De: F. Rocha Antunes - "As trocas"
Caro Rui Encarnação
Não duvido que é pela iniciativa individual e empresarial que o Porto vai e tem de dar a volta. E não posso estar mais de acordo com os exemplos que deu. Já não concordo quando diz que a iniciativa da SRU se limita a esventrar quarteirões sem critério. Primeiro, isso é impossível: vivemos num pais ainda com leis e a maioria esmagadora da área de intervenção da SRU está tutelada pelo IPPAR e não vejo que esse organismo alguma vez alinhasse numa coisa dessas. Segundo, e ainda mais importante, nunca ouvi a ninguém da SRU que, recorde-se, tem técnicos qualificadíssimos na área da protecção do património, defender tal coisa.
A mim o que me importa é que exista a prioridade política de reabilitar a Baixa, seja este ou outro o presidente da Câmara. Considero que o modelo anterior, o da reabilitação física do edificado com capitais públicos com manutenção integral da situação social pre-existente falhou, quer porque os recursos públicos não são infinitos (já se começa a perceber que o dinheiro não cai do céu e que afinal somos nós que o pagamos) quer porque não se conseguirá sustentar indefinidamente uma situação social complicada se ao mesmo tempo não se proceder a uma regeneração forte do tecido social através da atracção e mistura de novos moradores.
Se através da SRU se criarem condições para atrair novos moradores para o Centro Histórico, misturando-os e integrando-os com os já existentes, estar-se-á a resolver duradouramente o problema. Se persistirmos na manutenção de uma lógica de excepção e assistencialista podemos adiar para outro dia o fim do apoio financeiro, mas esse dia inevitavelmente chegará, porque o dinheiro não é ilimitado. Agora, quando não há dinheiro, não vale a pena choramingar a sua falta. Foi nesse sentido que falei em choramingar.
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário
PS – Joana da Cunha Barros, peço-lhe que leia outra vez o que escrevi e repare que tive sempre o cuidado de manifestar o meu respeito por quem trabalhou na FDZHP e nunca me referi ao seu protesto como choraminguice nem perda de tempo. Disse apenas que é legítimo a qualquer executivo camarário escolher os instrumentos que acredita serem os melhores para cumprir a sua política. Garanto-lhe que eu, que também sou um orgulhoso morador no centro histórico que é património da humanidade, não o confundo com nenhuma outra parte da cidade, nem o troco por nada. Ao contrário de tantos dos meus vizinhos, eu moro no centro histórico porque assim o quis.