De: Judite Maia Moura - "Escarpa do Rio Douro"

Submetido por taf em Segunda, 2012-12-31 21:51

Ainda antes da cidade do Porto ter sido considerada “Melhor Destino Europeu 2012”, um grupo de Voluntários da AMO Portugal – Grupo do Porto, aqui residentes, ou não residentes mas seus amantes, tinha-se empenhado na recuperação da Escarpa do Rio Douro, entre o Largo Padre Baltazar Guedes e o fundo da Calçada das Carquejeiras (antiga Calçada da Corticeira), tendo sobretudo em vista a paisagem fabulosa que dali se avista sobre a maior parte das Pontes do Porto.

Dentro desse seu ideal começaram, já em Março 2012, a proceder à limpeza dos seus terrenos, mas consideram que isso só não chega, nem em termos de recuperação nem mesmo tendo em vista a extensão do percurso, que é, na realidade, bastante mais longo. Não serão muitos, com certeza, os que conhecem esta parte da cidade, a “Ribeira bastarda”, que deve ser a que nos proporciona, de facto, a mais esplendorosa vista no Porto, com o Rio ali mesmo à nossa frente e de onde podemos contemplar cinco das nossas seis magníficas pontes.

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(continuação)

Estamos a falar da antiga linha férrea Campanhã / Alfândega do Porto, que terá sido inaugurada em Novembro de 1888 e desactivada em Junho de 1989, podendo dizer-se, após cem anos de serviço público de grande utilidade. No entanto, como a memória e o reconhecimento são curtos, vinte e três anos passados, é total e gritante o estado de abandono a que esta via está votada.

Este ramal começava, e ainda aí se encontram os seus vestígios, mesmo junto à Moagem Ceres, nas traseiras da Estação de Campanhã, felizmente ainda existente e em boa actividade, apesar dos seus quase cem anos de existência, atravessava a Rua do Freixo, por cima de uma ponte aparentemente de baixa altura e que foi recentemente demolida, com o intuito de permitir a passagem de veículos automóveis de maior altura, tais como camiões e autocarros. Ainda hoje se podem ver as ruínas da demolição no lado esquerdo, quando se desce a Rua do Freixo, e, escondido, lá no alto, no lado direito da mesma rua, pudemos encontrar o fecho improvisado e maltratado, a que ainda se pode aceder. Mas, voltando ao que hoje será ainda possível, sugerimos uma caminhada ao longo desta linha, passando pelo meio de tudo quanto ela tem de mau, mas que pode ser recuperado, e, ao mesmo tempo, desfrutando continuamente o muito que ela tem de bom e de bonito.

À Estação de Campanhã – de comboio, de metro, de bicicleta ou mesmo a pé – qualquer um de nós pode facilmente chegar. Uma vez aí, e descendo ao acesso às plataformas dos comboios, torna-se logo e repetidamente visível a indicação “SAÍDA Provisória Rua Pinheiro de Campanhã”, que não é mais do que umas escadas normais, em cimento, mesmo ao fundo do acesso, que desembocam, de facto, na rua anunciada, mesmo em frente à Moagem Ceres. Virando para o nosso lado direito, pouco mais abaixo, existe uma passadeira de peões, onde se pode atravessar em segurança para o outro lado da rua, que tem passeio contínuo até ao fim. Chegados ao fundo da Rua Pinheiro de Campanhã, logo em frente se vê uma outra rua com armazéns de portão azul, rua esta que é privativa da REFER e que termina, ou desemboca, num caminho térreo, onde são visíveis os trilhos do comboio. Mesmo aí no entroncamento, e apenas por curiosidade, se voltarmos um pouco para trás, mas pelo caminho térreo, vamos encontrar, umas dezenas de metros adiante, e depois de atravessarmos umas hortinhas privadas, a tal segurança improvisada de quando demoliram a ponte, como foi referido anteriormente.

Mas o caminho que pretendemos mesmo seguir, ao sair da rua dos armazéns, que parece não ter nome, é ir em frente pelo caminho térreo, e com trilhos de comboio, e não tardará muito a que se aviste um grande portão, a toda a largura do caminho, que apenas se abre em situações de alguma emergência e por ordem da REFER. Esse é “o portão” que queríamos ver sempre aberto, pois, a partir daí, é que começa mesmo a Escarpa do Rio Douro.

(Continua aqui.)