De: Daniel Rodrigues - "Jornalismo..."
«Ricardo Fonseca argumentou que "um shuttle [vaivém] na Boavista não fazia sentido". (...) Não foi o factor financeiro que pesou mais na escolha (a opção Campo Alegre é só ligeiramente mais barata), mas antes uma mistura de razões, das quais se destaca a facto de a zona beneficiada ter um carácter mais residencial e incluir bairros sociais, como o da Pasteleira, com população com poucos recursos. Já a Boavista é uma área mais focada nos serviços, lembrou o presidente da Comissão Executiva, que é também presidente do Conselho de Administração. A opção tomada tem outras vantagens, vincou o responsável: é mais rápida, provoca menos problemas no trânsito rodoviário, serve dois pólos universitários (Campo Alegre e Universidade Católica) e permite a requalificação urbana da Rua Diogo Botelho.»
Destas afirmações contundentes, gostaria de pedir os seguintes esclarecimentos:
- - O que significa um "shuttle" na Boavista? Julguei que o que estava previsto era uma linha de metro com diversas paragens.
- - Como é possível que uma linha mais longa, mais disruptiva no tráfego, com mais paragens e sem um canal preparado fique mais barata?
- - Há mais pessoas com movimentos pendulares nos bairros sociais e residenciais do que em zonas de serviços? (Julgava que as pessoas queriam ir de casa para o trabalho e zonas de lazer, e não circular entre zonas residenciais).
- - A linha do Campo Alegre é mais rápida? Provoca menos problemas no trânsito rodoviário?
- - O pólo Universitário do Campo Alegre e a Galiza não ficariam servidos com a 2.ª linha radial para Gaia, que serviria igualmente zonas populacionais bem mais densas que qualquer bairro social do Porto?
Dito isto, concordo que provavelmente uma linha no Campo Alegre tem muitas vantagens sobre a linha da Boavista e pode até fazer mais sentido. Mas não é com areia para os olhos que lá chegamos... E isto cheira-me a nada mais do que isso. E perde-se a oportunidade de avançar para uma efectiva integração de Gaia e Porto, atirando as linhas mais essenciais e necessárias para as calendas gregas. É preciso não esquecer que 50% da força de trabalho no Porto vem da "Margem Sul".
Entretanto, enquanto uns caciques locais bajulam o Governo e Rui Rio abre guerra aberta ao ministério das Obras Públicas, quem atira areia para os olhos vai prosseguindo na sua senda triunfal. Lamento mais este triste episódio, e que o Grande Porto esteja mais uma vez ao sabor do vento.
Cumprimentos,
Daniel Rodrigues
PS: E que pena não pensar numa perspectiva de transportes integrada e aproveitar um canal de Leixões para colocar comboios (e não metro) a fazer a "circunvalação" do Porto, como o António Alves brilhantemente defendeu. A intermodalidade é uma palavra apenas muito boa no papel... Aproveitava-se para duplicar a linha de Leixões, ter capacidade de circulação de mercadorias aumentada e um canal onde podíamos receber os Pendulares em route para o Aeroporto enquanto o resto do país e o sr. Ministro se deliciam e deslumbram com TGV's. O Norte agradecia...
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Nota de TAF: Caro Daniel, o custo da Linha da Boavista vem em grande parte da necessidade de obras para reconfiguração do trânsito nas ruas adjacentes (ver por exemplo estes posts de 2005 e especialmente esta análise de Alexandre Burmester). No Campo Alegre, sendo a linha enterrada, esse problema não se coloca.