De: Nuno Quental - "Re: aos problemas sociais..."

Submetido por taf em Sexta, 2009-10-30 16:06

Pedro, gostei do seu texto e aprecio a compaixão pelos outros que exprime. Acho que concordo com grande parte do que disse. A nossa discordância é mais no modo de encarar as coisas, talvez. Eu por "deformação" profissional tenho dificuldade em pensar os problemas sem um objectivo ou sem magicar possíveis soluções. Talvez seja ingénuo, mas é a vida.

Portanto, e embora claro que concorde que os problemas sociais agravam a criminalidade (e isso tem sido muito evidente cá em Portugal desde que "começou" a crise), a resposta da sociedade não deve ser a de tolerar esses problemas mas sim combater as suas raízes. É aí que nos devemos todos empenhar em primeiro lugar. Interpretou pois mal o que quis dizer com "porque hei-de eu, ou o Pedro, pagar pelos problemas dos outros?". Eu não quero cair no politicamente correcto, Pedro. O que eu quero dizer é muito simples: eu quero empenhar-me na resolução dos problemas dos outros, e de todos, mas não aceito que se vinguem em mim! Isso seria uma dupla injustiça.

O mesmo se aplica ao texto do David Afonso, com o qual também estou de acordo, mas repito: eu escolhi viver no Porto, e acho que tenho direito a uma cidade limpa! Como disse o Tiago Azevedo Fernandes, compactuar com os "sintomas" sem os combater directamente só vai estimular mais pessoas a abandonarem a cidade. Infelizmente não há soluções miraculosas para os problemas, também penso que é preciso intervir com inteligência nas diversas frentes, mas a frente mais "repressiva" - ou "educativa à força" (talvez assim passe melhor...) - não deve ser descurada.

Depois sinto que há uma dose de exagero em certos argumentos. Também há vandalismo em cidades cheias de vida, embora haja certamente menos. E não há crime económico praticado por pessoas com dinheiro mas sem escrúpulos? E corrupção? E pessoas educadas que passam nos sinais vermelhos colocando os outros em risco? Digo isto apenas para chamar a atenção de que a educação não resolve tudo. A mudança ao nível da cidadania creio que é mais um ciclo positivo alimentado pela educação mas também por legislação, por exemplo, que estimula novos hábitos que depois se tornam rotina, etc. etc. (Veja-se o exemplo da lei do tabaco.)

Às vezes sinto que no subconsciente há quem acredite na teoria do bom selvagem de Rousseau...

Abraços
Nuno Quental