De: Artur Gomes - "Ainda o negócio do Aleixo"
Perante tantas reacções ao meu post não podia deixar de vos responder.
Começando pelo Sr. Hélder Sousa, que sendo morador do Aleixo conhece certamente a situação desse bairro muito melhor do que eu. Nem precisamos de perder tempo a falar daquilo que todos sabem.
"Talvez o melhor seja mesmo juntar todos os habitantes do Aleixo (e se calhar mais alguns) e mandá-los para a Sibéria."
Descanse que eu não sou comunista, não defendo o método dos Gulags. É que eu fiz questão de escrever no meu texto o seguinte:
"É certo que no Aleixo há trabalhadores sérios"
Portanto, eu aceito que aqueles moradores do Aleixo que são tão portuenses como eu, que têm cadastro limpo e que ainda por cima têm as suas origens no centro histórico podem voltar a habitar no centro da cidade, mas também acho que deveriam ter o direito de optar por continuar na zona do Aleixo, onde muitos já estão enraizados.
Quanto ao lugar dos criminosos, sejam eles do Aleixo ou não, o lugar deles é na cadeia, não é na Baixa. E certamente muitos moradores do Aleixo concordarão comigo. Mas para ser sincero consigo, o que move este projecto é o lucro, quem é que me garante a mim que os imóveis que estão a ser construídos onde era a cimenteira não tiveram garantias da Câmara que o bairro do Aleixo ia ser destruído? Tem alguma dúvida que esses imóveis vão valorizar-se ou pelo menos vão ter mais procura?
Depois diz também que os habitantes do Aleixo:
"na Ribeira - coração do Património Mundial, de onde foram retirados por causa do mau ambiente que causavam para pessoas como você poderem lá passear e terem orgulho desta bonita cidade. Foi uma boa solução, não foi?"
Eu cresci em Miragaia, ao lado de muitos que agora moram no Aleixo, mas não foi por causa do mau ambiente que foram para o Aleixo, o Sr. Hélder está equivocado. E nisto não falo de cor nem sou um arquitecto que vai fazer uma visita de tempos a esses locais. Quando essas populações, que foram transferidas para o Aleixo, moravam em Miragaia e na Ribeira as condições em que viviam eram sub-humanas. Famílias inteiras moravam num quarto, prédios com apenas uma casa de banho para o prédio inteiro e por aí adiante. Atrevo-me a dizer que centro do Porto era uma cidade com níveis de densidade populacional dignos do terceiro mundo, mas não adianta desenvolver esse assunto nesta questão. Agora não tenham dúvidas que as condições de vida nos bairros são na esmagadora maioria dos casos melhores do que as condições de vida dos habitantes da Ribeira, Miragaia e Sé. Tenho amigos em Miragaia que ainda moram em casas sem uma única janela, isto em 2008, desenganem-se aqueles que pensam que as piores condições habitacionais da cidade estão nos bairros. Quanto ao povo da Baixa de Lisboa, esse não é o meu povo, no Aleixo grande parte da sua população ainda é do meu povo.
Quanto ao Pedro Olavo Simões, o meu texto não foi um desabafo, e muito menos foi imponderado, simplesmente há portuenses que ainda pensam pela sua própria cabeça e não têm medo de ser politicamente incorrectos.
Vários comentadores referem que não está em causa o realojamento de traficantes e/ou criminosos, não sei se isso será ingenuidade da vossa parte. Reparem o que aconteceu ao Cerco do Porto depois do encerramento do S. João de Deus. Supostamente os traficantes não seriam realojados, mas o certo é que o ambiente no Cerco degradou-se, é um facto, só não vê quem não quer. E são os próprios moradores do cerco que o dizem.
Depois a Sra. Susana Gonçalves insinua que houveram comentadores que descriminam alguém por ser dum bairro:
"Quando falo de discriminação, refiro-me a pessoas como o senhor que já escreveu neste espaço. Não vivo num bairro mas conheço muito boa gente que habita num e devo-lhe dizer que um bairro social é como outro local qualquer: há de tudo com o inconveniente da discriminação que resulta naquilo em que o Aleixo se transformou, ou seja, um local onde ninguém quer entrar, tornando-se o habitat ideal para os indigentes."
A Sra. leu o que eu escrevi?
"É certo que no Aleixo há trabalhadores sérios"
Eu não coloquei em causa a existência de existência de todo o tipo de pessoas no Aleixo, o seu comentário é o resultado duma leitura à pressa dos textos.
Por fim, Pedro Lessa levanta questões que ultrapassam o âmbito camarário, eu também posso dizer que os seus comentários podem ser errados, mas, por exemplo, se é contra o rendimento mínimo diga-o frontalmente, não tenha medo.
Eu não tenho qualquer problema em ser o único neste blogue contra este negócio do Aleixo, sim, porque é dum negócio que estamos a falar, um negócio onde até à data nem os moradores foram ouvidos. Os interesses são outros.
Artur Gomes