De: Hélder Sousa - "Dúvidas"
Correndo o risco de me meter onde não sou chamado, quero aproveitar para dizer algumas coisas que muito me têm preocupado:
1. A pergunta não era para mim, mas, cara Cristina, não posso deixar de lhe responder que o exemplo que deu de um prédio ser avaliado pelas Finanças num valor e na realidade ser vendido por um preço mais baixo não é uma coisa que aconteça frequentemente, a não ser quando o valor escriturado é, esse sim, mais baixo do que o valor real… Atrevo-me a dizer que as fórmulas usadas para as avaliações dos imóveis levam na maioria dos casos a uma sub-avaliação. Mas sobre estes e outros assuntos o Francisco será com certeza a pessoa ideal para nos esclarecer. Agora não posso deixar de lhe dizer que quem tributa não é Lisboa, mas o Estado português, sendo que grande parte dos valores tributados com base nessa avaliação são impostos municipais sobre imóveis, e que quem fixa quer as taxas quer os coeficientes de valorização/desvalorização das avaliações também são as autarquias…
2. Esta conversa de Lisboa leva-me a outro assunto que tem sido recorrente: a regionalização. Parece-me que todos os argumentos sobre a regionalização estão lançados e também me parece óbvia a sua urgência. Agora não me parece nada saudável esta mania regionalizadora que põe as culpas nesses grandes patifes da capital, que estão lá longe e nos lixam a vida… Isso parece mais discurso Jardin(eiro) do que sério, para além de ser ele (o discurso) o principal travão para o desenvolvimento desta região.
3. O país, e o norte muito mais, está farto dos baronetes regionais que à custa do centralismo nacional engordam, tanto como o dom ubu, com o centralismo local. Muito mais perigoso: para o coração e para o país. Às vezes fico com a ideia que ter nascido no norte do país é um acidente irrecuperável.
Talvez a melhor solução seja mesmo a integração da AMP na zona da Grande Lisboa. Ficávamos só com uma grande cidade, com uns espaços verdes pelo meio. O Porto até podia ser o subúrbio calmo da grande metrópole: já temos uns bacanos a governarem os bairros (Rio, Menezes e afins… tudo malta da paróquia, eleita de entre os melhores e mais sérios chefes de família, daqueles a quem não há nada a apontar, fato irrepreensível, cabelo alinhado, bom casamento, filhos educados: um bom comportamento em todas as frentes), fazemos uns churrascos ao domingo na Avenida, chamamos os mareantes da Foz para abrilhantar o baile, de vez em quando recebemos uma dessas estrelas da baixa (pombalina) no Rivoli para nos divertirmos à grande.
Entretanto vamos engordando os baronetes com limonetes, sardinha assada, reservas do Douro e umas quezílias entre famílias rivais (daquelas que almoçam juntas semana sim semana não, para acertarem os pormenores de uns casamentos e comentarem as desgraças de outros).
4. O lamentável texto do jornalista Miguel Carvalho já foi muito bem respondido pelo Rui Encarnação.