De: TAF - "Os «encravamentos» da região"
Caro Pedro, quando eu escrevo sobre determinado assunto tento sempre focar aquilo que conheço melhor, de preferência ilustrado por algo com o qual tenha experiência directa. De “conceitos abstractos” está o Porto cansado… ;-) Por isso aqui vão algumas notas adicionais, para que se perceba melhor quais os “encravamentos” da região, a razão por que as coisas não funcionam, os males que provocam os nossos atrasos. É que, se estamos atrasados, há algo realmente errado connosco.
1) É normal, inevitável e até saudável que as oportunidades profissionais não sejam iguais em todo o lado. Se alguém, por hipótese, quiser dedicar-se à Literatura Árabe é compreensível que em Portugal não encontre grandes hipóteses de trabalho. Ou, se passarmos para áreas tecnológicas, é compreensível que a tecnologia aero-espacial tenha mais relevo em Toulouse do que em Moimenta da Beira. :-)
2) O que eu não quero são “atalhos”! Um dos nossos principais problemas, como o Francisco bem referiu, são precisamente os “atalhos”. O que eu gostaria é que houvesse, nas poucas oportunidades que existem, uma visão mais saudável por parte dos gestores – se isso é desejável nos privados, é um dever essencial nos públicos.
3) Quando uma região está “encravada”, no sentido de que a economia não se desenvolve como devia, seria de esperar que os detentores de capital ou de capacidade de decisão tentassem reunir as pessoas que poderiam dar algum contributo para inverter a situação, para com elas desenvolverem projectos interessantes e viáveis. Ora isso não está a acontecer. O cenário do Porto é a prova cabal disso mesmo. Dou aqui e aqui inúmeros exemplos de actividades que seriam importantes para o Porto mas que, por mais que se tente, não conseguem um enquadramento que as torne viáveis.
4) Em Portugal, e especialmente no Norte, não se compreende verdadeiramente o que é “capital de risco”. Em bem tento explicar… ;-)
5) As “estratégias menos directas” que refere são as que eu agora estou a tentar: obter capital ou emprego no estrangeiro, já que cá parece impossível.
PS: Esqueci-me de dizer que as dificuldades que tenho encontrado quanto a projectos de investimento nunca foram de "pouco interesse numa perspectiva de retorno de investimento". Pelo contrário, o interesse nesse aspecto tem sido grande, mas o que falta é vontade ou capacidade de assumir o risco que os projectos de facto implicam. Enquanto o investidor não consegue uma "prova" de que vai ganhar dinheiro, não arrisca nada. Mesmo nada, por pouco que seja. Por isso é que continuo a afirmar que não há cá capital-semente. Mas o caso é até mais complexo, abrangendo situações que não são de "capital de risco", como a reabilitação urbana demonstra.