De: Carlos Manta Oliveira - "Os mercados"
Caros leitores d'A Baixa do Porto
Sei que este não é um meio de serem colocadas perguntas e repostas, mas desculpem-me por sentir ser oportuno submeter algumas correcções.
Sneha Kumar acusou-me de falta de bom senso e de falar sobre um projecto que não tinha visto. Só se pode tratar de lapso ou de uma distracção, pois tanto quanto me lembro fui o primeiro a referir neste meio o Arquitecto Massena, promotor da manifestação contra a "pseudo-demolição". Mais que isso, inclusivamente citei trechos desse mesmo site para expressar como vejo poucas diferenças. De resto só tenho de concordar, e de repetir que tenho muito pena de não ter podido estar presente nas sessões e debates promovidos. Mas parto do princípio que se tenha tratado de uma distracção. Junto-me ao apelo de mais moderação de Francisco Rocha Antunes para que não se deixe resvalar uma troca de opiniões e argumentos (cada um tem o direito a ter os seus) numa troca de insultos, insinuações e ataque pessoais.
Por mera coincidência estive em Dordrecht em Novembro de 2007, e se alguém tiver curiosidade posso descrever perfeitamente esse espaço, que repito achei fantástico. Longe de mim saber na altura que seria a mesma equipa a projectar para o Bolhão. Para aqueles que se arrepiam, posso garantir que se podem arrepiar muito mais com a cinzenta Avenida dos Aliados ou Terreiro de Estacionamento da Cordoaria. De resto o IGESPAR já confirmou tratar-se de um edifício protegido, e a TCN já confirmou estar em reuniões com o IGESPAR e vir a seguir as indicações para a elaboração do projecto de arquitectura. Em vez de lançar esboços entretanto abandonados como se se tratassem de imagens novas, valeria a pena referir o que está descrito nesse caderno de encargos (que eu desconheço) ou as difereças para a proposta rival da TCN à altura, salvo erro da Mota-Engil.
Acho no mínimo curioso que as perspectivas de o Mercado Ferreira Borges ser transformado num palco de concertos de rock, ou de a Praça de Lisboa vir a albergar uma das maiores livrarias do país, em frente a um ex-libris da cidade, e uma das 10 mais bonitas do mundo, justamente promovido por uma empresa, a BragaParques, cuja reputação é para mim bem distante da TCN (confesso nunca ter ouvido falar da TCN antes desta "bolha", mas a BragaParques é-me muito conhecida), não levantarem nenhuma objecção nem "movimentos" semelhantes aos do Bolhão. Estes "erros" não justificariam toda e qualquer solução para o Mercado do Bolhão, mas uma vez que o interesse arquitectónio e patrimonial está defendido pelo IGESPAR, e a associação de comerciantes do Bolhão está satisfeita com as garantias que lhes foram dadas, é difícil de compreender a dimensão das críticas.
Poderá dizer-se que há sempre a vantagem de o Bolhão ter voltado às páginas dos jornais, sem ser em época de eleições. E de muitos portuenses de repente terem reparado que o Mercado do Bolhão existe. A eventual retirada do supermercado do projecto para o Bolhão a meu ver é mais fruto do excesso de oferta na redondeza (três supermercados), mas poderá argumentar-se resultar destes movimentos. Tenho imensa pena que o trabalho do Arquitecto Massena acabe na gaveta, e compreendo a vontade em fazer o "filho nascer". Mas isso não implica que seja a melhor solução para a cidade.
Já vivi em Londres, Manchester, Zurique e Munique. Em nenhuma das cidades frequentei mercados, o Covent Garden já não é um mercado, é um lugar onde há bares e restaurantes, e lojas com flores e prendas, junto dos grandes teatros onde há peças e musicais. Nunca vivi em Paris, não conheço o Les Halles, mas tenho noção que o Bolhão é algo único, mas decrépito, e que precisa de lufada de ar fresco para sobreviver, de forma sustentada.