De: António Alves - "Port of Call: Douro"
Agora está na moda o Cluster do Mar. Ainda bem que assim é. Existe um pequeno livrinho, editado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos e escrito por Tiago Pitta e Cunha, cuja leitura recomendo como obra introdutória ao assunto embora aqui ou ali sofra da tradicional miopia centralista de quem vive em Lisboa e pensa o país apenas a partir de lá. Mas isso é a minha opinião. Subjectiva e discutível, como sempre.
Ora bem, um dos sectores desse Cluster é o Turismo Marítimo. Esta Região tem agora dois activos importantes que deve promover e rentabilizar neste campo: a nova Barra do Douro e o novo Terminal de Cruzeiros de Leixões. Este último ainda em construção.
A indústria dos cruzeiros marítimos tem tido um grande desenvolvimento nos últimos anos. Navios de grande porte e capacidade para mais de três mil passageiros têm sido construídos por várias companhias. Estes navios, baixando os custos fixos por passageiro, têm permitido a massificação e a democratização deste tipo de viagens. Devemos entender esta “democratização” de modo relativo. Na realidade, estes turistas são ainda pessoas com um muito bom poder de compra. E isso é uma vantagem: muitos e com dinheiro. Os outros, os verdadeiramente ricos, habituados a viver normalmente no luxo, começam a fugir destes luxuosos gigantes do mar. A oferta de luxos e divertimentos, que tanto fascina a classe média, já não os atrai a eles que procuram outro tipo de experiências e navios, bastante mais pequenos, onde possam em viagem criar interacções próximas com os outros passageiros e inclusivamente com parte da tripulação.
Se o novo terminal de cruzeiros de Leixões vem colmatar a lacuna existente para podermos receber os grandes navios, o Douro, agora com o acesso facilitado e muito mais seguro, pode beneficiar da exposição internacional que Leixões trará e constituir-se como um excelente “Port of Call” para este segmento mais rico que prefere navios de pequeno e médio porte que, por esse motivo, possam escalar o Porto do Douro. Só na Península Itálica é que se poderá na Europa encontrar uma paisagem urbana oferecida a partir da coberta de um navio como aquela que o Porto pode oferecer. Uma outra potencialidade é a captação do tráfego marítimo de recreio que circula entre o Norte da Europa e o Mediterrâneo, nomeadamente o dos iates de luxo. Eu já há alguns anos me referi aqui a essa potencialidade (O Vieux Port, o Douro e os Stones). Por essa razão assusto-me sempre um bocado quando se fala em construir novas pontes entre Porto e Gaia principalmente à cota baixa. O acesso à Ribeira de navios altos, como por exemplo Tall Ships, deve ser preservado.
Aqui há dias escrevi sobre como transformar a Praça na montra do que melhor se faz no Porto e Norte de Portugal. Na passada sexta-feira dia 1 de Julho a rota aérea Porto–Luanda foi inaugurada. Os primeiros voos têm sido um sucesso. Muitos angolanos ricos podem agora vir directamente de Luanda ao Porto para passar um fim-de-semana ou um curto período de férias. Quem puder que aproveite. :-)