De: José Silva - "Razões para optimismo moderado"
Caro Rocha Antunes,
Não conhecia o seu texto, que é muito bom. Efectivamente, não é apenas o diabólico modelo de desenvolvimento de Lisboa, por Drenagem de actividade económica, recursos, pessoas, empresas do resto de Portugal, o responsável pelos nossos males. Nem apenas o Neo-liberalismo (não confundir com liberalismo clássico), que é uma expressão manipulatória para resumir a imposição pelos sectores económicos de mercado interno sedeados em Lisboa (obras públicas, comunicações energia, project finance, gestão central de águas e saneamento, estradas e auto-estradas, serviços de advocacia e consultoria ao Estado, etc.), de margens e impostos elevados aos restantes contribuintes, consumidores e PMEs dos restantes sectores do resto do país, tudo isto com a ajuda do Estado Central. Também nós, residentes no Porto ou Norte, temos culpa no cartório:
- - A fusão da gestão das autarquias poderia ser já implementada tal como funciona a Servibanca (unidade de outsourcing interno instalada em D.João I) dentro do grupo BCP;
- - A rede de Metro podia ter sido melhor desenhada;
- - O ramal de Leixões poderia ser aproveitado para passageiros;
- - A ACP poderia apostar no upgrade da «sua» linha do Douro com os seus efeitos logístico-turísticos em vez de ignorá-la misteriosamente;
- - Os partidos políticos de poder poderiam produzir mais reflexão do que os blogues;
- - A sociedade civil poderia dar mais atenção a todos estes temas do que ao futebol;
- - Rio poderia ter construído a sua carreira política sem sacrificar a defesa dos legítimos interesses dos portuenses, como acabou por fazer;
- - O empreendedorismo social que o Tiago tantas vezes refere e que está à distância de um clique num Paypal;
- - Etc.
Portanto, o mal é mesmo difuso e fragmentado. Mas uma verdade é notória: os problemas a Norte precedem o mau-estar. Como alguém já disse, esta psicanálise colectiva que a sociedade a Norte faz em blogues, debates e conferências de «Sexo de Anjos», mesmo com más interpretações ou julgamentos, tem mesmo um efeito positivo. Tudo se torna mais óbvio. Daqui nasce luz, esclarecimento, responsabilidade, exigência, aumento de expectativas, participação, interesse, democracia, liderança. O Porto e o Norte reencontram-se com o seu papel histórico em Portugal.
Este alargamento da compreensão dos problemas é essencial e precede qualquer transformação. Como já escrevi aqui, só precisamos de esperar uns 3 ou 4 anos para que a Internet fragmente o modelo de Comunicação Social actual. Nessa altura a força colectiva que a Blogosfera representa, da qual A Baixa do Porto tem já uma réplica não meramente imitadora, mas por emergência dos mesmos problemas, chamada Avenida Central, passará para a televisão da nossa sala de estar e chegará às massas. Os residentes que não emigrarem para Lisboa nem para Europa encontrarão finalmente palco para conduzirem o nosso próprio desenvolvimento.
Caros leitores da Baixa do Porto e Norteamos,
Recordo-me de um post na Baixa do Porto da Cristina Santos sobre o facto do JN não representar as necessidades de informação da região. Como o JN mudou entretanto e como a NTV renasceu! Sou do tempo em que expor a dupla ética Lisboa/Norte ou Lisboa resto do país, me fariam parecer um marciano com aspecto tenebroso. Como também isto mudou. Portanto, face ao caminho que se percorreu, ao ponto em que estamos e às perspectivas existentes, só há razões para optimismo moderado.
José Silva - Norteamos