De: TAF - "Apenas uma nota..."
... sobre este assunto:
- Eles vão tentar provar que é possível reabilitar casas a custo zero
- Primeiro edifício reabilitado a custo zero estará pronto em 2014
- Protocolo prevê reabilitação a custo zero (vídeo)
Lembro estes posts de há tempos: Reabilitação urbana a custo chinês, A função social não tem custo zero, A propósito de reabilitação urbana.
O projecto Arrebita! Porto é simpático, mas não tem nada a ver com reabilitação urbana. Ou melhor, a ligação é quase só uma coincidência. Trata-se de uma iniciativa bem intencionada que reúne recursos cedidos a título gratuito e os aplica com preocupações sociais. Poderia ser na recolha e distribuição de alimentos a famílias carenciadas, no apoio à infância, na ajuda a idosos solitários. Acontece que é na recuperação de um edifício. Significa isso que está encontrada uma solução para reabilitar o património edificado? De modo nenhum. Os arquitectos não podem passar a desenhar de graça, os engenheiros não fazem cálculos sem remuneração, os materiais não caem do céu, as licenças e taxas diversas não aparecem pagas por milagre. Poder-se-ia dizer: ah, mas com o que ganham noutras obras "normais" podem investir aqui como publicidade. Pois sim... Quais obras "normais", hoje em dia?
Não há nenhuma reabilitação "a custo zero". Há sempre custo, e ele é suportado por alguém. Neste caso houve quem se tivesse disposto a trabalhar de graça e a patrocinar a iniciativa. Excelente. Mas isto não resolve nada a não ser recuperar este edifício específico em que vão trabalhar, e eventualmente mais um ou outro caso isolado em que consigam recolher contribuições idênticas. Isto não é um método de reabilitação urbana, nem sequer como complemento de outros. Não é empreendedorismo social (é só filantropia*), porque não é sustentável nem sistematicamente replicável. É apenas uma iniciativa simpática, ingénua, e que está a ser aproveitada por quem tem responsabilidades nesta área para disfarçar a sua incompetência.
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* A "filantropia" gasta recursos obtidos algures noutras actividades e aplica-os com fins sociais. O "empreendedorismo social" gera esses recursos com a sua própria actividade.