De: Rui Valente - "PJ - Que viabilização económica? A centralista?"

Submetido por taf em Sexta, 2008-08-01 19:51

Caro Tiago,

Este é um assunto de que faço questão em participar também aqui n'A Baixa. Como o Tiago se deve lembrar, o tema "Comunicação Social" é um dos que mais me interessa e preocupa no contexto degradante da actualidade do Porto/Norte de Portugal. Não houve, até hoje, nada, nem ninguém que me convencesse de que a inexistência de "mídias" locais autónomos e economicamente consistentes não é um dos principais motivos - senão mesmo o principal - da perda de protagonismo do Norte a todos os níveis, à excepção claro, do FCPorto, agora também transformado em troféu de caça nacional...

Por falar nisso, o Tiago há dias contrariou a ideia que muitos de nós aqui na Baixa temos de que não gosta de futebol, mas já agora pergunto-lhe: gosta? E tem algum clube de preferência? Não é nenhuma provocação, mas responder a esta inocente pergunta pode equivaler a uma pouco inocente resposta... Os políticos (tenho de ter cuidado porque o Tiago é capaz de já pertencer à "família"), que são o pior dos paradigmas em matéria de coerência, costumam dizer que não devemos misturar as coisas (futebol c/ política), mas eu consigo misturá-las quando é preciso e separá-las também.

Mas, vamos ao que interessa. Mais um jornal do Porto que está em vias de se despedir da vida. O Primeiro de Janeiro! Este, dadas as suas características, antiquado, formalista e pouco ambicioso, só podia ter este fim. Contrariamente, já não digo o mesmo do extinto Comércio do Porto nem da extinta NTV. Nunca me convenceram os argumentos apresentados que "explicaram" (muito mal) a sua extinção. Não faziam sentido.

Estou portanto de acordo com o Tiago quanto à urgência de tentar reabilitar o pré-falido PJ e com os seus argumentos, só não sei exactamente o que quer dizer com viabilidade económica. A viabilidade económica é apenas um valor económico, mas há alguns outros valores a considerar para entendermos como boa a viabilidade de uma empresa de informação, nomeadamente: o cariz (regional/nacional), o público alvo / mercado, a autonomia financeira e redactorial, etc.,

"Aborreci" aqui alguns participantes por dar a entender algum cepticismo em relação à teoria defensora da regeneração sócio-económica do Porto que a confia e deixa nas "mãos" dos empreendedores privados e esforcei-me por explicar porquê. O Estado tem de ser o exemplo e, se for, depois o tempo fará o resto. Se o Estado não for capaz de se regenerar, então cabe aos cidadãos obrigá-lo a isso. Tal não significa que se extrapole desta teoria que se está com ela a defender uma sociedade estatizada, mas antes a reforçar a base de qualquer sistema: o da moralização. Na Suécia, apesar do alto nível de vida, dos bons salários, os cidadãos levam rombos fabulosos só em impostos, mas aceitam-nos porque sabem exactamente o destino de todos eles. Porque confiam na seriedade do Estado. Cá, sabemos que não é assim. O Estado é caloteiro, o Estado convida a sociedade à vigarice, depois queixa-se dos cidadãos! Está tudo ao contrário.

Para terminar, vou recordar um projecto emanado da sociedade civil, do Porto e de Comunicação Social: a TVTel. Sim, aquela que ia ser a televisão do Norte! Essa mesmo. Ainda não vai muito tempo que um dos seus administrador, Paulo Pereira, chegou a trocar opiniões connosco aqui na Baixa. Talvez já saibam, porque a notícia não é de ontem, mas convido-os a lerem este meu post no Renovar o Porto para se inteirarem do que aconteceu a esse projecto "nortista", e ao mesmo tempo ficarem com uma ideia menos poética do que pode acontecer se continuarmos a pensar que o privado se pode substituir ao Estado...

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Nota de TAF: Caro Rui, o meu clube preferido é o Tirsense, pelas raízes familiares que tenho em Santo Tirso onde, aliás, (publicidade...) até tenho uns pequenos terrenos para venda, num excelente local. :-) Quanto ao meu conceito de "viabilidade económica" para o PJ, é simples: o negócio tem que dar lucro. Quem quiser preservar outros valores, que pague por isso - assim contribui para garantir lucro. ;-) Para novidades, leia-se Pedro Bessa.