De: António Alves - "O Vieux Port, o Douro e os Stones"

Submetido por taf em Terça, 2006-08-15 00:23

1- Esta notícia do JN fez-me lembrar Marselha - cidade que tive a oportunidade de visitar há dois anos atrás - e comparar o que lá vi com o Douro, no seu troço final, defronte da nossa cidade. Ao contrário do bulício do velho porto marselhês, sempre cheio de embarcações de recreio que convivem alegremente com as traineiras dos pescadores marselheses, o Douro, descontando as embarcações dos cruzeiros no rio, vive numa eterna calmaria.

Marselha

O Vieux Port marselhês, enseada natural de média dimensão, serviu de porto marítimo à cidade desde tempos imemoriais. Foi, naturalmente, tornado obsoleto pelo grande porto comercial (o maior de França) construído a oeste da cidade e capaz de receber os gigantescos navios mercantes e de passageiros que hoje cruzam os oceanos. Obsoleto para o grande tráfego de mercadorias mas não inútil e desaproveitado, o Vieux Port, além de porto de abrigo dos pescadores do Mediterrâneo, é hoje um movimentado porto para embarcações de recreio desde os mais minúsculos veleiros aos gigantescos e milionários super-iates. O movimento de entradas e saídas de embarcações que se pode observar num dia de Verão e o colorido mercado de peixe que se desenrola em plena rua são atracções em si mesmas.

Douro

O cenário de postal ilustrado oferecido pelo rio Douro, desde a barra até à Ribeira, serviu também, tal como enseada marselhesa, de porto comercial à cidade desde tempos imemoriais e foi tornado obsoleto pela construção, escassas milhas a norte, do Porto de Leixões. Mas terminam aqui as semelhanças: ao contrário do Vieux Port marselhês, o velho Porto do Douro encontra-se subaproveitado. Tirando a florescente navegação fluvial turística dos cruzeiros no Douro, os barquitos de pesca da Afurada e os poucos navios mercantes que sobem o rio para receberam cargas de granito, são escassas as embarcações que vencem a barra e sobem o Douro. Não se pretende acabar com a poética tranquilidade que as margens do Douro nos oferecem, mas um recurso como este pode deve e merece ser melhor aproveitado. As economias local, regional e nacional beneficiariam com tal desiderato.

Agora que está para breve o fim da construção dos molhes de protecção, que tornarão mais fácil e seguro vencer a Barra do Douro, é urgente pensar na construção duma grande Marina para a navegação de recreio oceânica que seja atractiva para o tráfego que do norte da Europa demanda o sul. Deverá estar equipada com todas as valências que a tornem capaz de receber desde pequenos veleiros aos grandes iates particulares. Devem evitar-se também a construção de quaisquer obstáculos à navegação como pontes pedonais à cota baixa. O turismo é uma actividade económica que, para países como Portugal, não pode ser negligenciada. O Porto, com recursos inigualáveis, por maioria de razão não o poderá nunca fazer.

A marca “Porto” é internacionalmente conotada com qualidade. Essa qualidade é-lhe dada há séculos pelo vinho que lhe transporta o nome, e actualmente por Serralves, pela conhecidíssima escola de arquitectura e até pelo F.C. Porto com as suas vitórias internacionais. Prova disso é a VICRI, marca de roupa para homem que veste personalidades como Tony Blair, Bill Clinton, Robbie Williams e alguns príncipes árabes, inscrever nas suas etiquetas “made in Porto” e não “made in Portugal” porque vende muito mais evitando conotar-se com a marca “Portugal” que infelizmente ainda é sinónimo de pouca qualidade.

Marca de qualidade temos, só é preciso saber vendê-la. Para isso precisamos de dirigentes com visão alargada e cosmopolita, capazes de perspectivar o futuro e juntar as sinergias necessárias para levar por diante projectos desta envergadura. Precisamos também de mais empresários como Mário Ferreira, o grande impulsionador do turismo no Douro.

2- Sábado passado aconteceu no Porto o maior espectáculo multimédia a que a cidade já assistiu. Refiro-me naturalmente ao concerto dos míticos Rolling Stones. Neste momento convém reflectir e regozijarmo-nos pelo facto de Rui Rio ainda não estar no poder municipal na época em que se projectou o Estádio do Dragão e a sua envolvente. Caso estivesse, talvez a cidade tivesse sido impedida de se encontrar dotada de um equipamento de elevada qualidade técnica e arquitectónica que possibilitou a montagem do maior palco jamais visto em Portugal. As dezenas de milhar de visitantes, portugueses e estrangeiros, levaram com certeza uma boa imagem do que viram.

Rolling Stones

António Alves