De: Cristina Santos - "História das energias"
Foi por via deste texto do Dr. JPP que me lembrei de uma história marcante. O primeiro contacto de um grupo de portuenses, daqueles tipo incultos que insistem em morar na cidade :-), com a energia eólica. Corria o longínquo ano de 2003, os portuenses estavam extasiados com o Metro do Porto, sonhavam com o TGV e estavam longe de prever o destino de Durão Barroso. Longe de imaginar que Sampaio seria um notável Presidente da Republica e que Portugal viria a ser governado por metropolíticos.
Tinham saído da cidade por uns dias, para se afastar do fim das obras da Porto 2001, estavam motivados, tinham descoberto que podiam debater soluções locais por via das novas tecnologias, e estavam enternecidos, não sabiam se voltavam a ver os arrumadores da cidade. Regressavam de Espanha, convencidos com os chopitos, mas desconfiados, concordavam que de Espanha não vinha bom vento, nem bom casamento. Foi quando olharam para o céu e viram um parapente e no Larouco umas ventoinhas megalómanas. Houveram aqueles que insurgiram imediatamente contra a iniciativa em defesa do património, argumentando que aquilo que ali estava só podia ser uma ideia de espanhóis, energia renovável, parapentes, essa gente não tinha limites, saberiam eles que o Lince Ibérico viveu na serra do Larouco, que é lá próximo que está um tesouro qualquer do S. Cipriano? Porque não tinham optado por construir moinhos em pedra? Era mais adequado para o local em questão, mais económico e conservador. Mas houveram aqueles que pensaram imediatamente em Gaia, nos prédios altos que podiam ter ventoinhas em vez de parabólicas. No progresso, na ousadia do projecto, na sustentabilidade económica, e também na sustentabilidade energética.
Mas esse não seria o único contacto dos portuenses com as energias renováveis, no dia seguinte estavam eles, na sua condição de urbanos de cidades decrépitas, a imaginar como podiam ser felizes ali, onde não há nada para fazer, quando viram aproximar-se um camião que no mínimo media 30 metros, e parecia trazer no atrelado metade de um avião... mas também podia ser um jacto e com um jeitinho à centro histórico até podia ser um «míssil biológico». Mais uma vez voltaram aos argumentos contra os Espanhóis, andariam a transportar aviões desmontados nas nossas estradas nacionais? Rapidamente a especulação passou daí para o debate do costume: será que é uma asa ou uma cabine do avião, de ferro ou de inox?! Chegados ao café da aldeia, dirigiram-se ao homem do balcão em tom de alerta, subestimando à partida as capacidades de um homem do interior, perguntaram-lhe se viu passar um camião, se tinha visto a carga no atrelado, o que era aquilo, como podia ser transportado por ali. O homem do interior, quase indignado com a ignorância, respondeu como uma evidência incontestável - São as eólicas.
Os portuenses refizeram logo os pensamentos, as eólicas eram descomunais, impressionantes. Paragem aqui, paragem ali, ficaram logo a par dos projectos. A energia renovável é o negócio do século, garantido pelo Governo e pela UE, reutiliza os baldios que passam a ser alugados para parques pelo prazo inicial de 4 anos e posteriormente por 20. Consta que Alturas de Barroso vai ter dois parques, num total de 35 torres e a aldeia vai beneficiar com isso 210 mil euros ano, que reverterão para a construção do centro de gestão de baldios. Concluíram também que a culpa não era dos Espanhóis, eles têm por lá interesse que tem vindo a solidificar, mas não eram responsáveis por este, neste caso era mesmo a EDP. O que é óptimo, talvez a par das ventoinhas a EDP possa colocar uns pára-raios ou, como disse Elsinore, possa eventualmente abastecer de energia eléctrica a aldeia vizinha, e quem sabe tantas outras aldeias na mesma condição... E pronto, foi o relato do espanto dos portuenses que tiveram Metro depois do Larouco ter energia eólica.
Ps. António Alves: A ironia é difícil quando é escrita, em nenhum momento fico contente com a solução dada aos moradores do Bacelo, esse acto perpetua várias injustiças: Bacelo, São João de Deus, realojamentos das pessoas que ainda residem em pensões, e as que residem em casas abarracadas. Não concordo nem com essa solução, nem com a de Gaia tomada mais recentemente. Referi o metro como podia referir que há poucos anos Matosinhos era uma zona rural, só queria mostrar que evoluímos quando temos recursos, e não somos evoluídos assim há tanto tempo, é ainda recente o nosso contacto com a tecnologia. Quanto à regionalização estamos falados, estamos sempre falados quando o objectivo ultrapassa a localidade. Cumprimentos.