De: JA Rio Fernandes - "Caro Rui Valente"
Caro Rui Valente
Sinceramente, penso que a minha opinião em concreto sobre a sua pergunta em concreto e sobre tudo o mais que diz, não é assim tão importante. Não mais que a de qualquer outro, por isso não entendo bem a sua determinação em obter a minha resposta, ainda que, tomando esse seu desejo por consideração, lhe agradeça a insistência.
Sem maçar com um tema que me parece razoavelmente resolvido – e cuja opinião transmiti com total sinceridade da minha parte – direi que a resposta directa à sua pergunta directa é: sim, mas.
Sim, porque por princípio acho que fazem mal os que não comparecem em reuniões, salvo uma ou outra (rara) vez em que não podem por motivos de força maior. Neste caso, compreenderia a ausência de Manuel Pizarro, “obrigado” a optar pela presença na Assembleia da República durante o debate e votação do Orçamento do Estado para 2007, ou a de Francisco de Assis se necessitasse de estar no Parlamento Europeu em qualquer matéria importante, ou de qualquer outro que tivesse motivos profissionais de força maior: era a isto que me referia quando lembrava que os vereadores da oposição têm de ter um desempenho profissional (político ou não) para ganhar a vida, porque as “senhas de presença” não bastam, nem devem bastar, note-se bem, porque não é razoável que vereadores sem pelouros e apenas 2 reuniões por mês tenham direito a ordenado! Também por isso devem merecer respeito de quem exerce o poder a tempo inteiro e é remunerado por nós para isso.
Mas, face à prepotência de Rui Rio, lembro, marcando com apenas 48 de antecedência, para um dia do meio da semana, uma reunião pedida há mais de meio ano pelos socialistas, compreendo a reacção, tanto mais que, como admiti, alguns poderiam não poder estar. Percebo-a até eventualmente também (e sinceramente não sei se tinha também esse fito) como uma acção destinada também a chamar a atenção pública para a prepotência de Rui Rio. E não vejo nisso especial mal. Eu próprio, de resto, quando exerci actividade política (sem pelouro, nem vencimento) também faltei a algumas reuniões e abandonei outras com os meus colegas de partido em protesto por atitudes do PSD em Gondomar (na altura em que Valentim Loureiro e José Luís Oliveira eram do PSD) que ultrapassavam o tolerável.
Tiro no pé? Eventualmente! Mas até é possível que também seja assim que se despertam as pessoas e se ganhem eleições. Mesmo doendo o pé, ouve-se o som do tiro! E, pelo menos na minha apreciação, Rui Rio bem tem dado tiros nos pés e a verdade é que segue caminhando… E mesmo ele não deverá ficar feliz por ver a oposição desprezá-lo como resposta à prepotência.
Quanto às suas outras propostas, davam muito que debater. Devo dizer que simpatizo com todas e enche-me de orgulho verificar como alguns ministros exercem actualmente o poder ganhando menos do que antes e por inequívoco amor à causa pública, como é o caso de Teixeira dos Santos, assim como me revolta muita coisa, como ver alguns políticos, por exemplo dirigentes sindicais, que já nem se lembram do que era ter uma profissão, havendo até casos como nos professores em que existem 24 sindicatos para uma mesma profissão, o que para alguns será uma forma engenhosa de encontrar salário sem trabalhar, à nossa custa (e não dos sindicalizados, como um truque na lei permite). Daí talvez a sua especial sanha contra a ministra. E ora aí está mais uma patriota, uma professora universitária que largou o ensino para mudar o estado de coisas na educação e já passou os destacados nos sindicatos de 1400 para 450 e que para o ano serão 350.
Também eu gostava que a política fosse uma actividade superior, talvez até a mais nobre, em que os melhores se dedicassem à defesa das causas colectivas, nas autarquias, no governo, nos sindicatos, nas associações empresariais,… sem terem de se preocupar com uma carreira política, até porque eram sempre os mais competentes profissionalmente que ocupavam estes cargos e apenas de passagem por um serviço dedicado aos outros.
Infelizmente o mundo é o que é e a percepção que tenho é que não há bem-intencionados em número suficiente a aderir à causa pública através do desempenho político e muitos dos melhores se resguardam. O que se compreende, quando ser-se chamado de político roça por vezes o insulto na boca de alguns, quando ser-se apontado na rua ou no supermercado com a família incomoda, quando a possibilidade de sem nada fazer para isso poder ver o seu nome maltratado por uma fonte anónima é real, quando se vive numa correria entre problemas e ansiedades, as suas e as daqueles a quem deve resolver problemas. Isto quando não acontece ser-se insultado, ameaçado e até agredido, como aconteceu com Ricardo Bexiga! Mas, como sabem os do Baixa do Porto, eu sou optimista e vejo ou penso ver muitos sinais positivos, no governo como em diversas autarquias, ou entre os anónimos dos partidos ou de associações de diverso tipo empenhadas na polis. Porque, não nos iludamos, ainda que sem a legitimidade democrática que alguns de nós deveriam talvez ambicionar, aqui e em muitos outros sítios faz-se política: estou até convencido que neste blog algumas das coisas que se escrevem serão mais influentes para o futuro da cidade do que aquilo que alguns dizem na Assembleia Municipal ou até na Câmara! Chego às vezes até a pensar que é possível que, por exemplo, o facto da estátua equestre de D. Pedro IV continuar de frente para o sol e sem ser de costas para o inimigo que vinha do sul, se possa em boa parte dever a nós, os que aqui e num outro blog, batalharam contra o assassinato da avenida. (Espero que Rui Rio não veja isto e se canse de ver o rabo do cavalo voltado para si).
Desculpem ter sido longo. Cumprimentos para todos. Especialmente para si Rui Valente.
Rio Fernandes
PS: Desculpe mais uma vez faltar na parte final uma resposta directa. A qual é: acredito sim. Acredito que um dia esses princípios possam vir a ser observados. Lembro-o até que José Sócrates não criou nenhum discurso da tanga; António Vitorino, Jorge Coelho e Murteira Nabo entre outros saíram de lugares políticos por ética e muitos se abstêm de comentar sobre a sua governação, como António Guterres ou Durão Barroso. Bem sei que as andorinhas não fazem Primavera, mas lá que estão por aí uns raios de sol… eu sou dos que pensa que sim!