De: Cristina Santos - "A função social não tem custo zero"
A reabilitação, restauro, manutenção e reparação, é pressuposto máximo para o plano de crescimento Europa 2020, que espera ver os nossos índices crescer, para que o nosso imobilizado não fique a valer ZERO, como já é o caso de 12% do edificado. Ou seja, de 5.8 milhões de fogos, 40% necessitam de algum desse tipo de intervenção, caso contrário a sua amortização cresce, o que influencia o PIB e nos transporta a níveis de produtividade negativos, ainda que as taxas de crescimento se apresentem positivas. Portanto é imperativo máximo. A lei recente de incentivo à reabilitação há muito que consta do documento, embora só recentemente tenha sido legislada.
Ora o referido documento diz-nos ainda que esses serviços devem ter uma cadeia de valor específica e bem estudada, que pressupõem, note-se bem: gestão, marketing, a equipa de arquitectos e engenheiros, e uma equipa de execução experiente e com know how. Pressupõem ainda a diminuição drástica da taxa de rotatividade laboral, pressupõem caps em todo o sector produtivo e um trabalho conjunto entre todos estes elementos, certificação ISO, etc.
O que se verifica no país: perante a constatação de que a reabilitação urbana tem mercado, juntam-se técnicos de arquitectura e engenharia e julgam ser capazes de realizar reabilitação, conservação e manutenção, contratando “pessoal das obras” ao dia, que perante a sua coordenação técnica serão capazes de realizar qualquer tipo de obra. O resultado desta visão está mais do que estudado e é um caso de má prática, que não serve os interesses de sustentabilidade económica, nem de reabilitação. Chama-se a isto chico-espertismo vindo de académicos, ou seja, deixam de ser empreiteiros a ter esta prática, mas o plano mantém-se. O que é grave, e assusta para quem pensa num futuro para este país.
Uma cadeia de valor resiste pela resistência dos seus elos. É lastimável que o sector produtivo (os trabalhadores que executam) seja relegado para segundo plano, quando os países desenvolvidos os colocam como um dos elos mais fortes, aliás, exceptuando a gestão e o marketing, os restantes sectores devem situar-se ao mesmo nível. Note-se bem que estamos sempre a falar de PME, "Think it Small", obviamente que os grandes grupos não necessitam deste imperativo que a UE vem impor.
Tudo isto para dizer muita coisa, mas sobretudo que a reabilitação a custo zero, mesmo que se trate de uma OSFL (organização sem fins lucrativos), tem de ter uma cadeia de valor. Uma OSFL é sabido, é científico, tem de possuir quadros de pessoal remunerados, gestão empresarial, embora o seu “lucro” seja o bem-estar sentido. Portanto, creio que custo zero é só o slogan, é uma boa iniciativa, mas não deve ser entendido literalmente porque, se o fosse, não poderia receber um prémio.
Cristina Santos