2013-01-06

Edifícios

Foto: arquitectura de autor high-cost “encavalitada” por cima de bairro camarário low-cost

1 – SENSATEZ E RACIONALIDADE. Na reabilitação de edifícios antigos deve-se compreender que o sistema construtivo é que manda. Primeiro, há que “escolher” o “sistema construtivo” que se pretende para a intervenção, conforme a uma estimativa adequada ao cliente, uma crítica cultural à cidade, uma vontade expressiva do arquitecto.

2 – RESPEITAR A LÓGICA DE CADA SISTEMA CONSTRUTIVO. Evitar de todo o sistema construtivo pilar/viga em betão que “pesa” e desrespeita a pré-existência, fere eventuais paredes mestras em alvenaria pré-existente, torna-se ”desadequado“. Na minha opinião, reabilitar edifícios antigos no Porto faz-se, com razoabilidade, sensatez e racionalidade, misturando o sistema construtivo (1*) “leve” de construção seca tradicional com o sistema construtivo (2*) “leve” de construção seca contemporâneo: novas estruturas em madeira ou ferro / construção leve em madeira ou ferro (lajes colaborantes, “não colaboracionistas”) e paredes de “tabique moderno”, o gesso cartonado, marca “pladur” ou outra… pão-pão/queijo–queijo, porque estes dois sistemas – antigo e contemporâneo - têm afinal a mesma lógica.

3 – LOW-COST É SLOGAN. Precisamos de Arquitectura com tudo o que esta palavra supõe.

4 – CUSTOS CONTROLADOS (OU NÃO). Ficava sempre mal dizermos “Arquitectura a custos controlados”. Até parece que “éramos” um país de pobreza, em que teríamos (cruzes – credo) de controlar os tais custos… (choro e ranger de dentes, agora).

5 – ARQUITECTOS LOW-COST. Quantos gabinetes faliram no Porto desde 2008? Quantos colegas já emigraram?… Quantos colegas ficaram sem rendimento algum, por causa do “fantástico” sistema de pseudo-empreendedores que desde os anos 90 passou tudo e todos a falso recibo verde “arquitecto - para – arquitecto”, e portanto uma vez chegada a “crise que veio para todos”, veio de forma particularmente cruel para estes que sempre deram o litro no gabinete de outros – noitadas, entregas, maquetes, autocad, autocad, autocad, e agora sem salário, sem subsídio, sem nada? E quantos colegas ainda “trabalham” nos poucos gabinetes que restam no Porto, sem poderem passar recibo (custa um balúrdio/mês em pagamentos à Segurança Social e não dá direitos)? E quantos só conseguem trabalhar “à peça”(+/- 2000 euros de rendimento/ano)? Uma entrega de 7 em 7 meses?… E quantos já mudámos para trabalhinhos-de-migalha noutras áreas quaisquer, algumas de trabalhinhos humilhantes e com condições ainda piores. E até nos consideramos sortudos por causa disto? Emigrando para fora cá dentro? E de tal maneira, que até dói?

6 – UM ARQUITECTO IMPEDIDO DE ARQUITECTAR È UM EXILADO (“desempregado”). “Quando a pátria que temos não a temos / perdida por silêncio e por renúncia / Até a voz do mar se torna exílio / E a luz que nos rodeia é como grades” (Sophia de Mello Breyner, Livro Sexto)

7 – CONTROLO INEVITÁVEL, mas sem slogan. Agora sim, “inevitavelmente” tudo já está e vai ter de continuar ser LOW-COST ou custo controlado, também na Reabilitação e Arquitectura porque temos todos de pagar aos bancos para não “falirem”, coitados, que o mercado é “livre” mas “só” os Estados, as famílias, as empresas em geral e as pessoas é que podem falir. No futuro “radioso” que nos espera, quando voltarem do céu os Deuses “mercados”, BES, BPI, BCP, BANIF, BPP, BPN-travesti-BIC voltarão a nos “emprestar” o dinheiro que agora lhes entregámos à força e voltaremos (!) a poder ter a Arquitectura de autor high-cost paga a créditos que afinal não existirão na realidade (outra vez como foi até 2008). “O sistema há-de continuar igual a si próprio”, é isto o que esperamos quando apenas queremos (!) resolver a crise, não “resolvendo” o sistema em si. …Não o sistema construtivo, mas este antes “destrutivo” (you know what i mean).

De: Manuel Leitão - "O parolo por ele próprio"

Submetido por taf em Sábado, 2013-01-12 21:17

Rio vem perorar, à sua inefável maneira, sobre as “elites parolas”. A esta criatura dá-lhe jeito centrar a discursata no “bairrismo” de última hora, esquecendo que arrastou a cidade para a perda de dezenas de milhares de habitantes durante a praga dos seus mandatos, através das políticas que implementou. Aos que restam - para além dos velhos pobres nas zonas degradadas e os ricaços de todos as idades nas zonas “chic”, como ele próprio se julga - acrescentou milhares à miséria sem-abrigo e dependência da sopa dos pobres como no tempo do Salazar, ao mesmo tempo que estoura milhões em “circo” (pópós na Boavista, etc.). E ainda tem a “lata” de falar de “Porto Feliz”! O descaramento sem limites…

Apesar de em várias áreas, mormente na Cultura - e não só - estes últimos 10 anos deverem ter sido positivamente bem diferentes. Apesar de "algo" ter sido feito errado que implicou a Rotunda da Boavista não ter a vida que hoje deveria ter, as perspetivas que se esboçam para as eleições no ano em curso para o Porto, são bem piores. Bem piores!

A revista de Janeiro corrente da Câmara do Porto ou de Rui Rio - não dá muito para entender! mas é assim neste País! -, é mais do mesmo, com demasiados retratos sempre dos mesmos. E está na moda neste País o auto-elogio: Cavaco o fez na entrevista nos 40 anos do Expresso, Rio faz o mesmo na sua revista de Janeiro de 2013.

Mas o Porto até ao momento não está endividado, o mesmo não se podendo dizer de quase todo o País! Logo, neste caso, a continuidade será sempre melhor que "as perspetivas". Pelo que, abertamente e com rapidez, Rui Rio deve mostrar quem em alternativa apoia para a Câmara do Porto. Não podemos andar para pior e estamos, se nada for em contrário sugerido - por quem o deve poder fazer - certos que vai acontecer! E é ainda pior! Logo!

De: Alexandre Burmester - "Elites parolas"

Submetido por taf em Quarta, 2013-01-09 23:39

O Presidente da Câmara do Porto vem agora, em fim de mandato, finalmente colocar as mangas de fora e reclamar deste governo, pelas medidas que recentemente tem tomado. Nada de novo neste e nos anteriores governos, pois que esta atitude que nem é única nem é de agora. Medidas como a nova gestão do Aeroporto e o Porto de Leixões são aliás os exemplos actuais de outras que sempre pautaram a governação centralista, mas que só agora e por arrasto de outros é que vem o Rui Rio tomar posição pública. Nada que o próprio também não faça, pela sua forma reservada e tímida de agir, que se reflectiu na sua total falta de atitude noutros tempos e que se reflecte hoje na falta de importância e de capacidade de influência a que o Porto e o Norte chegou.

Contudo não posso deixar de estar a favor desta atitude, ainda mais acrescida da sua revolta pelo estrangulamento financeiro da SRU do Porto que o governo mantém, medidas estas que nem sequer são entendíveis pelo quadro de austeridade, mas mais pela estupidez governativa que tem pautado o actual estado das coisas.

Apenas fico de fora na sua indignação pela importância da manutenção a Norte do programa a “Praça da Alegria”. Muitas oportunidades já tivemos para ter até um canal televisivo regional, mas infelizmente sempre foram desacompanhadas de qualquer força política e daí apenas partilhamos esse serviço supostamente público intitulado de RTP. Mas mais particularmente porque não partilho da sua visão “cultural” e do seu entendimento sobre Cultura, porque desta RTP e deste programa especifico, e nada contribuir para outra cultura que não a dessas “elites parolas”.

De: TAF - "Comentário e algumas sugestões recebidas"

Submetido por taf em Quarta, 2013-01-09 23:38

De: Judite Maia Moura - "Escarpa do Rio Douro II"

Submetido por taf em Quarta, 2013-01-09 23:13

Continuamos o nosso percurso.

Ultrapassado “o portão”, e depois de acabado o Bairro da Agra, o rio, com todo o seu encanto, torna-se visível. Do nosso lado direito, a dureza dos suportes de betão da continuação da Ponte São João, mas, por trás deles, meio escondidos, estão os belíssimos arcos em pedra, que suportavam a continuação da Ponte D. Maria, certamente com tantos anos quantos os que ela própria tem, ou seja, a caminhar para os 150. À nossa esquerda, já com o rio à vista, ali mesmo em baixo, está a urbanização da Rua de Sabrosa, com a Calçada do Rego Lameiro passando-lhe mesmo ao lado, e esgueirando-se, logo a seguir, por baixo da nossa linha férrea. Por entre os suportes das pontes, consegue-se descer até à Calçada e, subindo-a, rapidamente chegámos à Travessa da China e, com mais um pouquinho, estaremos na Rua do Freixo.

Durante umas centenas de metros, a partir do portão, há um caminho paralelo à linha férrea, num nível ligeiramente mais elevado e ainda mais próximo dos suportes das pontes, onde se podem ver alguns vestígios de asfalto, o que nos faz crer que sejam ainda restos da Rua da China, que foi destruída na sua quase totalidade aquando da construção da Ponte de São João, altura em foi também demolido o Bairro da China, que ocupava o espaço denominado Quinta da China. Neste caminho aparece-nos, um pouco mais à frente, um túnel, à nossa direita, que também não resistimos a explorar, e que não é mais do que uma ruela que vai desembocar, também ela, na Travessa da China.

Pelo que conseguimos apurar, todo aquele terreno, conhecido como a Quinta da China, com excepção de uma única casa na Calçada do Rego Lameiro, ainda habitada, é propriedade do Grupo Mota-Engil que, depois de grande polémica, tem mesmo projecto de urbanização aprovado, desde 2008, na Câmara Municipal do Porto. Neste espaço existe, aliás, uma meia dúzia de casas pré-fabricadas; foi-nos dito por um dos moradores que, aquando da demolição do Bairro da China, lhes foi perguntado se queriam dinheiro ou uma casa no mesmo local: “Dos 34 moradores, a maior parte quis o dinheiro; entretanto… o dinheiro foi-se-lhes, e nós, que quisemos uma casa, ficámos com a casa.”. E que vista privilegiada estas casas têm! Na parte inferior da Escarpa podem ver-se umas hortinhas privadas, provavelmente cultivadas por moradores ali vizinhos.

Continuando o percurso, e logo um pouquinho mais à frente, encontramos, também do lado esquerdo, um lindíssimo palacete, que data do século XVIII. Aí viveu Aurélia de Souza, já que, no século XIX, ao regressarem da América Latina, seus pais o compraram para sua residência e onde veio a falecer, em 1960, sua irmã Sofia de Souza, também ela pintora, com 90 anos, eventualmente o último membro da família. Hoje este bonito palacete pertence à família Mota, proprietários de Mota-Engil. Pena é que, embora o portão de entrada para este palacete seja no pouco que ainda resta da Rua da China, olhando para ele pela Marginal tenha mesmo encostados ao seu terreno construções completamente em ruínas. E depois, a partir daqui, entramos na parte da Escarpa tristemente abandonada e, pior ainda, maltratada.

... Publicado também no site da AMO Portugal. Ver álbum de fotografias aqui.

De: Pedro Figueiredo - "Estátuas liberais, desastre neoliberal"

Submetido por taf em Quarta, 2013-01-09 22:34

Na Praça da Liberdade

Domingo, no Porto: a dormir ao relento, aos pés da estátua de bronze de D. Pedro IV, a cavalo no seu Liberalismo.

"Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária."
Artigo 1.º da Constituição da República Portuguesa.

Estão abertas até 4 de Fevereiro de 2013 as candidaturas à 8ª edição do Prémio Fernando Távora, um prémio anual de uma bolsa de viagem, no valor de € 6.000, aberto a todos os membros da Ordem dos Arquitectos, e atribuído à melhor proposta de viagem de investigação.

O Júri da oitava edição do Prémio é constituído pelo Professor Investigador Alexandre Quintanilha e pelos Arquitectos Jorge Figueira, Nelson Mota (nomeado pela Casa da Arquitectura), Ana Cristina Machado (em representação da OASRN) e Clemente Menéres Semide, designado pela família do Arquitecto Fernando Távora. A escolha do vencedor será divulgada em cerimónia pública a decorrer no dia 1 de Abril de 2013, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Matosinhos.

Este Prémio é organizado pela Ordem dos Arquitectos - Secção Regional Norte (OASRN) com o apoio da Câmara Municipal de Matosinhos e Associação Casa da Arquitectura, e conta com o patrocínio da AXA.

... Ler mais no site da OASRN.

Caro TAF:

Concordará que o combate à dívida foi a questão central das candidaturas do PSD e do CDS nas últimas eleições legislativas, pelo que julgo não haver qualquer exagero na referência feita à política do governo. A narrativa que foi apresentada aos eleitores não correspondia à realidade, escondia o facto das dívidas públicas de Portugal (e dos restantes países da União Europeia) ter tido um enorme crescimento após 2008 e em resultado direto das transferências de dinheiros públicos para “tapar os buracos” do setor financeiro. De acordo com os Boletins Mensais do IGCP a dívida pública portuguesa era a seguinte:

  • 101.386 milhões de euros em Dezembro de 2005
  • 108.202 milhões em 2006
  • 112.804 milhões em 2007
  • 118.462 milhões em 2008

Nos quatro anos entre 2005 e 2008, a dívida subiu 17.076 milhões de euros, um crescimento anual médio de pouco mais de 4.000 milhões de euros. Mas em 2009 a dívida pública pulou para 132.747 milhões (mais de 14.000 milhões de euros que em 2008). Em 2010 já foi 151.775 milhões (mais de 19.000 milhões que 2009) e em 2011 cresceu mais de 23.000 milhões, atingindo 174.895 milhões de euros.

Com o governo da coligação PSD/CDS-PP há um colossal crescimento da dívida pública: em Setembro de 2012 já era mais de 14.000 milhões acima da existente em Dezembro de 2011, em Outubro de 2012 atingiu 193.507 milhões de euros (18.612 milhões de euros acima do valor final de 2011) e em Novembro de 2012 tinha subido para 197.209 milhões de euros (mais de 22.000 milhões em menos de um ano, mais de seis vezes o crescimento médio anual entre 2005 e 2008). Dito doutra forma, o crescimento da dívida em dezasseis meses de governo PSD/CDS-PP (entre Julho de 2011 e Novembro de 2012) foi de 27.280 milhões de euros, mais de 1,7 mil milhões por mês, 56 milhões de euros/dia ou 2,3 milhões por hora. É um aumento brutal da dívida pública.

Quando um país obtém um empréstimo deve utilizá-lo para amortizar a dívida e para investir no melhoramento da sua capacidade produtiva, para aumentar a sua riqueza e poder cumprir mais facilmente o seu serviço de dívida. Ora o que está a acontecer não é nada disto: apesar dos 62.905 milhões de euros já recebidos do PAEF (FMI-UE) e da emissão de mais de 10.000 milhões em obrigações do tesouro (OT) e de quase 30.000 milhões de euros em bilhetes do tesouro (BT), há uma política do governo PSD/CDS-PP de forçar a quebra do PIB e, ao mesmo tempo, cessar o investimento público. Também o sistema financeiro não concede o indispensável crédito às atividades produtivas (só na região Norte, de acordo com o boletim Norte Conjuntura da CCDRN, a quebra do financiamento bancário à economia foi superior a 8% relativamente a 2011).

É este o desastre financeiro, é esta a tragédia social que se está a viver no nosso país. Por isso concordamos inteiramente com a posição de Paul Krugman (Nobel da Economia): a austeridade não é para resolver o défice e a dívida. O défice e a dívida são apenas o pretexto para desmantelar os sistemas de proteção social existentes nos países da União Europeia. Está em marcha a queda forçada dos custos da mão de obra e a aproximação ao modelo social chinês: nada de contratos coletivos, sindicatos só os que apoiem o governo, horários de entrada (mas não de saída), trabalho extra sem remuneração… Perante este desastre civilizacional todos somos chamados a defender o modelo social europeu. Ou não?

José Machado Castro