De: F. Rocha Antunes - "Olhem que não..."

Submetido por taf em Quinta, 2006-07-13 19:52

Meus Caros Paulo Espinha e Carlos Teixeira

A realidade comercial não confirma aquilo que aqui escreveram. Como sabem, o comércio a retalho é uma actividade fortemente profissionalizada a nível internacional. E felizmente também em Portugal o comércio a retalho é cada vez mais aquele que está em mercado aberto e concorrencial e cada vez menos aquele que se esconde atrás de qualquer associação local para sobreviver (sintomática a prioridade da Casa do Comércio, para a reforma…)

Hoje as marcas portuguesas e não portuguesas competem abertamente entre si e há inúmeros exemplos de marcas portuguesas que conseguem competir em mercados externos e de marcas externas que têm sucesso em todo o mundo e, por via disso, cá. Marcas tradicionais que sabem evoluir, algumas do Porto, como a Leitaria da Quinta do Paço, a Padaria Ribeiro e os Chocolates Arcádia são exemplos disso.

Um dos problemas que temos é a de existir um excesso de ideias feitas que, por terem sido verdade nalgum momento, passam a certezas duradouras quando a realidade, felizmente dinâmica, as torna obsoletas. Uma dessa ideias é a de que a Boavista, nomeadamente a Rotunda, é muito mais atraente para o comércio a retalho que a Rua de Santa Catarina. O que está completamente errado.

Há várias empresas internacionais especializadas na mediação desses espaços que actuam no Porto, embora a partir do escritório de Lisboa há muitos anos. Através de visitas regulares sistemáticas acompanham, loja a loja, a evolução das principais artérias comerciais do Porto, sendo responsáveis pela maioria das transacções que foram efectuadas. E o que publicam há anos é que o valor do espaço comercial de loja de rés-do-chão, para uma área padronizada de 100 m², é de 63 euros por mês na Rua de Santa Catarina e de 35 euros por mês na Boavista. Quase o dobro, portanto. E não me parece que sejam os lojistas portugueses e estrangeiros que estão presentes às dezenas nos últimos anos que estejam enganados. Reparem que são transacções que foram sendo feitas ao longo dos últimos anos, desde que o Via Catarina abriu.

O Corte Inglês é um formato comercial importante que, como disse em tempos, poderia perfeitamente ter ficado na Trindade em cima do cruzamento das linhas de Metro. Mas não é sequer o formato comercial nem mais actual nem mais competitivo no mercado português. E como ainda por cima não tem cinemas não poderá ser um pólo de lazer, apenas de comércio.

Vale a pena olhar para a realidade. E actualizar as nossas ideias pré-concebidas.

Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário