De: Pedro Aroso - "Respostas para gente bem-educada"
Caríssimos Correia de Araújo, Rui Encarnação e Pedro Figueiredo
Embora a minha caneta seja um Montblanc, reconheço que às vezes uso uma tinta muito corrosiva… As vossas contestações às minhas intervenções evidenciam um grande fair-play, facto que gostaria de enaltecer e agradecer. É sempre muito agradável participar num debate com gente bem-educada.
1. Ainda bem que o Correia de Araújo “desenterrou” este meu post escrito em 2006. Quem acompanha a “Baixa do Porto” desde o seu início é testemunha da minha isenção em relação à gestão do Dr. Rui Rio. Por várias vezes repudiei publicamente as suas opções, como aconteceu no caso do PDM, da Via Nun’Álvares ou mais recentemente com o Mercado do Bom Sucesso, só para dar alguns exemplos. É esse distanciamento crítico que me permite defendê-lo sem nenhum tipo de constrangimento quando sinto que é injustamente atacado. E já que fala no Eng.º Nuno Cardoso, recordo-lhe que fui a única voz a expressar-lhe a minha solidariedade quando foi conhecida a sentença relativa aos terrenos do Boavista. Respondendo à sua pergunta, não resisto a reproduzir aquele ditado que diz: “Errar é humano, errar duas vezes é lusitano”. Ao contrário do Prof. Cavaco Silva, que segundo o próprio raramente se engana, o Dr. Rui Rio já admitiu várias vezes nem sempre ter feito as melhores escolhas mas, sendo um homem inteligente, tem vindo a corrigir orientações que estavam claramente a desviar-se do caminho certo, sendo a política do Urbanismo um dos casos mais evidentes.
2. A questão levantada pelo Rui Encarnação remete-nos para um debate antigo, com o qual se viram confrontadas várias cidades europeias. Como é sabido, após a Segunda Guerra Mundial foi necessário construir muitos milhares de fogos para realojar as pessoas mais carenciadas que ficaram com as suas casas destruídas. As tipologias adoptadas, que privilegiavam os edifícios em altura, revelaram-se manifestamente desajustadas, gerando conflitos sociais de toda a espécie pelo que, anos mais tarde, os respectivos governos viram-se na obrigação de os demolir. É isso que vai acontecer no Aleixo. A este propósito recomendo-lhe a leitura do artigo do Arq. Alexandre Alves Costa, meu antigo professor, que muito admiro e a quem dediquei o meu segundo livro, apesar de politicamente se situar nas minhas antípodas. Nesse texto, publicado no número 237 do Jornal dos Arquitectos, ele advoga a preservação das famigeradas torres mas, curiosamente, cita Nuno Cardoso: “Habitação social em altura não faz sentido”.
3. Por último, gostaria de agradecer ao Pedro Figueiredo o interesse que tem revelado pelo Club Lotus Portugal, do qual sou fundador e presidente desde a sua criação em 1989. Esta paixão nasceu em 1960 quando assisti, então com 7 anos, ao Grande Prémio de Portugal disputado no Circuito da Boavista, no qual participaram quatro Lotus F1 conduzidos pelos pilotos Jim Clark, Stirling Moss, John Surtees e Innes Ireland. Infelizmente, da colecção que iniciei nos anos 80, altura em que a febre dos clássicos ainda não tinha chegado ao nosso país e os arquitectos tinham todos bastante trabalho, já só restam dois exemplares; os outros quatro tive que os vender para sustentar a minha família.
Aproveito para também lhe agradecer a dica relativa ao Museu das Gravuras em Foz do Côa. Quando vi as fotografias fiquei encantado, por isso já reservei o segundo fim-de-semana de Janeiro para fazer uma visita.
Bom Ano para todos.