De: Pedro Lessa - "Ruído no ar"

Submetido por taf em Sábado, 2008-02-16 13:07

Caro Tiago,

Concordo, na essência, com os 10 pontos que enumerou. Permita-me apenas que nestes 3 últimos diga o seguinte:

1. Sendo o concurso de 1992 e respectivo projecto de execução de 1998, é natural que o projecto anterior sofreria alterações (falo de questões técnicas). Com a classificação de interesse público de 2006 e a confirmação agora pelo edital, muita coisa mudou. Estamos a mais de uma década de diferença. Por outro lado, na altura o processo surgiu de um Concurso Público sem qualquer estudo imobiliário (julgo), ao contrário da situação actual. Funções e intenções não foram escalpelizadas. Parece-me que a situação correcta será a de agora, como muito bem nos tem vindo a esclarecer e a formar ao longo destes últimos tempos o estimado Francisco (estamos sempre a aprender).

2. Concordo igualmente que grandes escadas rolantes, estacionamentos, etc. seriam perfeitamente dispensáveis, indo de encontro às ideias de requalificação urbana desejáveis. Penso, no entanto, que as obras não se poderiam circunscrever a limpezas e pinturas. O Mercado tem problemas estruturais muito graves, que ainda ninguém falou (espero que ninguém fale pelos piores motivos), facilmente comprováveis no local a olho nu, que quando os vi muito me impressionou como aquilo ainda se segura. Não se esqueçam que o Mercado foi erguido em cima de terrenos movediços. Aliás, o Mercado tem este nome porque lá existia uma grande bolha de água.

3. Perfeitamente de acordo. Quando será que os políticos percebem que devem pedir para planear as cidades, à semelhança do que se faz lá fora. Temos o bom exemplo de Miguel Bombarda mas falta o resto. Madrid, por exemplo, tem as ofertas perfeitamente definidas, cinemas em certas zonas, livrarias também, comércio noutras e por aí fora. Em Genebra existe um plano a definir onde podem ser abertos espaços comerciais. Para defesa precisamente desses espaços. Evita-se assim que existam lojas devolutas por toda a cidade. Que melhor exemplo do que os dos shoppings, restauração toda junta, artigo de criança noutro, etc etc.

Para concluir, não critico o procedimento deste concurso ganho pela TCN. O Mercado precisa de mudar. Critico o que aqueles senhores querem lá fazer. Mas afinal, o que propõe a proposta ganhadora? Porque ninguém percebe o que foi ganho no concurso. Nem eles mesmo, porque ainda estão a definir o que se lá fará. E também não percebo aqueles que dizem que se está a comparar erradamente um projecto imobiliário com um de arquitectura. Está-se a comparar um conjunto de intenções da TCN com o projecto de arquitectura que é o único instrumento programático da altura que se conhece (julgo eu). Ninguém anda a comparar se as lojas exteriores ficam interiores, se mudam paredes, se a cor é a ideal ou os caixilhos são desapropriados.

Cumprimentos,
Pedro Lessa
pedrolessa@a2mais.com