De: Rui Valente - "Uma proposta demagógica"

Submetido por taf em Segunda, 2006-11-13 22:03

De facto, também concordo com o que foi dito aqui, quer por Rio Fernandes, quer pelo Rui Moreira. No blog, o comentário é sempre mais interessante que a discussão, não obstante algumas vezes tornar-se difícil fugir ao confronto de ideias. Eu próprio, em várias ocasiões, tenho sido protagonista de algumas discussões neste blog, umas vezes por interpretações erradas, outras por simples oposição de pontos de vista. É incontornável.

Fiz uma pergunta muito simples a Rio Fernandes e acho que apesar de ter tido a amabilidade de reagir prontamente ao meu desafio, acabou por não me dar uma resposta à altura da simplicidade da pergunta. E, o que eu perguntei, foi apenas se estava de acordo com a ausência de deputados do PS a uma reunião requerida pelo próprio PS sobre a "Porto Feliz". Acho que se Rio Fernandes tivesse respondido que não, que não concordava, teria dado uma resposta porventura mais próxima daquilo que na realidade pensava e teria talvez evitado as reacções um tanto ríspidas de C. Santos e de A. Burmester, mas algo pertinentes. Por força de querer "desculpar" os seus colegas de Partido por uma atitude indesculpável acabou por fugir à pergunta e de não responder com a sinceridade que lhe é habitual. É nestes pequenos/grandes detalhes que os políticos frequentemente dão tiros nos pés. A disciplina partidária aceita-se e compreende-se, mas de preferência não deve confundir-se com proteccionismo partidário porque isso domestica a espontaneidade das reacções e as pessoas percebem-no muito bem. Depois, proteger o colega de partido pode muitas vezes traduzir-se num virar as costas à realidade em prejuízo do cidadão que os elegeu.

Se o proposto aqui abaixo "Código de Boas Maneiras" (ou Deontológico se preferirem) para a actividade política não fosse mais uma das minhas "patetices demagógicas", como reagiria a maioria dos políticos se ele viesse a ser uma realidade?

OS POLÍTICOS DEVIAM OBRIGADOS A:

  • - Declarar inequívoca e publicamente, quer em campanha eleitoral, quer em funções governativas, que decidiram ir para a vida política conscientes de quanto iam ganhar com a convicção profunda de se acharem capazes de resolver os problemas do país por amor à pátria (se é que a expressão ainda faz algum sentido), garantindo desde logo ao eleitorado a imediata auto-demissão de toda a actividade política quando e sempre que apanhados comprovativamente a insinuarem o contrário. Como prova, bastariam vídeos de debates televisivos e declarações escritas na imprensa a confirmar o acto.
  • - Perder o direito a um terço do vencimento enquanto em funções executivas, sempre que justificassem o insucesso com as incapacidades e asneiras dos governos antecedentes (estaria nesta situação perfeitamente enquadrado o nosso amigo Rui Rio, no âmbito do poder autárquico), para aprenderem a olhar para a frente, para o futuro.
  • - Não aceitar participar em debates políticos públicos enquanto no activo do poder, porque o tempo é sempre curto e precioso para quem aceita grandes desafios com sérias responsabilidades e por uma questão de bom senso.
  • - Terminada a actividade governativa, absterem-se de participar em debates públicos sobre o estado da nação, enquanto os específicos governos de que fizeram parte não fossem sujeitos a uma espécie de referendo sobre a respectiva qualidade governativa, só podendo beneficiar dessa honra (e proveito) os políticos cujo governo tivesse obtido nota referendada positiva com resultados indiscutivelmente benéficos para a comunidade, de preferência em todas as áreas da vida pública e social. Por quê? Porque só quem dá provas de saber fazer é capaz de transmitir conhecimentos de interesse público. E nós estamos cansados de debates com ex-fracassados governantes, arvorarem-se em sabichões e de ainda serem pagos para nos maçarem. Nós queremos aprender com os que passam nos exames da governação e não embrutecer com os pseudo-conhecimentos dos "chumbam" sistematicamente.

Caro Rio Fernandes,

Com toda a simpatia e respeito que me inspira, acha que alguma vez o que acabo de sugerir, descontada a eventual "demagogia" desta minha 'proposta', seria bem digerido pela actual classe política?

Cordiais saudações,
Rui Valente

PS- Nada tenho contra os debates ou foruns com e entre políticos (até aprecio) desde que não se encontrem directamente ligados ao poder público (seja qual for) e desde que não se furtem às suas responsabilidades específicas.