De: Pulido Valente - "Resposta"
Cara Cristina,
para começar tenho que dizer que os seus últimos contributos são ainda melhores que os anteriores. Obrigado.
Quanto ao que me diz: fui com o Dr. Paulo Duarte, como deve saber, consultar o processo. Como cada um tem a sua área por mim fiquei pelos aspectos relacionados com os terrenos a expropriar. Para ele ficou todo o amplo território da análise da correcção dos procedimentos burocráticos e políticos. Será ele a dizer algo sobre os inúmeros atropelos que detectou.
Quanto à parte urbanística a Cristina não quer que faça uma crítica ao projecto pois não? Acha que construir uma "estrada de montanha" em zig-zag para ligar a marginal do rio à zona das Fontaínhas é um empreendimento particular? Acha que pode a CMP delegar num investidor a tarefa e a responsabilidade de DECIDIR como deve essa ligação DEVE ser feita? Já sabe que o investidor, ao colocar a via no papel, vai levar em conta prioritariamente os seus interesses e portanto não é garantido que os interesses do ambiente, da cidade e dos cidadãos sejam contemplados DA MELHOR MANEIRA.
Isto quanto à ligação rodoviária.
Quanto à colocação de uma ou mais frentes - consideravelmente extensas - de edifícios de seis e mais pisos pela encosta abaixo tenho a dizer o seguinte:
O anterior PDM considerava que "o volume global ... das edificações a construir nas parcelas situadas nas vertentes abruptas sobre o rio Douro, com declive superior a 60º, será definida caso a caso pela Câmara Municipal."
Como as normas provisórias não são aplicáveis (não interessa aqui dizer outra vez porquê) de nada vale que elas dêem a esta zona, na sua maior parte, a densidade construtiva maior.
Fica o aspecto paisagístico, ambiental, e de integração. Quanto a isso posso dizer que me parece incorrecto não procurar uma solução arquitectónica - aqui se vê como a arquitectura engloba o urbanismo porque não pode o urbanista não arquitecto inventar modelos de arquitectura específicos para cada caso pois deixaria de haver arquitectos - adequada ao território a invadir.
Não foi o caso pois usaram-se os tradicionais caixotes tão caros ao pato bravo impreparado e tacanho. Escolha péssima. Desrespeitadora do sítio, agressiva e desconhecedora das soluções usadas genericamente pela cultura popular e tradicional, culta, para casos destes. Conhece Machu-Picchu, é assim que se escreve? As soluções portuguesas - das Azenhas do Mar, Sesimbra (arq. Conceição e Silva) etc. poderiam ter sido uma inspiração.
Há outro aspecto a considerar que é o da vida que se pode fazer num terreno com aquela topografia que condiciona tanto a mobilidade das pessoas e máquinas automóveis. Claro que admito que um bom arquitecto que tenha tempo e condições para estudar a sério o assunto encontre para ali uma solução que considera a construção para habitação e comércio e lazer etc. Mas duvido que os índices alcançados fossem do interesse de um investidor. Porque aquele território é sensível e traz problemas vários entre os quais não é de esquecer a presença das linhas de caminho de ferro, para além da eventual ligação das cotas alta e baixa.
Concluindo: a CMP, se entende que há a necessidade de fazer a ligação das zonas das Fontaínhas e da Av. Gustavo Eiffel terá que ser ela a fazer ou mandar fazer (com concurso público) o projecto. Dada a dificuldade do território o aconselhável é o de se fazer o concurso público para uma UOPG - para utilizar os termos do PDM - para aquela área com a indicação da ocupação, dos modelos e das volumetrias. Enfim deve ser a CMP a fazer aquilo que a Mota-Engil pretende, alargando a área de intervenção.
Espero ter sido útil. JPV