De: Pedro Lessa - "Ainda a propósito de subsídios"
Tenho a opinião de que relativamente a subsídios, mais vale não contar com eles. Por mais paradoxal que isto possa parecer, o efeito torna-se perverso. Supostamente são para ajudar mas só afundam um projecto. Seja pela burocracia, seja pelo surreal dos procedimentos ou então já na parte final, quando aprovados, nunca chegam ou o programa é cancelado. Portanto, quando penso em novos projectos, à partida todo e qualquer subsídio é posto de parte nos meus planos. E é por isso, caro David A. que o Urbcom e Modcom tiverem uma taxa de adesão modesta. Os que tiveram conhecimento (e devem ter sido poucos porque a divulgação foi mínima) com certeza que desistiram de se candidatar tal a carga de trabalhos a que se iriam sujeitar.
Também eu tenho uma "estória" vivida (se calhar temos muitos), quando iniciei o meu projecto. Na altura, há cerca de 8 anos, havia um programa de apoio à modernização do comércio do eixo Mouzinho/Flores, penso que inserido num Urbcom. Reparei no entusiamo da funcionária da Associação de Comerciantes que me atendeu, porque segundo a sua explicação, praticamente ninguém se tinha candidatado. O meu processo foi recusado porque a área contemplada parava no Largo de S. Domingos e no meu caso, devido ao local dobrar a esquina para a Rua Ferreira Borges, não estava abrangido (explicação dada textualmente pelo Ministério). Ao questionar o insólito com a A. Comerciantes, apenas recebi um encolher de ombros, como que a dizer estarem de mãos atadas. Mesmo depois de explicar todo o processo no Cruarb da altura, a incrédulidade foi total, passando para a indignação por saberem que estes projectos são avaliados, em Lisboa, pelo Ministério do Comércio, olhando para uma planta de localização. É evidente que a descontextualização geográfica é grosseira.
Eliminando os subsídios, só resta como tem vindo a expor o Tiago, os apoios privados ao empreendedorismo social. Só que, aqui, penso que não será com os empresários que lá se chegará. Um empresário quando aplica o seu dinheiro espera sempre ter algum retorno. Por isso não arrisca. E daí existir a tal falta de visão estratégica dos gestores e investidores com que se indigna o Tiago. É que é mesmo assim, esta visão não existe em Portugal. Mas existem minúsculas excepções. A famosa estilista madeirense que anda agora nas bocas do mundo, em início de carreira teve um apoio que se não o tivesse ainda andaria pelo Funchal com certeza. Mas teve um empresario que lhe deu o empurrão para o salto para o continente, que teve a tal visão estratégica. Mas por ter tal visão sempre o considerei mais sul africano do que português. Sim, esse tal, que a título gratuito cede o seu espólio artístico para o mortal do cidadão ter acesso num museu público. Pois é, mais uma vez, a tal visão estratégica. Basta só quantificar a exposição mediática que teve em todo o processo de negociação com o Ministério da Cultura.
Cumprimentos,
Pedro Lessa.
pedrolessa@a2mais.com