De: TAF - "Os nossos gestores"
Caro Frederico Torre
Compreendo alguns dos seus argumentos, mas de outros discordo profundamente, principalmente porque se baseiam em pressupostos a meu ver errados. Tanto que não resisto a escrever já, com prejuízo do trabalho que tenho pendente... Mas terá de ser de forma telegráfica.
1) Quem disse que os gestores bem pagos, em Portugal, são bons? Há certamente alguns bons, mas muitos deles são só bem pagos. Quer exemplos? Armando Vara, Rui Pedro Soares, José Oliveira e Costa, ... Mais: alguns deles até poderão ser tecnicamente bons em alguns aspectos, mas muito maus em termos de respeito pela missão da empresa (especialmente se for pública) que estão a gerir, ou da ética do comportamento. Mais exemplos: RTP (que percentagem da programação é realmente serviço público?), Refer (elevadíssima eficácia a fechar linhas e desbaratar património), EDP (brutalmente endividada, barragem do Tua), PT (ao longo de anos e anos violando as regras mais básicas da concorrência, com a cumplicidade do regulador), ...
2) Quem disse que não há bons gestores entre os funcionários públicos "mal pagos"? Será realmente possível que, entre os milhares e milhares de funcionários que o Estado tem, não haja um punhado de gente capaz de substituir, com competência e quiçá vantagem, as "estrelas" pagas a peso de ouro? Se calhar a real desvantagem desta gente competente é precisamente a de ser séria e discreta, de não procurar a fama e o reconhecimento social, de se comportar com decência e humildade no desenvolvimento da sua carreira. Atribuam-se-lhes responsabilidades, avaliem-se convenientemente, dê-se-lhes um salário bom qb. (ao nível de um ministro), e veremos se há ou não resultados.
3) É ou não é verdade que em Portugal muitos salários no sector público são superiores aos equivalentes no sector privado?
4) É ou não é verdade que em Portugal as remunerações dos gestores de topo são invulgarmente altas em comparação internacional, mais ainda atendendo ao custo de vida em Portugal, e muito mais ainda em comparação com o salário médio das pessoas sob as suas ordens? (Tenho por exemplo a ideia de ter lido que Horta Osório recebe como líder de um dos mais importantes bancos do mundo menos do que receberia se estivesse a presidir ao BCP - mas não posso garantir que esta informação esteja correcta.)
5) Não percebi um do seus argumentos. Afinal os gestores públicos portugueses bem pagos são bons, ou são "ineficientes, mentirosos, corruptos, incapazes, perdem dinheiro, só contratam amigos e compadrios"?
6) O ponto de degradação a que as empresas públicas chegaram não foi certamente pelo facto de os seus lugares de gestão serem mal pagos, e portanto sem atractividade para os bons profissionais. Entre outros factores, houve muita incompetência. Não foi o bom salário que resolveu o problema.
7) Em muitas grandes empresas nacionais, onde se pagam bons salários, os problemas vão surgir infelizmente em breve. Os bancos são "candidatos naturais" por razões como esta que expliquei aqui.
8) Em Democracia o exercício do poder é feito em representação do povo. Acabemos com os partidos, com o Parlamento, com a eleição de representantes, e não sobra nada da Democracia. Não é o que defendo.
PS: Nem de propósito - Gestores da empresa pública que gere os meios aéreos recebem mais de seis mil euros mensais - veja-se o desplante de Vasco Franco, como se fosse imprescindível uma empresa pública para este efeito. Como se percebe, os responsáveis por tudo isto têm nome, são conhecidos, neste e noutros casos. É bom que se torne público.
PS2: Mais "boa gestão", versão centralista (quanto ganham estes directores?) - RTP N perde direcção independente e é integrada na RTP - Eu gostava era de ver os gestores passarem a empresários e a arriscar dinheiro seu. ;-)