De: Carlos Teixeira - "Acerca de: «Olhem que não...»"
F. Rocha Antunes escreve, e bem, acerca da justificação da procura de espaço comercial baseada no preço. O factor preço do metro quadrado é realmente condicionante da prática comercial mas não é, por si, impedimento à força empreendedora e desafiadora do mercado.
A análise que descrevo cinge-se simplesmente à capacidade que o comerciante médio tem de inovar - falo dos já existentes na área referida, a de Sta. Catarina, Batalha, Sá da Bandeira, Av. dos Aliados, Trindade, Clérigos, etc. - e que não me parece ser característica visível.
Pensando que um centro comercial pratica alugueres de muito maior custo e que, ainda assim, a massa criada pela aglomeração de lojas permite não só a sobrevivência conjunta mas também o aumento do volume de negócios [o caso da Av. da República é paradigmático dado o conceito ECI ser diferente do centro comercial "normal" e influir positivamente no restante comércio circundante], porque não é tal prática utilizável numa rua ou área geográfica circundante?
Creio que o principal impecilho ao desenvolvimento da área de Sta. Catarina e circundantes é o marasmo em que os lojistas se detiveram e a falta de apoio específico das entidades relacionadas. Daí o meu apontamento acerca da falta de um grupo de pressão eficaz que permita a negociação de bonificações básicas como as que se concedem à abertura de determinados espaços.
É evidente que tais bonificações sugerem contrapartidas: a visível adopção de estratégias de dinamização da área e a manutenção do espaço, por exemplo, entre outras. Remeto esta ideia para a imagem do que se passa em ruas de Milão, Paris, Amsterdão, entre outras, ruas que chegam a ser "telhadas" originando um espaço fechado mas não claustrofóbico, isto é, uma clara delimitação de um terreno que se identifica de imediato com a actividade comercial e que atrai milhares de visitas diárias.
Todos teriam a ganhar com isso.
Reportando-me ainda ao "Acerca da Baixa do Porto?", devo acrescentar ainda que não é, de todo, da minha preferência a situação da Boavista. Creio que a actividade comercial se predispõe muito mais à Baixa do Porto. A Boavista, embora possuidora de um excelente interface de transportes públicos [o melhor da área metropolitana], não me parece "prendada" para este tipo de actividade. É mais zona de passagem que outra coisa. Tenho a impressão que transformar a área [leva tempo, muito...] num misto de pólo cultural e "Wall Street" seria muito mais eficaz [...este delira! (eu sei, eu sei...)], mantendo a área interessante para a prática do lazer mediante a manutenção eficaz dos espaços verdes, zona histórica, palácios e ligações ao rio.
Por fim, quero apenas fazer um reparo a uma das ideias que F. Rocha Antunes apresenta, a da diferença entre espaço de lazer e espaço comercial. São conceitos cada vez menos diferenciados. Não é o facto de existir um cinema ou não que influi, directamente, na afluência de público. Se assim fosse, estava Sta. Catarina muito bem com o Batalha reaberto e as restantes casas na área, Rivoli, T.N. S. João... e por aí fora.
É um facto que o "cidadão comum" cada vez tem menos disponibilidade de tempo e dinheiro para os espectáculos e nem sequer é incentivado a tal. Resta-lhe ver montras, montras bonitas, com coisas bonitas [e de preferência baratas] em ambiente saudável, atraente e acolhedor. Chamativo.
É disso que falo.
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Cumprimentos,
Carlos José Teixeira