De: Frederico Torre - "Prémios no Metro"
Caro Pedro Figueiredo,
Umas perguntas relativamente aos primeiros pontos do seu post "Rui Rio tem toda a razão"... Sabe quanto ganha qualquer analista / consultor / auditor / financeiro / gestor médio de uma empresa em Portugal? E um director? E um administrador? Ofereça-lhes 40000 euros/ano para qualquer trabalho que seja e veja quantos aceitam! Certamente compreende que o mercado de trabalho é concorrencial e consideravelmente móvel. Ou seja, os melhores trabalhadores vão procurar trabalho nos lugares onde lhes paguem melhor. Ou possam gerar mais valor e com isso mais riqueza para si. Em Portugal ou no estrangeiro. E em todos os escalões sociais.
Como espera atrair as melhores pessoas para cargos públicos (no Metro, na CGD, na CP, nas finanças, no Governo, para Primeiro Ministro ou Presidente da República) se não está disposto a pagar o mesmo salário que qualquer empresa privada lhes paga por um cargo com responsabilidades similares? Pensando bem, com responsabilidades certamente muito menores já que nenhuma empresa privada gere 47% do PIB nacional como o Governo... E tem o poder de afectar 100% de tudo o que fazemos em cada uma das 24 horas do dia. Qualquer administrador de uma empresa de grande dimensão (Em Portugal ou qualquer outro país) recebe certamente 10 vezes mais que o Presidente ou Primeiro Ministro. Sem precisar de ser o Warren Buffet ou o Bill Gates. Com toda a honestidade, julgo que qualquer pessoa relativamente bem sucedida numa grande empresa nacional recebe o mesmo que o PM pouco depois dos 30 anos. Ou ainda mais cedo se as coisas lhes correrem bem. Como pode esperar que essa pessoa depois deixe tudo para ir ser gestor para o sector público? Onde vai ser chamado de corrupto ainda antes da sua primeira decisão? Onde vai ter de responder a uma série de "fazedores de opinião" que na maior parte dos casos não têm a mais pequena ideia do que é um balanço, como se faz uma ponte ou se gere um hospital?
Depois não se pode admirar que os políticos e administradores públicos sejam ineficientes, mentirosos, corruptos, incapazes, percam dinheiro, só contratem amigos e compadrios. Porque afinal aqueles que acabam por chegar lá são os melhores (e por vezes nem isso) dentro dos piores. O mínimo denominador comum. Os que não conseguem nada melhor e na política encontram um sítio que lhes pede pouco ou nada de currículo e experiência. Em muitos casos, nem sequer de inteligência. E não me diga por favor que estão lá por amor ao serviço público e ao país... Já há muito poucos desses, e duvido que algum deles consiga chegar sequer a secretário de estado porque todo o sistema está dominado pelos outros. Os que se querem aproveitar de todos nós para enriquecer sem se cansar muito, sem preocupações de moral. Certamente por culpa nossa também, que gostamos de mandar vir mas não estamos para nos chatear muito a pedir-lhes contas do que fazem.
Faço-lhe uma proposta... Para as próximas eleições ofereça de salário a toda a equipa governativa o mesmo que receberam em média nos últimos cinco anos, isto durante todo o período que estejam ao serviço do Estado e sem necessidade de qualquer benefício vitalício. Permita que qualquer pessoa capaz de juntar uma equipa de certa dimensão, e não apenas aqueles apoiados por uma maquina partidária, possam candidatar-se ao posto de Primeiro Ministro.
Acabe com as campanhas eleitorais cheias de cartazes populistas, frases feitas, e visitas de freguesia em freguesia e sente todos os candidatos num estúdio de televisão público todas as noites para apresentar os seus projectos e debater durante duas semanas, cada dia sobre um tópico diferente: educação, segurança, economia, justiça, defesa, relações internacionais, saúde, infra-estruturas, etc.. Acabe com as recandidaturas e imponha mandatos únicos de 5 ou 6 anos. Acabe com um parlamento de gente eleita que ninguém conhece ou votou, terceiras e quartas filas de partidos que procuram apenas colocar amigos, e substitua-os por um senado de figuras da nação, apartidárias, especializadas em diferentes áreas, com carreiras provadas e valor criado para o país, propostas pelos seus pares e eleitas por todos nós para mandatos de longa duração.
Tem alguma dúvida que íamos acabar muito melhor governados que o desgoverno que temos agora? E que o que tivemos nos últimos 10 ou 20 anos? Uma ideia louca eu sei. Mas um pouco de loucura nunca fez mal a ninguém.
Frederico Torre