De: F. Rocha Antunes - "É a economia que tem culpa?"
Caro Hélder
Com o avançar da idade corremos o risco de nos repetirmos, mas hoje vou fazê-lo deliberadamente, vou transcrever aqui parte substancial do que em tempos disse sobre aquilo que aparece como uma crítica à racionalidade económica do investimento privado. Tal como o teatro e o hábito de ir ao cinema, o investimento e o mercado se ressentem de uma visão paroquial. Aqui vai:
"Nós temos a escala necessária para nos afirmarmos economicamente numa Europa cada vez mais de regiões. O que falta mesmo é políticos que não tenham uma visão paroquial.
Já alguém questionou o custo, em empregos, de termos uma Junta Metropolitana que mais parece um defunto político, ou as intermináveis guerras pessoais com que os principais presidentes de câmara desgastam o seu tempo?
Ninguém relaciona o impacto na economia do campeonato da asneira em que se envolvem? Numa altura em que é por demais evidente que se devia juntar o Porto, Matosinhos e Gaia ou, em alternativa, criar uma verdadeira Área Metropolitana do Noroeste (que tem o mérito de não ter o nome de nenhuma das paróquias) para se conseguir articular coisas simples como a qualidade da educação, a criação de empresas, o urbanismo, os transportes públicos, o saneamento, a segurança pública, as universidades, a investigação, a saúde?
Continuamos a achar normal que se invista em piscinas olímpicas em freguesias vizinhas de um mesmo concelho, que não haja um único mapa em inglês (nem em português) sobre a região, que todas as sugestões da API sejam encaradas como palpites e não como urgências, que não se publiquem estatísticas actualizadas sobre os dados relevantes de qualquer sector, que se percam oportunidades de criação de um sector de audiovisual regional centrado na NTV, que não se valorize a instalação de empresas de serviços qualificadas, só para falar das que me vieram agora à cabeça.
Nada disto implica mais investimento público, o que implica é que se vislumbre uma qualquer estratégia a 10 anos, com a introdução de regras de mercado aberto que valorize a criação de empresas competitivas em vez do interminável compadrio, que apenas ocupa alguns e apodrece tudo.
Será que ninguém percebe que por cada cunha que é aceite se está a mandar um quadro qualificado para Lisboa? Que a mania de querer dar emprego aos compadres e seus infindáveis afilhados se afastam sistematicamente os mais capazes? Que não há região que resista a regras destas? Que é às Câmaras que cabia dar o exemplo de transparência?
Este blogue nasceu de uma das raras experiências que foram feitas de discussão pública de um Plano Director Municipal, levadas a cabo pelo então Vereador Ricardo Figueiredo. Foi só dar uma oportunidade séria e transparente para que as pessoas se manifestassem e a adesão foi enorme. As sugestões apareceram e ninguém duvide que o PDM foi muito melhorado. O que se aprendeu com isto? Nada. Mesmo a C.M.P. recuou no seu próprio precedente. Em vez de termos todas as Câmaras da região a ser empurradas para este tipo de abertura, fecharam-se todos em copas mais uma vez. Felizes por acharem que afinal, o segredo sempre voltou a ser a alma do negócio.
O impacto da mobilização, da abertura e da transparência foi completamente negligenciado. Ainda não perceberam que o mercado imobiliário, como todos os outros, só ganha com essa abertura e transparência. Ou ainda não perceberam porque é que o investimento estrangeiro não entra na região? Acham que é por falta de mercado? Claro que é o resultado destas atitudes que dão uma opacidade a este mercado superior à do Rio Douro em dias de descarga maior dos esgotos na ribeira.
Mas não há nada que lhes dê mais gozo que as caneladas que vão dando uns aos outros. Enquanto afundam a economia e a região. É o resultado de pensarem poucochinho. E nós deixamos. Dessa responsabilidade não podemos fugir."
Escrito em aqui no blogue em 5 de Novembro de 2004 com o título: "Pensar poucochinho". Não está muito desactualizado.
Francisco Rocha Antunes
liberal assumido