, vindas de quem menos esperava, isto é, de gente do meu próprio partido. Esse desencanto levou a que não me refiliasse no PSD quando o Dr. Rui Rio, então secretário-geral, impôs que fosse feita uma nova inscrição. Não posso, por isso, propor a tua adesão, mas estou certo de que não faltarão subscritores.
Aproveito esta ocasião para dizer que não apoiei nenhum dos candidatos à presidência do PSD, mas fiquei contente com a vitória do Luís Filipe Menezes. Marques Mendes demonstrou, à saciedade, não ter carisma para mobilizar os militantes. Acredito que o Luís Filipe Menezes nos possa surpreender, tal como o fez com a Câmara Municipal de Gaia, onde os resultados estão à vista de todos.
Fico satisfeito, mais pela saída de Mendes do que pela vitória de Menezes. O PSD foi a todos os níveis degradante com Marques Mendes como líder. Foi Lisboa, foram os debates insípidos e sem combate nenhum, foram as caras do "mais do mesmo" que Mendes apresentou. A verdade é que só o Governo apresentou propostas, medidas e a Oposição limitou-se a fazer "bota abaixo", sem projectos alternativos. Só podemos assacar isso devido à sua responsabilidade a Marques Mendes.
Quanto a Menezes, gostava de perceber se a colagem a Santana Lopes em 2005 foi apenas estratégica ou se é também de conteúdos e ideais. Gostaria de não o ver falar demais, nomeadamente alinhar em derivas populistas. É importante perceber primeiro o que vai fazer em relação ao seu mandato autárquico. Seria importante para ele sair a bem, e evitar cometer os erros que Narciso Miranda ou Fernando Gomes fizeram quando foram seduzidos pelo poder central. Fico sobretudo satisfeito por ver alguém do poder local do Norte ganhar notoriedade a nível nacional, na medida em que assistimos a um grande distanciamento entre o poder central e o poder local. Este último é aquele que está mais perto dos cidadãos e, por via disso, o povo percebe muito mais a obra de Menezes na sua rua, no seu transporte, na escola para os filhos, ou nos tempos de lazer. Não vou expor a obra de Menezes porque a melhor prova disso é que Gaia ombreia com o Porto em termos de equipamentos, acessibilidades e ganha naturalmente na habitação.
Mas ter experiência local não basta. Para contrariar este Governo, há que sobretudo contrariar Sócrates, porque está bom de se ver que é ele e mais 2 a 3 ministros que impulsionam o programa de Governo (fazendo o que está e o que não está nele). Apesar de avanços em algumas áreas, ninguém percebe o que se passa com a educação e com a justiça deste país. A saúde está cada vez mais cara, as listas de espera desesperam, continuam a sair milhares de professores para o desemprego sem cortar os numerus clausus no ensino superior, deixam privadas inundar o mercado de diplomados, fecham-se escolas atrás de escolas, oferecem-se estágios profissionais a empresas que depois não integram os jovens e mandam-nos para a rua indo buscar mais estagiários. Foi isto que os Portugueses escolheram? Aumento do IVA, ISP e dos impostos autárquicos? Agricultura em letargia? Câmaras sem dinheiro para fazer face a compromissos básicos? Criminosos a sair da prisão preventiva? Salas de chuto paredes meias com zonas residenciais? Não me vou alongar mais.
Quero de Menezes aquilo que os portugueses necessitam. Uma oposição combativa, que apresente propostas e esteja presente nos momentos críticos. Uma oposição que seja de convergência quando as iniciativas são realmente úteis, não fazendo show off por pura politiquice. Queremos caras novas, com ideias e dinamismo. Que se corra com os barões porque esses não estão para fazer nada, apenas estão na fila de espera para um cargo do tipo presidencial ou corta-fitas.
Por último e não menos importante é a questão da CMG. Daquilo que pude depreender, o seu vice irá ser o novo presidente. Não me deixa saudade nenhuma quando Marco António era presidente da distrital. Aqueles discursos fanfarrões do "eu faço e aconteço" tornaram-no mais igual a um político politiqueiro. A sua cambalhota de Valongo para Gaia percebe-se facilmente: em Valongo ele sabia que não tinha grandes hipóteses pois deduzo que quando este actual presidente se deixar de candidatar a população escolherá alguém do PS. Ora vai dai, salta para Gaia fazendo de bombeiro de Menezes. No congresso de Pombal, como Menezes perdeu, este ficou como vice esperando por uma nova oportunidade, eis que ela surgiu.
Quanto ao Porto, e não me alongando mais, espero que Rui Rio se entenda com Menezes, porque esse entendimento só pode ter frutos positivos para as aspirações da cidade e dos portuenses.
PS: (Para TAF) Em relação à sua filiação, fico satisfeito pela honestidade com que assume a filiação. Quer seja no partido A ou B, a razão que o motiva é crucial. De facto, se há coisa que lhe posso dizer é que quer nos seus comentários, quer na gestão do blog, nunca percebi direito qual era a sua orientação política. Isso é importante uma vez que como já se deve ter apercebido há cá muito boa gente que passa a vida a "fazer campanha". Que todos os participantes assumam os seus propósitos como foi o seu caso.
Luís Gomes
É normal que, num país com quase 9 milhões de eleitores, o Primeiro-Ministro e o líder da Oposição sejam escolhidos (cada um deles) por um universo de menos de 40 mil pessoas (os militantes que votam no seu partido)? Há algo de dramaticamente errado na representatividade proporcionada pelos partidos na situação actual. Há um divórcio total entre a "sociedade civil" e os políticos. A origem do problema está, a meu ver, na fuga grave da maioria da população aos seus deveres de intervenção cívica.
A solução não será acabar com os partidos nem criar novas formações políticas. Será, por um lado, fazer aquilo que aqui fazemos no blog: expor a nossa opinião. Por outro, será fomentar o envolvimento de muito mais gente nas estruturas partidárias. Por outro ainda, será criar o "caldo de cultura" onde possam surgir novos líderes.
No Porto e no país, se deixarmos as coisas como estão, depois não nos queixemos...
PS: Em coerência com o que escrevi acima, acabei de decidir que vou pedir a filiação no PSD. Atendendo às regras, é preciso que algum militante me proponha. Alguém se oferece? (Agradeço mail para taf@etc.pt.) Se a situação é má (quer na cidade quer no país), eu quero poder votar na próxima ocasião em que se puder escolher. Se me queixo dos actuais protagonistas, assim ajudo a que apareçam outros, mudando o "sistema" por dentro. ;-) Anuncio esta decisão aqui no blog para manter a total transparência, dadas as minhas "funções" de moderador. Como deverá ser evidente, nada irá mudar na maneira como faço a gestão d'A Baixa do Porto.
Concordo com a excelente sugestão da Paula. Uma parte significativa da movimentação da Baixa, e também uma quota relevante do volume de negócios do comércio tradicional, pode ser assegurada pelos visitantes da cidade.
Por várias razões fui ultimamente obrigado a estudar a legislação relativa aos "Empreendimentos Turísticos". Como seria de esperar, é um pesadelo. O Estado trata um pequeno negócio quase do mesmo modo que um grande empreendimento. Não admira que a maioria dos casos não esteja devidamente legalizada! Incomoda-me especialmente a maneira como o legislador imagina o cliente destes "empreendimentos turísticos": como um deficiente mental que não tem capacidade de escolha nem de compreender o serviço que lhe oferecem. Por isso tenta-se prever todos os detalhes do empreendimento, obrigando o proprietário a submeter-se a uma "receita" sempre igual e, dependendo de cada situação concreta, muitas vezes desadequada. É uma "fúria regulamenteira" pouco menos que criminosa, pelos danos que causa ao país.
Há um aspecto que não consegui perceber, e por isso agradeço a quem me saiba esclarecer: há alguma diferença, além do nome, entre um "estabelecimento de hospedagem" previsto no Código Regulamentar já aqui referido pela Paula, e um "empreendimento turístico", que tem que obedecer a outra legislação? (Ver artigo 79.º do Decreto/Lei 167/97, republicado com alterações no Decreto/Lei 55/2002.)
Aparentemente, basta não explicitar que um "estabelecimento de hospedagem" se destina a fins (também) turísticos para evitar regras mais complicadas, sem deixar de respeitar a lei... Se assim for, a Câmara / Assembleia Municipal de facto tem autonomia para simplificar os procedimentos de licenciamento de "estabelecimentos de hospedagem" e pode com facilidade implantar o tal Programa Turismo Urbano. ;-)
Caro Tiago
Talvez não me tenha feito entender. Não defendo o egoísmo dos autarcas. Pelo contrário, sou a favor de maior cooperação intermunicipal. Mas não sou ingénuo a ponto de pensar que os autarcas não privilegiam as suas autarquias. Que aceitam de bom grado todas as benesses do Estado. Aliás, quando se trata de "pedir" investimentos ao Estado Central, há que dizer que o incentivo a desperdiçar recursos é enorme: os autarcas têm os louros da obra que fazem, mas não têm o ónus de cobrar o dinheiro com que fazem a obra. Todos conhecemos péssimos investimentos em todo o país, feitos por pressão dos autarcas, mas pagos pelo Estado Central.
O associativismo tem melhorado isto. Por exemplo, não houvesse a AMP e teriamos mais linhas de metro no Porto, e menos nos concelhos vizinhos. Coordenar esforços é o melhor caminho. Já achar que a AMP tem por vocação defender o interesse de todo o Norte é simplesmente ingenuidade. A AMP poderá defender o Norte por isso interessar ao Porto. Poderá fazê-lo por simpatia dos seus líderes. Mas se alguém quer responsáveis políticos a defender o interesse global de todo norte, é preciso uma associação de municípios do Norte. Ou uma região política Norte.
Digo isto a propósito de muitos debates blogósfericos, onde o Porto é acusado de "centralismo". Ora, como a única entidade capaz de ser centralista é o Estado Central, isto não faz sentido nenhum. As outras entidades políticas autónomas (i.e. democraticamente eleitas) que existem são as câmaras municipais. O Porto não tem duas caras. Tem milhares delas. Uma coisa é a opinião pública do Porto, que luta pelo Norte. Outra são os seus responsáveis políticos que têm que prestar contas localmente. E por muito boa vontade que tenham, não podem fugir disso. Acusar alguém de "portocentrismo" quando, no enquadramento institucional actual, é esse o seu papel, revela um nível muito grande de ingenuidade.
Esta não é uma questão de menor importância. Vivemos num país altamente centralizado em Lisboa. Mas isto não parece preocupar o resto do Norte. Preocupa-o mais o Porto. Não lhes preocupa que quem distribui o bolo só lhes atribui migalhas. Com as migalhas podem bem. Não suportam é que tenha havido alguém que aparentemente tenha conseguido uma fatiazinha, por ridícula que seja.
O FC Porto começou hoje a comemorar o seu 114º aniversário. Faço aqui votos de eternos sucessos a esta grande instituição da nossa cidade.
António Alves
Caros participantes
Inspirada pela nota do Tiago sobre a recuperação da “sua ilha”, pela notícia do acréscimo do turismo que recentemente se tem verificado na Região Norte, e pela leitura (que vou fazendo quando me é possível...) do futuro Código Regulamentar do Porto (CRP), e ainda porque à semelhança do Tiago, também eu entendo que os incentivos previstos pela Porto Vivo SRU para a reabilitação da Baixa são ainda algo incipientes, atrevi-me a deixar aqui uma pequena reflexão/sugestão sobre o assunto.
Da leitura do projecto de CRP, que está actualmente em discussão pública, reparei que o Porto vai passar a ter disposições regulamentares relativas à instalação e funcionamento de estabelecimentos de hospedagem (na parte E.3 TÍTULO III, pág. 158 do PDF), referindo o mesmo, além das características dos locais/serviços mínimos destinados aos hóspedes, também a necessidade de ser emitida pela CMP a respectiva licença para hospedagem.
Ora foi precisamente esta parte que me chamou a atenção para algo que, penso, pode ser um aliado da reabilitação de alguns imóveis existentes na Baixa portuense. Porque, a par dos prometidos hotéis de luxo, também a “vizinhança” dos mesmos faz parte do cenário de visita dos turistas (que cada vez mais apreciam as viagens low cost), entendo que pode ser benéfico para a revitalização desta parte da Cidade a criação daquele que baptizei de Programa de Turismo Urbano.
Tendo como fonte de inspiração os programas e incentivos de apoio que já existem (a nível estatal) para o Turismo no Espaço Rural (cujos estabelecimentos podem por ex. implantar-se em áreas de Reserva Agrícola Nacional), e à semelhança do que acontece com tais estabelecimentos, quem fosse proprietário de um imóvel na Baixa (com determinadas características), sendo nele residente, e o quisesse reabilitar, a CMP poderia criar alguns incentivos para tal reabilitação, na condição de o proprietário destinar algun(s) quarto(s) (ou outros espaços) para fins de “hospedagem com fins turísticos” (sem as exigências complicadas dos contratos de arrendamento ou dos empreendimentos hoteleiros), ou seja, uma forma de ir transformando a Baixa numa espécie de, como agora dizem os italianos, albergo-diffuso à escala da Cidade (conceito alternativo aos B&B britânicos).
Paula Morais
Arquitecta
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Caro TAF
Pelo que consegui descobrir, o SIM-Porto foi aprovado na Assembleia Municipal de 23 de Julho de 2007 (cuja deliberação se encontra publicada no Edital I/118178/07/CMP de 26 de Julho de 2007). Contudo, também eu desconheço se foram, ou não, introduzidas alterações ao Projecto, projecto esse que está publicado na Separata ao Boletim Municipal n.º 3693, de 26 de Janeiro de 2007.
Paula Morais
Arquitecta
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Nota de TAF: Obrigado! Vale a pena descarregar estas 48 páginas (não são A4, é certo, mas ainda assim...) para perceber que o SIM-Porto na prática não vai servir para quase nada. Além da complexidade em si, "não se pode usar neste caso, nem naquele, nem mais naquele, nem no outro, ...". E mais as CAP (Condições de Avaliação das Propostas), e a "Vi" (Vistoria integrada), e o relatório técnico, e o "DIP" (Documento de Interesse Público"), e a homologação da Vi, ... Moral da história: desisti de tentar aproveitar este "incentivo" para a recuperação da minha ilha. O custo que eu ia ter com o SIM-Porto (nem que fosse só o do tempo de trabalho) excede largamente o valor dos potenciais benefícios. :-(
Notícia JN: Revolução no Largo do Toural com a assinatura de Siza
Meus caros,
Será que não se aprende nada nessa nossa abençoada terra? O que mais me estranha é como a coisa é feita.
- 1. Escolhe-se o arquitecto - assim, alguém o faz;
- 2. Encomenda-se o projecto - assim, como ele quer (?);
- 3. Põe-se o dito a debate público - assim, como um facto consumado.
Ora não sería melhor ter o debate à cabeça? Talvez se chegasse à conclusão que o que está, está bem. Ou que necessitava só de conservação. Ou de uns sanitários públicos por baixo do coreto e a revitalização do antigo café-esplanada. Mas assim não. Vai tudo abaixo, começando com as árvores que pouca falta fazem e os canteiros que só atrapalham e dão trabalho, em nome de uma modernidade importada e descaracterizante. Que parolos: É que o rei vai nu!
Como já aqui disse, no Porto, olhai para os Jardins da Montevideu e Cordoaria, e as praças do Infante, Poveiros, Leões e D.João I, a Avenida dos Aliados, a Rotunda do Castelo do Queijo, o espaço em frente à Cadeia da Relação e do Piolho,...
Alexandre Borges Gomes
Bruxelas
Alguém que saiba me informa por favor qual o estado do Regulamento do SIM-Porto? Houve em tempos uma proposta complicadíssima que esteve em discussão pública (mas aparentemente já não está). Qual o resultado da discussão pública? Foi alterada? Foi aprovada (mas não encontro o regulamento em lado nenhum)? É que como estava é o mesmo que não haver incentivo nenhum, pelo contrário, só a leitura deixa uma pessoa completamente desanimada...
Se bem percebi, Pedro Simões defende aqui uma postura "egoísta", ou pelo menos "egocêntrica", para os autarcas. Ora, nem que fosse por razões puramente egoístas, discordo bastante dele. :-)
Discordo porque não é uma postura eficaz. As autarquias não vivem isoladas, o que se passa à sua volta é muito importante para a vida no seu interior. Um bom ambiente externo fomenta uma boa situação interna. Além disso não se trata de um "jogo de soma nula", ou seja, podem todos ganhar se coordenarem esforços e tiverem uma atitude mais "generosa". O nosso mal é frequentemente não vermos para além do nosso umbigo.
A propósito disto, parece-me que há quem tenha uma visão um pouco estranha de qual é o papel dos presidentes de câmara num regime centralista. Hão-de me explicar por que motivo é expectável que os presidentes de câmara da Área Metropolitana do Porto (AMP) venham a pedir investimento público para municípios fora da AMP, seja para o Minho, Douro ou Trás os Montes.
No dia em que um Presidente de Câmara de um município pedir ao Governo para não investir no seu município, mas investir noutro, está na hora de se demitir. Pode até ser muito boa pessoa, pode até ser um acto muito louvável, mas está claramente a ir contra um dos seus deveres mais básicos: o de agir sempre no máximo interesse dos cidadãos que representa. Os Presidentes de Câmara têm como função defender o interesse dos seus munícipes. Não o interesse da sua região ou país. Para isso existe o Governo da República. E se este não é imparcial e distribui benesses sem defender o interesse global, a responsabilidade é só e apenas deste.
Por isso, antes de virem com acusações de "Portocentrismo", façam-me o favor de demonstrar em que é que estou errado neste raciocínio. Nunca confundi Política com Filantropia.
Pedro Menezes Simões
A Câmara lembrou-se a estas horas de anunciar no respectivo site que hoje é o Dia Mundial do Turismo e que até havia um programa de iniciativas...
Há também outras coisas que eu não percebo e agora estou sem tempo para escrever, mas já em Novembro de 2004 tinha exposto a minha opinião sobre a Porto Digital. Entretanto passaram 3 anos. Não foi suficiente, pelos vistos, para aparecer um site de jeito.
Embora eu seja apenas um curioso pela ferrovia, tenho-me, como provavelmente alguns dos leitores da "Baixa do Porto" se lembrarão, (pre)ocupado com a rentabilização dos ramais da Alfândega e de Leixões, que juntos e complementados com a rede de eléctrico existente na marginal, constituem uma verdadeira "circunvalação ferroviária" da cidade do Porto. Que poderia, e deveria, ser convenientemente aproveitada.
Algo se disse já do ramal da Alfândega. Mas muito mais do de Leixões. Que agora volta "à baila", não por passar em Leça do Bailio, mas pela hipótese de aí colocar a AV. A esse respeito tive ontem uma interessante troca de mensagens com um amigo (do GARRA) que, após alinhadas as ideias e autorizada a sua divulgação pública pelo próprio, aqui vão elas:
Esta da AV no Ramal de Leixões até ao Aeroporto parece-me, e parafraseando os nossos 'irmãos brasileiros', ser uma "estória para boi dormir". Senão, vejamos:
1. Quem pretende que haja, e está a fazer muita força nesse sentido, uma estação da AV Porto-Vigo no Aeroporto são a JM, a AC - «A construção de uma estação no aeroporto tem sido reivindicada pela Junta Metropolitana e pela Associação Comercial do Porto, mas tem sido afastada pelo Governo.» - bem como a AE do Porto, que são, todas, não muito bem quistas às cortes do reino. Falam demais e dizem coisas inconvenientes: até que o Norte é preterido em relação a Lisboa, etc., etc.
2. A AV/TGV Lisboa-Porto terminará a sua marcha em Campanhã. Este é um ponto já assente, para que a AV se possa interligar com facilidade à restante rede ferroviária. Isto é dizer que a AV Porto-Vigo, em linha nova ou remoçada, partirá dali. Ora a ligação entre Campanhã e Pedras Rubras não é das mais fáceis, em termos orográficos. A sinuosidade do Ramal de Leixões é prova disso: não estou a ver circulações a 250 km/h numa linha daquelas, ainda por cima 'espartilhada' entre zonas de elevada densidade urbana.
3. Algumas premissas - determinantes, penso eu - foram estabelecidas e divulgadas pela Senhora Secretária de Estado, a saber:
i) qualquer ligação ao Sá Carneiro não é para já: «"Seria impossível cumprir os prazos com uma estação no aeroporto", disse Ana Paula Vitorino, sublinhando que, em todo o caso, a alta velocidade (AV) "serve para ligar grandes centros urbanos e não aeroportos"». Só não dizem para quando é. Nem se é. [PS - ao contrário do referido na notícia do Correio da Manhã]
ii) a ligação Porto - Braga será aproveitada: «A governante reiterou que entre o Porto e Braga se vai aproveitar a linha já existente e que entre Braga e Valença será feita uma linha nova.» Ou seja, a directriz da linha é claramente na 'vertical' sul-norte (no mapa) e não oeste-este. Um pormenor: Barcelos e Viana do Castelo, que se estavam "a fazer" à AV, ficarão de fora. Ganhará Ponte de Lima que não chegou a ter o comboio no início do século passado... Bicudo irá ser a saída de Braga; a estação é terminal e não vejo muitos jeitos de a continuarem - a menos que o façam em túnel. Lá se vão descobrir mais vestígios romanos...
iii) são tudo meras hipóteses: «A ligação do aeroporto Francisco Sá Carneiro à rede de velocidade elevada entre o Porto e Vigo poderá ser feita através de uma extensão da linha da Trofa ou da construção de uma [nova] ligação directa a Braga,(...) No Porto, contudo, caso, numa segunda fase, (o negrito é meu) a AV passe pelo aeroporto, então "haverá uma estação".»
iv) a ligação a Leixões será predominantemente (se não exclusivamente) para carga: «a introdução da componente de transporte de mercadorias, as ligações ao aeroporto, à plataforma logística da Maia/Trofa e ao porto de Leixões - esta, provavelmente, através do ramal Campanhã-Leixões - são formas de viabilizar um projecto que é "estratégico"» . Ou seja um ramal para ir levar ou ir buscar mercadoria, não uma estação de trânsito onde as pessoas des/embarquem do avião para comboio e vice-versa.
v) de Campanhã a Leixões, ou ao Aeroporto, são meia dúzia de quilómetros. Duas estações de um comboio de alta velocidade (mesmo a 250 km/h) a esta distância? Não me parece exequível.
vi) penso que talvez fosse possível (e interessante) interligar o aeroporto a Leixões por ferrovia; mas só para mercadorias. Não vejo que haja volume de passageiros para os dois serviços (ferrovia e metro).
vii) Campanhã e o Aeroporto já estão ligados por "um rápido, moderno e atraente meio de transporte" sobre carris: o Metro do Porto. Que liga o Aeroporto a Campanhã em 32'58'', com um tempo de espera máximo de 20'. Ou seja, poucas ligações aéreas demoram menos tempo do que isso, pelo que não creio que um eventual comboio sub-urbano (a menos que fosse "expresso") fosse mais rápido.
viii) as linhas terminais ("de saco") existentes em Campanhã são mesmo ao lado da estação do metro - e estão agora completamente sub-aproveitadas (só saem de lá uma ou duas circulações por dia, para a Régua). E elas foram construídas "para o serviço inter-regional das linhas do Minho e do Douro", assumido que está (embora ainda não efectivado) que S. Bento passe, numa 1.ª fase (este é o país da fases!), a servir exclusivamente o serviço sub-urbano e, numa 2.ª, apenas com serviço de "transfer vai-e-vem" até Campanhã.
ix) Por último, vamos dar sempre ao mesmo: qual é o volume de passageiros com origem ou destino no Aeroporto? Justifica o investimento de mais um sistema de transporte, ainda por cima também por cima de carris? Será que a frequência do metro no Aeroporto (a cada 20') não é reveladora da escassez de procura?
Com os meus melhores cumprimentos,
Emídio Gardé
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Nota de TAF:
- Santana Lopes na SIC-Notícias - Muitíssimo bem! Assim se prova que toda a gente pode ter momentos bons e maus. Não fosse aquele pequeno exagero do "sacrifício pessoal" e teria sido perfeito! :-)
- Mudar Portugal - por sugestão de José Silva: "Acho que isto merece divulgação urgente na Baixa do Porto, nomeadamente o encontro no dia 30 no Porto".
Neste fim de semana, dias 29 e 30 de Setembro das 10h30 às 18h00, realizar-se-á o Campeonato Nacional do Jogo de Go no rés-de-chão do Cinema Batalha. Para quem estiver interessado em participar as inscrições serão feitas no próprio local, sábado 29 entre as 10h e 10h30. Os curiosos também são bem vindos e podem aparecer quando quiserem mesmo que não saibam jogar, já que este evento também tem como objectivo a divulgação deste jogo oriental.
O Go é um jogo que nasceu na China há cerca de 4000 anos, evoluíu no Japão e é dominado hoje pela Coreia onde existem até cursos universitários e canais de televisão exclusivamente dedicados ao Go. Tido como o xadrez do oriente, é um jogo de estética apelativa e regras simples que se combinam e desenvolvem para criar complexidades inigualáveis no desafio da mente humana.
Em Portugal, ao contrário do resto da Europa, o jogo está ainda muito pouco divulgado existindo cerca de 50 jogadores. Temos a APGO - Associação Portuguesa de Go cujas actividades abrangem, para além dos encontros semanais e das acções de divulgação, dois campeonatos nacionais por ano (nos quais ficam seleccionados os represenantes portugueses para o WAGC - Campeonato Mundial de Amadores de Go, no Japão e outro campeonato na Coreia), sendo que um se realiza sempre em Lisboa, e o outro noutra zona do país onde se manifeste alguma actividade com o jogo.
No Porto temos encontros simpáticos no café Ceuta. Até à semana passada os encontros eram às quintas a partir das 17h00. No entanto, a partir de agora o encontro semanal passará para outro dia ainda por definir. Para qualquer informação podem falar comigo: Cristovão - 93 695 24 87 ou subjectile@gmail.com.
Quem estiver interessado em saber mais sobre o jogo de Go, pode consultar as seguintes páginas: AGA - American Go Association, o servidor de Go da Kiseido, APGO - Associação Portuguesa de Go. Infelizmente o site da Associação Portuguesa carece de manutenção e está portanto bastante desactualizado.
Cumprimentos,
Cristovão Neto
- Bicentenário das Invasões Francesas será assinalado no Porto
- Já agora, aproveito para informar que enviei à Secretária de Estado dos Transportes a sugestão do ramal de Leixões e a recomendação de que leia A Baixa do Porto. ;-) Será que os políticos não percebem que têm a papinha quase toda feita se aproveitarem as sugestões da sociedade civil, que lhes ilumina as ideias?
Mais uma vez o Porto Sounds de há dias
- Rede convencional ligará aeroporto do Porto ao TGV
Já faltou mais, dentro de pouco tempo alguém proporá claramente a utilização do ramal de Leixões para ligar o caminho-de-ferro ao aeroporto, tal como já foi proposto neste blogue.
António Alves
Fui ver a exposição e vi o Palácio. Verifiquei que a autarquia dispôs do património de todos a favor de um investidor. Não percebo como isto pode acontecer. Tanto mais que faz(ia) parte do património municipal que julgo inalienável sem uma hasta pública depois de consulta pública, aprovações várias etc.
Mas aqui não se trata de saber se a lei foi cumprida. Trata, isso sim, de saber qual é o interesse do Porto - seus habitantes - na concessão de uma peça do nosso património a quem quer que seja.
Parece que o vereador da cultura não se insurgiu com esta facada no património. Também é certo que as forças vivas que às vezes berram, para serem vistas e ouvidas (mamã estou aqui!), em casos muito menos graves não se foram acorrentar às grades do Palácio ou promoveram uma providência cautelar para impedir a alienação temporária/definitiva?.
Enfim não há quem tenha imaginação para tornar útil aquele equipamento para o maior número de pessoas, isto é: a cidade e o país. Fica destinado aos que vão frequentemente a locais semelhantes no estrangeiro e a meia dúzia de snobes da classe média. Os outros foram espoliados.
JPV