De: Carlos Manta Oliveira - "Desbaralhar antes de agir"

Submetido por taf em Segunda, 2008-01-28 15:59

Fiquei um pouco baralhado com a mensagem de Rita Cardoso. O que a CMP aprovou para o Mercado do Bolhão foi um projecto de arquitectura, ou uma cedência comercial do espaço por 50 anos, com a garantia de renovar o edifício e o compromisso de oferecer lugar comercial ou postos de emprego aos actuais lojistas? Fiquei baralhado.

Não assisti à sessão no Ateneu Comercial, mas tanto quanto sei qualquer obra da TCN para o Mercado do Bolhão precisa ainda de ver submetido um projecto de arquitectura, e a aprovação das diversas entidades responsáveis, nomeadamente o IPPAR (agora IGESPAR). Conforme referiu Rocha Antunes neste fórum. Como se pode comparar um esboço, ou uma declaração de intenções financeiras com um documento técnico? Fico baralhado.

A FAUP fez os estudos para o concurso de 1992, e fez parte do júri desse concurso? Esse concurso data de há 16 anos atrás? Confesso que não conheço os detalhes, mas fico baralhado com a informação. Contudo julgo que se tratou de um concurso de arquitectura, e não de um projecto de viabilização financeira da estrutura, estou enganado? Personalidades como Siza Vieira fizeram parte desse concurso? Bem, até fico com arrepios então. Se o projecto vencedor do concurso fizer do Bolhão o que fizeram à Avenida dos Aliados venham daí os esboços da TCN. Em relação à preservação da imagem e identidade cultural da cidade, enfim, mais valia ter outras personalidades no júri um pouco mais abonatórias.

Tenho muito pena de não ter estado presente no Ateneu Comercial, pois o Projecto de Joaquim Massena prevê, e passo a citar:

"Acrescenta a galeria intermédia (por razões estruturais e de estabilização das paredes periféricas), para espaços comerciais, não alimentares,"
"Retira, todos os equipamentos das fachadas;
"Acrescenta, elevadores e escadas rolantes para uma cómoda mobilidade dos Visitantes e Comerciantes;"
"Acrescenta, em cave e subcave um parque de estacionamento para o visitantes e residentes e armazéns com câmara de frio para armazenamento dos produtos alimentares."

Sem conhecer o projecto, e admitindo a minha ignorância em termos de arquitectura, fico baralhado. Se se retirar todos os elementos da fachada, se se construir dois pisos subterrâneos, se se instalarem escadas rolantes e elevadores, e se se acrescentar galeria para espaços comerciais não alimentares, o que resta do mercado?

Como em qualquer contenda, há sempre argumentos das duas facções. Agora as suas declarações:

A demolição do Bolhão tem de ser travada! Já todos sabemos que o programa da SRU é especulativo e o projecto da TCN corresponde inevitavelmente a essa especulação."
"Depois de tanto esclarecimento ao longo destas 3 semanas, cabe-nos agir e não baralhar! O Bolhão vai ser demolido! Vamos agir para travar este acto!"

só me vêm mostrar que de facto as últimas 3 semanas só vieram contribuir para a confusão generalizada. Por um lado, por não ser produzida infomação. Pelo outro lado, pela manipulação feita à escassa informação disponível. O certo é que o concurso público foi aberto em 2006 e o vencedor anunciado em Dezembro de 2007. É importante agir, até porque o mercado está muito degradado. É importante informar, porque a informação é extremamente escassa. Eu se calhar até não acho má ideias o escalonamento que a Ordem dos Arquitectos atribui às duas importâncias. Primeiro informar, esclarecer, depois sim agir.

Outro facto para mim extremamente relevante é que a "A Associação de Comerciantes do Bolhão, pela voz de Alcino Sousa, deu, pelo contrário, os "parabéns" à câmara pela solução acordada com a TCN" segundo esta notícia do Público. Além disso, o IPPAR (agora IGESPAR) já deu perfeitamente provas, conforma aconteceu no Túnel de Ceuta, de não ceder aos interesses de nenhum executivo camarário, e de lutar intransigentemente pela preservação do Património. E ainda bem que assim é! Por esse motivo eu entendo que apelos contra a "Demolição do Bolhão" só possam resultar ou de pressupostos baseados em informações baralhadas, ou de má fé. Prefiro acreditar na primeira e apelar à informação que hoje é extraordinarimente insuficiente e muito necessária.

Melhores Cumprimentos,
Carlos Oliveira