De: Luís de Sousa - "Aqui no Burgo"

Submetido por taf em Quinta, 2006-09-14 22:15

A respeito da recente discussão sobre reabilitação no centro histórico portuense, tenho a dizer que o restauro (enquanto reconstrução objectiva do original) na minha perspectiva não deve ser usado como resposta à reabilitação de edifícios antigos que pretendam ser habitáveis por cidadãos contemporâneos, com necessidades específicas do seu tempo.

A reinterpretação desta zona mais antiga da cidade urge! Não acho que optar pela mimese da arquitectura da data de edificação do imóvel seja a opção mais correcta, pois desse modo o arquitecto está a demitir-se de projectar a arquitectura do seu tempo. É uma posição contra natura que estabelece um corte na história da cidade, cristalizando os seus edifícios e transportando-os para uma realidade espacial e para um tempo que já não são os seus.

Contudo a tarefa não se adivinha fácil, como anteriormente já aqui Cristina Santos, Alexandre Burmester, César Costa e Paula Morais afirmaram. Os principais entraves são os regulamentos que regem estas intervenções (normalmente caducos ou impraticáveis) e também os agentes que os interpretam (e muitas vezes os reinterpretam) segundo a sua vontade e capacidade. Porém acho que cabe ao arquitecto trabalhar no sentido da sua intervenção na cidade ser sempre uma mais-valia contemporânea e não um revivalismo duma determinada época. Reabilitar sim, mas com uma linguagem e uma atitude crítica que reflicta os usos e as necessidades da sociedade contemporânea.

Na faculdade os professores repetem mil e uma vezes que os arquitectos nunca deixam de apreender! Se calhar é por levarem esta frase tão à letra que os organismos que nos regem não param de nos aferir e fiscalizar na nossa prática profissional (dando a ideia que nunca estamos aptos para a autonomia profissional). Se calhar é por sermos eternos aprendizes que não temos a capacidade necessária para pertencer a um júri que apreciará a futura intervenção arquitectónica no mais emblemático mercado da cidade. É curioso mas a arquitectura neste caso está entregue aos filósofos, aos economistas, aos engenheiros e até à Sra. Dona Laura.

Cumprimentos
Luís de Sousa

P.S. Fico contente por existirem mais portuenses por opção! Isto demonstra que a desertificação antes de mais é um problema de atitude. Vivo a mesma realidade de que fala o Rocha Antunes e dou-lhe os parabéns por também ele ser Portuense por Opção.