De: Alexandre Burmester - "Vistas curtas II, ou apenas Redutoras"
Realmente concordo com o nosso leitor assíduo, Vereador Lino Ferreira, porque ainda não temos conhecimento da versão final aprovada em reunião de Câmara. Conheço pelo menos 3 versões do Projecto, em que em todas enferma dos mesmos erros, e que foram já por diversas vezes apontados. Aguarda-se esta versão final, para naturalmente podermos fazer uma análise mais rigorosa, e naturalmente com sugestões construtivas. Pena é que o debate podia ter começado antes, e o período de discussão pública apanha um tempo de férias, o que não permite que se tenha muita calma para tratar do assunto. Assim sugeria que se pudesse alargar esse período, como já sugeriu o F. Rocha Antunes.
A via Nun`Alvares é uma necessidade que ninguém refuta, e apenas o que se pretende é poder vir a ter uma discussão pública séria e profissional. Não há nem deverá haver aqui qualquer interpretação de confrontos, políticos ou pessoais, mas apenas aqueles que sejam de ordem urbana, e na qual acredito que todos os envolvidos apenas pretendam o melhor para a cidade.
Contudo sei que a largura da via mantém os 37 metros, e foi apenas sobre esse assunto que me pronunciei. Parece que este é o único assunto no qual o Plano tem trazido as pessoas a alguma discussão. Sem dúvida que é um dos factores fracturantes e pouco contributivos para a Freguesia, mas nem é o único, nem mesmo o pior. Basta perceber que a largura da via poderá ter diferentes desenhos, sejam com a introdução de canteiros centrais, como alguém já sugeriu, sejam outros. Outras razões apresenta este Plano para que em nada contribua para a requalificação desta área mas, na devida altura e na posse dos documentos actualizados, se fará a devida análise e sugestões.
Ainda sobre a largura das vias, e sobre a falta do “conhecimento dos factos”, passo a esclarecer, mesmo que o Porto em nada se assemelhe quer com Lisboa, Barcelona, Munique, ou outra cidade das referidas, e em que as avenidas referidas como por exemplo as “Novas” de Lisboa, e outras, encontram-se em zonas centrais e em áreas de prédios multifuncionais em nada se enquadram com o local de Nevogilde e as suas características:
- Barcelona:
- - Av. Diagonal – largura = 43metros x 10 Kms de comprimento e com duas placas ajardinadas;
- - Rambla Catalunha – largura 27 metros;
- Lisboa – Avenidas Novas:
- - Av. Almirante Reis – largura 25 metros x 1.700 metros;
- - Gago Coutinho – largura 34 metros x 2.500 metros e com separador central;
- - Av. João XXI – largura 30 metros x 1.300 metros.
Finalmente para responder a perguntas, que naturalmente em nada ofendem, venho esclarecer que a Via em questão teve a sua origem no Plano Auzelle, com o intuito de ligação do Porto de Leixões à Alfândega, tema sem qualquer sentido nos dias de hoje, não só porque Leixões tem outros acessos, a Alfândega já não funciona, e o trajecto hoje é pejado de usos que não são compatíveis com vias estruturantes.
Mas hoje os técnicos (alguns) têm “muita sensibilidade” à abertura de novas avenidas na requalificação dos espaços urbanos, porque já não vivemos nos anos 50 e 60, quando se acreditava que a cidade devia ser como fez Auzelle, urbanista francês que implementou uma política de zonamento citadino à base do “rolo compressor” quando, por essa Europa fora, a mesma técnica tinha sido posta de parte. Lá fora já se havia concluído que marcar zonas geográficas para as funções habitar, trabalhar e divertir era um contributo forte para a desertificação das cidades, mas nós, cá dentro, inaugurámos com pompa e circunstância essa mesma política na planta de síntese do plano, marcou-se, a azul, toda a Baixa portuense e considerou-se que a mesma reunia potencial suficiente para se tornar em Zona Administrativa.
E o mesmo Auzelle propôs a demolição de uma boa parte do centro histórico do Porto, com a construção de um viaduto, em granito, de seis ou sete tramos, e de quinze a vinte metros de largura de tabuleiro, que se lançasse entre o Largo da Cividade (ou da Sé) e o terreiro da Relação. Se calhar também não era nada fracturante.