De: Rui Valente - "Crítica e carácter"
Caro Rocha Antunes,
Apraz-me registar que se sente preparado para aceitar democraticamente opiniões diferentes das suas, ainda que condicionadas por tons e estilos que lhe sejam mais ou menos simpáticos, mas isso, meu amigo, é afinal aquilo que torna os debates vivos e envolventes. Chama-se: diferença.
Daí resulta que, concordando em parte com a ideia que tem acerca dos "julgamentos que fazemos dos actos públicos e da extrapolação para coisas mais complicadas, como o carácter das pessoas, etc.", deve saber muito bem que, a partir do momento que alguém se candidata a um cargo público, passa a ficar mais exposto e a recolher tudo o quanto isso tem de negativo mas também de positivo. E concordará certamente que dessa realidade não é apenas a competência que as pessoas avaliam com toda a legitimidade, é também e implicitamente o carácter de quem a personifica.
O exemplo que dá do TAF por ter referido "que a Câmara não tinha um Presidente à altura", pode como diz, não acrescentar ou melhorar nada, mas também não essa a sua função, nem a sua, ou a minha, caso contrário estaríamos ingloriamente a exercer as tarefas do próprio Presidente. Não será assim? Além disso Rui Rio, como sabe, não é exactamente o tipo de pessoa que goste que lhe indiquem caminhos e é por essa razão que considero um desperdício as dicas e sugestões que aqui são apontadas por muitos cidadãos para resolver os problemas do Porto quando se sabe que ninguém de direito lhes dá ouvidos. Rui Rio é um homem feito, tem responsabilidades acrescidas e a obrigação de se saber orientar. Se não sabe, que tenha a dignidade de se demitir. Não pode, é ser tratado como se fosse um toxicodependente a quem a sociedade deve conceder todas as oportunidades para se regenerar.
Não espero que concorde comigo, mas há-de convir que a margem de tolerância que temos dado aos políticos em geral tendo sido excessiva, e é talvez essa a razão principal que nos tem mantido no buraco em que estamos.
Rui Valente