De: Cristina Santos - "Carlos Alberto - A questão social e o WC"
As obras em Carlos Alberto, na componente prática, prosseguem com pequenas lajes mistas nas zonas húmidas, os soalhos novos pregados, as paredes revestidas a pladur, água, esgotos e electricidade no sítio. Quanto à questão do revestimento para a caixa de escada ainda não há um consenso.
No que diz respeito à parte teórica estamos agora na fase do «ponham o WC no exterior, já!». Temos 40 mts2 de área, mais um WC na caixa de escada com 0,90mts2. Pretendia-se transformar este «T2», com quartos entre os 4mts2 e os 6mts2, num T1 com suite, cortava-se a caixa de escada criando um corredor para aproveitamento do dito WC que se prolongaria para o interior. Mas o acordo está difícil, perder um quarto com 4mts2 e pagar +/- 75€ de renda está fora de questão. Ponderou-se reduzir a sala, o quarto e criar esse compartimento, mas o acesso ao WC teria que ser feito pelo interior desses espaços, e pronto, não há acordo porque um WC no quarto hipoteca a eventual recepção de visitas…
Entretanto no outro piso também não se podem criar compartimentos condignos, porque um dos inquilinos tem direito a uma área e não assinou até hoje, provavelmente não vai assinar, também não quer a totalidade do espaço. O proprietário, face a direitos com meio século, só com bom senso ou com a justiça é que pode fazer algo concreto. Compreende-se que os inquilinos não queiram perder áreas úteis, compreende-se que o proprietário ao investir queira fazer algo para o futuro, compreende-se que não haja acordo, que não assinem mesmo quando é lógico o benefício, compreende-se tudo. O que é facto é que sem bom senso não vale a pena.
Já em 2005, na primeira abordagem, constatei que Carlos Alberto não era a melhor escolha para quarteirão piloto. Podem ter-se aplicado aqui os princípios que se aplicam no Centro Histórico, mas as zonas não partilham o estilo social, e os princípios deste tipo de intervenção devem partir sempre da realidade social e da sua auscultação, as experiências anteriores servem como base, não como solução única. Quanto a mim, faltou desde o início a noção da realidade. Para uns a realidade de que a Lei é curta, muito limitativa, e para outros a noção de que não é possível fazer milagres, e nem sempre é como se sonha e se unem edifícios em projectos conjuntos, e portanto 40mts2 são 40mts2 e se alguém prometeu alguma coisa para além disso, que o não tivesse feito, a tê-lo feito as rendas seriam bem diferentes, assim como o investimento.
No conjunto social faltou a humildade, o princípio e o bom senso, umas vezes por parte dos proprietários, outras vezes dos inquilinos e alguns erros de origem por parte da Porto Vivo. As pessoas têm que ser auscultadas, tem que se averiguar em pormenor a realidade face ao seu discurso, e filtrar não é pôr no papel palavra por palavra o que nos foi dito. Tem que haver um estudo, faz-se no local não no gabinete, não se parte do principio de que temos um plano e vamos aplicá-lo custe o que custar, não é assim quando se pretende fazer convergir, muito menos nestas situações. Depois de cometido o erro de pensar que é tudo amplo porque se recorre à lei e não se escutam os envolvidos, temos atrasos, custos e outras coisas mais, que com um pouco de humildade e bom senso se ultrapassavam facilmente. Vamos ver como termina, se terminar por completo, ou seja, que abranja todos já é muito bom…