De: TAF - "Centro Histórico e associativismo"
Ontem à noite participei numa reunião do grupo comunitário "Nós no Centro" realizada no Salão D. António, no Barredo. É uma estrutura informal aberta a pessoas do Centro Histórico que queiram colaborar em trabalho comunitário. Este grupo organizou recentemente as várias iniciativas que decorreram na semana da Sra. do Ó, que relatei parcialmente aqui no blog, e irá manter actividades permanentes de acordo com a vontade e disponibilidade dos seus membros. A reunião foi muito participada e muito emotiva, e no final revelou-se provavelmente a mais positiva, esclarecedora e até cordial de todas aquelas em que participei. A propósito disso quero fazer alguns comentários.
Por que é que eu tenho actividade no "Nós no Centro"? Por que é que insisto, por exemplo, na fusão de freguesias do Centro Histórico no âmbito do PSD, partido do qual sou militante? Por que é que sou sócio e membro dos órgãos sociais da recém-criada Associação Infante D. Henrique? Etc., etc.? A razão principal é que vim morar com a minha mulher para o Centro Histórico e quero defender os meus interesses e os dela (e também os da nossa gata, já agora. :-) ). Ou seja, o meu objectivo não é defender os outros habitantes do Centro Histórico nem muito menos representá-los. O que acho é que os meus interesses são compatíveis com os dos meus novos vizinhos, e que temos todos muito a beneficiar de trabalhar em conjunto.
Impressiona-me a quantidade de instituições que actuam no Centro Histórico com o objectivo de ajudar... Além dos 5 centros sociais, há várias estruturas da Câmara, das juntas de freguesia, inúmeras associações e grupos, a Porto Vivo. A Segurança Social, o Ministério da Educação e as 4 paróquias apoiam projectos e pessoas. A Santa Casa da Misericórdia do Porto e a Fundação da Juventude estão aqui sedeadas. E mais, muitas mais. Todas elas certamente cheias de boas intenções e em grande parte geridas por gente de fora de Centro Histórico. Em termos de estruturas destas por número de habitantes, deve ser difícil encontrar maior densidade no país! Lamentavelmente, ao fim de tantos décadas de "crise" no Centro Histórico, nem elas conseguiram fazer com que se ultrapassasse a crise nem, diga-se com frontalidade, os próprios habitantes foram capazes de resolver os seus problemas. Queixam-se eles de que foram sistematicamente enganados, afastados daqui, desprezados. É verdade. Mas também é verdade que não foram capazes de se libertar dessa ilusão dos apoios alheios. Tanta ajuda externa e interna acabou por ser contraproducente, pois destruiu a autonomia e capacidade de iniciativa dos naturais do Centro Histórico. Queixam-se por vezes de que "não são convidados" para esta iniciativa ou para aquela. Como se houvesse alguém que os devesse tutelar! Não temos de esperar por convites, temos é de trabalhar com os nossos próprios recursos em função dos nossos interesses, avançando sem depender de ninguém.
Contudo, a situação não é irreversível e os sinais que observo são muito animadores. Aliás a crise, que agora é nacional e mundial, teve efeitos secundários benéficos: constatando que o dinheiro acabou, já não temos dúvidas de que vamos ter de ser nós a resolver os nossos problemas, sem esperar por apoios estatais ou outros. Como novo habitante do Centro Histórico, tal como muitos outros que têm vindo para cá residir ou trabalhar nos últimos anos, espero poder dar o meu contributo para desenvolver esta zona. Pelos menos um indicador dá enorme esperança: o relacionamento dos "novos" com os "antigos" tem sido muito harmonioso e produtivo. Mas de qualquer modo o meu interesse pelo Centro Histórico não é de agora.