2010-04-04

De: TAF - "Alguns apontadores"

Submetido por taf em Sábado, 2010-04-10 22:07

De: TAF - "Na Fundação José Rodrigues"

Submetido por taf em Sábado, 2010-04-10 03:26

Mais fotografias tiradas pela Ana aqui.

E o primeiro vídeo "oficial" d'A Baixa do Porto aqui:
:-)

De: TAF - "Alguns apontadores"

Submetido por taf em Sábado, 2010-04-10 02:47

- Debate “O Palácio de Cristal: memórias e cenários”, sugestão de Nuno Quental, hoje (Sábado), 16h30.
- Autor das esplanadas de Parada Leitão rebate críticas e insiste que são amovíveis
- Moradores do Bairro do Aleixo avançam com providência cautelar para travar demolição
- Radares da VCI não multam há dois anos
- Melhores pilotos do mundo de ralis vão exibir-se nos Aliados
- Arte Urbana no Porto
- Rui Rio empossou novos Directores Municipais
- UP: Reitor vai contestar "opinião do Tribunal de Contas"
- Casa da Música, 5 anos

- Mais garagens para "boom de moradores" - "O valor global da obra, financiada pelo QREN, ronda os 39 milhões de euros." - Eu com 39 milhões de euros conseguiria fazer uma revolução no Centro Histórico em termos de revitalização, desbloqueando e "alavancando" a iniciativa de privados! Troco bem o túnel pela gestão dos 39 milhões cash. ;-)

De: Cristina Santos - "Mais um prédio restaurado"

Submetido por taf em Sábado, 2010-04-10 02:36

Prédio na Rua Cimo de Vila


Mais um prédio restaurado ao abrigo do programa RECRIA, com 3 apartamentos e um espaço comercial. Numa zona que parece não ter, pelo menos para já, a atenção da Porto Vivo. É estranho que a Porto Vivo não intua no sentido de aproveitar as iniciativas e promover uma solução para a Rua Chã, Rua do Loureiro e a Rua Cimo de Vila, que são ruas míticas, têm oportunidades para estabelecer um comércio de proximidade e de topo, estão próximas ao Batalha, mas enfim, com ou sem Porto Vivo, interessa é cada um fazer o que for possível.

Estes apartamentos não têm estacionamento, mas são apartamentos de mobilidade, hoje ocupados por residentes habituais e por estrangeiros, amanhã por outros que se sintam cidadãos do mundo. Para habitar a Baixa há que ter um perfil próprio, em que se troca o carro pelas vistas, o cimento pela madeira, o conforto de um condomínio por preços que permitem aos jovens, principalmente aos jovens, esta vivência, este ensaio de independência rodeados de arte e cultura.

Se pretendem viver no Porto, ter lugar para estacionar, e restaurar, há pelo menos duas freguesias que satisfazem essa expectativa, Campanhã e Bonfim. Têm património, acima de tudo verde, e são freguesias desta magnífica cidade, falar-vos-ia da Areosa, mas é uma zona de prédios, não históricos, com imenso estacionamento, mas parece que é exactamente os prédios e os lugares de estacionamento que a vulgariza e retira do roteiro da atractividade, os prédios para restaurar, por muito que custe dizê-lo no meio de todo aquele betão, não têm interesse.

Um boa fim de semana, parabéns à Fundação José Rodrigues.

De: Pedro Marinho - "Mais um túnel ou a ponte para o futuro"

Submetido por taf em Sexta, 2010-04-09 17:19

Primeiro, algumas referências: Montpellier, Lyon, Liubliana, Amesterdão, Copenhaga, Estolcomo.
Estas cidades, na sua história recente, debateram-se com o problema da profusão automóvel. As ruas, viadutos, parques de estacionamento pareciam não resolver as longas filas de automóveis. Os governantes perceberam então que estavam a interpretar incorrectamente o problema e que este não se resolveria com acessos ao automóvel. Resolveram cortar o mal pela raiz: em vez de melhorar a circulação automóvel, dificultaram-na. Perceberam que a presença do automóvel tratava-se de uma intromissão ao estilo de vida característico de qualquer urbe. Começaram com ciclovias e ciclofaixas; fecharam quarteirões atrás de quarteirões ao trânsito automóvel privado, criaram zonas 30 e zonas de trânsito partilhado. Os donos dos automóveis eram responsáveis por encontrar um lugar privado onde o deixar, ou então deixavam o nome numa lista de espera para obterem um lugar perto de casa para o seu carro. Os carros que passavam na cidade pagavam uma taxa. Criaram Ss nas ruas, mini-rotundas, colocaram as passadeiras ao nível dos passeios (chama-se a isto acalmia de tráfego). Aproveitaram para colocar mais árvores, retiraram sinais de trânsito, lançaram programas de bicicletas partilhadas. Os transportes públicos ganharam poder reivindicativo sobre a urbe, aumentando a qualidade do serviço e as várias empresas operadoras foram integradas (temos o excelente exemplo do Andante). Aos poucos, os governantes e os habitantes perceberam que a cidade ganhara qualidade de vida: as pessoas saíam à rua, havia mais comércio, mais vivacidade, a economia refloresceu; a sinistralidade caiu, o ambiente melhorou. Temos bola de neve.

Foi preciso muito esforço por parte de todos, porque foi preciso mudar uma coisa que não se pode pedir à tuneladora que faça com uns milhões do QREN: mudaram-se as mentalidades. Quebraram-se ciclos. Renegaram-se paradigmas. Abraçaram-se novas oportunidades.

Quem visitou as cidades que citei, ou tantas mais por aí, ter-se-á questionado, certamente, qual a razão de serem tão tranquilas e relaxadas. Gostos à parte, nenhuma delas tem a presença ou silhueta ou carácter do Porto mas, ainda assim, que raio é que as torna tão prazenteiras? E as bicicletas passam, as pessoas ficam-se na esplanada, percorrem as múltiplas zonas comerciais nos seus fazeres e lazeres, há uma profusão multicultural, os transportes públicos bem apetrechados, filas de trânsito?, dois automóveis nos semáforos. Demorei muito tempo a perceber a resposta que estava ali à frente do meu nariz: cidade amigável ao peão; cidade amigável.

Perguntai aos governantes e ao povo que habita essas cidades se estão arrependidos da escolha feita. Se voltariam atrás, ou se continuam os projectos de melhoria dos transportes públicos e de redução ao acesso automóvel, e porque será que há tantas cidades a tomar como inspiração essa atitude. Perguntai-lhes, e perguntai a vós mesmos: afinal onde está o encanto das ruas do Porto? Será no meu automóvel? Que quero eu da minha cidade? Que quer a minha cidade de mim?

Confesso que me agrada a solução do estacionamento na parte inferior das ruas. Aliás existem muitas cidades europeias que já concretizaram essa solução. O Porto tem esse grande problema e julgo que uma solução deste género é muito interessante quer funcional quer esteticamente.

Por outro lado não me convence minimamente optar pela ideia do arquitecto Correia Fernandes em colocar o estacionamento em altura, nos edifícios históricos classificados. É uma ideia completamente absurda e já comprovada desajustada nos centros históricos. Qualquer dia e metaforizando, pelo entender do arquitecto Fernandes, vivíamos debaixo da terra e os carros estariam estacionados dentro dos nossos apartamentos. A cada dia que passa mais acho que a oposição da Câmara do Porto é muito pouco credível, cinzenta até. Foi um desprezo da Elisa Ferreira pelo Porto, foi para Bruxelas e deixou o brinde. Estes são os independentes (filiados do PS) candidatos à CMP.

Até breve,
Mariana Alves Moreira

De: Nuno Oliveira - "Pseudo-Manifestos"

Submetido por taf em Sexta, 2010-04-09 17:07

Na sequência deste post e não sendo perito em energia ou artes negras conheço uma "fonte" energética que não implica centrais nem ocupação de qualquer área, protegida ou não, que é gratuita na fonte, e que pode ser implementada imediatamente, dando "rendimentos" maiores do que várias dezenas de centrais nucleares, eólicas, barragens e afins. Tem problemas fatais: não se materializa numa "obra" que seja inaugurável por algum político, os seus efeitos são mensuráveis apenas a longo prazo (é difícil receber louros), depende da educação cívica (o eterno problema) e tem ainda o maior defeito de todos: não dá dinheiro a ganhar a ninguém. É a Eficiência e Conservação, que deveria ser o eixo estratégico de qualquer política energética no mundo. Não é em Portugal.

O recente manifesto tem a pretensão de discutir política energética mas evita convenientemente a Eficiência e diz-se (não sei) que é de iniciativa social-democrata. O actual governo reveste-se de gravitas ecológica, mas abandonou cínicamente o Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética (PNAEE), que deveria ser a base da sua actuação nesta matéria mas nunca passou de uma apresentação (típico), preferindo os responsáveis afogar comunidades rurais em barragens redundantes. Os dois maiores partidos estão portanto do mesmo lado, contra qualquer tentativa racional de discutir energia mas cada um a favor dos seus clientes predilectos, divergindo sobre a quem entregar o doce.

Deveria ser a sociedade civil a exigir esta terceira via, cujo potencial ultrapassa largamente qualquer outra solução a que (não) se refiram veladamente operações de marketing disfarçadas de manifestos altruístas.
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Nuno Oliveira

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Nota de TAF: estou em condições de esclarecer um ponto acima referido - o tal manifesto não é de iniciativa do PSD, veiculando apenas a posição pessoal dos seus subscritores. Até posso dar o exemplo de um militante do PSD que tem uma opinião bem diferente. ;-)

Graffiti


Eu até nem gosto de grafitis, mas vejam este que está a ser feito na Fundação José Rodrigues até ao dia 11 de Abril. Espectacular!
Vejam aqui outros trabalhos que estão a ser desenvolvidos neste momento.

Ana Carvalho

É cada vez mais óbvio que as barragens no Tua ou no Tâmega não são necessárias:
«O problema ibérico não é falta de centrais, mas o seu isolamento: não é uma península, é uma ilha energética, travada nos Pirinéus pelo proteccionismo francês. Há excesso de produção de água e vento na Ibéria. A EDP antecipou a descontinuação de centrais térmicas (como o Carregado), a Iberdrola desistiu da cogeração, há alturas em que todas as centrais térmicas do País estão paradas.»

É cada vez mais óbvio que a «mafia» lisboeta que vive dos fornecimentos ao Estado Central fará com que Pedro Passos Coelho substitua as apostas socráticas no TGV, NAL e TTT por centrais nucleares:
«O "Manifesto por uma Nova Política Energética em Portugal" foi apresentado ontem por Mira Amaral, que encabeça a lista. (...) É um manifesto onde o lóbi nuclear se encontra com o PSD numa sala emprestada do Instituto Superior Técnico e arregimenta alguns anti-Sócrates que passam à porta.»

E a 1ª central nuclear será no Douro.

José Silva - Norteamos

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Nota de TAF: a minha crónica de hoje no JN é precisamente sobre isto. Não acredito que Passos Coelho caia na asneira de optar por uma solução que não é racional, como explico na crónica. Se há coisa que ele tem provado é ser dotado de bom senso. ;-)

De facto antes de tudo é indispensável agradecer ao Público e à Católica por terem uma vez mais bem organizado este 7º Ciclo, onde nos foi possível sempre mais aprender com quem sabe. Quanto a esta 4ª e última – deste 7º Ciclo - gostei menos. Sendo que achei da máxima oportunidade e interesse, e por esta ordem, tudo o que foi dito pelo António Mexia e pelo Carlos Moreira da Silva – desculpem mas poupo-me a títulos, que ainda tanto por cá gostamos. Ambos disseram o que deve ser dito e de forma muito interessante. Quanto aos 2 outros intervenientes, e assumindo que o problema é gravemente meu – não gostei.

E só me permito fazer um pequeno e leve reparo ao representante da Católica! Que fazendo parte dos oradores, e estando sempre junto dos mesmos, quando o primeiro começou a falar, estava permanentemente – aquele - a olhar para a plateia e a chamar com gestos e não só as pessoas que acham sempre que não há pontualidade neste País e que estavam atrás, ao que dava para entender de pé, para virem para a frente! Não ficou bem! Não fica bem! Primeiro deve-se chegar a horas, segundo não se deve estar a distrair uma assistência - que chegou a horas - com “algo” que em nada se relaciona com quem está a falar. E estamos a falar de um Prof. da Católica! Mas… cada um faz o que quer em sua casa! E no final resumir, sem comentar, o que todos disseram, foi pouco!

Mas este 7º Ciclo foi mais uma vez muito bom, mais uma vez temos de agradecer ao Público e à Católica e esperamos mais, mais, mais. Dado que este ano temos tido muito pouco aqui no Porto.

Augusto Küttner de Magalhães

De: Vânia Castro - "A propósito do túnel para estacionamento"

Submetido por taf em Quinta, 2010-04-08 17:33

Caro Pedro Bismarck

Temo que a sua visão dos moradores da Baixa do Porto seja uma ilusão que se calhar existe na sua cabeça e na de muitas pessoas. Não lhe levo a mal, e com toda a cortesia deixe-me esclarecê-lo. Tal como o Sr. João Faria, eu vim morar para a Baixa do Porto (Ribeira) há cerca de um ano. Vim precisamente para me poder deslocar a pé para qualquer lado, para estar próxima do centro histórico e porque sou apaixonada pela cidade do Porto e entendo que só a podemos melhorar se tantos outros como eu se sintam interessados em lá morar.

No entanto, eu trabalho na Maia, e o metro não é opção, porque é de superfície e demoro uma hora para lá chegar, o que não é comportável. Desta forma, tenho de usar o carro todos os dias para me deslocar de e para o trabalho. Para além disso, é óbvio que as famílias precisam de um carro para se deslocarem por motivos de lazer e não só. Eu estaciono o meu carro todos os dias ao pé da Alfândega, esse "santuário" de estacionamento sem parquímetro. Se quiser comprar uma avença para um parque tenho de desembolsar cerca de 30€ (parque da Alfândega), sendo que nos parques subterrâneos o valor é maior. Ora, como deve saber, a maioria das famílias que vive em S. Nicolau, Miragaia e Sé infelizmente não pode pagar esses valores. E os que pensam em voltar para o Porto, se não tiverem alternativas de estacionamento para os carros, não voltarão. Ou seja, deixe-se os moradores mais pobres estacionar nos lugares sem parquímetro e criem-se opções de estacionamento para os restantes.

Penso que é sensato pensar-se em alternativas de estacionamento para fixar residentes no centro histórico, principalmente famílias. As crianças são cada vez menos, a cidade está a ficar velha. Se é em túnel, ou não, isso é outra questão que deve ser debatida pelos que percebem da matéria.

Finalmente, gostaria de deixar uma palavra de apoio à SRU que é constantemente criticada. Pode ter defeitos, mas se não fossem eles, ainda nada tinha sido feito. Eu já lá fui algumas vezes, porque gostava imenso de tentar a reabilitação de um prédio no centro histórico e fiquei muito bem impressionada. Infelizmente em Portugal toda a gente critica, mas depois não fazem nada. Os senhores que por aqui andam n'A Baixa do Porto a mandar uns "bitaites" já pensaram em investir na reabilitação da cidade? Fica a sugestão :) Para já eu ainda só mando bitaites! Mas tenho um sonho...

De: Pedro Bismarck - "Em resposta a João Faria"

Submetido por taf em Quinta, 2010-04-08 11:35

Caro João Faria,

Pode não acreditar mas estou absolutamente de acordo. Mas repare-se que, quando falo de Centro Histórico, falo do núcleo central da cidade onde este projecto se insere (Sé, Mouzinho, Flores). E não falo da Baixa em geral. A zona de Santa Catarina (por exemplo) tem outras condições para receber um tráfego automóvel mais intenso. Algo que dificilmente poderá acontecer na Rua das Flores ou na Rua da Vitória. Mas independentemente do que o carro possibilita ou não, o que eu digo é que não pode ser esse o mote para Reabilitação. É preciso diferenciar as áreas. Reter o que elas têm de característico e singular e adaptar as estratégias de intervenção. Porque senão em vez de reabilitar estamos a destruir. E isso é tudo o que a SRU não faz. É tudo igual. E tudo segundo critérios muito discutíveis. Estamos à beira de perder grandes áreas de património arquitectónico à custa de projectos de tendência suburbana, de grande escala. Para inserir carros no Centro Histórico vai ter de ser sempre ao nível da micro-escala, de pequenos projectos: sempre houve recolhas, já existem alguns parques de estacionamento, e agora há, inclusivamente, leasing de automóveis.

Não podemos simplesmente adaptar a Sé a uma lógica automóvel que nunca teve. Eu não digo que ninguém pode ter carro, eu próprio tenho carro (vendo, aliás!). Aliás, a cidade só será interessante e só será cidade nessa multiplicidade de estilos e formas de vida. O que eu digo é que essa não pode ser a única lógica de intervenção, adaptando à força um tecido urbano que tem mais de 800 anos. Tem de haver outras lógicas, outras preocupações para, de facto, transformar a cidade numa urbanidade: espaço público, parques infantis (não há um único parque infantil em toda a zona dos Clérigos, por exemplo), limpeza, segurança, benefícios para moradores ou isenção de taxas de estacionamento, equipamentos. Enfim, uma miríade de opções, possibilidades, e elas estão aí, já são utilizadas em muitas cidades.

O que este projecto quanto a mim demonstra é o equívoco de toda a acção da SRU e o processo em curso de transformar um centro histórico (e uma baixa) numa espécie de parque temático e de diversões, segundo uma lógica meramente económica (deixando de preferência fachadas com automóveis no primeiro piso) e não segundo o interesse público que ela de facto deve ter. Porque a lógica pode ser a do privado e a do mercado, mas a cidade é de todos e por isso o interesse é público. Eu quanto a mim preferiria um túnel de metro e não estar à espera mais cinco anos pela ligação São-Bento - Foz. Porque, no fim, nem eu nem vocé teremos dinheiro para pagar aqueles lugares de estacionamento, e provavelmente nem as rendas, e aí teremos os dois de sair da Baixa.

Cumprimentos,
Pedro Bismarck

Caro Pedro Bismarck,

Após ler atentamente o seu texto aqui publicado, permita-me, ao mesmo tempo que o cumprimento, discordar cordialmente. Sou morador da Baixa do Porto (moro numa perpendicular entre a Rua de Sta. Catarina e a Avenida dos Aliados) e como tantos outros moradores que conheço, apesar do estilo de vida alternativo que refere, não consigo, nem quero, abdicar da liberdade que um carro permite a uma família. Está a esquecer algumas questões básicas quando afirma o seguinte: "Porque quem quer sair de casa directamente para o carro não quer viver no Centro Histórico, irá viver em Gaia ou na Maia. [...] São pessoas que procuram estilos de vida alternativos, que não têm carro, mas que procuram um espaço activo de equipamentos públicos e actividades culturais." Permita-me perguntar-lhe: porque toma como adquirido que quem vive na Baixa do Porto não tem carro?

Por vários motivos é impossível para muitos indivíduos/famílias abdicar do carro - uma família com uma criança, um casal a trabalhar fora da cidade ou simplesmente um jovem trabalhador que necessita de visitar a família ao fim de semana - são vários os exemplos que lhe poderia dar. Mesmo vivendo no Centro Histórico, várias são as necessidades que não permitem às pessoas abdicarem, mesmo querendo, do seu automóvel. Para além disso, a falta de estacionamento adequado evita outras questões, e dou-lhe o meu exemplo. Durante um ano vi o meu carro assaltado 5 (cinco!) vezes durante a noite, à porta de casa! Não tive outra solução senão arrendar um lugar num dos vários parques privados existentes na zona e, claro, a um preço exorbitante, apenas para utilizar o carro meia dúzia de vezes por mês (vezes essas que, apesar de poucas, são indispensáveis). Esta é apenas uma das várias problemáticas de quem vive (e possui um automóvel) na Baixa do Porto.

A questão do parque subterrâneo levanta algumas questões que não vi ainda esclarecidas, entre elas os objectivos do "Túnel de Estacionamento". Continuando o raciocínio anterior, do meu ponto de vista este parque deveria ter como um dos principais objectivos o apoio aos moradores do Centro Histórico do Porto. Várias são as formas de prestar esse apoio, mas a mais lógica seria talvez a "subsidiação" do aluguer dos estacionamentos, de forma a melhorar a qualidade de vida dos residentes e, ao mesmo tempo, promover a repovoação do Centro Histórico. Só dessa forma conseguirei ver no "Túnel de Estacionamento" alguma utilidade.

Cumprimentos,
João Faria

Tendo tido a oportunidade de fazer um breve comentário nesta última sessão dedicada ao destino do Norte, na temática das pequenas e grandes empresas, há contudo uma outra questão que lá não coloquei para não monopolizar o tempo, mas que quero deixar aqui expressa, possa algum decisor passar os olhos por ela.

Há uma necessidade de captação de valor pelas empresas da região, que é mais gritante ao nível das pequenas empresas e que decorre da sua incapacidade negocial por dificuldades actuais de tesouraria. Na última entrevista que fiz no Bloco de Notas da RTV ao Prof. Eng.º João Ribeiro, investigador universitário, foi possível perceber que há quem venda os seus produtos ao exterior a um décimo do preço final colocado depois pelo seu cliente, por esta dificuldade de sobrevivência e de desenvolvimento. As autoridades nacionais deveriam pensar seriamente na intervenção no capital destas empresas de forma a dotá-las de condições de competitividade e de captação de maior valor, com isso aumentando a produtividade - em valor, que é a que interessa - e potenciando o próprio investimento feito.

Será que o Estado não pode até depois ganhar dinheiro com as intervenções financeiras que faz, "privatizando depois essa aplicação" e com isso agilizar o que depois nos vem exigir em termos de impostos? Seria uma forma de atribuição de incentivos bem mais simples e proveitosa. Ou, em alternativa, uma oportunidade de negócio também para as Grandes Empresas, dotando-se de Fundos de Capital próprios específicos para intervir nessas pequenas empresas, sendo sempre de menor risco para o sector financeiro intervir por este canal de intermediação, em mais uma estratégia "win-win".

José Ferraz Alves

De: Pedro Bismarck - "A cidade que está lá dentro"

Submetido por taf em Quinta, 2010-04-08 00:32

Os últimos projectos promovidos pela SRU e pela CMP, bem como a minha experiência quotidiana e diária pela Baixa, colocam-me num estado galopante de crescente cepticismo.

Conceber um túnel-estacionamento de cerca de 1 km, para além de megalómano e pouco credível, é partir de um equívoco que tem conduzido, aliás, toda a acção da SRU. Porque propor um sistema totalmente suburbano (onde eu estaciono o meu carro e entro directamente em casa) é ignorar o sentido específico do Centro Histórico, é ignorar as razões que lhe dão a sua consistência e o seu valor. É ignorar o sentido elementar e as possibilidades da urbe: porque quem vem para o Centro Histórico não quer ter carro, irá vendê-lo, irá aproveitar as possibilidades do espaço público, da marginal na Ribeira e do comércio em Santa Catarina.

O equívoco da SRU está em querer construir uma outra cidade. Não quer o Porto, não usa o material disponível, os meios existentes, a escala da Cidade. Quer a classe alta onde ela nunca esteve, com os seus carros estacionados à porta (ou mesmo dentro de casa: ver o caso da reabilitação proposta para a Rua Mouzinho da Silveira). Quer as reabilitações quarteirão-a-quarteirão no seu Shopping Center Style, porque assim é que é rentável e porque assim é que é a lei do mercado. Mas esquece-se que ao construir nessa grande escala de intervenção está a ir contra a cidade que quer reabilitar. Porque o Centro Histórico é micro-escala, é pequena intervenção, é estrato sobre estrato, é história e património, é único e é singular. E essa é a marca da sua diferença: ser in-vulgar. Não basta importar estratégias suburbanas, é precisar re-construir a partir dessa sua singularidade, porque então arriscamo-nos a destruir aquilo que queríamos salvar, e para isso que se deixe tudo como está e se faça tudo mais lentamente, mas com menos fogo-de-artifício. Porque falamos de muitos séculos de história, porque falamos de um potencial turístico, e de um potencial de vida e de urbe, que se arrisca a desaparecer. E isso também acarreta custos - económicos, históricos, sociais. Reabilitar é caro, reabilitar bem é ainda mais. Mas o valor de uma recuperação cuidada cresce no tempo, traz mais-valias, enquanto a má intervenção traz custos acrescidos, de manutenção, de perda irreparável do carácter da cidade. Dizem que a intervenção tem de ser apoiada nos privados, muito bem, de acordo, mas se o Túnel pode ser objecto de comparticipação do QREN, porque não pode sê-lo a reabilitação do próprio edificado? Quantas casas poderiam ser reabilitadas com o dinheiro utilizado na construção desse túnel?

Mas aquilo que ainda assim me deixa mais céptico, não são estas manobras de marketing, é a insistência neste modelo de Reabilitação. Porque quem quer sair de casa directamente para o carro não quer viver no Centro Histórico, irá viver em Gaia ou na Maia. Porque a classe alta não vai deixar a Foz, nem que esse túnel desemboque directamente na Praça do Império. Porque quem quer viver no Centro Histórico, como em todas as cidades da Europa, são pessoas que procuram a singularidade única do Centro, a sua diferença face à suburbanidade homogeneizada. São pessoas que procuram estilos de vida alternativos, que não têm carro, mas que procuram um espaço activo de equipamentos públicos e actividades culturais. Procuram a presença de estrangeiros e o contacto com o comércio e com associações. E isso é que é ser cosmopolita, e isso é que é ser cidadão. Não é essa palermice de vir sair à noite à Baixa entre as 00h e as 04h, porque é a moda, beber e urinar nas ruas, estacionando selvaticamente, sem saber sequer o nome das ruas onde se está.

Não somos cosmopolitas, mas temos uma cidade com um potencial imenso, com uma singularidade única. Para ser cosmopolita é preciso também estar no mundo, ver o mundo - viajar. E é isso que falta aos diversos elementos que compõe o executivo da SRU e da CMP: viajar, reconhecer cidades, conhecer estratégias urbanas. Sair do Porto. Porque é isso que advém de todos estes recentes projectos: um misto de provincianismo naif ao serviço de uma lógica de mercado pouco esclarecida. (veja-se: esplanadas do Piolho, Praça do Moinho de Vento (CMP); quarteirão Sá da Bandeira, Praça Carlos Alberto, Cardosas, Praça de Lisboa, etc...) Faltam critérios para esta reabilitação, critérios claros, específicos - económicos, claro, mas também arquitectónicos, sociais,... Falta discutir esses critérios, falta discutir projectos. Faltam as entidades públicas e as instituições privadas. Falta o poder político e as entidades académicas. Faltam obviamente os arquitectos. Mas faltamos todos nós ainda.

Só nesse debate poderemos encontrar uma plataforma de critérios que possam orientar uma reabilitação: urbana e credível, pública e cosmopolita. E só nesse debate poderemos evitar esse perigo, absolutamente paradoxal mas iminente, da suburbanização do Centro e da homogeneização e vulgarização da Baixa. E para isso não me basta a Time Out para me dizer que posso ir a Serralves e passear na Baixa (muito obrigado, mas já conheço). É preciso sim, antes de mais, procurar os mecanismos para a reabilitação desse debate e dessa discussão. Transformar o Porto num espaço urbano qualificado e não num parque temático de diversões aberto das 22h-04h aos fins de semana.

Pedro Bismarck

De: TAF - "Sugestões e apontadores"

Submetido por taf em Quarta, 2010-04-07 22:39

De: Carlos Cidrais - "Time Out Porto esgota"

Submetido por taf em Quarta, 2010-04-07 22:16

Dando seguimento às notícias que enviei para A Baixa do Porto, aqui fica a confirmação de que o primeiro número da Time Out Porto esgotou e se prepara a reedição.

Por coincidência estive em Portugal na Páscoa, pude comprar um exemplar e confirmo a excelente qualidade da edição. Lendo esta notícia não posso deixar de me congratular com a adesão ao projecto da parte dos portuenses (e não só), que deixa a entender que a vida cultural da nossa cidade não só está vibrante, como existe uma massa crítica de pessoas interessadas já bem apreciável.

Cumprimentos,
Carlos Cidrais

De: Augusto Küttner de Magalhães - "Olhares Cruzados sobre o Porto"

Submetido por taf em Terça, 2010-04-06 23:55

Amanhã teremos a última sessão deste – mais um muito interessante e necessário – 7º Ciclo de Conferências na Católica organizado com a colaboração do Público: Olhares Cruzados sobre o Porto. Têm sido bons momentos e por certo amanhã será mais uma noite em que todos iremos aprender mais “qualquer coisinha”, desta a uma 4ª feira e não à 5ª feira. Numa altura em que pouco se faz desta espécie de conferências, vale a pena aproveitar as – poucas - que ainda se fazem. Parabéns ao Público e à Católica!

Augusto Küttner de Magalhães

De: José Ferraz Alves - "Ponte de Mondim e o Tâmega"

Submetido por taf em Terça, 2010-04-06 23:51

Ponte e rio  Ponte e rio


Para se ter uma ideia do impacto que a Barragem do Fridão terá sobre o Vale do Tâmega, o que se vê será submerso. O nosso único bem comum é a natureza. Podemos construir uma barragem na Foz do Tejo e alagar o Mosteiro de Jerónimos, que o que o homem construiu pode reconstruir. Com a natureza não é assim. Quem está de facto a gerir os recursos hídricos do País, privados ou o Estado? Quem são de facto os fundamentalistas deste país? Há vinte e dois anos que trabalho na Área Financeira e estou indignado com este atentado à vida das pessoas destas regiões. O país tem particularidades muito específicas. Estão a querer destruir o "Algarve" desta gente do Tâmega, o seu espaço de lazer e férias. Muitos nem sequer foram ainda a Lisboa...

Onde estão os líderes desta região?

José Ferraz Alves

PS: Caro José Silva, sendo sempre muito positiva a racionalidade nesta e outras questões, sobretudo de uma forma sempre tão segura e assertiva, presumo que o questionar a opção energética da EDP terá agora novos passos junto do seu corpo accionista. Como não sou investidor em acções da EDP, limito-me a poder seguir o caminho do bem público, que esse também é meu. Diferentes caminhos num mesmo sentido. Talvez a diferença

De: José Silva - "A barragem do Tua deve/tem de ser adiada"

Submetido por taf em Terça, 2010-04-06 15:04

Como referi há meses atrás, o romantismo ferroviário não salvará o Tua. Deve-se combater a(s) barragem(ns) propriamente dita(s) e não as consequências ferroviárias das barragens. O melhor mesmo é pegar nas palavras de António Mexia:

«O que se passa é que este foi o Inverno mais chuvoso das últimas décadas, acompanhado de muito vento. Houve também uma queda da procura em 2009, o que faz com que o lado térmico (carvão e gás) trabalhasse menos. O mercado ibérico investiu para um crescimento da procura que não se verificou. Até que se dê essa absorção, tem conjunturalmente excesso de capacidade

Tal como ocorreu no colapso da bolha tecnológica dos anos 2000, onde os investimentos em telecomunicações demoraram anos a serem usados/rentabilizados, se é que o foram, também estamos a viver uma bolha de investimentos em energias renováveis. O «conjunturalmente» de António Mexia é obviamente de médio e longo prazo. Portanto há excesso de capacidade instalada na produção de energia e a aposta na renovável é questionável. A barragem do Tua deve/tem de ser adiada.

José Silva - Norteamos

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